terça-feira, março 31, 2009

Sustainable Governance Indicators 2009

A Fundação Bertelsmann contactou 90 pessoas nos 30 países da OCDE e pediu-lhes que elaborassem um relatório estruturado sobre quatro aspectos da governação no seu país: desempenho económico e em várias áreas das políticas públicas; a qualidade da democracia; as capacidades do executivo para fazer reformas e a responsabilização política dos governos perante os eleitores. Os dois primeiros serviram para elaborar um "Status Index" (a necessidade de reformas) e os dois segundos um "Management Index" (a capacidade para fazer essas reformas). O período analisado vai desde 2004 a 2007, ou seja, no fundamental, à primeira parte do mandato do actual governo (full disclosure: fui uma das três pessoas em Portugal que redigiu um destes relatórios).

Os resultados estão neste site. Os resultados gerais para Portugal estão aqui, e existe um relatório mais pormenorizado para Portugal, que assinala os aspectos em que os "peritos" contactados divergiram mais seriamente na sua análise. Se bem que esteja lá muita coisa em que não me revejo, não me custa concordar com o tom geral, tal como aplicado ao período 2004-2007. Mas ao reler tudo fico com a ideia de que algumas coisas mudaram na 2ª parte do mandato ou, pelo menos, que a observação da 2ª parte do mandato me levaria a rever algumas das conclusões. Mas aí está. Principais resultados:

Status:
"At rank 20, Portugal's status performance is below average. Profound socioeconomic disparities and weak economic performance are mitigated somewhat by well-developed democratic institutions and a proactive integration policy". Os únicos aspectos em que estamos acima da média é na área da segurança (baixa criminalidade) e integração dos imigrantes. Os aspectos em que estamos pior são a situação socioeconómica do país e o nível de coesão social.

Management:
"At rank 19, Portugal's management performance is below average. Although the government generally has achieved its policy objectives, its strategic planning at times lacks substance." Os aspectos em que estamos acima da média tem a ver com a capacidade do executivo transformar propostas em legislação. Os aspectos em que estamos pior têm a ver com a implementação das políticas, o planeamento estratégico, a medição dos impactos das políticas e a capacidade de parlamento e cidadãos controlarem a acção do governo.

Eleições europeias

Num número do Journal of Politics de 2007, está um artigo intitulado "Punishment or Protest? Understanding European Parliament Elections", de Simon Hix e Michael Marsh. Algumas citações:

"First, starting with the old15 states, governing parties certainly lose. Nevertheless, the results from models 2 and 3 reveal that large governing parties lose more than small parties in government. Second, the results on the variables that capture the cubic effect of party size reveal that larger parties lose votes, while small parties gain votes and medium-sized parties remain stable, regardless of whether these parties are in government or opposition. Third, we find a relationship between the timing of a European election in a national electoral cycle and the extent of government losses. More precisely, there is a “honeymoon effect”, such that governing parties gain votes in European elections when these are held shortly after a national election, as was the case in Britain in 1979 and in Spain and Greece in 2004."

" The first result to note is that adding party family, European policy positions, and left-right positions to the mix does not change the main results of the second-order elections model as it applies in the old15 member states. Basically, large governing parties lose votes in European elections (if the election is not held immediately after a national election), regardless of their party family, whether they are pro-European or anti-European, or whether they are on the left, the right or at the extremes. This result is robust across all specifications. In other words, big parties tend to lose regardless of their policy stances, a finding that supports the second order explanation over the Europe-matters explanation, with voters following their hearts rather than heads."

" Nevertheless, differences in the performance of parties in European elections are not only explicable in terms of the second-order national elections framework. There is some evidence that a party’s position on the EU matters. In fact, extreme anti EU parties gain some almost 4 more percentage points more than those who are neutral (scoring -0.5 or +0.5 on the anti/pro scale), while those who are extremely positive gain almost a point more than those who are neutral."

"Small parties gain and large parties, particularly large government parties once an initial honeymoon is over, lose. This fairly mechanical formulation accounts for almost 40% of the apparent volatility we see in the performance of parties between national elections and European elections. We also found, nonetheless, that even when size and government status are held constant, anti-EU parties do much better than average. Green parties also perform relatively well, and socialist parties relatively poorly, although these differences are small. These outcomes do seem to be motivated by European concerns of voters. However, in substantive terms, these are minor effects. For example, anti-EU parties are relatively rare, and for the other party families, their European policy preferences hardly mark a difference. (...) Broadly speaking, then, our results point to “punishment against governments” rather than “protest against the EU” as a primary force making European elections different from national elections. The exceptions to this are perhaps just that, exceptions."

"Turning to the bigger picture, there has been a dramatic increase in the power of the European Parliament in the last two decades and there is growing evidence that politics inside this assembly is highly competitive and partisan (e.g. Hix et al. 2006). However, after six rounds of direct-elections to this institution the ‘electoral connection’ between citizens and MEPs remains extremely weak. Citizens do not primarily use European Parliament elections to express their preferences on the policy issues on the EU agenda or to reward or punish the MEPs or the parties in the European Parliament for their performance in the EU. Put another way, European Parliament elections have failed to produce a democratic mandate for governance at the European level, and there are few signs that further increases in the powers of the European Parliament would be sufficient to change this situation."

À atenção da rapaziada neste novo (e bem vindo) blogue.




Zoom

A maior parte das perguntas que recebo por e-mail têm a ver com a comparação entre os dois gráficos anteriores e a questão da "descida" do PS. Qual é o "melhor" gráfico?

Bem, vejamos a coisa assim:

1. O gráfico que contém todas as estimativas - vamos chamar-lhe "Mr. Smoother" - faz o seu trabalhinho da seguinte forma: pega em cada observação e transforma-a numa observação "amaciada", usando para esse efeito um sub-conjunto de observações na sua vizinhança (no caso, 25% do total das observações) e dando dando mais peso àquelas que estão mais próximas. Juntando os pontos "amaciados" ficamos com uma linha cuja variabilidade é inferior à real variabilidade dos dados e que, desejavalmente, nos permite visualizar melhor tendências sem estarmos a ser confundidos por ruído aleatório.

O problema de Mr. Smoother é que é um bocadinho ingénuo: se eu lhe atirar com 50 sondagens de um instituto e uma de outro para cima, ele ignora esse facto e continua com o seu trabalhinho como se nada fosse. Mas compensa essa ingenuidade com um sólido conservadorismo: como "tempera" cada observação com informação das observações vizinhas, Mr. Smoother não se deixa enganar facilmente por flutuações irrelevantes e, para dizer que algo está a mudar, exige ser convencido e persuadido repetidamente. Só se lhe mostrar várias observações consecutivas que apontam na mesma direcção é que ele se decide a dizer que algo está a mudar. Não lhe fica mal.

2. O Dr. House Effects (PhD) é toda uma outra personalidade: chega ao fim de um mês e grita "Subiu!", "Desceu!", "Não mudou!" em comparação com o mês anterior. E diz estas coisas mesmo se eu só lhe mostrar uma sondagem para esse mês. Como é que a criatura se arrisca a dizer uma coisa destas? Bem, a diferença entre o Dr. House Effects e o Mr. Smoother é que o primeiro, quando diz qualquer coisa, olha para todas as observações desde 2005. E sabe uma coisa sobre cada uma delas que o Mr. Smoother resolve ignorar: que instituto fez cada sondagem.

Tomando essa informação em conta, o Dr. House Effects apura que, ao longo de todo o período, há institutos que tendem a dar melhores ou piores resultados para um determinado partido. E quando lhe dizem que um determinado resultado veio de um determinado instituto, o Dr. House Effects toma essa informação em conta para estimar um resultado para cada mês. Ele não diz que esse resultado é o resultado "certo". Esse assunto não o interessa. O que lhe interessa é dar resultados mensais comparáveis uns com os outros, independentemente do "mix" particular de institutos que fizeram sondagens em cada mês. Gosta de arriscar e pode-se mais facilmente espatifar, ao contrário do Sr. Smoother. Mas é menos ingénuo que o seu colega.

Como vêem nos dois posts anteriores, o Dr. House Effects anda há uns tempos a gritar: "Hey, o PS subiu bastante de Setembro para Outubro, mas a partir de Dezembro começou a descer novamente!". Mr. Smoother já tinha percebido a subida há algum tempo, mas demorava a ser convencido da descida. Mas com as últimas sondagens, começa também a achar que sim. O Dr. House Effects grita: "por que é que não olhaste para as tendências por instituto? Eu tinha-te dito!":




Mr. Smoother não quer saber e vai continuar como dantes. Antes tarde e seguro que cedo e errado.

O "zoom" mostra também que não é fácil apurar causas destas coisas. Na Marktest é limpinho: PS sobe após à crise financeira e desce após o caso Freeport. Mas os resultados das outras sondagens são compatíveis com outras hipóteses, nomeadamente a de que a descida não passa de um retomar de uma tendência anterior.

quinta-feira, março 26, 2009

Finalmente

O programa de investigação sobre comportamento eleitoral que coordeno com a Marina Costa Lobo no ICS tem finalmente um site apresentável. Vão lá ver. Este ano haverá muita coisa para lá pôr.

Antecipação

Aconselho aos outros maluquinhos das sondagens que adiantem já a leitura da seguinte passagem das fichas técnicas das sondagens eleitorais da Marktest, explicando a forma como são ponderados os resultados brutos:

Projecção com base na ponderação da amostra considerando o voto em eleições anteriores
A projecção apresentada da intenção de voto para a totalidade dos eleitores não pode ser feita linearmente considerando a elevada percentagem de lares excluídos da amostra efectiva pelo não contacto, pelas ausências e recusas e cujo comportamento não será necessariamente representado pelos respondentes.
Para garantir que a amostra é representativa do eleitorado, em cada mês, é perguntado ao entrevistado em que partido votou nas últimas eleições legislativas , Fevereiro 2005. Com base nestes resultados a amostra é reequilibrada por forma a poder ajustar-se fielmente à estrutura dos resultados eleitorais de 2005. Nesta ponderação é utilizado o processo de "rim-weighting" que é um processo iterativo o qual para alem de reproduzir os resultados eleitorais de 2005, mantêm a composição da amostra no que respeita às variáveis de controlo: região, sexo, idade. Após este procedimento são retabulados as respostas sobre a intenção de voto actual, obtém-se a estimativa da intenção de voto. O valor dos Voto em Branco/Outros/Nulos, é ajustado ao valor médio obtido nos dois últimos actos eleitorais para a Assembleia da República. Estes resultados são apresentados ao cliente como sendo resultado de uma previsão da responsabilidade da Marktest, com base nos resultados da sondagem.


Sobre a prática de ponderar os resultados na base de recordação de voto, ler, por exemplo, Weighting, no UK Polling Report, especialmente a secção intitulada "Political weighting".

E pronto: já libertei o fim de semana.

P.S.- Boas hipóteses, mas a resposta é difícil. Se a Marktest divulgar a distribuição das respostas à pergunta sobre a recordação de voto a coisa fica mais fácil. Capazes disso são eles, espero.

segunda-feira, março 23, 2009

Ainda JM

Por mera curiosidade, já encontrei a passagem relevante para o post anterior. Não me recordava dos pormenores, mas o fundamental está correcto:

"O Sr. Jorge Miranda (ASDI): Por um lado, quanto às entidades com poder genérico de iniciativa, verifica-se que, da parte da FRS, se mantêm as actualmente constantes do n.° 1 do artigo 281.° e se acrescenta uma referência a grupo parlamentar. O PCP, em vez da referência a grupo parlamentar, indica um determinado número de deputados. Julgo ser mais correcta a posição do PCP do que a posição constante do projecto da FRS, porque um grupo parlamentar pode hoje ser formado por um número extremamente reduzido de deputados e convém que a iniciativa, no domínio da apreciação da inconstitucionalidade, não seja aberta sem quaisquer cautelas. Parece-me também que o número proposto pelo PCP - um décimo do número de deputados- é um número razoável e vai ao encontro das preocupações de harmonização que deve haver neste domínio. É um domínio particularmente sensível, em que não se trata de desencadear uma qualquer acção política -se fosse isso, valeria a pena dar-se a qualquer grupo parlamentar, mesmo que formado por 2 deputados, tal poder -, mas, pelo contrário, trata-se de algo em que apenas a partir de certo número de deputados deve haver possibilidade de uma intervenção do Tribunal Constitucional.
(...)
O Sr. Presidente [Borges de Carvalho (PPM)]: Registe-se a posição notavelmente altruísta do Sr. Deputado Jorge Miranda, de que eu não seria, evidentemente, capaz.

(...)
O Sr. Nunes de Almeida (PS): O deputado Jorge Miranda colocou-me, como deve calcular, numa situação difícil. Esta proposta da FRS tinha em conta os pequenos grupos parlamentares, já que era subscrita por deputados de um chamado partido grande e de dois partidos pequenos. O Dr. Jorge Miranda libertou-nos, de certa forma. Não podia, em nome de todos, retirar o que cá está, pois não está presente a UEDS. Restaria, portanto, essa questão.
(...)
O Sr. Jorge Miranda (ASDI) - Sr. Presidente, relativamente à minha intervenção onde, de forma algo extemporânea, me referi aos grupos parlamentares, valeria a pena dizer que, por um lado, se aqui aparecem os grupos parlamentares, foi por bondade ou por consideração específica que o PS teve em relação aos outros dois grupos subscritores do projecto da FRS. Foi também, para falar com toda a franqueza, tendo em vista a discussão a travar nesta Comissão. Desde o momento em que aparece uma fórmula, como a do PCP, que parece preferível, da nossa parte não há nenhum problema, até porque, repito, esta matéria da fiscalização da constitucionalidade se situa muito para além da defesa dos interesses políticos deste ou daquele grupo parlamentar. Temos de tomar em consideração a necessidade de evitar qualquer banalização da fiscalização. Um dos grandes perigos que pode haver no domínio da fiscalização da constitucionalidade é o da banalização, do abuso, da chicana constitucional. À partida, é de supor que um décimo dos deputados da Assembleia da República ponderarão, até devido à sua representatividade, mais uma qualquer solicitação ao Tribunal Constitucional do que um qualquer grupo parlamentar, formado, por hipótese, por 2, 3 ou 4 deputados. E nada impedirá que quaisquer deputados, individualmente considerados, integrantes de diversos grupos parlamentares, se juntem para o efeito. Além disso, esta solução tem a vantagem de valorizar o estatuto do deputado, a qual deve ser uma preocupação fundamental da revisão constitucional, com vista à consolidação do regime democrático em Portugal. Por tudo isto, congratulo-me com o princípio de consenso a que parece ter-se chegado."

In D.A.R. II Série, Suplemento ao nº 69, II Legislatura, 2ª sessão legislativa. Acta da reunião do dia 13 de Janeiro de 2002 da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional, pp. 1-36.

domingo, março 22, 2009

Outlier: Jorge Miranda

Em tempos que já lá vão, quando fazia investigação para uma tese de doutoramento sobre o Tribunal Constitucional, encontrei uma passagem nos debates na AR em 1982 que me impressionou bastante. O que se debatia era uma coisa muito técnica, mas com implicações políticas importantes: a saber, a quantos deputados se deveria dar o direito de solicitar a fiscalização sucessiva das leis junto do TC. O projecto da FRS, à qual a ASDI de Jorge Miranda pertencia, previa que esse direito devia ser concedido a qualquer grupo parlamentar, ou seja, dando à ASDI (e à UEDS) o poder de solicitar essa fiscalização. O PCP, por seu lado, propunha 1/10 dos deputados, o que daria a si próprio essa possibilidade, mas não aos grupos parlamentares mais pequenos. A AD estava inicialmente contra a possibilidade de que os deputados pudessem sequer iniciar esta litigância, temendo que o PCP a usasse de forma desbragada.

Agora não tenho tempo para procurar as páginas do DAR onde o tema foi discutido, mas recordo a surpresa geral com que a intervenção de Jorge Miranda foi recebida. Miranda defendeu que, sabendo bem que o projecto da FRS convinha à ASDI, achava mal. Achava que os parlamentares deveriam poder iniciar a sucessiva, mas que importava colocar alguns limites, exigindo que uma proporção significativa de deputados subscrevessem o pedido, de forma a evitar uma trivialização da litigância constitucional. Lembro-me inclusivamente que ficou tudo tão pasmado com a sua intervenção que houve um deputado, não me recordo quem, que alertou Jorge Miranda para o facto de que a ideia que estava a defender ir prejudicar o seu próprio partido, mas que lhe agradecia a posição, dado que facilitaria o consenso. Ao que, se não erro, JM respondeu que tomava essa posição por questões de princípio, independentemente de isso ir prejudicar o seu grupo parlamentar. Acabou por haver acordo em torno da proposta do PCP e a ASDI ficou sem direito de iniciar a sucessiva.

Apesar de tudo o resto de muito mais importante que Jorge Miranda fez na sua vida, é disto que me lembro quando penso nele. Nunca tinha visto nada assim, e nunca mais voltei a ver.

Começa bem

"As sondagens são uma coisa e o que o povo pensa é outra."

Elisa Ferreira, em entrevista ao Correio da Manhã.

sexta-feira, março 20, 2009

Menções de políticos na imprensa

O Abrupto mostra um exercício interessante enviado por um leitor: uma pesquisa no DN pelas expressões "passos coelho" e "ferreira leite", revelando que, para a primeira, existem 2826 resultados, enquanto que, para a segunda, apenas 1308.

Fiquei a pensar por que razão nunca me teria lembrado disto, e comecei logo a congeminar um quadro comparativo para os vários jornais que permitissem essa pesquisa. Contudo, quando fui ao DN, aconteceu-me isto (pesquisas no motor de busca da página de abertura, expressões entre aspas, aspas essas que não sei se estão a funcionar, dado desaparecerem dos resultados da pesquisa):



Passos Coelho, 2826 resultados; Ferreira Leite, 9008. Ora bolas. Mas continua a ser interessante. Seria óptimo se houvesse maneira de obter estes dados de forma realmente fiável, em série temporal, e jornal a jornal. As empresas de recortes não terão isto? Os agregadores de notícias não permitirão este tipo de análise?

quarta-feira, março 18, 2009

Greenberg, on solicitousness about public opinion.

"When you look at all of these leaders, you begin to realize, as you look across them, that they worked to be in tune with the public (...), they are reporting back on progress, they're engaged with people and trying to mobilize them at various times. They are trying to bring pressure on others, they're trying to educate people, they are trying to persuade, you know, and move people. And so, what is characteristic of these leaders, you know, was a solicitousness about public opinion, a sense of responsibility to educate and engage, which made them much more effective, in my sense made them more democratic leaders that produced an healthier society and healthier outcomes. (...) And that contrasts...what brought it home to me, more than anything, was George Bush and Vice-President Cheney. Cheney in particular. When asked by a reporter about, when we was in Iraq, noting that two-thirds of the American people thought the Iraq War was a mistake, and what he thought of that. And he paused, and his response was 'So?'. He said 'We don't drive our mission from focus groups and polls.' Maybe if they thought that part of their responsibility as leaders was to try to persuade, and engage, and educate, maybe they would have pursued different kinds of policies as they went forward."

Greenberg, again.

"Voters want their pound of flesh. You ran, you said you were going to do certain things... every one of these people [Blair, Clinton, Barak, Losada, Mandela] had immense difficulties doing what they said they were going to do. Either because they overpromised, because the economy turned out to be much tougher, the budgets had to be more austere, there were other power centers that came into play, they were not as strong as they thought they were, they were not as united as they thought they were ... all of them had trouble succeeding. So all of them faced a kind of renegotiation with the voter. And voters are willing to listen, if there's reality."

Podcast de conferência na Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA) , 3 de Março de 2009, a propósito de Dispatches from the War Room.

terça-feira, março 17, 2009

Stanley Greenberg

"I begin with a respect for voters, and viewed my work, from the beginning, first as an academic and then as a political pollster in campaigns, as trying to figure out how to get leaders to respect people, how to make leaders more responsive, how to make them, ultimately, more accountable. The problem is that I'm now a pollster, a close cousin to spin-doctor, which has the profession, in American terms, of making shit shine. Of making things the opposite of what they are, manipulating, making reality...making reality seem the opposite of what it is. And so, the danger - and which I take as real, I didn't write this book as a defense of my profession or what I do - my starting point is that I'm not sure that the tools that I developed to make leaders more accountable to voters aren't in fact making leaders less accountable. I was particularly focused, as I wrote this book, on the United States, where there is building, building evidence of leaders holding on to power despite being out of touch with voters on an extraordinary range of issues. Leaders growing more arrogant, seeming they can avoid accountability. And my techniques are not a small part of the process of avoiding accountability. So my starting point is, am I in fact making the problem worse than I set out to solve?"

Podcast de conferência na Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA) , 3 de Março de 2009, a propósito de Dispatches from the War Room.

segunda-feira, março 16, 2009

Contem-me como foi.

Colaboro com o Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Católica desde 1999. A partir do momento em que fiquei responsável pelas sondagens políticas, comecei a arquivar os resultados. O que mostro de seguida são as estimativas de resultados eleitorais desde essa altura, nas sondagens do CESOP/Católica, para o PS e o PSD, até à mais recente sondagem (Dezembro de 2008). São 29 sondagens, em regra trimestrais, mas cuja regularidade foi por vezes perturbada por razões de calendário eleitoral (das legislativas - maior regularidade - e de outras eleições - impondo maior espaçamento) e outros condicionalismos. As linhas de referência verticais são as eleições, com os respectivos resultados.

Se coloco aqui isto é porque me suscita uma questão muito simples. Para alguns, a resposta vai ser fácil: as sondagens não prestam, ou têm dificuldade em captar determinado tipo de eleitores em períodos longe das eleições, etc e tal. Tudo bem. Sinceramente, não excluo, mas gostava de perceber que argumentos existem. Mas para outros, a questão permanece: como foi que uma coisa destas aconteceu ao PSD?

P.S.- Por aqui a discussão vai boa.

sexta-feira, março 13, 2009

Mais gráficos

Há dias, numa apresentação que fiz no Museu Biblioteca República e Resistência, num ciclo organizado pelo ICSTE, mostrei uns gráficos. Há dois que gostava de mostrar aqui.

O primeiro mostra a soma das percentagens de votos válidos obtidos pelo PS e pelo PSD em cada eleição. Em 1979 e 1980, a votação do PSD é estimada como uma proporção do voto na AD, calculada na base da média dos resultados PSD, CDS e PPM nas eleições imediatamente anteriores e posteriores. E para 2009, os 67% são a estimativa das sondagens para Março de 2009, controlados "house effects". O que o gráfico diz é simples: se as eleições fossem hoje (eu sei, eu sei), PS e PSD teriam, no seu conjunto, o pior resultado desde as eleições de 1985.

O segundo gráfico repete esta informação mais adiciona uma série, a da soma dos votos válidos nos candidatos presidenciais apoiados pelo PS e pelo PSD (1º volta, quando houve duas). Exclui, no entanto, todas as eleições presidenciais onde o Presidente se apresentou a reeleição, por terem características muito diferentes.

Há uma "teoria" sobre a bipartidarização em Portugal que a vê como efeito das presidenciais, ou seja, como efeito da constituição de dois "blocos" em torno de dois principais candidatos, que ajudaria a cristalizar os votos em torno dos dois principais partidos. A "teoria" inversa - bipartidarização concentra votos nos candidatos dos dois principais partidos - é igualmente plausível e, confesso, nem sei bem por onde começaria para testar uma ou outra como deve ser. Mas a observação das duas séries é, digamos, sugestiva. Até para pensarmos em como as presidenciais de 2006 podem ter ajudado a "soltar" eleitores do PS...

quinta-feira, março 12, 2009

A popularidade de Sócrates

Eduardo Pitta comenta a peça do Público sobre a evolução da popularidade do PM, questionando-se sobre a fonte que os leva a dizer que Sócrates está em terreno negativo desde Maio de 2007.

Mesmo não tendo responsabilidades na peça, vamos ver se posso ajudar:

1. Os dados são da Marktest. Isso é mencionado no jornal. O gráfico do Público há-de ser muito parecido, por exemplo, com este que aqui publiquei, no que a Sócrates diz respeito, a não ser que me parece que o Público se limita a calcular o saldo "opiniões positivas" - "opiniões negativas", e eu corrijo esse saldo pelas não respostas.

2. É também verdade aquilo que Eduardo Pitta afirma: nos estudos da Eurosondagem divulgados no Expresso, na RR e na SIC, Sócrates está em terreno positivo.

3. De notar, contudo, que a comparação entre os resultados de um e outro instituto é complicada pelo facto de a Eurosondagem ter uma opção adicional de resposta: "nem boa nem má". Mas como venho mostrando aqui há muito tempo, isso não explica tudo. Os resultados da Eurosondagem para o PR exibem tendências muito semelhantes às da Marktest, mas não tanto no caso do PM. isto não é um juízo sobre quem "tem razão". Não faço ideia. É uma constatação de facto.

4. Eduardo Pitta já não tem razão quando diz que "a afirmação dos jornalistas contradiz todas — repito: todas — as sondagens encomendadas e divulgadas até hoje pelo próprio Público, pelo DN, pelo Correio da Manhã, pelo JN, pelo Expresso, pela RTP, pela SIC, pela TVI, pela Rádio Renascença, pela TSF, pela Visão, pela Sábado, etc."

4.1 Nas sondagens do CESOP/Católica, onde os líderes políticos são avaliados de outra forma - numa escala de 0 a 20 - Sócrates está, há algum tempo, em terreno negativo no que respeita à avaliação média dos eleitores (abaixo de 10 pontos). Em Janeiro de 2007, essa avaliação média era de 10,2 pontos. Em Maio de 2007, ainda 10,1. Mas em Outubro de 2007 já estava em 8,9, em Fevereiro de 2008 era de 9,3, em Julho de 2008 era 8,5, em Outubro de 2008 era 8,4, e em Dezembro passado 8,8. Logo, apesar dos indicadores serem diferentes, os resultados do CESOP (JN, RTP e Antena 1) são congruentes com os da Marktest, quer no momento da queda (após Maio de 2007) quer na ideia de uma recuperação ligeira após Outubro de 2008.

4.2 Os resultados do CESOP/Católica têm exibido bastantes semelhanças com os da Aximage, que usa o mesmo método: nota média de 0 a 20.Não tenho recolhido a série completa, mas para infirmar aquilo que Eduardo Pitta diz sobre as "outras sondagens" basta dizer que, em Dezembro passado, por exemplo, a média das avaliações de Sócrates na sondagem Aximage era 8,8 (tal como na sondagem da Católica).

5. Nada disto impede que a maioria dos eleitores tenha mais confiança em Sócrates como PM do que qualquer outro líder partidário, um dado que Eduardo Pitta também menciona e que é muito importante. Mas isso é outra questão.

quarta-feira, março 11, 2009

Pensionistas

Há dias, no lançamento de um livro, Pacheco Pereira terá afirmado que o PCP é um partido "alimentado por pensionistas". Li isto no Mirante, não consigo encontrar a notícia online e não sei bem em que contexto a afirmação foi feita. Mas certamente que não se refere a uma característica distintiva do PCP no âmbito do comportamento eleitoral em Portugal. Este e este quadros já chegariam, mas podemos ir mais longe:

Se há partidos onde os pensionistas tenham maior propensão para votar, é no PS e no partido de Pacheco Pereira.

The pulse of what people are thinking

No Pollster, Mark Blumenthal cita um recente perfil de David Axelrod, assessor principal de Obama, publicado no NYT. O artigo fala das "reuniões de 4ª feira à noite":

"Jon Favreau, the president’s chief speechwriter, said there was a familiar refrain during these meetings, with Mr. Axelrod urging the team not to become consumed by the insularity of Washington. 'Can I speak on behalf of the American people here?' he said Mr. Axelrod often asks aloud. That is precisely why, Mr. Axelrod said, he convened the Wednesday Night Meetings: to keep the pulse of what people were thinking. Locked in the White House all day, he added, he can no longer hear those voices on his own.

[T]he Wednesday night meetings suggest that
the strong belief in polling and focus groups from the campaign are alive in the White House. Joel Benenson, a pollster for Mr. Obama, is among the participants in the sessions. He said that Mr. Axelrod often asked one question above all: 'How do we make sure that the arguments from the president’s agenda are made in the most persuasive way?'

Foi (também) sobre isto que eu tentei escrever aqui.

segunda-feira, março 09, 2009

Bases de dados

No lado direito, passam a estar disponíveis duas folhas de Excel com os dados sobre as estimativas de intenção de voto e avaliações do Presidente, do Primeiro Ministro e do líder do PSD desde 2005. No que respeita às intenções de voto, procurei incluir todas as sondagens de que tive conhecimento, com os procedimentos, cautelas e omissões descritos aqui e aqui. No que respeita à popularidade, incluo apenas a Eurosondagem e a Marktest, por serem as séries mais longas.

Se detectarem erros, ficarei imensamente grato que mos apontem, para poder corrigir. Não garanto actualização tão regular para as bases como para os gráficos que vou apresentando, mas a verdade é que qualquer um de vós poderá, a partir de agora, usar estas bases para as actualizar. Se usarem estes dados para algum fim público, só peço que mencionem onde os encontraram.

sábado, março 07, 2009

Aximage, 2-5 Mar, N=600, Tel.

Resultados com redistribuição proporcional de indecisos:
PS:40,2% (40,0%)
PSD:25,2% (24,9%)
BE:13,2% (12,6%)
CDU:9,5% (9,6%)
CDS:7,1% (8,1%)
OBN:4,7% (4,9%)

Resultados brutos:
PS:38,3% (38,2%)
PSD:24,0% (23,8%)
BE:12,6% (12,0%)
CDU:9,0% (9,2%)
CDS:6,8% (7,7%)
OBN:4,5% (4,7%)
Indecisos:4,8% (4,5%)

Este é o tipo de resultados que, suspeito, os jornalistas detestam: nada para dizer a não ser falar de "subida de 0,1 pontos percentuais". A notícia está aqui. Obrigado aos leitores que foram, entretanto, deixando estes resultados nos comentários.

sexta-feira, março 06, 2009

Outlier: Out, liar.


Maybe not.


O marketing político não devia ser visto como uma disciplina completamente inútil

O Bloco Central


Actualização: estimativas mensais, controlados "house effects"


Notem a diferença em relação ao gráfico abaixo. Nesse, o smoother que capta a tendência é afectado pela contribuição diferente que diferentes institutos são para a mancha de pontos. Mas quando estimamos um resultado mensal onde se assumem efeitos fixos dos institutos de sondagem, o retrato é um pouco diferente: há um boost para o PS em Outubro (crise), mas lento declínio desde aí. PSD estabiliza após queda de Outubro. Ou se quiserem ver a coisa doutra forma, PSD não recupera do embate da segunda metade de 2008 ao passo que PS, após boost de curto-prazo trazido pela crise, retoma tendência anterior.

Actualização: estimativas de resultados eleitorais


Eurosondagem, 26 Fev-3 Mar, N= 1018, Tel.

PS: 39,0% (40,3%)
PSD: 28,3% (29,1%)
BE: 10,4% (10,1%)
CDU: 9,6% (8,8%)
CDS-PP: 7,7% (6,9%)
OBN: 5,0% (4,8%)

Aqui.

quarta-feira, março 04, 2009

"Personalização"

Os dados completos da última sondagem da Marktest já podem ser encontrados aqui. Há um gráfico que não mostro há muito tempo, o da popularidade dos líderes. Mostro de seguida os dados da Marktest (porque os da Eurosondagem, tal como apresentados no Expresso, estão sistematicamente incompletos de há meses para cá e o site da SIC é uma confusão pegada onde nunca se encontra nada). Cada valor corresponde ao saldo entre opiniões positivas e negativas, corrigido pela percentagem de não respostas.

Isto para dizer duas coisas. Primeiro, que a vida não está fácil para ninguém, Presidente incluído. Segundo, que concordando genericamente com o que a Marina diz sobre a "falta de novidade" da "personalização da política", isto (o "Movimento Sócrates 2009") é capaz de ser um bocadinho exagerado à luz daquilo que o "líder" parece ter para oferecer em valor eleitoral acrescentado.

segunda-feira, março 02, 2009

Outlier: o pluralismo da comunicação social.

A Presidência acaba de anunciar o veto do decreto que aprova "a Lei do pluralismo e da não concentração dos meios de comunicação social". Os argumentos ligam-se ao facto de a Comissão Europeia estar ainda a discutir os critérios desse pluralismo, a utilização de conceitos indeterminados como "instrumentos de aferição reconhecidos no meio", à possível necessidade de intervenção do Estado no sector e a necessidade de "consenso político alargado para a aprovação de regras objectivas, claras e transparentes".

Interessam-me especialmente o segundo e quarto argumentos. Discuti-os aqui, há umas semanas, no blogue da Sedes. Como ficará óbvio da leitura desse post, acho que o veto era uma necessidade absoluta. Ainda bem que ocorreu.

domingo, março 01, 2009