Estamos em pleno dark side of the moon. Mas é evidente que, nos estudos mais recentes, Clinton e Edwards sobem e Obama desce. Como sempre, o Pollster analisa tudo o que é importante:
- o desempenho passado das sondagens no Iowa;
- os efeitos do processo de caucus em fortalecer os dois candidatos da frente e prejudicar os afectados por quedas recentes. À luz dos dados mais recentes, isto é muito bom para Clinton e potencialmente mau para Obama.
segunda-feira, dezembro 31, 2007
sábado, dezembro 29, 2007
O ano eleitoral
2008 não será particularmente excitante. A excepção é o main event, nos Estados Unidos, que dura o ano todo. Começa já no dia 3 de Janeiro, no Iowa. Cinco dias depois é New Hampshire. Dia 5 de Fevereiro temos a Super Duper Tuesday. Por esta altura, já estará tudo decidido quanto aos candidatos à presidência de cada partido. Depois é gastar até ao dia 4 de Novembro. Em 2004, gastaram-se (oficialmente) mil e quatrocentos milhões de dólares, 0,7% do produto interno bruto português. Neste ciclo de 2008, para já, vamos em 426 milhões.
Salva-se também Espanha, em Março. A sondagem mais recente, do Instituto Opina, dá 45% ao PSOE, 8 pontos acima do PP, e a satisfação com Zapatero está acima dos 50 pontos. Mas as coisas podem não ser tão simples. O barómetro de Novembro do CIS dá apenas 2 pontos de vantagem ao PSOE e, mesmo se a vitória do PSOE parece provável, duvida-se de uma maioria absoluta.
Na Rússia, eleições presidenciais a 2 de Março. Dimitry Putin, desculpem, Vladimir Medvedev lidera as intenções de voto, com 40 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, um senhor chamado Zhirinovsky. Vai ser emocionante. No Zimbabwe, também em Março, Mugabe concorre a um sexto mandato, e em Setembro (5 e 6), haverá legislativas em Angola. Vai ser tão emocionante como na Rússia.
Salva-se também Espanha, em Março. A sondagem mais recente, do Instituto Opina, dá 45% ao PSOE, 8 pontos acima do PP, e a satisfação com Zapatero está acima dos 50 pontos. Mas as coisas podem não ser tão simples. O barómetro de Novembro do CIS dá apenas 2 pontos de vantagem ao PSOE e, mesmo se a vitória do PSOE parece provável, duvida-se de uma maioria absoluta.
Na Rússia, eleições presidenciais a 2 de Março. Dimitry Putin, desculpem, Vladimir Medvedev lidera as intenções de voto, com 40 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, um senhor chamado Zhirinovsky. Vai ser emocionante. No Zimbabwe, também em Março, Mugabe concorre a um sexto mandato, e em Setembro (5 e 6), haverá legislativas em Angola. Vai ser tão emocionante como na Rússia.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Iowa e New Hampshire update, a uma semana
1. Nos Democratas, uma sondagem recente do American Research Group dá uns espectaculares 14 pontos de avanço a Hillary Clinton sobre Edwards em Iowa, com Obama em terceiro. A confirmar nos próximos dias. Mas no Pollster, uma nota importante: o ARG tem dado resultados para Clinton sempre acima da tendência. Seja como for, os mercados electrónicos de futuros parecem ter levado a sondagem a sério: Obama desce e Clinton sobe no Intrade.
2. Nos Republicanos, Huckabee parece imparável, quer nas sondagens quer nos mercados electrónicos: a estimativa Franklin e Blumenthal para Huckabee, neste momento, é de 34%, contra 23% para Romney. No Intrade, Huckabee é absolutamente favorito. Mas há uma tendência recente para a diminuição da vantagem de Huckabee, que os mercados parecem não ter detectado (ou não levar ainda a sério).
3. Dito isto, duas precauções gerais sobre Iowa:
- as sondagens mais recentes estão potencialmente afectadas pelo período festivo. Polling on the dark side of the Moon, chama-lhe Blumenthal;
- as sondagens para um caucus, com baixíssima participação, estão sempre potencialmente afectadas pela dificuldade em estimar os votantes prováveis.
4. Em New Hampshire, Clinton e Obama praticamente empatados, se não contarmos, mais uma vez, com a sondagem ARG (que dá grande vantagem para Clinton). Mas tudo vai ser afectado pelo resultado de Iowa. E a grande notícia vem dos Republicanos: a subida de McCain, que já aparece empatado com Romney numa das sondagens.
5. E há quem esteja farto de ver as primárias americanas tão poderosamente afectadas por eleições em dois estados pequenos e não representativos (G. Terry Madonna e Michael Young, "Iowa e New Hampshire: Same Old, Same Old"):
"The entire nominating apparatus is again fixated on Iowa and New Hampshire, resulting in more candidate visits than ever; more media coverage than ever; more TV commercials than ever; and more money spent than ever. Once again the outcome of a presidential race may depend on the results of two small unrepresentative states";
"When the early states vote, many voters in other states not have thought deeply about their choices. But the intense and concentrated coverage for Iowa and New Hampshire introduce candidates to a national electorate as de facto "winners" or "losers" before more than 90% of voters can cast ballots."
2. Nos Republicanos, Huckabee parece imparável, quer nas sondagens quer nos mercados electrónicos: a estimativa Franklin e Blumenthal para Huckabee, neste momento, é de 34%, contra 23% para Romney. No Intrade, Huckabee é absolutamente favorito. Mas há uma tendência recente para a diminuição da vantagem de Huckabee, que os mercados parecem não ter detectado (ou não levar ainda a sério).
3. Dito isto, duas precauções gerais sobre Iowa:
- as sondagens mais recentes estão potencialmente afectadas pelo período festivo. Polling on the dark side of the Moon, chama-lhe Blumenthal;
- as sondagens para um caucus, com baixíssima participação, estão sempre potencialmente afectadas pela dificuldade em estimar os votantes prováveis.
4. Em New Hampshire, Clinton e Obama praticamente empatados, se não contarmos, mais uma vez, com a sondagem ARG (que dá grande vantagem para Clinton). Mas tudo vai ser afectado pelo resultado de Iowa. E a grande notícia vem dos Republicanos: a subida de McCain, que já aparece empatado com Romney numa das sondagens.
5. E há quem esteja farto de ver as primárias americanas tão poderosamente afectadas por eleições em dois estados pequenos e não representativos (G. Terry Madonna e Michael Young, "Iowa e New Hampshire: Same Old, Same Old"):
"The entire nominating apparatus is again fixated on Iowa and New Hampshire, resulting in more candidate visits than ever; more media coverage than ever; more TV commercials than ever; and more money spent than ever. Once again the outcome of a presidential race may depend on the results of two small unrepresentative states";
"When the early states vote, many voters in other states not have thought deeply about their choices. But the intense and concentrated coverage for Iowa and New Hampshire introduce candidates to a national electorate as de facto "winners" or "losers" before more than 90% of voters can cast ballots."
terça-feira, dezembro 18, 2007
sexta-feira, dezembro 14, 2007
14%
Rússia, VCIOM, 5-6 Maio, N=1600
Recently, Russia was criticized for human rights violations by the US Department of State. Why do you think the US Department of State criticized Russia? (up to two responses):
Because the US are disatisfied with Russia being independent and are looking for excuses to discredit Russia: 40%
Because of the US traditional preconceived attitude to Russia and Russians: 27%
To support westernized opposition forces in Russia:16%
Because human rights are often violated: 14%
Other:1%
Hard to answer:14%
Recently, Russia was criticized for human rights violations by the US Department of State. Why do you think the US Department of State criticized Russia? (up to two responses):
Because the US are disatisfied with Russia being independent and are looking for excuses to discredit Russia: 40%
Because of the US traditional preconceived attitude to Russia and Russians: 27%
To support westernized opposition forces in Russia:16%
Because human rights are often violated: 14%
Other:1%
Hard to answer:14%
Perguntas directas, respostas directas
Rússia, Nov. 20-23, Yury Levada Analytical Center, N=1600.
Do you agree or disagree with this statement? - "Maintaining order is very important, even if democratic principles and personal freedoms are trampled."
Agree: 69%
Disagree: 18%
Hard to answer: 13%
Do you agree or disagree with this statement? - "Maintaining order is very important, even if democratic principles and personal freedoms are trampled."
Agree: 69%
Disagree: 18%
Hard to answer: 13%
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Referendos e ditaduras
E no meio da conversa que houve há uma semana sobre as "estranhas ditaduras" onde se perdem referendos, esqueci-me do melhor exemplo de todos.
Da Wikipedia:
The Zimbabwe constitution referendum of February 12-13, 2000 saw the defeat of a proposed new Constitution of Zimbabwe which had been drafted by a Constitutional Convention the previous year. The defeat was unexpected and was taken as a personal rebuff for President Robert Mugabe and a political triumph for the newly-formed opposition group, the Movement for Democratic Change. The new proposed constitution was notable for giving power to the government to seize farms owned by white farmers, without compensation, and transfer them to black farm owners as part of a scheme of land reform.
E a seguir:
DESPITE its humiliating defeat in last weekend's constitutional referendum, the Zimbabwe government said yesterday that it would push through an amendment that would allow the state to seize white-owned farms without compensation.
O resto já sabemos como foi.
Da Wikipedia:
The Zimbabwe constitution referendum of February 12-13, 2000 saw the defeat of a proposed new Constitution of Zimbabwe which had been drafted by a Constitutional Convention the previous year. The defeat was unexpected and was taken as a personal rebuff for President Robert Mugabe and a political triumph for the newly-formed opposition group, the Movement for Democratic Change. The new proposed constitution was notable for giving power to the government to seize farms owned by white farmers, without compensation, and transfer them to black farm owners as part of a scheme of land reform.
E a seguir:
DESPITE its humiliating defeat in last weekend's constitutional referendum, the Zimbabwe government said yesterday that it would push through an amendment that would allow the state to seize white-owned farms without compensation.
O resto já sabemos como foi.
terça-feira, dezembro 11, 2007
sexta-feira, dezembro 07, 2007
Marktest, 20-23 de Novembro
Há dias, mencionei aqui que o DN não tinha publicado os resultados completos do Barómetro, nomeadamente em relação à avaliação dos líderes políticos. Mas a Marktest, como é hábito, põe tudo cá fora. Está aqui. E ainda tiveram a amabilidade de me cederem dados mais desagregados:
Cavaco Silva
Actuação positiva: 70%
Negativa: 12%
Ns/Nr: 18%
José Sócrates
Actuação positiva: 38%
Negativa: 45%
Ns/Nr: 17%
Luis Filipe Menezes
Actuação positiva: 27%
Negativa: 26%
Ns/Nr: 47%
Jerónimo de Sousa
Actuação positiva: 38%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 31%
Paulo Portas
Actuação positiva: 28%
Negativa: 49%
Ns/Nr: 23%
Francisco Louçã
Actuação positiva: 42%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 27%
Obrigado.
Cavaco Silva
Actuação positiva: 70%
Negativa: 12%
Ns/Nr: 18%
José Sócrates
Actuação positiva: 38%
Negativa: 45%
Ns/Nr: 17%
Luis Filipe Menezes
Actuação positiva: 27%
Negativa: 26%
Ns/Nr: 47%
Jerónimo de Sousa
Actuação positiva: 38%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 31%
Paulo Portas
Actuação positiva: 28%
Negativa: 49%
Ns/Nr: 23%
Francisco Louçã
Actuação positiva: 42%
Negativa: 31%
Ns/Nr: 27%
Obrigado.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Al Gathafi speaks...
Miguel Vale de Almeida chama a atenção para um anúncio de página inteira no Público que convida os eleitores a visitarem o site de Muammar Al Gathafi e onde se fazem umas considerações críticas à Convenção de Otava sobre Minas Terrestres ("Os países poderosos não precisam de minas para se protegerem. As minas são o meio de auto-defesa dos países fracos") e sobre a "ilegalidade do Tribunal Criminal Internacional".
Não quero estragar completamente o dia a Miguel Vale de Almeida, mas se ele soubesse que o Centro de História da Universidade de Lisboa, "em colaboração com a Reitoria e com o Instituto Luso-Árabe para a Cooperação", vai organizar depois de amanhã um "Seminário" com a presença de Muammar Al Gathafi (ou Al Khadafi) onde ele vai falar sobre "Problemas da Sociedade Contemporânea"... Ai não acreditam? Então confirmem.
Não quero estragar completamente o dia a Miguel Vale de Almeida, mas se ele soubesse que o Centro de História da Universidade de Lisboa, "em colaboração com a Reitoria e com o Instituto Luso-Árabe para a Cooperação", vai organizar depois de amanhã um "Seminário" com a presença de Muammar Al Gathafi (ou Al Khadafi) onde ele vai falar sobre "Problemas da Sociedade Contemporânea"... Ai não acreditam? Então confirmem.
Iowa
Em rigor, já não se pode dizer que Hillary Clinton lidera as sondagens no Iowa. A média das 13 sondagens conduzidas em Novembro é de 28% para Clinton e 25% para Obama. Mas quando olhamos apenas para as conduzidas na 2ª metade do mês, Clinton e Obama estão empatados com 27%.
Em New Hampshire, a mesma tendência. Clinton com 35% em média em Novembro, Obama com 23%. Mas na segunda metade do mês, 33% para Clinton e 24% para Obama. Aqui a margem ainda é confortável. Mas quem sabe o que se passará no Iowa, e as consequências disso?
Karl Rove, no Finantial Times (via Atlântico, onde ainda cheira um bocado a queimado), partilha pelos vistos da opinião (ah, ah!) que dei aqui em Outubro: Iowa é a única e derradeira chance que Obama tem para evitar o inevitável. Mas por que razão gostaria Rove de evitar este inevitável? Aposto tudo o que vocês quiserem que a campanha Clinton vai usar este artigo para mostrar que Rove e os Republicanos gostariam que Obama ganhasse. No meio da crise, um ponto para Hillary, portanto.
Em New Hampshire, a mesma tendência. Clinton com 35% em média em Novembro, Obama com 23%. Mas na segunda metade do mês, 33% para Clinton e 24% para Obama. Aqui a margem ainda é confortável. Mas quem sabe o que se passará no Iowa, e as consequências disso?
Karl Rove, no Finantial Times (via Atlântico, onde ainda cheira um bocado a queimado), partilha pelos vistos da opinião (ah, ah!) que dei aqui em Outubro: Iowa é a única e derradeira chance que Obama tem para evitar o inevitável. Mas por que razão gostaria Rove de evitar este inevitável? Aposto tudo o que vocês quiserem que a campanha Clinton vai usar este artigo para mostrar que Rove e os Republicanos gostariam que Obama ganhasse. No meio da crise, um ponto para Hillary, portanto.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Ainda a Venezuela e a "democracia", pós-referendo
A principal razão por que me interessa discutir se a Venezuela é ou não uma democracia é talvez um pouco diferente daquela que move alguns dos que têm debatido esta questão na blogosfera e fora dela. É evidente que não simpatizo com os atropelos de Chávez e que , independentemente dos benefícios ou não que tenham decorrido da sua governação para os venezuelanos (um aspecto sobre o qual se presume muito e demonstra pouco), acho que viver em democracia é um bem em si mesmo, algo intrinsecamente positivo.
Mas para além desta motivação assumidamente política, tenho outra, que talvez até seja mais importante para mim. Quando quero perceber, na minha actividade profissional, o que causa a emergência ou a sobrevivência das democracias, quais as consequências de se ter ou viver num regime democrático, ou a explicação dos comportamentos políticos nas democracias, convém-me ter no bolso pelo menos uma definição qualquer de "democracia", para saber que casos devo incluir, que casos excluir ou como os classifico. Num sentido mais lato, esta discussão continua a ser "política". Mas num sentido mais estrito, é uma questão de medição. O que é e o que não é uma democracia? Questão complicada, mas que tenho de quotidianamente tentar resolver.
Vem tudo isto a propósito dos resultados do referendo e de algumas reacções que inspiraram. Particularmente simbólica é esta:
"Estranha ditadura que promove eleições e que aceita os resultados quando é derrotada nas urnas. (...) Estranha ditadura em que a pobreza diminui e em que os estudos internacionais mostram que a maioria esmagadora dos eleitores está contente com a qualidade da democracia",
escreve Nuno Ramos de Almeida no cinco dias.
Pois lamento, mas ainda não estou persuadido. Tenho visto aqui e ali referências ao Chile, e acho que podemos começar por aí. Por um conjunto de razões que ainda se discutem, o referendo acabou mesmo por ser convocado em 1988, permitiu uma votação sem fraudes e os seus resultados - inesperadamente desfavoráveis para Pinochet - foram aceites pelos militares. Foi o início da transição para a democracia no Chile. Mas daí até dizer-se que o Chile era uma democracia em 1988 ou até em 1987, 1986 ou antes vai alguma distância, que pelos vistos Nuno Ramos de Almeida tem alguma dificuldade em discernir. Esta ideia de "validação" à posteriori do carácter democrático de um regime, através da qual se classifica como democrático todo o regime no qual o detentor do poder acaba por perder eleições, não deixa de ter um bom pedigree. Este belo livrinho usa-a, precisamente, para distinguir democracias de regimes não-democráticos. Mas se queremos ir por aqui e seguir os critérios de Przeworski e seus colegas, então temos de esperar que Chávez perca eleições presidenciais. Não me consta que tenha sido isso que sucedeu no passado Domingo.
De resto, é curioso que se mencione o caso do Chile e ninguém se tenha lembrado do caso...português. Em 1975, com alguma surpresa, quem ganhou as eleições não foi quem controlava as rédeas do poder. As eleições de 1975 tiveram, aliás, o condão especial de revelarem que o PCP e os sectores mais à esquerda do aparelho militar que tutelavam na altura o regime tinham muito menos apoio popular do que se julgava. Mas a não ser que Nuno Ramos de Almeida esteja preparado para nos explicar como, em 1975, Portugal era um regime democrático- coisa que, manifestamente, (ainda) não era - a derrota eleitoral dos detentores do poder não chega para definir um regime.
Chamo a atenção para um conjunto de estudos de Steven Levitsky e Lucan Way (obrigado Andrés pela lembrança). Levitsky e Way vêm escrevendo sobre aquilo que chamam "autoritarismos competitivos". Vale a pena ler com atenção:
"In competitive authoritarian regimes, formal democratic institutions are widely viewed as the principal means of obtaining and exercising political authority. Incumbents violate those rules so often and to such an extent, however, that the regime fails to meet conventional minimum standards for democracy. (...) Competitive authoritarianism must be distinguished from democracy on the one hand and full-scale authoritarianism on the other. Modern democratic regimes all meet four minimum criteria: 1) Executives and legislatures are chosen through elections that are open, free, and fair; 2) virtually all adults possess the right to vote; 3) political rights and civil liberties, including freedom of the press, freedom of association, and freedom to criticize the government without reprisal, are broadly protected; and 4) elected authorities possess real authority to govern, in that they are not subject to the tutelary control of military or clerical leaders. Although even fully democratic regimes may at times violate one or more of these criteria, such violations are not broad or systematic enough to seriously impede democratic challenges to incumbent governments. In other words, they do not fundamentally alter the playing field between government and opposition. (...) In competitive authoritarian regimes, by contrast, violations of these criteria are both frequent enough and serious enough to create an uneven playing field between government and opposition. Although elections are regularly held and are generally free of massive fraud, incumbents routinely abuse state resources, deny the opposition adequate media coverage, harass opposition candidates and their supporters, and in some cases manipulate electoral results. Journalists, opposition politicians, and other government critics may be spied on, threatened, harassed, or arrested. Members of the opposition may be jailed, exiled, or—less frequently—even assaulted or murdered. Regimes characterized by such abuses cannot be called democratic."
E há um artigo interessante na Foreign Policy de Janeiro do ano passado que explora a aplicação do conceito ao caso da Venezuela.
Há muita gente que discorda de Levitsky e Way. Não quero com tudo isto desvalorizar os resultados do referendo de Domingo passado, nem aquilo que eles nos podem dizer sobre a natureza do regime ou as suas perspectivas de mudança e evolução. Nem sequer estou certo se consigo, para já, chegar a um veredicto sobre se a Venezuela é ou não é uma democracia. Mas não me parece que perder um referendo chegue, por si só, para esse veredicto.
Mas para além desta motivação assumidamente política, tenho outra, que talvez até seja mais importante para mim. Quando quero perceber, na minha actividade profissional, o que causa a emergência ou a sobrevivência das democracias, quais as consequências de se ter ou viver num regime democrático, ou a explicação dos comportamentos políticos nas democracias, convém-me ter no bolso pelo menos uma definição qualquer de "democracia", para saber que casos devo incluir, que casos excluir ou como os classifico. Num sentido mais lato, esta discussão continua a ser "política". Mas num sentido mais estrito, é uma questão de medição. O que é e o que não é uma democracia? Questão complicada, mas que tenho de quotidianamente tentar resolver.
Vem tudo isto a propósito dos resultados do referendo e de algumas reacções que inspiraram. Particularmente simbólica é esta:
"Estranha ditadura que promove eleições e que aceita os resultados quando é derrotada nas urnas. (...) Estranha ditadura em que a pobreza diminui e em que os estudos internacionais mostram que a maioria esmagadora dos eleitores está contente com a qualidade da democracia",
escreve Nuno Ramos de Almeida no cinco dias.
Pois lamento, mas ainda não estou persuadido. Tenho visto aqui e ali referências ao Chile, e acho que podemos começar por aí. Por um conjunto de razões que ainda se discutem, o referendo acabou mesmo por ser convocado em 1988, permitiu uma votação sem fraudes e os seus resultados - inesperadamente desfavoráveis para Pinochet - foram aceites pelos militares. Foi o início da transição para a democracia no Chile. Mas daí até dizer-se que o Chile era uma democracia em 1988 ou até em 1987, 1986 ou antes vai alguma distância, que pelos vistos Nuno Ramos de Almeida tem alguma dificuldade em discernir. Esta ideia de "validação" à posteriori do carácter democrático de um regime, através da qual se classifica como democrático todo o regime no qual o detentor do poder acaba por perder eleições, não deixa de ter um bom pedigree. Este belo livrinho usa-a, precisamente, para distinguir democracias de regimes não-democráticos. Mas se queremos ir por aqui e seguir os critérios de Przeworski e seus colegas, então temos de esperar que Chávez perca eleições presidenciais. Não me consta que tenha sido isso que sucedeu no passado Domingo.
De resto, é curioso que se mencione o caso do Chile e ninguém se tenha lembrado do caso...português. Em 1975, com alguma surpresa, quem ganhou as eleições não foi quem controlava as rédeas do poder. As eleições de 1975 tiveram, aliás, o condão especial de revelarem que o PCP e os sectores mais à esquerda do aparelho militar que tutelavam na altura o regime tinham muito menos apoio popular do que se julgava. Mas a não ser que Nuno Ramos de Almeida esteja preparado para nos explicar como, em 1975, Portugal era um regime democrático- coisa que, manifestamente, (ainda) não era - a derrota eleitoral dos detentores do poder não chega para definir um regime.
Chamo a atenção para um conjunto de estudos de Steven Levitsky e Lucan Way (obrigado Andrés pela lembrança). Levitsky e Way vêm escrevendo sobre aquilo que chamam "autoritarismos competitivos". Vale a pena ler com atenção:
"In competitive authoritarian regimes, formal democratic institutions are widely viewed as the principal means of obtaining and exercising political authority. Incumbents violate those rules so often and to such an extent, however, that the regime fails to meet conventional minimum standards for democracy. (...) Competitive authoritarianism must be distinguished from democracy on the one hand and full-scale authoritarianism on the other. Modern democratic regimes all meet four minimum criteria: 1) Executives and legislatures are chosen through elections that are open, free, and fair; 2) virtually all adults possess the right to vote; 3) political rights and civil liberties, including freedom of the press, freedom of association, and freedom to criticize the government without reprisal, are broadly protected; and 4) elected authorities possess real authority to govern, in that they are not subject to the tutelary control of military or clerical leaders. Although even fully democratic regimes may at times violate one or more of these criteria, such violations are not broad or systematic enough to seriously impede democratic challenges to incumbent governments. In other words, they do not fundamentally alter the playing field between government and opposition. (...) In competitive authoritarian regimes, by contrast, violations of these criteria are both frequent enough and serious enough to create an uneven playing field between government and opposition. Although elections are regularly held and are generally free of massive fraud, incumbents routinely abuse state resources, deny the opposition adequate media coverage, harass opposition candidates and their supporters, and in some cases manipulate electoral results. Journalists, opposition politicians, and other government critics may be spied on, threatened, harassed, or arrested. Members of the opposition may be jailed, exiled, or—less frequently—even assaulted or murdered. Regimes characterized by such abuses cannot be called democratic."
E há um artigo interessante na Foreign Policy de Janeiro do ano passado que explora a aplicação do conceito ao caso da Venezuela.
Há muita gente que discorda de Levitsky e Way. Não quero com tudo isto desvalorizar os resultados do referendo de Domingo passado, nem aquilo que eles nos podem dizer sobre a natureza do regime ou as suas perspectivas de mudança e evolução. Nem sequer estou certo se consigo, para já, chegar a um veredicto sobre se a Venezuela é ou não é uma democracia. Mas não me parece que perder um referendo chegue, por si só, para esse veredicto.
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