quinta-feira, outubro 29, 2009

Um dia

Planet Money é o nome de um blog e de um podcast da National Public Radio dedicado a temas económicos, tratados de forma acessível e divertida mas nunca simplista. Não perco um podcast.

Há duas semanas, um desses podcasts foi dedicado a um funcionário da Exxon em Angola e a Minguito, um rapaz que vive nas ruas de Luanda vendendo pastilha elástica e cigarros. O dia em que um órgão de comunicação social português disser algo de semelhante ao que aqui é dito sobre Angola e o seu governo será um dia feliz para a imprensa portuguesa. Receio que esse dia não esteja para breve.

quarta-feira, outubro 28, 2009

O Trocas

Há uma série de novidades na calha para o Trocas, que serão implementadas a pouco e pouco. A principal será a introdução em tempo real das melhores ordens de venda e de compra para cada contrato, para que quem queira negociar se oriente melhor. Mais e melhores gráficos, novas formas de participação e discussão no mercado, etc.

Entretanto há um novo contrato com um novo putativo futuro líder do PSD: Morais Sarmento (e a ver se não teremos de meter outro em breve). Em geral, contudo, o mercado nunca teve certezas sobre o PSD. Foram raras transacções feitas a mais de 50. Mas importa dizer que o título mais valorizado desde o início dos contratos quase nunca deixou de ser Pedro Passos Coelho.

Relatório sobre sondagens e inquéritos de opinião

Em Julho deste ano, a ERC deliberou constituir uma comissão para efectuar um diagnóstico sobre a situação das sondagens e apresentar sugestões sobre medidas a adoptar. Essa comissão foi formada por José Vidal de Oliveira, da Escola Superior de Comunicação Social; Helena Nicolau, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação; e Fernando Cascais, Director do CENJOR.

Essa comissão produziu um relatório que foi apresentado há dias numa conferência da ERC, apresentação essa que foi coberta pela comunicação social em várias notícias. O próprio relatório irá, ao que sei, ser publicado pela ERC, mas não se encontra ainda disponível na net. Pode ser, contudo, descarregado aqui. Esta é a que julgo ser a versão definitiva, depois de uma versão preliminar ter recebido comentários das empresas e outros interessados. O relatório baseia-se principalmente numa base de dados composta por 38 sondagens realizadas sobre 8 eleições diferentes, das legislativas de 2005 até às europeias de 2009.

Para quem não tiver paciência para ler, o que conclui este relatório? Vou dividir as conclusões em três partes: constatações sobre divulgação/depósito dos resultados das sondagens; constatações sobre as próprias sondagens e seus resultados; e recomendações.

1. Constatações sobre divulgação/depósito das sondagens e seus resultados:
- Nem sempre os universos foram correctamente definidos (faltando a algumas especificar que, em telefónicas, estamos na maioria dos casos a definir universos de residentes em lares com telefones fixos, etc.) - p.12;
- Nem sempre as fichas técnicas explicam como são seleccionados os inquiridos - p.15;
- Nem todos os questionários utilizados são disponibilizados - p.17;
- O conceito de inspecção/supervisão das entrevistas e entrevistadores não é interpretado de maneira uniforme - p. 22;
- Há fichas técnicas omissas sobre se a amostra é ou não objecto de ponderação, por que variáveis e se uma das variáveis é o último voto - p. 22;
- A análise da cobertura jornalística das sondagens revela grande visibilidade dada aos resultados, interpretação editorial colada à informação quantitativa, enquadramento competitivo, erros e excessivas simplificações e tendência para transformação de observações em prognósticos - pp. 40-41;
- Apresentação frequente das sondagens com resultados até às décimas - p.41.


2. Constatações sobre as próprias sondagens e seus resultados:
- Os procedimentos de amostragem adoptados pelas diferentes empresas, se cumpridos, não levantam objecções - p.15;
- Não existe relação entre a dimensão da amostra utilizada e a média dos desvios absolutos entre as intenções de voto estimadas para os principais partidos em sondagens pré-eleitorais e os resultados reais na eleição - p. 16;
- Nem todas as sondagens utilizam questionários onde se coloquem perguntas sobre a intenção de votar - pp.17-19;
- Existe grande disparidade do número máximo de entrevistas por entrevistador/dia nas várias empresas e institutos - p. 21;
- "Nas eleições europeias, a Marktest foi a única empresa que revelou o sentido correcto de voto entre PSD e CDS (...), o que não impediu de ser a que apresentou maior desvio médio em módulo entre o valor estimado e o valor da eleição, a nível de patidos e brancos/nulos" - p. 25;
- Os maiores desvios foram encontrados para as eleições europeias de 2009; os menores para as legislativas de 2005 - p. 27;
- Os desvios foram menores nas projecções para as legislativas de 2005 (8 sondagens), presidenciais de 2006 (6) e intercalares de Lisboa em 2007 (5); nas sondagens realizadas pelo Ipom (1), Universidade Católica (7) e Aximage (5); que utilizaram o procedimento de amostragem de selecção aleatória de freguesias tipo e último aniversariante(7); que recorreram à entrevista pessoal (17) - p. 4 e pp. 24-25.
- Os desvios foram maiores nas projecções para as europeias de 2009 (5 sondagens), feitas pela empresa Pitagórica (1), seguida da Intercampus (7); que utilizaram o procedimento de selecção "homem mais novo" (1); e que recorreram à entrevista telefónica (21) - p.4 e pp. 24-25;
- O PS e o PSD são os partidos para os quais os desvios apresentam maior variabilidade - p. 30;
- Os resultados das projecções para o PSD tenderam a ser subavaliados em todas as projecções para as autárquicas de 2005 em Lisboa e ligeiramente sobreavaliados nas projecções para as legislativas de 2005 - p.30;
- Em 6 das 8 eleições, os resultados as projecções para o PS tenderam a ser sobreavaliados - p. 30;
- Os resultados do CDS foram subavaliados em todas as projecções para as europeias de 2009 - p. 30;
- Os resultados das projecções para a CDU estão sempre muito próximos da realidade para todas as eleições em estudo - p.30;
- Os resultados das projecções para o BE estão sempre muito próximos da realidade para todas as eleições em estudo - p.30.


3. Recomendações:
- É secundária a quantificação exacta dos membros do universo - p.14;
- É desejável que as fichas técnicas indiquem de modo uniforme e mais claro o procedimento de amostragem, as variáveis de estratificação e o processo usado para selecção de unidades iniciais, intermédias e finais - p. 15;
- É importante que as fichas técnicas passem conter informação sobre "abstenção estimada" - p. 19;
- É importante que o questionário faça parte integrante da ficha técnica depositada - p.19;
- O facto de a taxa de instalação de telefone fixo não ser de 100% e a elevada taxa de posse de telefone móvel recomenda que a amostra seja composta por entrevistados com telefone fixo no lar e entrevistados com móvel sem telefone fixo no lar - p. 20;
- Sugere-se indicação na ficha técnica da percentagem de entrevistas controladas, entrevistadores inspeccionados e número de entrevistas anuladas após inspecção - p. 22;
- Necessidade de indicação de variáveis utilizadas para ponderação - p. 22;
- Em amostras por quotas, sugere-se reequilíbrio amostral por último voto - p.22;
- Em amostras por quotas, não deve ser apresentada margem de erro máxima, mas sim referir que "o erro é desconhecido. Se fosse utilizado um procedimento aleatório, o erro máximo seria de x%" - p. 23;
- Deveria ser abandonada a apresentação dos resultados até às décimas e dar mais relevo ao intervalo de confiança - p. 41;
- Republicações de resultados de sondagens deveriam fazer referência à publicação inicial, responsável e fonte - p. 42;
- Elaboração de um pequeno manual sobre procedimentos correctos e incorrectos no tratamento editorial das sondagens e criação de um curso-modelo de curta duração sobre sondagens para jornalistas - p. 56;
- Criação de um "programa informático" que, cito, "passe a calcular os diferentes intervalos de confiança (com níveis de significância de 5% e 1%) e, analisando tendências, ponha em evidência dados que saiam fora dos limites previstos, alertando para a necessidade de uma análise das bases técnicas da sondagem em questão" - p. 57.

Há outras recomendações sobre a natureza da ficha técnica a preencher pelas empresas e depositar na ERC, às quais, pela sua especificidade, vos poupo.

Como imaginam, tenho opiniões sobre tudo isto. Mas o que eu gostava mesmo era de saber o que pensam as pessoas que se interessam por este assunto, visitam este blogue e costumam comentar sondagens. Não há muitas oportunidades para debater estes assuntos fora do calor eleitoral, e esta é uma delas. Aproveitem. Daqui a uns tempos direi o que penso deste relatório e das suas conclusões.

terça-feira, outubro 20, 2009

A "raridade" dos governos minoritários e outras coisas

Anteontem, no Público, uma peça mencionava a raridade dos governos minoritários na Europa. Espanha e Portugal seriam as excepções.

Receio, contudo, que a amostra utilizada, quer em número de países considerados quer do ponto de vista do período analisado, esteja um pouco enviesada. Entre 1945 e 1999, se considerarmos 17 países da Europa Ocidental (Austria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido), estiveram no poder 424 governos. 141 (33%) eram governos minoritários, e 93 (22%) eram governos minoritários de um só partido. Portugal e Espanha estão entre os casos em que estes governos foram mais frequentes, mas o mesmo sucede com a Dinamarca, França, Irlanda, Itália e Suécia. Estes dados podem ser encontrados neste livro de 2008.

Outra coisa que o livro mostra é que, obviamente, governos minoritários duram menos que governos maioritários: em média, menos um ano. E outra ainda é que, talvez menos obviamente, os partidos que lideram governos minoritários tendem a ser menos punidos em eleições subsequentes que outros tipos de governo.

Entretanto, a coisa mais conhecida sobre as consequências económicas dos governos minoritários é um antigo paper de duas pessoas hoje muito famosas, Nouriel Roubini e Jeffrey Sachs, que sugere que governos minoritários tendem a produzir défices orçamentais 1.5 pontos por ano acima do que sucede com governos maioritários. Já passou muita água debaixo da ponte depois deste artigo. Um livro de 2002 de Torsten Persson e Guido Tabellini confirma a mesma ideia (ver quadro 6.7), mas há muita discussão sobre o assunto.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Aximage, 12-16 Outubro, N=600, Tel.

São tratados temas como a actuação dos membros do governo e dos líderes político-partidários. A escala utilizada é de 0 a 20. Entre os membros do governo, a avaliação mais alta vai para Teixeira dos Santos (média de 13) e a mais baixa para Maria de Lurdes Rodrigues (7,2). Entre os líderes partidários, a média mais alta é a de Paulo Portas (12,3) e a mais baixa a de Manuela Ferreira Leite (6). O PM é avaliado com 12,1 e o PR com 9,8. Tudo aqui e aqui.

domingo, outubro 18, 2009

Anos 70

Vale a pena ir ver a exposição no CAM, na Gulbenkian, intitulada "Anos 70: Atravessar Fronteiras". Há coisas muito boas que eu já conhecia:

Ana Hatherly

Outras que não conhecia:

Emília Nadal

E outras que só acredito que existem porque as vi com estes que a terra há-de comer:

segunda-feira, outubro 12, 2009

Rescaldo

Bem, you know the drill. Dois critérios: erro 3 (a média dos desvios absolutos entre as estimativas da sondagem - intenções de voto em sondagens pré-eleitorais, simulações de voto em sondagens à boca das urnas - e os resultados eleitorais); e erro 5 (a diferença entre a margem de vitória estimada e a margem de vitória real).

O objectivo é sempre o mesmo: coligir informação que possa ser usada para aprender alguma coisa do ponto de vista das metodologias que melhor medem atitudes políticas. Para isso, considero apenas os concelhos em que houve mais do que uma sondagem (para poder fazer algum tipo de comparação) realizada na última semana (para manter constante um factor que se sabe ser vital, a distância em relação ao acto eleitoral). Mesmo assim, dentro da última semana, há variações de alguns dias no trabalho de campo que podem não ser inconsequentes, mas não vamos agora por aí. O único concelho que excluo é Braga, porque apesar das duas sondagens, há uma que não tem elementos suficientes para se poderem apresentar resultados comparáveis.

Quanto às sondagens pré-eleitorais, aqui vai. A verde, as sondagens com menores discrepâncias entre estimativas de intenções de voto válidas e aqueles que vieram a ser os resultados, dos pontos de vista dos erros 3 e 5 (espero não haver qualquer erro em tantos números, mas se repararem nalgum avisem que será rapidamente corrigido):











O erro 3 mais elevado nas legislativas para qualquer um dos institutos foi 2, e o erro 5 mais elevado foi 2,2. Estas marcas foram ultrapassadas muitas vezes nestas autárquicas, o que confirma o que já sabíamos de eleições anteriores. Mas por outro lado, estamos longe do que se passou nas Europeias mais recentes: houve sempre consenso sobre os vencedores, e os vencedores venceram realmente. E onde não houve consenso - em Faro - não podia haver.

Nas sondagens à boca das urnas, que eu saiba, houve apenas quatro concelhos onde foram feitas mais do que duas sondagens. Não apresento os valores dos intervalos porque, curiosamente, variaram imenso entre os diferentes institutos (maiores na Intercampus, menores na Eurosondagem) e são, assim, pouco informativos. Limito-me a apresentar os pontos centrais:



Há aqui, também, casos de erros - em Matosinhos e Lisboa - maiores que os das legislativas. Mas ao mesmo tempo, duas sondagens à boca das urnas cuja precisão, creio, não voltará a ser repetida tão cedo (duas das que foram feitas no Porto). Mas notem: há nesta "precisão" - e, quem sabe, também em várias "imprecisões" - muito de imponderável. E se olharmos para os quadros, vemos que os mesmos institutos, usando os mesmos métodos e, imagina-se, com várias outras coisas em comum em todas as sondagens que fazem (formação dos inquiridores, formulações de perguntas, ponderações pós-amostrais de resultados, etc, etc, etc) são capazes de ser, ao mesmo tempo, daqueles que apresentam estimativas que mais se aproximaram dos resultados finais nalguns concelhos e, noutros, dos que menos o fizeram. É por isso que nada do que diz respeito a estes assuntos tem uma explicação óbvia. E é por isso que tudo isto é interessante (para nerds como eu e vocês que chegaram até aqui na leitura do post, obviamente).

Interessante, claro, mas com limites. O que isto merecia agora era uma análise mais aprofundada do conjunto das sondagens das autárquicas de 2009 (apesar de serem em muito menor número dos que as de 2005, o que dificultará as coisas). Talvez um dia a faça de novo com o Diogo. Mas não vai ser nem hoje, nem amanhã, nem para a semana. De sondagens, e de eleições, é agora preciso descansar. Até mais logo.

P.S. - Já me esquecia. A Intercampus ontem fez sondagens em 16 (!) concelhos. Não tive tempo para ver em detalhe como lhes correram as coisas nos que não estão tratados neste post, mas espero que bem. Uma vez o CESOP fez 14 e jurámos para nunca mais: é um esforço incrível. Só por isso, os meus parabéns.

sexta-feira, outubro 09, 2009

And now, for something completely different...

Lisboa. Intercampus, 4-7 Out., N=800, Presencial.

PS: 40,5%
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 36,3%
CDU: 10,5%
BE: 6,0%
OBN: 6,6%

Aqui.

Porto. Intercampus, 4-7 Out., N=800, Presencial.

PSD/CDS-PP: 43,2%
PS: 39,5%
BE: 7,8%
CDU: 7,1%
OBN: 2,4%

Aqui.

Num certo sentido, isto não é completely different. Em 2005, a vantagem de Carmona sobre Carrilho nas sondagens oscilava entre os 11 e os -0,4 pontos. Desta vez, a margem de Costa sobre Santana oscila entre os 12 e os 4,2 pontos. Em 2005, no Porto, a margem de vitória de Rio nas sondagens oscilava entre os 19 pontos e os -1,8 pontos. Desta vez, oscila entre os 20 e os 3,7 pontos.

É muito? Obviamente que sim. Tem explicação metodológica óbvia? Não tem. Está correlacionado com a proximidade em relação ao acto eleitoral? Só em parte. O que vemos aqui nada tem a ver com o que se passa nas legislativas ou nas presidenciais. Já há uma história relativamente longa disto, e alguns padrões recorrentes. Era bom que houvesse em Portugal uma comunidade académica interessada nestas coisas, não ligada a este ou aquele instituto de sondagens, que pudesse estudar isto. Há muito aqui para tentar compreender.

Matosinhos. Intercampus, 4-7 Out., N=600, Presencial.

PS: 38,6%
Narciso: 29,6%
PSD/CDS-PP: 21,1%
CDU: 4,7%
BE: 3,2%
OBN: 2,8%

Aqui.

Oeiras. Intercampus, 4-7 Out., N=600, Presencial.

Isaltino: 42,0%
PS: 25,0%
PSD/CDS-PP: 19,5%
CDU: 6,8%
BE: 3,6%
OBN: 3,1%

Aqui.

Já agora, o que diz o Trocas?

O Trocas de Opinião tem tido, nos contratos sobre as autárquicas, algumas crenças relativamente sólidas e quase inabaláveis e algumas dúvidas. Neste momento, contudo, parece ter menos dúvidas do que já teve:

1. Até agora, sempre acreditou que PSL não ganhará Lisboa. Mas a média móvel das últimas 20 cotações tem atingido valores mais altos nos últimos dias, se bem que nunca acima dos 13.

2. Também sempre acreditou que Paulo Pedroso não ganhará Almada. Só uma única transacção foi feita acima de 50. Neste momento, a cotação é 0,85.

3. Desde o início de Outubro (mais exactamente desde que saiu a primeira sondagem sobre Oeiras), o Trocas acredita que Isaltino Morais vai ganhar Oeiras. A cotação neste momento está nuns claros 93.2.

4. A probabilidade de Rui Rio ter maioria no Porto esteve, na esmagadora maioria das transacções, acima dos 60.

5. A probabilidade de Narciso Miranda ganhar Matosinhos nunca esteva acima de 50. Está neste momento a 4.

6. A probabilidade de o PSD ganhar mais de 160 câmaras nunca esteve acima dos 50. Está neste momento a 10.

Em geral, menos volatilidade que nas legislativas, devido a menos transacções (mas não muito menos, curiosamente) e também (ou especialmente) a limites impostos no volume de ordens pendentes, incluindo vendas a descoberto.

Retrospectiva e balanço

Há uns anos, eu e o Diogo Moreira, também aqui do ICS, escrevemos um artigo sobre as sondagens pré-eleitorais para as autárquicas de 2005, recorrendo ao óptimo dossier da Marktest sobre o assunto. O artigo saiu na revista Comunicação e Cultura em 2007. Em resumo, eis o que concluímos:

1. Muita concentração das sondagens publicadas nos concelhos com mais população residente (apenas 41 concelhos, mas representando 35% da população).

2. Muitos problemas na divulgação dos resultados pela imprensa (não analisámos TV ou rádio), com divulgação errática das características técnicas básicas dos estudos.

3. A média dos desvios absolutos médios entre as 86 sondagens consideradas e os resultados eleitorais foi de 4,6. Alto, tendo em conta que o erro amostral máximo que decorria da dimensão média das amostras era 4,2.

4. Os factores que mais explicaram discrepâncias entre os resultados das sondagens e o resultados das eleições (discrepâncias medidas em termos de erro absoluto médio):

- Primeiro, o básico: quanto maior o nº de partidos/listas cujas intenções de voto eram estimadas, menor o erro. Mas isto não passa de uma variável de controlo que tem a ver com a medida utilizada: ceteris paribus, o desvio absoluto médio entre sondagens e resultados há-de ser sempre maior quando esse cálculo se faz em relação a poucos partidos do que a vários (incluindo pequenos) partidos.

- Quanto maior o erro amostral máximo associado a cada sondagem (tendo em conta a dimensão da amostra), maior o desvio médio.*

- Quando teve lugar a sondagem foi importante: naturalmente, os resultados de sondagens feitas mais próximo das eleições estiveram mais próximo dos resultados destas.

- Amostragem: amostras aleatórias produziram maiores desvios que amostras por quotas (1,7 pontos acima). Isto é um bocado simplista e não sei se resistiria a uma análise mais fina e discriminada dos processos de amostragem, nem se é decorrente de um qualquer house effect ou da amostragem propriamente dita.

- Candidatos independentes: concelhos onde concorriam candidatos independentes foram concelhos onde, ceteris paribus, o desvio absoluto médio entre sondagens e resultados foram maiores (entre 2,4 e 2,5 pontos percentuais sempre que havia independentes, o que é muito).

-Telefónica vs. Presencial não fez diferença. Nem a abstenção, se bem que aqui a variância era pouca.

Enfim, uma coisa relativamente simples, pouco menos que o possível, creio, tendo em conta o reduzido número de casos, a falta de informação sobre muitas sondagens e, claro, aquilo que sabíamos fazer na altura.

Isto tudo para dizer que as sondagens que têm sido divulgadas nos últimos tempos sobre as autárquicas devem provavelmente ser vistas, do ponto de vista da sua capacidade de antecipar o que venha a acontecer no Domingo, a esta luz. Em geral, parece evidente que são bastante menos úteis para esse fim preditivo do que têm sido as sondagens sobre as legislativas, especialmente tendo em conta a tendência para usar amostras de dimensões menores e a presença aparentemente "perturbadora" das candidaturas independentes. É certo que há vários "consensos" entre as sondagens divulgadas nos últimos tempos. Mas por tudo o que está dito antes, resta saber se resistem ao que venha a suceder até Domingo.

Dito isto, quais são os "consensos" sobre as intenções de voto medidas nas últimas duas semanas?

- PS lidera intenções de voto em Lisboa. Valores de intenções de voto válidas entre 41,9 e 45%. Se recuarmos ao final de Setembro, encontramos um valor ligeiramente mais baixo, de 41,4%.

- PSD/CDS-PP lidera intenções de voto no Porto. Valores entre 46,4 e 51%. Se recuarmos a finais de Setembro, temos uma sondagem com 44,4% para Rui Rio.

- Isaltino lidera nas duas sondagens de Oeiras, com intenções de voto válidas muito semelhantes.

- Matosinhos: PS lidera, mas grande variação nas intenções de voto válidas (entre 35,2 e 43%).

- Faro: claro "empate técnico" nas três sondagens que conheço.

Sem "consenso":

- Braga: vantagem para PS numa, empate noutra.

Isto é nos concelhos onde, que eu saiba (e pode-me perfeitamente ter escapado algo) há mais do que uma sondagem, e falando apenas de quem liderava ou não nas intenções de voto. Há outros assuntos (maiorias absolutas, diferenças entre CDU e BE, etc.) sobre os quais a maioria das sondagens nem conseguia dar uma indicação estatisticamente significativa. Para o resto, o que temos - que eu conheça- está aqui no dossier da Marktest para 2009, um verdadeiro serviço público.

Outras coisas:

- Não sei se o dossier Marktest é exaustivo. Mas se for, houve muito menos sondagens do que em 2005. Possivelmente por pressão económica de um ano anormalmente pesado em eleições e sondagens.
- Terei de ver isto com mais calma, mas à primeira vista parece-me que os padrões de divulgação de informação técnica continuam a melhorar.
- Cautelas extra a ter com a utilização destas sondagens para prever o que se passará no Domingo. Por um lado, recordem que muitas destas sondagens mais recentes foram conduzidas em parte ou na totalidade em cima do "fim de semana alargado" de 3-5 Outubro. Que implicações para a representatividade das amostras? Não sabemos, mas podem ser importantes. Por outro lado, não sei se as taxas de resposta estão a ser calculadas de forma consistente por todas as empresas. Mas as indicações que tenho é que, em vários concelhos, foram baixas. Fadiga eleitoral e das sondagens? Tendência "secular" de redução de taxas de resposta? Reacção a controvérsias recentes sobre as sondagens? Tudo com consequências potencialmente sérias, mas difíceis de apreciar neste momento.

E acho que falta a Intercampus para alguns concelhos. Confirmaremos logo à noite na TVI.

E é tudo. Agora sugiro que esqueçam as sondagens e vão votar. Mas já agora, uma nota pessoal: para mim, que nasci em Lisboa e que quase sempre aqui vivi, confesso que nunca me foi tão difícil fazer uma escolha eleitoral. Continuo a achar que é uma boa cidade para viver e aqui tenciono ficar, por essa e outras razões. Mas nada do que vi me retira a sensação de que, com sorte, hei-de chegar aos 70 e, para nosso azar, esta cidade ainda estará muito, muito longe daquilo que poderia ser. Uma lástima.


*Na verdade, isto podia ter sido mais bem feitinho. Por um lado, a dimensão das sub-amostras em relação às quais se calculam intenções de voto válidas é sempre menor que a dimensão total da amostra. Por outro lado, devíamos talvez ter calculado um erro amostral médio associado à estimação de cada um dos partidos cujos resultados estão a ser comparados com as sondagens (o que provavelmente teria diminuído a importância da variável anterior). Mas sempre foi melhor do que procurar uma relação negativa entre a dimensão da amostra e o desvio, dado que essa relação não deverá ser linear.

Faro. Intercampus, 3-6 Out., N=600, Presencial

PS: 38,5%
PSD/CDS-PP/PPM/MPT: 36,2%
CDU: 8%
José Vitorino: 6,7%
BE: 6,7%

A soma dá 96,1%.

Lisboa. Aximage, 6-8 Out., N=802, Tel.

Tal como divulgado:
PS: 43,5%
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 37,6%
CDU: 6,3%
BE: 5,9%
OBN: 4,7%
Indecisos: 2%

Após redistribuição proporcional de indecisos:
PS: 44,4%
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 38,4%
CDU: 6,4%
BE: 6,0%
OBN: 4,8%

Lisboa. Marktest, 5-7 Outubro, N= 510, Tel.

PS: 45%
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 37,9%
CDU: 7,3%
BE: 5,4%

Isto dá 95,6%, pelo que presumo que OBN seja 4,4%. Aqui.

Matosinhos. Eurosondagem, 4-5 Outubro, N=534, Tel.

PS: 35,2% (33,2 a 37,4)
Narciso Miranda: 30,2% (28,1 a 32,3%)
PSD/CDS-PP: 21,1% (19 a 23,2%)
CDU: 6,0% (5,1 a 6,9%)
BE: 4,7% (3,8 a 5,6%)

Somado dá 97,3%.

Lisboa. Eurosondagem, 1-6 Outubro, N=1022, Tel.

PS: 41,9% (40 a 43,8%)
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 36,9% (35 a 38,8%)
CDU: 8,4% (7,3 a 9,5%)
BE: 8,0% (6,9 a 9,1%)

Somando dá 95,2%. Logo isto deve significar 4,8% de OBN. Aqui (mas tudo isto presumindo que os resultados certos estão no Expresso e não na SIC, onde a coligação liderada por PSL aparece com 33,3%).

Porto. CESOP-UCP, 2-5 Out., N=2571, Presencial.

O relatório-síntese pode ser descarregado aqui.

Lisboa. CESOP-UCP, 3-6 Out., N=2221, Presencial.

O relatório-síntese pode ser descarregado aqui.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Faro. Eurosondagem, 6 Out., N=503, Tel.

PSD/CDS-PP/PPM/MPT: 40,5% (38,4 a 42,6%)
PS: 37,0% (34,9 a 39,1%)
Faro no Coração: 8,0% (7,1 a 8,9%)
CDU: 6,1% (5,3 a 6,9%)
BE: 4,8% (4,1 a 5,5%)

Soma disto dá 96,4%. Aqui.

Braga. IPOM, 5-6 Out., N=794, Tel.

PSD/CDS-PP: 31,5%
PS: 30%
CDU: 4,2%
BE: 3,1%
MPT: 0.6%
Indecisos:19,5%

Se não erro, faltam aqui 11,1% que a notícia não esclarece no que consistem.

Braga. Eurosondagem, 1-2 Outubro, N=530, Tel.

PS: 46,9% (44,8 a 49%)
PSD/CDS-PP: 36,9% (35 a 38,8%)
CDU: 6,9% (6 a 7,8%)
BE:6% (5 a 6,9%)
MPT: 0,4%

A soma disto dá 97,1%.

Aqui.

Porto. Aximage, 2-4 Outubro, N=500, Tel.

Tal como divulgada:
PSD/CDS-PP: 44,6%
PS: 33,0%
CDU: 9,3%
BE: 5,6%
OBN: 3,7%
Indecisos: 3,8%

Após redistribuição proporcional de indecisos:
PSD/CDS-PP: 46,4%
PS: 34,3%
CDU: 9,7%
BE: 5,8%
OBN: 3,8%

Matosinhos. Aximage, 4-6 Out., N=500, Tel.

Tal como divulgada:
PS: 40,7%
Narciso Miranda: 22,3%
PSD/CDS-PP: 18,1%
BE: 6,3%
CDU: 3,9%
OBN: 3,4%
Indecisos: 5,3%

Após redistribuição proporcional de indecisos:
PS: 43,0%
Narciso Miranda: 23,5%
PSD/CDS-PP: 19,1%
BE: 6,7%
CDU: 4,1%
OBN: 3,6%

Porto. Marktest, 2-7 Out., N=400, Tel.

PSD/CDS-PP: 51,0%
PS: 31,0%
CDU: 7,8%
BE: 5,7%
OBN: 4,5%

Oeiras. CESOP-UCP, 2-5 Out., N=1307, Presencial.

O relatório síntese pode ser descarregado aqui.

Matosinhos. CESOP-UCP, 2-4 Out., N=1257, Presencial.

O relatório-síntese pode ser descarregado aqui.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Ritual

Retomando um já velho e sempre belo ritual das eleições autárquicas, venho informar que o CESOP-UCP apenas conduziu sondagens nos concelhos do Porto, Lisboa, Matosinhos e Oeiras. Tudo as restantes "sondagens da Católica" não existem, ou se existem não são da Católica.

Shameless, shameless, shameless plugs

1. Já está disponível online, na Public Choice, o artigo que escrevi com o LA-C sobre referendos e abstenção. Tudo começou com dois artigos de jornal: este e este (que, de resto, tinham sido antecedidos por um post de 2005 do LA-C no Destreza das Dúvidas). E foi uma das experiências mais interessantes em toda a minha vida profissional.


2. Dia 26 de Outubro, no ICS, terá lugar a palestra Sedas Nunes, proferida por Josep Colomer, cientista político da Pompeu Fabra e, já agora, blogger. Serão também entregues os Prémios Análise Social destinados a galardoar o melhor artigo publicado nesta revista em 2008, assim como o Prémio Especial do Júri para o melhor artigo publicado, também na Análise Social, por um jovem investigador. O júri, presidido por Jaime Reis (ICS), é composto por Jorge Flores (U. Brown), Peter Fry (U. Federal Rio de Janeiro) e Philippe Schmitter (IUE). O Prémio Especial do Júri foi para este artigo do Renato Miguel do Carmo. O Prémio Análise Social foi para este.

Faro. Aximage, 2-4 Outubro, N=500, Tel.

PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 41,1%
PS: 39,1%
Indecisos: 4%

Restantes dados não disponíveis na notícia online do CM.

Actualização:
PSD/CDS-PP/MPT/PPM: 41,1%
PS: 39,1%
CDU: 6,1%
José Vitorino: 4,9%
BE: 2,6%
OBN: 4%
Indecisos: 2,2%

Aqui (obrigado Beijokense).

sexta-feira, outubro 02, 2009

Porto. Eurosondagem, 28-30 Set., N=736, Tel.

PSD/CDS-PP: 45,9-50,1% (48%)
PS: 31,4-35,2% (33,3%)
CDU: 8,3-10,5% (9,4%)
BE: 4,5-7% (5,8%)
PCTP/MRPP: 0,4%

Aqui.

Porto. Intercampus, 28-30 Set., N=800, Tel.

PSD/CDS-PP: 44,4%
PS: 35,9%
CDU: 8,2%
BE: 7,9%

Aqui.

Lisboa. Intercampus, 28-30 Set., N=800, Tel.

PS: 41,4%
PSD/CDS-PP/MPT/PPM:33,1%
CDU: 10,4%
BE: 8,3%

Aqui.

Setúbal. Eurosondagem, 28-29 Set., N=510, Tel.

CDU: 35,8-40% (37,9%)
PS: 27,5-31,3% (29,4%)
PSD: 14,5-17,9% (16,2%)
BE: 6,9-8,7% (7,8%)
CDS-PP: 4,4-6% (5,2%)

16,7% não responderam ou não sabem em quem votarão.

Só outra gracinha

Se o Trocas tivesse sido uma sondagem para as legislativas, por quanto tinha falhado? Eis as últimas cotações antes do fecho do mercado dia 27 às 19.00h de Portugal Continental:

PS: 34
PSD: 32,5
CDS-PP: 8,95
BE: 11,05
CDU: 8

O desvio absoluto médio em relação aos resultados nacionais finais foi de 1,76. Melhor que a Marktest. Não levem isto demasiado a sério (sondagens não são previsões, sondagens - incluindo Marktest - feitas a vários dias da eleição, mercados incorporam informação das sondagens, etc, etc, etc). Mas que tem uma certa graça, até tem.

Autárquicas

Tal como há quatro anos, a Marktest tem um dossier sobre as sondagens publicadas sobre as autárquicas. Creio que lhes faltarão algumas, mas a arrumação e apresentação são boas, como habitualmente.

(Via Beijokense)

Oeiras. Eurosondagem, 29-30 Set., N=548, Tel.

Isaltino: 39-43,2% (ponto central: 41,1%)
PS: 21,2-25% (ponto central:23,1%)
PSD/CDS-PP/PPM: 16,9-20,7% (ponto central:18,8%)
CDU:7,2-9,4% (ponto central:8,3%)
BE:4,3-6,1% (ponto central:5,2%)
PCTP/MRPP:0,4%

A soma disto dá 96,9%, pelo que se infere que OBN=3,1%. 12,4% da amostra são NS/NR. Tudo aqui.

Trocas 1.1.4

No Trocas de Opinião, há agora gráficos que mostram a evolução das médias móveis ponderadas para cada cotação. Sobre as cotações propriamente ditas, o que pensa o mercado?

- Que a probabilidade de Pedro Santana Lopes ganhar as autárquicas em Lisboa é muito baixa. Já houve centenas de transações deste contrato, na sua esmagadora maioria abaixo de 10, e o índice nunca ultrapassou os 10. A última cotação, no momento em que escrevo: 6,5.

- Que a probabilidade de que Rui Rio ganhe a câmara do Porto com maioria absoluta é elevada. A cotação está acima dos 70 pontos desde 30 de Setembro. Dito isto, houve um número muito grande de títulos transaccionados a valores inferiores aos 50 e só com as últimas transacções o índice começou a recuperar.

- As vitórias de Isaltino em Oeiras e Narciso em Matosinhos não são vistas como garantidas. Cotação abaixo dos 50. Mas no caso de Isaltino, a subir.

- Que a vitória de Paulo Pedroso é Almada é vista como improvável. Houve picos com transações a 40, mas descida posterior em cotações e índice. Actual cotação é 5.

- A probabilidade do PSD obter 160 câmaras (teve 156 em 2005) é baixa, apesar da cotação estar a subir. Mas contrato pouco transaccionado.

Vamos ver como e se o mercado reage quando começarem a sair as últimas sondagens antes das eleições.

P.S.- Hesitámos, mas aí vão dois contratos de longo prazo: "Cavaco Silva recandidata-se à Presidência da República em 2011?" e "Governo cai antes de Setembro de 2010?".