terça-feira, setembro 30, 2008

Quem votou como no bailout.

Aqui se explica quem votou como no Congresso. É simples: os congressistas nos distritos mais competitivos tenderam a votar mais contra do que os que estão seguros nas próximas eleições. Mas a verdade é que a lei não passava na mesma se só votassem os distritos seguros. E como estes belos gráficos sugerem, fica muito por explicar com a teoria anterior. Talvez o Pedro Lains esteja no caminho certo para outra variável explicativa.

P.S. - Mais variáveis:
The Center for Responsive Politics, a Washington nonprofit group that studies money and politics, reports that on average, lawmakers who voted in favor of the bailout bill have received 51 percent more in campaign contributions from sources in the finance, insurance and real estate industries — or FIRE industries, for short — over their congressional careers than those who opposed the emergency legislation.
Esta era tão óbvia que nem me ocorreu...

P.P.S.-Leiam este post de Pedro Sales, no Arrastão, vejam bem os links que lá estão, e digam-me lá se há ou não há coincidências absolutamente incríveis....

Ainda os VP's

Se os debates entre os candidatos à presidência têm impacto reduzido sobre as intenções de voto, o mínimo que se pode dizer sobre os debates dos VP's é que o seu efeito na corrida deverá ser, provavelmente, nulo. Mas isto é como na publicidade: a razão que faz com que os efeitos sejam nulos ou reduzidos é porque todos levam tudo isto a sério. Se alguém não o fizesse, os efeitos apareciam logo.

Vem isto a propósito do entusiasmo com que - como vimos no post anterior - alguns sectores do Partido Democrata encaram a possibilidade da "tonta" da Palin se espalhar na próxima 6ª feira. Eu espero que os coaches de Joe Biden não sejam tão estúpidos como isso. A última vez que se achou que havia um candidato meio tonto, sem experiência, cheio de esqueletos no armário e representando as ideias mais abstrusas da direita religiosa, esse candidato, se bem me lembro, foi eleito. E de resto, Biden também tem um currículo invejável de disparates. É precisamente por ter todos os defeitos e fraquezas que os "liberais" lhe encontram, e por defender tantas ideias tão profundamente repelentes, que a Sra. Palin deve ser levada muito a sério.

P.S. - Parece que os coaches estão acordados:
"Bush was blistered for being too dismissive of Geraldine Ferraro in 1984 (note the similarity in his approach to John McCain's in last Friday's debate); Biden would risk similar criticism if he's disdainful Thursday."

segunda-feira, setembro 29, 2008

Sobre o debate dos VP's

Não se pode dizer que as fontes sejam de uma imparcialidade à prova de bala, mas...

Memo to Joe Biden: Let Palin Talk, no FiveThirtyEight.

Breaking News from Big Eddie: McCain Camp insiders say Palin "clueless", Ed Schultz.

De como as perguntas determinam as respostas

Los Angeles Times/Bloomberg Poll. Sept. 19-22, 2008. N=1,428 adults nationwide. MoE ± 3.
"Do you think the government should use taxpayers' dollars to rescue ailing private financial firms whose collapse could have adverse effects on the economy and market, or is it not the government's responsibility to bail out private companies with taxpayers' dollars?"
Use Taxpayers' Dollars: 31%
Not Government's Responsibility: 55%
Unsure: 14%

Pew Research Center survey conducted by Opinion Research Corporation. Sept. 19-22, 2008. N=1,003 adults nationwide. MoE ± 3.5.
"As you may know, the government is potentially investing billions to try and keep financial institutions and markets secure. Do you think this is the right thing or the wrong thing for the government to be doing?"
Right Thing: 57%
Wrong Thing: 30%
Unsure: 13%

Fonte: Polling Report

sábado, setembro 27, 2008

Depois do debate

Usar sondagens para determinar os vencedores de debates é arriscado, por razões que estão explicadas aqui. E provavelmente pouco relevante, por razões explicadas aqui. Mas o saldo final do debate parece ter favorecido Obama, por pouco. Ver isto, isto ou isto, por exemplo (mas confesso que não percebi exactamente como a Mediacurves faz os seus estudos).

P.S. - Agora que os dados da CNN estão completamente disponíveis, parece que a coisa foi ainda pior para McCain do que parecia inicialmente.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Pollster.com

O Pollster.com tem novos gráficos, cujos parâmetros podem ser mudados pelos utilizadores. É tudo tão bom e tão bem feito que até fico doente.

Há debate.

Dizem aqui. Por que raio é que eu julgo que alguém vai saber a notícia por este blogue e por que razão então a estou a dar já é outro problema. Deve ser por ser 6ª feira.

McCain: à procura de um "insurgent issue"

Um post muito inteligente de Lynn Vavreck no blogue que o Departamento de Política de Princeton montou para estas eleições. Excertos:

Using terminology from The Message Matters (forthcoming from Princeton University Press), McCain is an insurgent candidate who needs to focus the election off of the economy and on to some other issue on which he is closer than Obama to most voters – and on which Obama is committed to an unpopular position.
(...)
Talking about the economy when it helps the other guy is not a great insurgent issue. No insurgent candidate in the last half-century has beaten the predicted economic winner by talking about the economy more than anything else.
(...)
So, when McCain says he wants to postpone Friday’s debate until a compromise and a deal is reached to bailout the nation’s struggling, “cratering” economy – I say, “I’ll bet he does.” Any time McCain is talking about the economy he is not talking about his insurgent issue, which means he is not making progress toward refocusing the election off of the economy and on to his issue. Unfortunately, the dramatic manner in which he suspended his campaign and shuffled off to Washington only underscores the importance of the economy as an issue in this election.

Aaron Sorokin, eat your heart out

In the Roosevelt Room after the session, the Treasury secretary, Henry M. Paulson Jr., literally bent down on one knee as he pleaded with Nancy Pelosi, the House Speaker, not to “blow it up” by withdrawing her party’s support for the package over what Ms. Pelosi derided as a Republican betrayal.
“I didn’t know you were Catholic,” Ms. Pelosi said, a wry reference to Mr. Paulson’s kneeling, according to someone who observed the exchange. She went on: “It’s not me blowing this up, it’s the Republicans.”
Mr. Paulson sighed. “I know. I know.”


Fonte: NYT.

Melhor que sete temporadas seguidas do "West Wing"

O debate, o "bailout plan" e o Secretário do Tesouro de joelhos.

Surreal.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Acrobacias 2

1. Argumentos a favor e contra a táctica de McCain;

2. Números sobre a táctica de McCain (para já, a maior parte, contra).

Acrobacias

A campanha de John McCain tirou mais um coelho da cartola: a suspensão da campanha, o apelo à união em face da crise, o pedido do adiamento do debate previsto para amanhã. A maior parte das pessoas que comentam a política americana com alguma objectividade já tinham reconhecido a maleabilidade e criatividade da campanha de McCain em face de circunstâncias adversas, algo de que a escolha de Sarah Palin tinha sido o melhor símbolo. Mas agora há dúvidas sobre se isto faz algum sentido. Esta suspensão vem (e tem sido interpretada como vindo) na sequência de sondagens particularmente adversas, incluindo duas (esta e esta) em que Obama surge com mais de 50% das intenções de voto, incluindo indecisos, os melhores resultados de sempre desde o início da campanha.

Tudo começa a parecer um erro de cálculo brutal por parte de McCain. Aparentemente, a campanha Republicana insistiu para que o debate inicial - o tal que talvez ocorra amanhã - fosse sobre política externa, de forma a que McCain arrancasse a série de debates em terreno vantajoso para recuperar algo do que tem perdido nos últimos tempos. Obama concordou, preferindo que o último debate se concentrasse em terreno mais vantajoso para ele, a economia. Mas com o que se tem passado nos últimos dias, a campanha de McCain terá percebido que o tema mais vantajoso para McCain é, de momento, o que menos interessa aos americanos. Este emendar de mão, contudo, cheira muito mais a manobra do que a acesso repentino de responsabilidade política.

O mais irónico disto tudo é que é muito duvidoso que os debates tenham assim tanta importância no voto. Tom Holbrook, cientista político em Wisconsin, mostra aqui como a norma é que os debates provoquem mudanças muito reduzidas nas intenções de voto. Claro que, numa corrida destas, qualquer pontinho conta. Mas o risco é que McCain perca mais com as acrobacias recentes do que aquilo que poderia perder ou ganhar com os debates.

terça-feira, setembro 23, 2008

Outlier: a Lisboa turística

Não faz parte dos meus circuitos habituais e talvez por isso estranhe mais. Mas isto que aqui está, junto ao Castelo de São Jorge, ao lado de um dos melhores hotéis de Portugal, é quase inverosímil. Só não o é completamente porque as imagens são o que são.

Via Cidadania Lx.

domingo, setembro 21, 2008

Sobre o Bradley Effect e outros parecidos, se é que eles (ainda) existem.

1. Uma das mais importantes contribuições originais sobre o tema: Race of Interviewer Effects in a Pre-Election Poll, de Steven Finkel e outros.

2. Sinais recentes de mudança: White Voters and African American Candidates for Congress, de Benjamin Highton.

3. Coisas muito recentes:

- Daniel J. Hopkins, No More Wilder Effect, Never a Whitman Effect: When and Why Polls Mislead about Black and Female Candidates;

- The Persistent Myth of the Bradley Effect, no FiveThirtyEight de Nate Silver;

E de forma mais geral, sobre a questão racial nas eleições americanas: The Centrality of Race in American Politics, de Vincent L. Hutchings e Nicholas A. Valentino­.

Voltarei a tudo isto em breve.

P.S.- Mal sabia eu, ontem Domingo 21, que este ia ser o grande tema de debate hoje, dia 22. Mera coincidência:

- Poll shows gap between blacks and whites over racial discrimination;
- Race in the Race, por Larry Bartels, um dos mais importantes cientistas políticos americanos;
- Morning Buzz: Will Race Cost Obama?

Mas por favor não confundir as notícias de hoje com o "Bradley effect". Este tem a ver com a propensão para não revelar um sentido de voto contra um candidato negro numa sondagem (e há quem fale num reverse-Bradley effect junto dos eleitores negros), e não com a propensão para não votar num candidato negro pelo mero facto de ele ser negro. São duas coisas diferentes.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Os independentes.

A tendência que me interessava mostrar - e que aqui atribuí erradamente a um efeito directo de Palin, se bem que os dados da Gallup talvez ainda me venham a dar razão - era a de que, apesar da campanha nos últimos tempos ter ajudado a cristalizar o voto dos fiéis (especialmente para McCain, que disso bem precisava), o efeito nos independentes deveria ser a favor de Obama. Para McCain, adquirir credenciais junto do eleitorado conservador significa perder a aura de "independente", "moderado" e "maverick". A última sondagem da CBS conta bem essa história. Mas será a história verdadeira? A ver:



A minha "teoria" (que termo pomposo) é que McCain está colocado numa posição estruturalmente mais difícil que Obama. Porque esta eleição não é, ao contrário das anteriores, sobre "mobilizar os fiéis". Claro que era preciso fazê-lo, e é isso que o "novo McCain" tem feito nos últimos tempos. Teve, como se vê, grande sucesso. Mas do outro lado, os fiéis democratas estão mobilizados há muito tempo. Logo, estas eleições não são sobre isso. São sobre como ganhar os moderados. E para conseguir uma coisa, McCain perdeu a outra.

Mas pode ser que isto seja tudo wishful thinking...

P.S.- A Gallup não confirma a minha história, ou seja, conta uma história diferente da CBS/NYT. Porquê? Não sei.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Previsões

Tenho vindo aqui a defender a ideia de que, para quem quer ter uma boa ideia do que vai suceder nas eleições americanas em Novembro, as sondagens, nacionais ou estaduais, podem ser enganadoras. Na verdade, a experiência passada mostra que elas só começam a convergir nos resultados finais bastante tarde, certamente só após os debates e, por vezes, até mais tarde.

Quais as alternativas, então? Os mercados electrónicos, e o Iowa Market em especial, têm desempenhado bem como instrumentos de previsão. E o que dizem as cotações? Teimosamente, apesar das flutuações das sondagens e da vantagem que McCain adquiriu nas intenções de voto nacionais, a cotação de Obama no contrato vote share anda, desde Maio passado, acima dos 50%, ao passo que no contrato winner take all (no fundo, a probabilidade de vitória) acima dos 53% (apesar de ter levado um grande rombo desde Julho).

A outra alternativa são as estimativas econométricas. Já aqui reportei algumas das mais recentes, e todas davam uma percentagem de voto superior a Obama (nuns casos marginalmente) Mas..

O último número da PS, uma revista da American Political Science Association, vai ter, como de costume, as previsões. Aqui estão:

A primeira coisa que salta à vista é que a única previsão que não era conhecida até agora, a de James Campbell, dá a vitória a McCain. Há também duas que os dão empatados. A de Campbell é a mais recente, e distingue-se da maior parte das outras por combinar dados de intenção de voto com dados da economia (apesar de Wlezien e Erikson fazerem o mesmo).

O que significa que a incerteza continua. E falta tomar em conta choques como a falência do Lehmann Brothers e a crise na AIG (apenas e só a 18ª maior companhia do mundo), como vão correr os debates, até que ponto as próprias sondagens (usadas nalguns destes modelos) sofrem de um Bradley effect ou, no sentido inverso, de uma subestimação da mobilização eleitoral dos Democratas, etc, etc, etc. Os dias não estão fáceis para os prognosticators.

terça-feira, setembro 16, 2008

Erro de análise e outras coisas

Uma leitora chama-me a atenção para o facto de que a tendência apontada no post anterior não ser um "efeito Palin", porque já vinha de trás. É absolutamente verdade, e penalizo-me. O problema foi que, em vez de olhar para todas as observações, me limitei a comparar dois pontos no tempo. Mas olhando para a série é evidente que, se acontece alguma coisa (reforço das bases de McCain mas perdas entre os independentes) é num momento anterior à convenção Republicana. Sorry, my mistake.

Outras questões. Primeiro, a de saber se a atenção que é dada aos resultados nacionais em detrimento dos estaduais faz algum sentido:

Acho mesmo que o uso destes valores é negligente pois induz o eleitor a tomar comportamentos e formular conclusões que podem não ser os mais correctos. Muitos deles apontam para um empate técnico em que a vantagem de um ou outro situa-se dentro da margem de erro. Concluir progressões com valores destes é para mim um erro, que se potencia ao ser divulgado e comentado. A eleição de Bush parece não ter servido de Lição.

Eu não seria tão céptico. Por um lado, se é evidente que a eleição o Presidente americano não é nem directa nem feita através de um círculo eleitoral nacional, a verdade também é que só três vezes (1876, 1888 e 2000) o candidato que teve mais votos não foi o Presidente. Pelo que a intenção de voto nacional e saber quem tem mais intenções de voto a esse nível é um indicador muito razoável de quem poderá ser o vencedor. Por outro lado, a verdade é que se dá muita atenção ao que se passa nos estados, como se pode ver aqui. O problema, claro, é que em vários estados há poucas sondagens e as indicações do que se vai passar neles são pouco fiáveis, pelo que basearmo-nos exclusivamente nessas sondagens seria também perigoso. Pelo que o enfoque na intenção de voto nacional não me parece errado, desde que, claro, se perceba que uma coisa é tentar fazer inferências sobre o voto popular a nível nacional e outra é fazer inferências sobre quem terá mais membros no colégio eleitoral (sendo que ambas as coisas tendem a coincidir).

Agora, para quem faz campanhas, as sondagens a nível nacional têm pouca utilidade. Veja-se o que diz o campaign manager de Obama:

"All we care about is these 18 states," he said. He repeated, with emphasis, that the campaign does not care about national polling. Instead, the campaign's own identification, registration and canvassing efforts provide the data he uses to determine where to invest money and resources. Plouffe also emphasized that the internal polling the campaign does is focused on those same 18 states, and that their real concern is not the horse race results but the "data underneath." Later, he added, "the top-line [polling data] doesn't tell you anything." Rather, they focus on who the "true undecideds" are, "how they're likely to break," and what messages will best persuade them.

Outro ponto:

A sondagem da Gallup que linkou, foi realizada com base em ca. de 2700 inquéritos. E é assumido um erro de cerca de 2% associado à sondagem. Estatísticamente, parece-me certo. Mas de facto esta amostra só poderia ser considerada representativa no caso da eleição para a presidência dos EUA se basear contagem total dos vos e não na eleição de um colégio eleitoral em cada estado. Para o último caso, a amostra tem de ser ponderada estadualmente. Em anexo tenho os cálculos da ponderação dos 2700 inquéritos por estado. E surpreendi-me quando vi que um número significativo de estados não chegam sequer à dezena. Com isto estamos bem longe de um erro de 2%! É legítimo apresentar-se resultados com tão pouca consistência para justificar tendências de voto?

Isto está ligado ao ponto anterior. Uma sondagem como esta da Gallup está a tentar fazer uma inferência descritiva sobre o voto popular, não sobre quem tem mais eleitos no colégio. Para o primeiro fim, está muito bem. Da mesma maneira que uma sondagem feita em Portugal raramente está a tentar apurar - pelo menos directamente - quem vai ter mais deputados. Para fazer isso directamente seria necessário fazer sondagens com amostras representativas de cada distrito e estimar deputados por distrito. Mas, claro, ninguém faz isso, porque os benefícios não compensam os custos: saber quem tem mais votos a nível nacional costuma ser suficiente para saber quem terá mais deputados. O que já é mais perigoso é tentar fazer esses cálculos com alguma aparência de objectividade com base em sondagens que têm como único objectivo medir o voto a nível nacional. Dei aqui um exemplo disso há uns anos. Até pode correr bem, mas também pode correr muito mal.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Voto por ideologia/identificação partidária- Gallup

Um dos resultados mais interessantes das sondagens sobre as eleições americanas não são tanto as intenções de voto gerais, mas a história que é contada pelos cruzamentos entre identificação partidária e voto.

Se olharem para esse cruzamento, a história das últimas semanas fica muito (demasiado?) simples:

1. Voto McCain entre Republicanos conservadores:
4-10 Agosto: 90%
1-7 Setembro: 94%

2. Voto McCain entre Republicanos moderados/liberais:
4-10 Agosto: 70%
1-7 Setembro: 78%

3. Voto McCain entre independentes:
4-10 Agosto: 33%
1-7 Setembro: 28%

3. Voto Obama entre independentes:
4-10 Agosto: 22%
1-7 Setembro: 29%

Não sei se perceberam a história: são os benefícios e os custos de Palin. McCain reforça a base, mas enfraquece junto aos independentes. O primeiro movimento foi o que lhe permitiu encostar a Obama. O segundo movimento é o de que Obama precisa que se consolide para ganhar em Novembro.

P.S- E antes que digam ou pensem:
1. Estas flutuações, apesar de não muito grandes e de se darem em sub-amostras, podem ser significativas porque não se referem a uma única sondagem, mas ao conjunto de todos os inquiridos na tracking poll durante uma semana.
2. Claro que a probabilidade dos independentes acabarem por votar é menor.
3. À luz disto, percebe-se melhor isto, não?: Barack Obama's campaign is seeking to retake the offensive in the contest against John McCain today with a renewed focus on the economy.

terça-feira, setembro 09, 2008

Agora sim

Agora sim, McCain encosta a Obama. O saldo dos dois "bounces" das convenções ainda está por fazer (pode acontecer ao de McCain o mesmo que aconteceu ao de Obama, ou seja, dissipar-se um pouco) mas, para já, tudo indica que quem mais ficou a ganhar com as convenções foi o ticket republicano. Como é hábito, excelente tratamento do tema por Charles Franklin.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Palin

Muito do que está aqui me parece bem observado sobre o discurso de ontem. A escolha de Palin teve uma dupla dimensão: o género e a ideologia. A primeira jogaria num sentido - por assim dizer, de atracção do eleitorado que votou em Hillary e de "retirar uma bandeira" aos Democratas, os únicos que tinham até agora tido uma mulher no ticket - e a segunda noutro - de consolidação do eleitorado Republicano mais conservador, permitindo a McCain uma certa despreocupação com essa base eleitoral. Ao contrário do que eu próprio julgava nos minutos seguintes depois de conhecer a nomeação de Palin, a dimensão mais importante parece ser a segunda. A primeira está lá, implícita, mas são os pergaminhos ultra-conservadores de Palin que mais contaram ontem.

Parece-me que os boatos iniciais sobre o filho de Palin, Trig, (que seria, segundo o boato, realmente o seu neto), difundidos inicialmente por um blog de simpatias democratas, só jogam contra os próprios Democratas, da mesma maneira que o artigo do NYT sobre a suposta amante de McCain. Não posso provar, mas de cada vez que qualquer coisa dessas aparecer e não se confirmar verdadeira, devem ser mais uns pontos percentuais de eleitores com simpatias republicanas que se consolidam como votantes de McCain. A percepção entre os Republicanos é a de que os media são todos visceralmente liberais, e coisas destas só o parecem confirmar. O grande problema de McCain - como atrair, com o seu perfil, o eleitorado Republicano mais conservador - parece, de resto, quase resolvido: 91% deles dizem que votarão nele na última tracking poll da Gallup.

Uma nota pessoal e, eventualmente, pouco imparcial: a exibição do filho de Palin, de quatro meses de idade, a passar de colo em colo de cada membro da família e até pelo colo da mulher de McCain, à noite, no meio de um barulho ensurdecedor, parecendo mais inconsciente - quase inerte - do que adormecido, constantemente focado pelas câmaras de televisão, especialmente quando Palin promete ser na Casa Branca uma "defensora" de quem filhos deficientes, foi para mim, que tenho um filho com oito meses de idade, uma das coisas mais obscenas que vi num ecrã de televisão em toda a minha vida. Mas não sou imparcial quando se trata de eleições americanas, repito. Depois do que se passou nos últimos oito anos, se em vez Obama o candidato Democrata fosse o Pato Donald, eu, se pudesse, votava no pato. É para verem o grave da coisa.

terça-feira, setembro 02, 2008

Previsões de modelos econométricos

Já aqui mencionei o último número do International Journal of Forecasting, sobre previsões das eleições americanas. No máximo, os artigos apresentavam modelos e previsões condicionais. Mas com as eleições a aproximarem-se e com dados da economia e de popularidade com um lag relativamente pequeno a ficarem disponíveis, aparecem as primeiras previsões concretas. Alguns dos papers foram apresentados na semana passada na reunião da American Political Science Association:

1. Lewis-Back e Tien. Paper e previsão para McCain: 43.2% do voto popular bipartidário.
2. Sidman e Mak.
Paper e previsão para McCain: 243 votos no colégio eleitoral (derrota).
3. Cuzan e Bundrik.
Paper e previsão para McCain: 48% do voto popular bipartidário.
4. Abramovitz.
Paper e previsão para McCain: 44.9% do voto popular bipartidário.
5. Erikson e Wlezien.
Paper e previsão para McCain: 47% do voto popular bipartidário.
6. Klarner.
Paper e previsão para McCain: 47% do voto popular bipartidário.
7. Hibbs.
Paper e previsão para McCain: 48.2% do voto popular bipartidário.
8. Fair.
Previsão para McCain: 48.5% do voto popular bipartidário.

Obama, supostamente, ganha em todos os modelos.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Efeitos da Convenção?

Um dos efeitos de curto-prazo sempre mais comentados é o "convention bounce", a ideia de que, após a convenção, o candidato tem um ganho em termos de intenções de voto. Este artigo de 1999, usando dados entre 1952 e 1992, sugere que o ganho médio anda pelos 7 pontos.

Um post no Pollster começa a abordar este assunto com os dados disponíveis. Na tracking poll da Gallup, de uma empate 45-45, passou-se para uma vantagem de 8 pontos para Obama. Na tracking poll da Rasmussen, um efeito muito menor.

O post lista várias razões para sermos cépticos em relação à capacidade para medir rigorosamente esse "bounce". E um artigo de John Zaller, de 2002, é mais céptico ainda:

"detection of exposure effects is likely to be unreliable unless the effects are both large and captured in a large survey. Surveys, or subsets of surveys, having fewer than about 2000 cases may be unreliable for detecting almost any sort of likely exposure effect; even surveys of 3000 could easily fail to detect politically important effects."

Alguma coisa deve ter beneficiado. Mas quanto, e por quanto tempo?