sábado, março 27, 2010

Eleições e sondagens no PSD

Houve apenas duas sondagens que procuraram medir, junto dos militantes do PSD, a sua intenção de voto, ambas feitas pela Pitagórica para o Sol. Ambas subestimaram a votação em Passos Coelho em 10 pontos ou mais, e a segunda subestimou a vantagem deste sobre Rangel em 17 pontos. Não é brincadeira. Mas recordem que estas sondagens são muito difíceis de fazer. A lista de militantes encontra-se actualizada e os contactos correctos? Com o pagamento de quotas à última hora, em que medida o universo inicial da sondagem (e a amostra que dele se tira) corresponde ao que vem a ser o universo real? Em que medida os militantes com telefone fixo são diferentes dos que não o têm? Etc, etc, etc.

Uma das campanhas e vários dos seus apoiantes insinuaram que, devido ao facto de Alexandre Picoito ser apoiante de um dos candidatos e responsável técnico da empresa que fez as sondagens, estas não poderiam ser sérias. A insinuação foi tão forte que passou de insinuação a afirmação, e viu-se amplificada e reproduzida acriticamente por variados órgãos de comunicação social. Chegou-se a defender que a empresa ou a pessoa responsável deveriam estar impedidos de fazer as ditas sondagens. Contudo, elas fizeram exactamente o contrário daquilo que foi insinuado: em vez de sobrestimarem a vantagem de Passos Coelho, subestimaram-na. Irá isto dissuadir alguém de fazer este tipo de afirmações e insinuações da próxima vez? Vocês sabem a resposta tão bem como eu.

6 comentários:

Carlos Moura-Carvalho disse...

O mais importante não é ter havido alguém que insinuou, ou afirmou, qualquer coisa.
Haverá sempre alguém a fazê-lo. Injusta ou justamente.
O mais importante e o que devia merecer atenção é o enorme desfasamento (mais uma vez) entre a sondagem e o resultado final.
O facto de ser difícil, o que se percebe, não pode ser argumento. Nunca é argumento. Pois não há sondagens fáceis.
Quanto à questão do envolvimento de um apoiante de um dos candidatos na realização de uma sondagem, naturalmente, que esse apoainte, como qualquer outro em circunstâncias idênticas, nunca devia poder participar num processo para o qual se requer absoluta isenção e que não deve levantar a mínima suspeita.
A não participação num processo em que haja qualquer interesse directo ou difuso é uma das regras mais elementares da justiça e uma prova de elementar bom senso. E na política há muitos interesses, gostos, preferências e opiniões que não devem em circunstância alguma influenciar, seja de que forma for, o método, a análise científica dos dados recolhidos e os resultados tornados públicos.
Por muitas razões, mas sobretudo por uma questão de rigor e exigência, factos nunca conciliáveis com um interesse, por menor que seja.

Vasco Campilho disse...

Poupaste-me o trabalho de escrever este post.

João Vasco disse...

«Pois não há sondagens fáceis.»

Mas há sondagens mais difíceis do que outras.

Eu não entendo as pessoas que ficam indignadas com os falhanços das sondagens. Para mim essa indignação é testemunho do seu valor, nas pior das hipóteses.

Era certo e sabido que qualquer sondagem feita em relação às directas iria sempre ter enormes desvios em relação ao resultado final a comporar com, por exemplo, umas legislativas. Ainda assim, estava muito curioso, e ainda bem que alguém as fez.

A informação obtida através dessas sondagens, pesem embora os erros que estas vieram a apresentar, foi bem mais certeira do que os palpites que antes era possível fazer antes dessa informação estar disponível. Um bom exemplo é o do "Trocas de Opinião" onde antes dessas sondagens os contratos para PPC estavam extremamente baratos (bom para mim...), e depois das mesmas lá começaram a estar a um preço mais equilibrado - nesse sentido as sondagens fizeram com que a percepção generalizada de quem troca contratos estivesse mais próxima da realidade do que aquilo que estariam sem sondagens.

O que é preciso ter noção é que a sondagem é um instrumento de medição falível, com erros esperados maiores nuns casos que noutros. É preferível ter acesso a essa medição, conscientes de que é falível, do que não ter. É como em relação ao bolhetim metereológico.

Unknown disse...

Olá Carlos. Vou discordar das três principais afirmações que fazes no teu comentário:

1.Dizer que “não há sondagens fáceis” e que a dificuldade não é argumento para discutir o “desempenho” das sondagens é como dizer que não há montanhas fáceis de escalar e que, por isso, o João Garcia deve poder escalar o Evereste e a Serra da Gardunha com igual rapidez e eficácia. Se desistirmos de procurar que factores podem fazer com que as sondagens meçam melhor nuns casos as intenções dos eleitores do que noutros estamos a desistir de discutir aquilo que podem melhorar a sua qualidade. É uma posição tua cujo sentido geral não consigo discernir.

2.A ideia de que um apoiante de um candidato não deve poder estar envolvido numa sondagem sobre uma eleição a que esse candidato concorra já me parece que pode levar a discussões mais longas. Mas vou discordar na mesma. O que propões é que quem trabalhe em sondagens perca capacidades politicas como cidadão, ou que quem queira exercer direitos políticos perca capacidade para prestar serviços no mercado. Discordo desde logo por princípio, mas ainda mais na prática. Onde se traçam as fronteiras? Um militante de um partido não pode ser responsável técnico de uma sondagem? E inquiridor, pode ser? E um jornal propriedade de um grupo económico pode encomendar sondagens onde se meçam opiniões sobre políticas governamentais relevantes para esse grupo? Se o responsável técnico tiver acções de uma empresa afectada por uma decisão governamental, pode conduzir uma sondagem sobre o tema? E quem decide tudo isto? Parece-me muito mais vantajoso que o público disponha de informação geral sobre todos os aspectos metodológicos das sondagens e, na medida do razoável, sobre os interesses dos responsáveis. Cada um depois deve fazer os seus juízos. E esses juízos podem depois, por sua vez, ser debatidos e rebatidos. Por exemplo, há quem conclua, sem a mais remota prova ou discussão dos factos, que o facto de alguém apoiar um candidato faz com que os resultados das sondagens que conduziu tenham sido manipulados. E quem ache que se pode chegar a conclusões sobre a isenção e cientificidade de um estudo exclusivamente na base da identidade do autor. Eu discordo totalmente dessas ideias e vou combatê-las sempre que possível. Mas não me apetece proibir seja o que for.

3. Outra coisa que não me passa pela cabeça ver legalmente proibida mas que gostaria muito que fosse socialmente sancionada é esta conversão dos ataques à honestidade e seriedade das pessoas e das organizações sem o mais mínimo elemento de prova em elemento normal e aceitável da luta politica. Haverá sempre alguém a fazê-lo? Pois há. Mas tem de haver alguém a combater – aí sim - a falta de honestidade e seriedade de quem o faz.

Abraço.

Carlos Moura-Carvalho disse...

Só esta semana vi a tua amável resposta ao meu comentário que entendo dever clarificar.
Quando digo que “não há sondagens fáceis” e que a dificuldade não é argumento para discutir o “desempenho” das sondagens, pretendo afirmar que pela complexidade inerente, pela subjectividade implícita e pelo número de variáveis sempre presentes não se pode dizer que um instrumento que procura interpretar tendências em função de sinais, mais ou menos claros, que envolvem apreciações, juízos e, necessariamente, opiniões de pessoas, seja uma tarefa fácil. É sempre difícil. No mesmo sentido que digo que não há julgamentos fáceis na minha actividade, não há operações fáceis, não há certas decisões de topo numa hierarquia fáceis.
É um posicionamento de principio, que implica humildade, perfeccionismo e muito sentido de auto-critica. Poderei estar errado, poderás não discernir, mas é a minha posição. Por isso, digo que o argumento da dificuldade nunca pode ser uma desculpa, uma explicação, maior ou menor para o erro, para a margem de erro. Qual será o critério para a dificuldade? Quem define essa dificuldade? O próprio cientista?

Carlos Moura-Carvalho disse...

Quanto ao teu segundo comentário em relação à minha opinião que um apoiante de um candidato não deve poder estar envolvido numa sondagem sobre uma eleição a que esse candidato concorra, parece-me evidente.
Em muitas áreas e em muitas ocasiões não existe o grau de isenção, imparcialidade e distanciamento que são necessários.
Esse juízo deve caber ao próprio, áquele que se depara com a situação concreta e que, ponderando os elementos presentes, deve pedir escusa se entender que não reúne aqueles requisitos.
Todos os dias vemos casos desses: um juiz que não julga um caso de um conhecido ou familiar seu, um cirurgião que não opera um filho, um advogado que não trata do divórcio de um amigo ou familiar, um político que não decide com base num parecer de um jurista seu familiar, um vereador que não aprova um projecto feito pelo seu antigo atelier.
Os exemplos não acabam.
É um juízo ético, pleno de livre arbítrio. Não deve ser proibido por decreto. Deve ser o próprio a ter o bom senso necessário. Há pois casos em que há perca de “capacidades politicas como cidadão”, como tu dizes, e há casos em que quem queira exercer direitos políticos perde capacidade para prestar serviços no mercado. Há valores, há direitos mais nobres que outros. É preciso escolher. Sem qualquer problema. Penso que a explicação para muitas insinuações está nessa falta de clarificação.
E mais ainda quando a participação daquele que pode não ter o tal distanciamento necessário é numa ciência. Sendo uma ciência social, não deixa de ser uma ciência.
O cientista não pode à partida ter estados de alma, ideias pré-formadas, juízos pré-concebidos. Pode ter uma tendência, pode querer confirmar a tendência, pode querer testar a teoria, mas tem que garantir a isenção necessária. Talvez por isso, só se estuda, interpreta e relata a História algum tempo depois.
O público ter informação, mesmo com erros, é naturalmente, importante. É mais uma fonte de informação. Mas as coisas têm de ser claras e dever-se-á saber se quem lidera esse estudo de opinião tem opiniões políticas, religiosas e sociais, vincadas, ou faz mesmo parte de um partido, organização, ou entidade. Sobretudo com a importância e o destaque (talvez excessivo, reconheço) que as sondagens e os estudos de opinião têm na nossa sociedade.
Uma outra opção é haver um registo de interesses dos cientistas políticos, dos jornais, dos analistas, como acontece noutros países e noutras áreas. Mas, pessoalmente defendo, que mesmo aí deve haver escusa em certos casos.
Finalmente, quero deixar claro que defendo isto independentemente do que os outros pensem, ou digam. Haverá sempre quem levante suspeitas, faça insinuações, desvie as atenções. Por isso mesmo, a consciência individual tem que estar completamente limpa, para combater esses ataques com dignidade. Por isso mesmo, deve ser o próprio a pedir escusa. Já chega de regulamentações, de comissões de inquérito, de falsos moralismos, de pseudo normativistas. A melhor norma é a consciência individual.
Espero ter deixado claro o meu entendimento que te deixo com um abraço amigo
Carlos