sábado, abril 30, 2005

Marktest, 29 de Abril

Para que servem as sondagens sobre intenção de voto nos períodos entre-eleições?

Uma coisa para que de certeza não servem é para se dizer, como aqui, que "o Partido Socialista voltaria a ganhar com maioria absoluta as eleições caso estas se realizassem em Abril, se bem que com uma menor vantagem frente ao PSD, revela o Barómetro DN/TSF/Marktest". As versões online das notícias sobre o Barómetro Marktest, quer na TSF quer no DN, são omissas na ficha técnica quanto à percentagem daqueles que não responderam ou disseram não saber em quem votariam, mas é quase certo e sabido que essa percentagem é muito superior à verificada nas sondagens imediatamente antes das eleições. Nestas circunstâncias, dizer-se que "o PS voltaria a ganhar com maioria absoluta" (ou dizer-se o contrário) é pouco menos que absurdo.

Mas isso não quer dizer que estas sondagens sejam inúteis. Por um lado, a comparação ao longo do tempo das intenções de voto, se bem que nada nos diga sobre resultados eleitorais, diz-nos algo sobre tendências de aumento ou diminuição de apoio a estes ou aqueles partidos. Por outro lado, estes dados são relativamente interessantes: poucas semanas depois das eleições de 2002, o PSD já aparecia como derrotado nas sondagens de intenção de voto e a avaliação de Durão Barroso era já predominantemente negativa; contudo, o governo PS já tem "honeymoon period". Se isto significa que os portugueses adoram Sócrates ou se simplesmente significa que preferem que não os aborreçam com política, governos e oposições pelo menos até 2009 é que os números já não esclarecem cabalmente.

quinta-feira, abril 28, 2005

As incógnitas do dia 5

David Cowling
Com um ponto muito importante que não desenvolvi no post anterior:

Labour's nightmare is that some of their 2001 voters will drift to third-placed Lib Dem candidates in key marginals with the result that a number of them will fall to the Conservatives.

E claro:

To avoid such a fate, Labour needs to motivate its supporters to turn out on polling day.


Alan Travis, no Guardian, com uma interpretação mais "optimista" dos trabalhos de Blair:

This difference underlies the central finding of this week's poll: the Conservatives' aggressive campaign to impugn Mr Blair's personal integrity is in fact fuelling a sharp rise in his popularity as the campaign goes into the final seven days.


Mas, no mesmo Guardian:

Labour is under mounting pressure in marginal seats in the face of strong voter scepticism and a disciplined Conservative attack which has reduced Labour's lead to 2% or less in key constituencies.









UK update

Os meus comentários às sondagens para as eleições britânicas do próximo dia 5 têm sido um bocado voláteis . Aqui, as coisas estavam "mais abertas do que pensava", o o Partido Conservadores "subia". Aqui e aqui, já estava tudo resolvido.

Pois, era suposto ter qualquer coisa de mais definitivo para dizer. Mas a verdade é que:

1. Por um lado, é difícil acreditar que não esteja tudo resolvido. Por razões que expliquei aqui, e que têm a ver quer com o actual funcionamento do sistema eleitoral e quer com os padrões de comportamento eleitoral, a derrota dos Trabalhistas em número de deputados é uma enorme improbabilidade, mesmo que a derrota em percentagem de votos o seja menos.

2. Contudo, por outro lado, as sondagens têm apresentados oscilações estranhas. Parte da oscilação tem a ver com as dramáticas variações metodológicas entre os diferentes institutos: uso de entrevistas face-a-face, telefónicas ou pela internet; formas muito diferentes de filtrar os "votantes improváveis" (ou seja, de lidar com o problema da "abstenção diferencial"); e formas diferentes de ajustar os resultados aos efeitos da "espiral do silêncio" (ou seja, da diferente disponibilidade de diferentes votantes para assumirem a sua escolha eleitoral).

Tudo isto para dizer que, depois de muitos dias de boas notícias para Blair, a última sondagem Mori (26 de Abril) tem resultados perturbantes:

1. Apenas 2% de vantagem para os Trabalhistas;
2. Quanto mais exigente o "filtro" dos votantes prováveis, melhores os resultados dos Conservadores. Ou seja: eleitores trabalhistas mais hesitantes se irão votar ou não. Ou seja: quanto maior a abstenção, melhor o resultado dos Conservadores deverá ser. O voto Trabalhista revela-se, em parte, soft vote.
3. 57% dos eleitores não consideram Blair "digno de confiança". E as últimas notícias não deverão ajudar muito neste capítulo.

Uma derrota dos Trabalhistas continua a pertencer ao reino das grandes improbabilidades. E a desacreditação de Blair aos olhos dos ingleses, uma tendência inexorável desde a guerra do Iraque, deverá favorecer mais os Liberais Democratas do que os Conservadores, pelo menos em termos de percentagem de votos. Mas mesmo assim, o dia 5 merece atenção. O que sucede se, em face da mais que provável vitória de Blair e da sua erosão política, os eleitores Trabalhistas decidirem ficar massivamente em casa? Não seria a primeira vez que as sondagens se equivocam de forma catastrófica no Reino Unido...

quarta-feira, abril 27, 2005

Poll of polls, referendo francês, 27 de Abril

Cá está: a média móvel das últimas três sondagens sobre o referendo francês desde Junho de 2004, baseada nos resultados da Ipsos, CSA, BVA, Louis-Harris e Sofres. A sondagem mais recente é a da IPSOS, de 22 de Abril




1. Há um ponto de viragem claríssimo em meados de Março. A sondagem Sofres de 10 de Março é a última que dá "vitória" do Sim (tal como todas as anteriores). A sondagem CSA de 17 de Março é a primeira que dá "vitória" ao Não (tal como todas as seguintes). A dinâmica do Não só emerge, portanto, imediatamente após o anúncio da data do referendo, e corresponde, segundo os vários estudos, à mobilização do eleitorado de esquerda contra a Constituição Europeia.

2. Recuperação do sim? É ainda cedo para dizer, mas as sondagens mais recentes sugerem uma recuperação do "Sim" até um ponto em que se pode falar de "empate técnico". Aqui sugere-se algo que já tinha sugerido ontem: uma forte progressão do "Sim" entre o eleitorado UMF-UMP. Contudo, o "Sim" é já a opção de cerca de 80% do eleitorado da direita não-FN. Não há muito mais espaço para progressão.

3. No início de Março, dois em cada cinco simpatizantes do Partido Socialista francês tencionavam votar "Não". Hoje, são três em cada cinco. Jospin fala amanhã ao "povo socialista". É nas suas mãos - e dos líderes do PS - que está depositado o resultado do referendo de 29 de Maio.

terça-feira, abril 26, 2005

Referendo França

IPSOS,23 Abril:
Sim: 48%
Não: 52%

A IPSOS junta-se assim à Louis-Harris e à CSA a mostrar uma diminuição das opções "Não" ao referendo, mudança fundamentalmente explicada devido à mobilização crescente dos simpatizantes da direita parlamentar (a que não será estranha a intervenção televisiva de Chirac)

Eleições UK

Vantagem dos Trabalhistas entre 10 e 5 pontos em todas as sondagens do fim de semana (ver aqui). Wake me up when it starts, pede Tim Hames no Times.

sexta-feira, abril 22, 2005

Ratzinger

Eu sei que não é o tema deste blogue, mas ler tantos disparates sobre o Cardeal Ratzinger torna-se um bocado cansativo. Quem ache que ele não passa de um "Panzerkardinal" faria bem em ler este artigo, um debate entre o "God's Rottweiler" e o perigoso conservador Jurgen Habermas. E já agora, se não for muita maçada, o nº1 do volume 156 da Brotéria (2002), com um artigo onde se menciona a recuperação feita por Ratzinger, aquando da divulgação do "terceiro segredo", das interpretações críticas do jesuíta Edouard Dhanis em relação às aparições de Fátima. Ou então leiam só isto:

"Though responses were made to his criticisms, Fr. Dhanis’ work became the reference for the adversaries of Fatima, and in progressivist circles he emerged as the leading "expert" on the subject. Father Dhanis never retracted any of his perfidious criticisms of Fatima, but his writings nevertheless continue to be consulted and referred to, by opponents of Fatima, as authoritative on the matter. For example, in The Message of Fatima, the June 26, 2000 booklet published by Cardinal Ratzinger and Archbishop Bertone, the only cited "authority" was Fr. Dhanis, whom Cardinal Ratzinger called an "eminent scholar" on Fatima." (completo, aqui, num site publicado pelos sectores ultraconservadores da Igreja Católica americana).

Curioso, não? Vantagens de ter este colega de andar no ICS...

Últimas do referendo francês

IFOP, 15 Abril: aumenta vantagem do Não
Não:56%
Sim: 44%

IPSOS, 18 Abril: aumenta vantagem do Não
Sim:45%
Não:55%

TNS- Sofres, 18 Abril: aumenta vantagem do Não.
Sim:45%
Não:55%

BVA, 21 Abril: aumenta vantagem no Não.
Sim:42%
Não:58%


Mas...
Louis-Harris, 18 Abril: diminui vantagem do Não
Sim:47%
Não:53%

CSA, 21 Abril: diminui vantagem do Não
Sim:48%
Não:52%

Tudo ainda em aberto...

No news is good news for...Labour

A leva de sondagens da última semana mostra apenas a consolidação da vantagem dos Trabalhistas. Essa vantagem oscila agora entre 2 (British Election Study, dia 20) e 8 pontos percentuais (Mori/Finantial Times, dia 19). Podendo parecer uma oscilação grande, é provavelmente irrelevante do ponto de vista da maioria absoluta de deputados.

Os resultados do BES aproximam-se muito dos resultados Yougov, por uma razão simples: os dados são os mesmos, só o tratamento é diferente. Assim, o resultado mais excitante destas eleições parece ser o que irá resultar da comparação entre os mais recentes "internet surveys" (BES, Yougov) e as sondagens "tradicionais" (telefone, face-a-face). Já os empregos dos senhores Blair e Brown parecem estar perfeitamente seguros.

sexta-feira, abril 15, 2005

França 1992-2005



Fonte: BVA

Eleições UK, 15 de Abril

Tal como sucedeu com as sondagens para o referendo europeu em França (aqui), as sondagens sobre as eleições no Reino Unido entraram em convergência: agora é a da Yougov (pdf), que depois de um mês de empates entre Trabalhistas e Conservadores dá hoje uma vantagem de 5 pontos para Blair.

Assim sendo, já só há uma sondagem que coloca Trabalhistas e Conservadores a par: a do British Election Study itself. Agora é que se vai ver quem percebe mais deste assunto: os "académicos" do comportamento eleitoral ou os "técnicos" das empresas de sondagens? Temo pelos primeiros...

quinta-feira, abril 14, 2005

Caos

O Causa Nossa dá conta de notícias sobre uma guerra de sondagens em Coimbra. Um candidato a candidato envia para os jornais resultados de uma sondagem "encomendada por um grupo de cidadãos". O outro candidato a candidato "responde com uma outra sondagem" (expressão preciosa). O jornal dá conta dos resultados genéricos de ambas ("um ponto de vantagem", "empate técnico", etc.).

A propósito das legislativas, a Alta Autoridade para a Comunicação Social já tinha emitido um comunicado sobre este tipo de situações, chamando a atenção dos órgãos de comunicação social que "ao publicarem ou difundirem dados de sondagens de opinião que não foram depositadas junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social, os órgãos de comunicação social violam a Lei das Sondagens", afirmando esperar que "as direcções dos partidos políticos tomem providências para impedir as fugas de dados de sondagens de opinião que não foram depositadas" e que "órgãos de comunicação social recusem a publicação ou difusão de dados de sondagens de opinião que lhes forem fornecidos por partidos políticos, em violação da lei e com óbvios objectivos de propaganda."

Mas isto tem várias complicações. Deste ponto de vista, a partir de que momento está um órgão de comunicação social a violar a lei das sondagens? Quando informa que lhe partidos ou candidatos lhe fizeram chegar resultados? Quando descreve genericamente esses resultados? Ou só quando apresenta percentagens propriamente ditas? E tendo em conta que a chegada desses resultados à imprensa constituem tentativas óbvias de influenciar a opinião pública e, através dela, decisões políticas (neste caso, por parte de uma direcção partidária), haverá responsabilidade directa neste caso por parte de partidos e ou candidatos na violação de lei? Qual a capacidade de vigilância e represssão da AACS, tendo em conta que este e este casos são apenas, provavelmente, a ponta do iceberg do caos sondagístico que se anuncia para estas autárquicas? Se as "fugas" são inevitáveis, deverá a AACS poder coagir os partidos a depositarem também as suas sondagens? Se não, que sentido faz o depósito? E que sentido faz, afinal, a jurisdição da AACS sobre estas matérias? Não tenho resposta certa para qualquer destas perguntas.

terça-feira, abril 12, 2005

Eleições UK, 12 Abril

A sondagem Mori, que dava anteriormente vantagem aos Conservadores, revelou-se uma freak poll. A última da Mori, de 9 de Abril, dá 7 pontos de vantagem para os Trabalhistas. A sondagem com a menor vantagem é a da Yougov (empatados, o que significa vitória confortável para os Trabalhistas em deputados). Tudo o resto coloca Blair à frente, mesmo já depois do anúncio da falência da MG Rover.

Quanto a tendências, poucos dias bastaram para que esteja cada uma para seu lado: Labour recupera terreno nas sondagens ICM, Mori, NOP e Yougov, e perde terreno nas sondagens Communicate e Populus.

Um ponto de orientação possível neste labirinto: nas últimas duas eleições, as sondagens da ICM Research foram as mais precisas...

Referendo em França (actualização)

Depois das sondagens relatadas aqui, surgiram alguns dados novos (entre parêntesis, o resultado da sondagem anterior de cada instituto):

CSA/TMO (31 Março):
Sim: 47% (45%)
Não: 53% (55%)

TNS Sofres (2 Abril):
Sim:47% (56%)
Não: 53% (44%)

IFOP (1 Abril):
Sim: 45% (47%)
Não: 55% (53%)

IPSOS (9 Abril):
Sim: 48% (47%)
Não: 52% (53%)

Louis-Harris (2 Abril)
Sim: 46% (60%)
Não: 54% (40%)

Depois das divergências das sondagens anteriores, a convergência é quase total. O "Sim" não tem mais do que 48% e o "Não" não tem menos que 52% (sondagem IPSOS).

Em Portugal, entretanto, surgiu a primeira sondagem, pela Eurosondagem (no Expresso).

Sim: 49,2%
Não: 28,6%
Indecisos: 22,2%

Se redistribuirmos os indecisos, ficamos com:

Sim: 63%
Não: 37%

A procissão ainda vai no adro...

segunda-feira, abril 11, 2005

Empresas e instituições credenciadas em Portugal

Já agora, FYI, esta é a lista das empresas e instituições credenciadas pela AACS para fazerem sondagens de opinião:

AXIMAGE - Comunicação e Imagem, Lda
DOMP - Desenvolvimento Organizacional Marketing e Publicidade, S.A
DATA CRÍTICA - Estudos de Opinião e Mercado, Lda
EUREQUIPA - Opinião, Marketing e Consultoria, Lda
EUROEXPANSÃO - Análises de Mercado e Sondagens, S.A
EUROSONDAGEM, Estudos de Opinião, S.A
EUROTESTE - Marketing e Opinião, S.
AGBN - Gabinete de Estudos de Mercado, Lda
GEMEO - Gabinete de Estudos de Mercado e Opinião do IPAM, Lda
I SEE - Comunicação e Marketing, Lda
IMR - Instituto de Marketing Research, Lda
INTERCAMPUS - Recolha, Tratamento e Distribuição de Informação, Lda.
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa
IPOM - Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado, Lda.
MARKTEST - Marketing, Organização, Formação, Lda.
MOTIVAÇÃO - Estudos Psico-Sociológicos, Lda
NORMA - AÇORES, Sociedade de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento Regional, S.A
NOVADIR - Estudos de Mercado e Consultadoria de Marketing, Lda
PITAGÓRICA - Investigação e Estudos de Mercado, SA
REGIPOM - Pesquisa e Opinião de Mercado, Lda
Universidade Católica Portuguesa

Autárquicas 2005: Odivelas

Sem propósitos de ser "polícia" das sondagens que vão saindo (não tenho vocação nem informação suficientes), deixo a informação relatada por um leitor, as questões que levanta, e as minhas respostas na base da informação que fornece:

Sondagem efectuada no concelho de Odivelas a 4 e 5 de Abril epublicada a 6 de Abril no jornal "Nova Odivelas" (...), pela empresa "One Press", mediante 500 entrevistas telefónicas nas 7 freguesias do concelho, com os seguintes resultados, que foram destacados na 1ª página do jornal, associados à fotografia dos respectivos "candidatos" a Presidente de Câmara :

CDU-33,10%
PSD-32,05%
PS-25,50%
(as percentagens restantes dizem respeito ao PP, aoBE e votos brancos).

"Erro de amostragem": 3,41% (com um "índice de confiança" de 95%).

Esta sondagem apresenta as seguintes particularidades:
- a empresa " One Press" não é uma empresa de sondagens, mas a sociedade comercial proprietária do jornal "Nova Odivelas";
- as perguntas das entrevistas foram realizadas com base em pressupostos, uns certos, outros mais variáveis ou indefinidos, tendo em atenção que aindan ão estão definidos todos os Candidatos a Presidente de Câmara pelos principais Partidos. Assim, o único candiadato "certo" é o da CDU, tendo o candidato do PSD sido apresentado como o "provável", e no que respeita ao PS ainda não há candidato, tendo a empresa "partido do princípio" que o candidato do PS "sairá" da escolha feita pelos orgãos nacionais do Partido Socialista, entre o actual Presidente da Câmara de Odivelas e o actual Presidente da Junta de Freguesia de Odivelas ( daí que na 1ª página do jornal aparecem as fotografias dos Candidatos da CDU e do PSD, aparecendo o resultado do PS associado ao respectivo símbolo);
- a sondagem não foi depositada na Alta Autoridade Para a Comunicação Social.

Acresce, ainda, que os resultados desta sondagem causaram uma acrescida perplexidade pelo respectivo confronto com os resultados oficiais dasúltimas autárquicas(em Dezembro de 2001) e das últimas legislativas(emFevereiro de 2005), a saber, respectivamente:- PS-41,03% ; PSD-28,30% ; CDU-20,01%.- PS-47,38% ; PSD-22,43% ; CDU-9,74%.

Posto isto e na qualidade de leigo nestas matérias, atrevo-me a deixar as seguintes dúvidas:

- As sondagens não podem/devem ser só realizadas por empresas "acreditadas" ou "reconhecidas" para esses estudos ?
As quer dizem respeito as eleições, sim. "As sondagens de opinião só podem ser realizadas por entidades credenciadas para o exercício desta actividade junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social. " - Lei 10/2000, art. 3º, n.1

- Não é obrigatório, por lei, o "depósito" das mesmas na AACS ?
Sim. "A publicação ou difusão pública de qualquer sondagem de opinião apenas é permitida após o depósito desta, junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social, acompanhada da ficha técnica a que se refere o artigo seguinte." - Lei 10/2000, art. 5º, nº1.

- Que rigor técnico-científico tem uma sondagem feita com base em perguntas que não são idênticas e com pressupostos variáveis, do género, "em qual candidato votaria, no candidato A do Partido X ou no candidato B ou C ou D do Partido Y ?" ?
Rigor no que respeita à amostragem, ou seja, à capacidade para obter uma amostra da representativa da população, podem ter. Não sei como exactamente foram feitas as perguntas, nem se o texto das perguntas foi divulgado pela imprensa. Seja como for, quando se trata de decidir o Presidente da Câmara, é muito plausível que a identidade dos candidatos seja pelo menos tão importante como o partido. Pessoalmente, parece-me que fazer sondagens sobre eleições autárquicas sem que se conheça a identidade de todos os candidatos é algo prematuro ou, pelo menos, introduz grandes limitações aos resultados que obrigam a que a sua intepretação tenha de ser extremamente cautelosa.

quinta-feira, abril 07, 2005

A subida dos Conservadores...

confirma-se. Depois das quatro sondagens relatadas aqui, nova sondagem, desta vez da Yougov:

Labour: 36%
Conservatives: 36%
Liberal Democrats: 21%

Outra excelente fonte sobre as sondagens para além desta é este site da BBC. A não perder, também, o decano, mestre dos mestres, da análise das sondagens no Reino Unido: Sir (isso mesmo) Robert Worcester.

terça-feira, abril 05, 2005

Eleições UK, a um mês de distância. Mais aberto do que se pensava...

Quatro sondagens nos últimos dois dias:

ICM:
Lab:37%
Cons:34%
Lib:21%

NOP:
Lab:36%
Cons:33%
Lib:21%

Populus:
Lab:37%
Cons:35%
Lib:19%

Mori:
Lab:34%
Cons:39%
Lib:21%

O único contraste claro é entre a sondagem Mori/Finantial Times e as restantes, devido ao facto da Mori usar um modelo de probabilidade de voto muito mais exigente que as restantes. Ou seja: só são contabilizados os votos daqueles que dizem "ter a certeza" que vão votar. Mas há duas coisas que estão a suceder e que estes números não dizem: a descida dos Trabalhistas em todas as sondagens; e o eleitorado Conservador está mais mobilizado do que o Trabalhista (como explica John Curtice).

E atenção: como foi dito aqui, devido às distorções actuais no actual sistema eleitoral britânico, os Trabalhistas podem inclusivamente perder por uma margem razoável em número de votos e ganhar em assentos parlamentares; mas perder por 5%, como se sugere na Mori, pode já ser demais, como Anthony Lewis explica aqui. Ainda não chega para Blair entrar em pânico, mas...

segunda-feira, abril 04, 2005

Referendo Constituição Europeia (França)

Pelos lados de França, os resultados do referendo à Constituição Europeia arriscam-se a fazer algumas vítimas entre as empresas de sondagens. Vejamos os resultados mais recentes:

1. Maioria a favor do "sim"
Louis-Harris (1 Março)
Sim: 60%
Não: 40%
BVA (14 Março):
Sim: 56%
Não: 44%

TNS Sofres (10 Março):
Sim:56%
Não: 44%

2. Maioria a favor do "não"
CSA/TMO (23 Março):
Sim: 45%
Não: 55%
IFOP (1 Abril):
Sim: 47%
Não: 53%

IPSOS ( 28 Março):
Sim: 46%
Não: 54%

É possível que parte das discrepâncias se devam ao facto de as sondagens que dão a vitória ao "sim" serem todas anteriores às sondagens que são a vitória ao "não". Mas isso é, certamente, apenas parte da história: quando analisamos as tendências de cada instituto ao longo do tempo, rapidamente verificamos que as diferenças entre institutos são estruturais, e não conjunturais, devendo-se certamente a opções metodológicas.

Estes referendos são o cabo dos trabalhos para quem faz sondagens. Primeiro, devido à alta abstenção, as opções que se façam para seleccionar os "votantes prováveis" são cruciais, e delas dependem os resultados.

Segundo, são eleições "pobres em informação" para os eleitores, levando a grande vulnerabilidade das preferências em relação a factores conjunturais e a que pistas normalmente relevantes noutros actos eleitorais - e que dão estabilidade a essas preferências (identificação partidária, por exemplo) - sejam aqui menos relevantes. Na sondagem Louis-Harris, mais de um terço daqueles que exprimiram uma intenção de voto disseram que ainda podiam mudar de ideias.

Finalmente, do ponto de vista da leitura pública dos resultados, os referendos são impiedosos para as empresas de sondagens: se uma empresa diz que o "não" tem 51% e o resultado acaba por ser 51% para o "sim", essa sondagem"falhou", mesmo que o erro esteja dentro da margem do erro aleatório (que é mais elevada, precisamente, quanto mais próximo de 50% seja o resultado a estimar). Uma grande dor de cabeça, de que eu não me irei livrar daqui a uns meses...

Seja como for, sem querer colocar completamente em causa a realização de referendos sobre estes e outros temas (o assunto é demasiadamente complicado para despachar num post), importa notar como são por vezes usados para outros fins que não apenas os de apreciar os méritos e os deméritos do assunto em análise. Por exemplo, todas as sondagens dizem que os simpatizantes dos partidos da oposição em França são tendencialmente (quando não maioritariamente) a favor do "não", sendo certo que alguns deles irão usar o referendo como punição a um executivo e um presidente que sofrem hoje de uma péssima imagem (no último estudo da TNS Sofres, 62% dos franceses dizem não ter confiança em Chirac, percentagem que aumenta para 71% no caso de Raffarin).

E aquilo que faz muitos sentirem-se à vontade para usar o referendo para fins que não os de apreciar a "bondade" ou "maldade" da CE é o facto de acharem que o desfecho é, em si mesmo, pura e simplesmente irrelevante: na mesma sondagem, 33% dos inquiridos dizem achar que a vitória do sim ou do não não tem qualquer importância para a França (fenómeno que ajuda aqueles que votariam sim a não se desclocarem à urnas e outros a usarem o referendo para enviar sinais de insatisfação com o governo). Um aviso à navegação cá para os nossos lados...

sexta-feira, abril 01, 2005

Mais autárquicas (actualizado)

Recebi hoje o seguinte e-mail, enviado por Susana Isabel Silva, directora técnica do IPOM (Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado):

Longe está o período de campanha das eleições autárquicas, mas a polémica já começa a ser lançada em torno das sondagens políticas realizadas a nível autárquico. Será isto ainda um sintoma do que se verificou durante a campanha eleitoral para a Assembleia da República? Ou serão simplesmente dúvidas de quem não tem a correcta informação sobre os dados publicados pela imprensa regional?

Parece-me, em meu entender, ou melhor, quero acreditar, que se trata da segunda hipótese. Digo isto, porque analisando o exemplo enunciado no blog no passado dia 28 de Março, o e-mail comentado apresenta algumas incorrecções face à ficha técnica publicada pelo jornal O Comércio do Porto:

- A sondagem a que o autor do e-mail se refere é constituída por 598 indivíduos inquiridos e não por “cerca de 700”;
- Não existe qualquer referência, nem na ficha técnica nem na peça escrita pela jornalista, ao número de respostas validadas, onde desconheço a proveniência do valor 500.

Quanto à representatividade das sub-amostras obtidas pela desagregação a nível de freguesia, concordo que uma freguesia onde foram inquiridas 8 pessoas não mereça destaque de análise face às restantes, dada a sua reduzida dimensão. Mas isso é um problema comum da análise efectuada pela maior parte dos meios de comunicação social. Parece-me abusivo questionar a credibilidade técnico-científica das sondagens realizadas em função das interpretações que delas se fazem.


Susana Isabel Silva
Directora Técnica
IPOM – Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado


Ora bem. Pela minha parte, queria dizer que nunca cheguei a ver a notícia onde eram publicados os dados da sondagem mencionada no e-mail que citei aqui. Limitei-me a responder a uma pergunta que me foi colocada que, recordo, era a seguinte:

"Parece-lhe lícito desagregar à freguesia uma sondagem concelhia com cerca de 700 inquiridos por telefone e cerca de 500 respostas validadas?"

Em face do exemplo fornecido (uma freguesia com 8 inquiridos), respondi que não, pelas razões aqui expostas, e recordo também que concentrei a minha análise não na "credibilidade técnico-científica das sondagens realizadas" mas sim, exclusivamente, nas "interpretações que delas se fazem" (terminei o meu post dizendo: "Um erro muito comum nas análises das sondagens feitas na imprensa").

Ou seja, não questionei a credibilidade do trabalho feito: não podia, porque não o conhecia, ainda não o conheço (só agora fiquei a saber quem o conduziu). E também não creio que o mail que recebi tivesse como intenção fazê-lo (dado que a dúvida expressa por quem o enviou se reportava à desagregação dos dados e não a qualquer aspecto técnico ou metodológico da realização do estudo).

Entretanto, estou certo que os responsáveis do IPOM já terão feito notar ao jornalista do Comércio do Porto que o facto de ter andado entretido a calcular e apresentar percentagens por freguesia quando tem sub-amostras de 8 inquiridos é algo que não só "não merece destaque de análise" mas também não faz qualquer espécie de sentido do ponto de vista estatístico...

Actualização: do IPOM, chega-me a informação de que, de facto, contactaram o responsável pela notícia. E mais me dizem que:

Penso que uma forma de evitar este tipo de situações passará pela formação pedagógica dos jornalistas, por parte das empresas de estudos de mercado e sondagens, no sentido de os elucidar em relação às análises e interpretações que poderão ser feitas a partir dos dados fornecidos pelos mesmos. Tentamos ao máximo, no nosso caso, ter sempre este tipo de procedimento junto dos nossos clientes.

100% de acordo.