sexta-feira, dezembro 29, 2006

Grande Rússia (e saudades da Pequena e da Branca)

Public Opinion Foundation, Dez. 9-10, N=1500, Face-a-face
Leonid Brezhnev ruled the country for 18 years, from 1964 to 1982. Would you rate Brezhnev’s rule as good or bad for the country?
Good: 61%
Bad: 17%
Hard to answer: 22%

All-Russian Public Opinion Research, Dez.16-17, N=1600, Face-a-face
Who was Russia’s politician of the year?
Vladimir Putin: 76%
Vladimir Zhirinovsky: 13%
Dmitry Medvedev: 12%

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Merry As You Like It

Estados Unidos, FOX News/Opinion Dynamics Poll, Nov. 29-30, 2005. N=900, Telefónica

Around this time of year, there is talk about whether holiday decorations on public property should include a nativity scene. Some say nativity scenes should not be on public property because this violates the separation of church and state. Others say it is acceptable for nativity scenes to be on public property because they are part of the historical celebration of Christmas. What is your view? Should nativity scenes be allowed on public property, or not?
Allowed: 83%
Not Allowed12%
Unsure:5%

Are you offended by stores that instruct employees not to say 'Merry Christmas' and make it a policy to specifically not use the words 'Merry Christmas' in advertising and promotions?
Yes:45%
No: 49%
Unsure: 6%

Merry Christmas

Estados Unidos, Princeton Survey Research Associates, N= 1,009, Dez-2-4, 2004,Telefónica

Now, regardless of your own religious beliefs, we'd like your views on Jesus. Do you think Jesus Christ ever actually lived, or not?
Did: 93%
Did Not: 3%
Unsure: 4%

Now I have a few questions about the Bible. Do you believe that every word of the Bible is literally accurate -- that the events it describes actually happened, or not?
Yes, Believe: 55%
No, Do Not Believe: 38%
Unsure: 7%

Which of these two positions do you most agree with?
The entire story of Christmas—the Virgin Birth, the angelic proclamation to the shepherds, the Star of Bethlehem and the Wise Men from the East—is historically accurate: 67%
The story of Christmas is a theological invention written to affirm faith in Jesus Christ: 24%
DK/NA: 9%

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Chile e Pinochet

Observo, perplexo, esta espécie de polémica sobre se Pinochet foi ou não bom para a humanidade em geral e o Chile em particular. A maioria dos chilenos, provavelmente, também ficaria espantada:

Chile, Centro de Encuestas La Tercera, 14-15 de Dezembro, N=564, Telefónica.
Was Augusto Pinochet personally responsible for human rights violations?
Completely or mostly responsible: 69%
Somewhat or not responsible: 31%
Do you think Pinochet’s government was important for Chile to reach its current economic development?
Yes: 63%
No: 39%
Qual es el aspecto que tiene más importancia en la trayectoria de Pinochet, al hacer un juicio sobre él y su gobierno?
Las violaciones a los derechos humanos : 56%
El nuevo modelo económico que introdujo en Chile: 24%
El golpe de Estado que terminó con el gobierno de Allende: 20%
Centro de Estudios de la Realidade Contemporánea, 27-Jul-6 Ago., Face-a-face, N=1200
How do you think Augusto Pinochet will be remembered?
As a dictator:82%
As a good leader:18%

Simples, não? Se não, o Pedro Lomba no DN de Sábado passado explica.

Sondagem referendo aborto

Esta, da Aximage, tinha-me passado despercebida. Actualizo agora o quadro. A anterior discrepância entre os resultados da Aximage e os da Marktest, Católica ou Intercampus desaparece.

domingo, dezembro 17, 2006

O estudo para a APF, 2

Os inquéritos por questionário visam por vezes medir atitudes e comportamentos que os inquiridos têm dificuldades em admitir, especialmente quando essas atitudes e comportamentos são potencialmente sujeitos a censura social ou moral. É o caso quando se colocam questões sobre a abstenção (vista por muitos como "dever cívico"), o consumo de drogas, a violência doméstica, práticas sexuais, evasão fiscal ou o aborto, só para dar alguns exemplos. William Foddy, no livro Constructing Questions for Interviews and Questionnaires (traduzido e editado em português pela Celta como Como Perguntar?) tem um capítulo inteiro dedicado ao assunto.

Era isto que, à partida, me interessava saber sobre o estudo feito para a APF. Lendo o relatório, verifica-se que foram tomadas duas principais medidas para lidar com o assunto. Por um lado, para inquirir presencialmente as 2000 mulheres entre os 18 e os 49 anos seleccionadas aleatoriamente para fazerem parte da amostra, foram apenas utilizadas entrevistadoras (e não entrevistadores). A pressuposição é que, num tema como este, mulheres se sentirão mais à vontade respondendo a mulheres. A segunda medida, segundo o relatório, foi a de aplicar todo o bloco de perguntas sobre "práticas de aborto" em sistema de auto-preenchimento, ou seja, preservando o anonimato também perante as próprias entrevistadoras.

Nunca se sabe se isto é suficiente, mas alguma coisa se fez, e quase tudo o resto que se pode fazer tem mais a ver com a formação dos entrevistadores e a confiança que conseguem transmitir aos entrevistados. Seja como for, há algo que é praticamente certo: a percentagem estimada neste estudo para as mulheres entre os 18 e os 49 anos que já fizeram um aborto não espontâneo (14,5%) deverá estar a subestimar os valores reais. Não é que não haja factores que também podem levar à sobrestimação: as mulheres mais dispostas a responder a estas perguntas poderão, eventualmente, tender a partilhar valores que, também eles, mais as predispõem a ter feito uma IVG. Mas os factores no sentido contrário - o da subestimação - tendem a ser muito mais fortes. Só para dar um exemplo, um estudo de 2001 realizado em New Jersey, onde se confrontaram os resultados de um inquérito por questionário com os registos médicos de mulheres cobertas pelo Medicaid, mostra que apenas 29% dos abortos efectivamente realizados foram reportados nas respostas aos inquéritos. Não estou a dizer que a subestimação, neste inquérito em Portugal, será da mesma ordem: as diferenças do contexto são tão grandes que essa inferência é impossível. Mas há muitas razões que nos fazem supor que a subestimação exista (cf. artigo e referências citadas). O que, por sua vez, obriga a alguma cautela quando se afirma que a maior parte das IVG's têm lugar até às 10 semanas: há razões para pensar que o "underreporting" seja maior quando o aborto acontece mais tarde...

Quanto ao resto, seria realmente bom que o estudo fosse disponibilizado de forma a que todos lhe pudessem ter acesso. Para além do interesse substantivo dos resultados, há várias coisas a discutir: a selecção da amostra (que tem apenas explicação sumária no relatório); a opção de restringir o universo a mulheres com 18 anos ou mais (por que não ter começado aos 15, como é prática comum em estudos semelhantes?), o facto de não se distinguir claramente as IVG's realizadas ao abrigo da lei vigente das restantes; etc.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O estudo da APF (aditado)

Era muito bom que o relatório do estudo encomendado pela Associação para o Planeamento da Família sobre o aborto em Portugal fosse colocado online. Fui ao site da APF e só encontro o programa da sessão onde foi apresentado (.pdf). Pelas notícias de jornal, para além de alguns dos resultados, sabemos que foi um inquérito por questionário, aplicado a 2000 mulheres, pela empresa Consulmark. Segundo o DN, o estudo também incide sobre as intenções de voto das mulheres no referendo de Fevereiro. Quer isto dizer que as 2.000 mulheres inquiridas no estudo eram todas eleitoras, ou seja, com 18 anos ou mais? Ou que as intenções de voto foram obtidas junto de uma sub-amostra? Estas e muitas outras questões. Em resumo, era bom saber mais.

P.S.- Entretanto, amavelmente, já mo fizeram chegar. Comento em breve, se houver comentários úteis a fazer.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Jagshemash

Borat existe mesmo, mas não é no Cazaquistão:

Poll: One-third of Ukrainians don't want Jews

(via Fruits and Votes)

Sondagem da Católica para "Não Obrigada"

Paulo Pinto Mascarenhas menciona os dados de uma sondagem que a Universidade Católica conduziu no final de Setembro para a plataforma "Não Obrigada". Na verdade, os resultados não são surpreendentes. Basta comparar com outra sondagem, com semelhante metodologia de amostragem e inquirição, que foi feita também pela Católica, apenas 15 dias depois. Ao contrário do que sucedeu com a sondagem para a RTP/RDP e Público, não fui eu o técnico responsável pela coordenação do trabalho para a "Não Obrigada", apesar dos inquéritos terem, nalguns casos, questões muito semelhantes, o que se deve ao facto de ambos se terem parcialmente baseado num estudo anterior da Católica, por sua vez parcialmente inspirado em exemplos internacionais.

Os resultados divulgados pela "Não Obrigada", e a comparação com a sondagem realizada posteriormente:

Sondagem "Não Obrigada":
"O aborto devia ser permitido quando a mãe ou a família não têm meios para sustentar a criança". Sim: 33%
Sondagem RTP/RDP/Público:
"O aborto devia ser legal quando a mãe ou a família não têm meios para sustentar a criança". Sim: 34%

Sondagem "Não Obrigada":
"O aborto devia ser permitido quando a mulher não quer ter o filho". Sim: 32%
Sondagem RTP/RDP/Público:
"O aborto devia ser legal quando a mãe não deseja ter o filho" Sim: 29%

Os resultados apresentados pela "Não Obrigada" em relação a uma questão adicional já não são directamente comparáveis, dado que os menus de opções de resposta fornecidos eram ligeiramente diferentes: a sondagem para a "Não Obrigada" introduzia a opção "Desde o momento em que bate o coração", ao passo que a sondagem RTP/RDP/Público introduzia uma opção "Não tenho opinião formada sobre o assunto". Mas mesmo assim, aqui ficam os dados.

Sondagem "Não Obrigada":
"Em sua opinião, quando é que começa a vida humana?"
Desde o momento da concepção: 54%
Desde o momento em que há actividade cerebral no feto:7%
Desde o momento em que o feto tem possibilidade de sobreviver fora da barriga da mãe: 7%
Desde o momento do nascimento: 15%

Sondagem RTP/RDP/Público:
"Na sua opinião, quando é que se pode dizer que começa uma vida humana?"
A partir do momento da concepção: 48%
A partir do momento em que há actividade cerebral:15%
A partir do momento em que há possibilidade de sobreviver fora da barriga da mãe: 8%
A partir do momento do nascimento: 8%

Uma nota final: apesar das semelhanças nos resultados, leio e releio a formulação das perguntas e das opções de resposta e reforço uma conclusão a que já tinha chegado há muito tempo: nos inquéritos, não há perguntas "neutras". Nunca. Por muito que seja o esforço em evitar enviesamentos óbvios, todas introduzem estímulos diferentes, com potenciais efeitos nos resultados (efeitos esses, contudo, cuja existência real e dimensão são muito difíceis de apurar, devido a todas as outras fontes de erro associadas a uma sondagem). E obviamente, o mesmo sucede quanto à formulação das perguntas colocadas em referendos...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Iraque: fim de ciclo

Estados Unidos, Rasmussen, N=1000, Dez. 2-3, Telefone

The Iraq Study Group is expected to recommend removing almost all U.S. combat troops from Iraq by early 2008. Do you favour or oppose this proposal?
Favour: 64%
Oppose: 22%
DK/NA:4%

Estados Unidos, Knowledge Networks, N=1326, Nov. 21-29, Internet poll (representativa)

Do you think the U.S. military presence in Iraq is currently:
A stabilizing force: 35%
Provoking more conflict than it is preventing: 60%
No answer: 5%

To try to address the problem of stabilizing Iraq, there is a debate about whether to work with Iraq’s neighboring countries with whom we have other disputes. Do you think it is a good idea or bad idea for the US to have talks with Iran?
Good idea: 75%
Bad idea: 21%
No Answer: 4%

What about having such talks with Syria?
Good idea:75%
Bad idea: 19%
No Answer: 6%

Do you think the US should or should not have permanent military bases in Iraq?
Should:27%
Should not:68%
No Answer: 5%

Discurso eleitoral

Como é que os políticos fazem discursos na noite eleitoral?

"Tendo em conta a conhecida aversão dos portugueses aos números, assim como a concorrência desleal de blogues que usam despudoradamente a imagem e as mais modernas técnicas de propaganda para influenciar os eleitores, este nosso resultado - um segundo lugar - só pode ser visto como uma inequívoca, retumbante e arrasadora vitória eleitoral. Queria agradecer desde já às nossas bases, que demonstraram enorme dedicação e exemplar sentido cívico em circunstâncias adversas, etc."

Agora a sério: fico muito contente. Obrigado aos organizadores e a quem votou.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Votações e enviesamentos cognitivos

Desde já se adverte que o facto de, nesta votação, isto aparecer, da última vez que vi, à frente disto na lista dos melhores blogues temáticos, não tem qualquer fundamento racional, e só poderá ser uma consequência dos seguintes enviesamentos cognitivos:

1. Efeito de primazia, causado pela primeira votação ;

2. Efeito bandwagon, suscitado após as consequências do efeito de primazia, reforçando-o.

O conteúdo deste post é, por sua vez, explicado por um terceiro tipo de enviesamento cognitivo.

Sondagem referendo aborto

Mais uma, da Marktest. O texto não esclarece se a pergunta sobre intenção de voto foi apenas colocada àqueles que disseram tencionar votar (73%), mas é provável que assim tenha sido.



Continua a "clivagem" entre os resultados da Católica, da Intercampus e da Marktest, por um lado, e aqueles obtidos pela Aximage e pela Eurosondagem, por outro. Nestas condições, "tendências" é coisa sobre a qual nem vale a pena perder muito tempo, a não ser para dizer o óbvio: diminuição do "Sim" e aumento do "Não" na sondagem Marktest, mas demasiado pequenas para podermos daí inferir a existência de uma mudança real.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Mais Turquia

O Eurobarómetro 64, realizado há um ano, dá uma boa ideia dos sentimentos dos europeus em relação à entrada da Turquia na União Europeia. 55% dos Europeus são contra. A rejeição é mais elevada na Áustria, na Alemanha e em França, para cima de 70%. Isto é especialmente importante porque, como se dizia no Guardian a propósito de um estudo anterior, "France and Austria are due to hold referendums on Turkish membership once the accession talks end in about 10 years, all but guaranteeing that Turkey will be blocked if the current climate prevails."

É também por saberem isso que os turcos estão cada vez mais indispostos "connosco", como se vê neste relatório (.pdf). E como não? Para quê apoiar todas as reformas pedidas pela UE, algumas delas tocando nos receios de perda de identidade nacional e em temas que beliscam o nacionalismo turco, se, no final, os políticos europeus se escudarão por detrás dos referendos para deixar a Turquia de fora? O crescimento do cepticismo é perfeitamente racional.

É por tudo isto que a posição do Papa é tão importante. Afinal, até o Papa pode mudar de ideias...

terça-feira, novembro 28, 2006

Turquia

Quem também parece ter perdido a paciência, neste caso com a União Europeia, são os turcos:

International Strategic Research Organization, N=1100, Nov. 4, 2006
Should Turkey suspend its accession talks with the European Union (EU) in the event of continued pressure from the bloc on opening ports and airports?
Yes: 70%
No: 20%
Not sure: 10%

Do you think Turkey and the EU will reach a compromise on the row over ports and airports?
Yes: 26%
No: 63%
Not sure: 11%

O nacionalismo turco é uma coisa potente. Mas não é fácil persuadir seja quem for da seriedade das intenções europeias - ou da plausibilidade da entrada da Turquia na UE, faça a Turquia o que fizer - quando se vêem coisas como estas:

Alemanha, FG Wahlen / ZDF, N=1303, Nov. 9
Do you support or oppose Turkey’s accession to the European Union (EU)?
Support: 33%
Oppose: 61%
Not sure: 6%

Israel

Enquanto Olmert procura negociar com a Autoridade Palestiniana, os israelitas parecem ter perdido a paciência com Olmert. Para posição negocial, dificilmente poderia ser pior.

Teleseker / Maariv, N=450, Nov. 9, 2006.
Should prime minister Ehud Olmert resign?
Yes: 51%
No: 42%

Dahaf Institute / Yediot Ahronot, N=4999, Nov. 20, 2006
Who is best to be prime minister?
Benjamin Netanyahu:47%
Ehud Olmert: 22%

Mas as as coisas para a outra parte não estão muito melhor:

Palestinian Center for Public Opinion, 18 Out. 2006, N=1020
How do you evaluate the performance of the Palestinian Prime Minister, Mr. Ismael Haniyyeh at present?
Very good: 18%
Good: 23%
Mediocre: 26%
Bad: 15%
Very bad: 17%
Don't know: 2%

segunda-feira, novembro 27, 2006

Ainda Venezuela (aditado)

Clima generalizado de suspeita sobre as sondagens. Sobre a Penn, Shoen & Berland, cujas sondagens dão Rosales bem perto de Chávez, algumas notícias - cuja proveniência merece, ela própria, algum cepticismo - relata antigas acções fraudulentas. Realmente, a reputação da PSB é a de associar com excessiva facilidade aos actores políticos locais: veja-se Itália e os trabalhinhos para Berlusconi. E reconheça-se que não é fácil acreditar nestas sondagens quando se lê esta notícia sobre a garantida "vitória por avalanche" de Rosales na ... www.petroleumworld.com...

Mas entretanto, vale a pena ler os resultados desta experiência, onde diferentes inquiridos numa sondagem preencheram o voto com canetas de cores diferentes, de forma a se estimarem os efeitos da percepção de que a sondagem poderia estar associada a diferentes candidaturas. Friederich Welsch é um politólogo com obra publicada. Isto não garante tudo, mas ajuda, e o argumento - a "espiral do medo" - é plausível.

Mas a lição final talvez seja esta: quando não se pode confiar nas eleições, também não se pode confiar nas sondagens.

P.S. - Ilustração do ponto anterior: resultados eleitorais vs. sondagens à boca da urnas na Venezuela.

P.P.S. - E um post, desta vez criticando as sondagens "chavistas".

Mais Venezuela

Este é mais um exemplo de como o conhecimento do contexto é vital e o meu é, para ser generoso, limitadíssimo (talvez um português que esteja na Venezuela e que leia isto possa ajudar, mas duvido que o Margens de Erro chegue tão longe...)

Eis que logo depois de avisar aqui acerca das sondagens que dão Rosales muito perto de Chávez para as eleições do dia 3 de Dezembro, surge esta (relatório completo, .pdf), da IPSOS, que coloca Chávez com uma vantagem brutal. A IPSOS é uma grande multinacional e não costuma brincar em serviço, mas haveria que saber mais sobre quem está a fazer o trabalho na Venezuela. Pelos vistos, é a IPSOS-Brasil, que esteve ausente de tudo o que foram sondagens para as presidenciais brasileiras publicadas nos media... Mas especulo: olho para a variedade incrível de resultados nas sondagens para as presidenciais na Venezuela e não sei o que pensar. O melhor é continuar a seguir aqui.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Popularidade líderes políticos, Portugal

Nova sondagem da Marktest para DN e TSF, aqui (.pdf). O gráfico seguinte mostra a evolução do saldo entre as percentagens de opiniões positivas e negativas para Sócrates, Marques Mendes, e Cavaco (e Sampaio como ponto de comparação para este último) nas sondagens de Marktest desde Março de 2005:

Mantém-se a discrepância de valores entre a Eurosondagem (a azul) e a Marktest (a verde) no que respeita a Sócrates. Numa, Sócrates tem estado relativamente estável e até com tendência de subida. Noutra, Sócrates desceu abruptamente em Outubro, e agora pouco recupera. Vá-se lá saber.


Os gráficos estão feitos um bocado à pressa, mas estou sem tempo para mais.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Surpresa na Venezuela?

Fast Venezuela, N=2288, última semana de Outubro

Which candidate would you vote for in the presidential election?
Hugo Chávez (MVR): 49%
Manuel Rosales (UNT): 47,6%
Benjamín Rausseo (Piedra): 1.3%

Reacção previsível da candidatura Chávez: "Mario Issea, one of Chávez’s campaign coordinators, said the president would earn a new term adding, 'The phoney polls are trying to establish a trend to allow Rosales to claim fraud, but true surveys and the people are corroborating that Chávez will win.' "

Para uma análise dos números recentes, ver aqui, onde não é fácil distinguir quais serão as "phoney polls" e quais serão os "true surveys"... A seguir com muita atenção, especialmente porque não é de todo garantido que Chávez esteja inteiramente disposto a, digamos, perder.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Off topic: o livro de Santana Lopes

Pareceu-me muitíssimo acertado o artigo de Rui Ramos hoje no Público (só para assinantes) sobre o livro de Pedro Santana Lopes. A ideia com que se fica no final da leitura do livro é que tudo aquilo que lemos nos jornais é verdadeiro. Quando digo que o que lemos nos jornais é “verdadeiro” não me refiro aos “factos”, mas sim àquilo que a cobertura política nos jornais nos transmite sobre o que significa “fazer política”: ressentimentos, amizades, vinganças, recompensas, empatias, antipatias, produzir e desfazer “impressões” e gerir aparências.

Devido à sua absoluta falta de auto-reflexividade, Santana Lopes parece não se dar conta que, ao mesmo tempo que ensaia uma “denúncia” desta forma de fazer política, o que escreve revela-o como não sabendo fazer outra coisa. E levanta a suspeita que aquilo que o distingue dos seus colegas de profissão, amigos ou inimigos, é simplesmente o facto de não se aperceber do que está a revelar: que para todos eles, como escreve Rui Ramos, o eleitorado não passa de “um mero reflexo de intrigas de bastidores”. Não sei se iria ao ponto de, como Rui Ramos, designar Santana Lopes ou Durão Barroso como representativos desta “camarilha” que é, supostamente, a nossa classe política. Mas se não serão rigorosamente representativos, também não poderão ser casos únicos, nem no seu partido nem nos outros.

Um aspecto que Rui Ramos não menciona é a forma como esta concepção da política é inteiramente cega em relação aos “formalismos” institucionais, ou pelo menos aos que realmente contam (é sensível apenas aqueles que são destituídos de consequências mas fazem parte da “gestão da imagem”). Por exemplo, um dos factos que Santana Lopes relata, e que encara com absoluta naturalidade, é o facto de, ainda enquanto Presidente da Câmara de Lisboa, receber com grande frequência nos Paços do Concelho pessoas que com ele vinham tratar de assuntos de “governo”. Por exemplo, Cardoso e Cunha, em conflito com Fernando Pinto na TAP. Na Câmara Municipal de Lisboa? Mas claro: quem melhor do que o “número dois” do partido, mas também Presidente da Câmara, para fazer chegar as suas preocupações ao Primeiro Ministro, mas também presidente do partido? Tudo normal.

terça-feira, novembro 21, 2006

Parce que c'est une femme

Não comecei já a coligir dados sobre as presidenciais em França porque as sondagens existentes ainda vêem lidando com muitos e diferentes cenários. Agora que Ségolène Royal foi nomeada candidata pelo PS francês, a coisa simplica-se, mas falta ainda a nomeação de Sarkozy. Na UMP, esperneia-se, mas a coisa é inevitável.

Não é novidade para ninguém que Royal e Sarkozy dominam as sondagens. Sarkozy quase sempre à frente em intenções de voto na 1ª volta, e praticamente empatados para uma segunda volta. Exemplos: Ipsos; TNS-Sofres; CSA.

Entretanto, o CEVIPOF (o Centro de Pesquisa Política de Sciences Po) vem fazendo um série de estudos muito recomendáveis, enquadrados no "Barómetro Político Francês" e com trabalho de campo feito pelo IFOP. O último relatório (.pdf) está aqui.

No Canhoto, mencionava-se há dias esta frase de SR no debate das primárias do PS: Qu'est-ce qui fait ma différence? Il y en a une visible, sur laquelle je n'insisterai pas.

Pois de facto não vale a pena insistir. Sondagem da IPSOS, de 18 de Novembro:

Ségolène Royal vient d’être désignée candidate du PS à l’élection présidentielle. Vous, personnellement, qu’est-ce qui vous attire le plus dans la candidature de Ségolène Royal ?

Resposta mais mencionada: "parce que c'est une femme" (37%).

segunda-feira, novembro 13, 2006

Eleições americanas 5

A verdadeira história sobre as eleições americanas começa a emergir:

1. Fortíssima correlação entre aprovação de Bush e comportamento de voto nas eleições estaduais (.pdf) entre os que aprovam Bush, 84% votaram em candidatos Republicanos; entre os que desaprovam (a maioria), 83% votou em candidatos Democratas. Falta ainda saber, claro, até que ponto uma (a aprovação de Bush) e outra (o comportamento de voto) foram predeterminadas pelas predisposições partidárias e ideológicas dos eleitores

2. Fortíssima correlação entre aprovação da guerra do Iraque e comportamento de voto nas eleições: entre os que estão contra a guerra (a maioria), 80% votaram em candidatos Democratas; entre os que estão a favor, 80% votaram Republicano. Mas aqui, convém não sobrestimar o efeito líquido que esta atitude em relação à guerra poderá ter tido na decisão de voto. Muitos do que são contra a guerra votariam Democrata com ou sem guerra, pelo simples facto de que são eleitores fieis do partido.

3. Contudo, quer a aprovação de Bush quer a opinião sobre a guerra (elas próprias, certamente, muitíssimo correlacionadas) algum efeito líquido terão de ter tido nestas eleições, porque a principal mudança ocorreu entre os eleitores independentes (sem identificação partidária) e ideologicamente moderados: foi entre estes que se deu a viragem fulcral a favor dos candidatos Democratas (ver aqui). Mais análises terão de ser feitas para sabermos até que ponto a opinião sobre Bush e/ou sobre a guerra terá sido o factor decisivo para estes eleitores decisivos, mas é implausível que tenham sido irrelevantes.

4. Dito isto, estas eleições não sinalizam um realinhamento ideológico ou partidário fundamental do eleitorado americano. Não há sinais de que as bases sociais e religiosas do Partido Republicano tenham sido significativamente abaladas. O que parece ter sucedido, para além do partido Republicano ter sido abandonado por independentes e moderados, foi uma mobilização diferencial dos eleitorados de cada partido, mais baixa para os eleitores Republicanos do que para os eleitores Democratas.

A popularidade de Sócrates

Escreveu-se muito, incluindo aqui, sobre a última sondagem da Marktest, divulgada no Diário de Notícias, que apontava para uma súbita descida da popularidade de José Sócrates. Mas avisou-se também, por exemplo aqui, que uma sondagem era apenas uma sondagem.

Pessoalmente - mas isto era apenas um "gut feeling" - pareceu-me que a sondagem da Marktest terá medido qualquer coisa real. A descida ocorreu após uma série de acontecimentos que previsivelmente deveriam ter impacto sobre a popularidade do Primeiro Ministro. Contudo, os resultados da sondagem realizada pela Eurosondagem e divulgada no Expresso colocam isto em dúvida, ou melhor, sugerem uma hipótese alternativa: a de que quem sofreu em termos da avaliação popular foi o governo, e não o Primeiro Ministro.

Para repetir uma banalidade, mais uma sondagem é só mais uma sondagem. Entretanto, há que esperar por mais resultados. Contudo, a espera pode não resolver todas as dúvidas. Como podem ver se seguida, apesar da Marktest e da Eurosondagem mostrarem resultados que parecem seguir as mesmas tendências (sendo que assistimos agora, precisamente, à principal excepção), há discrepâncias a nível absoluto entre elas (maior popularidade para Sócrates na Eurosondagem) cuja explicação me escapa completamente.

Simplismos e simplismos

No passado dia 9, João Miranda, no Blasfémias, escreveu um post onde apontava o "simplismo" daqueles que, analisando os resultados das últimas eleições americanas, dão como explicação desses resultados a avaliação que os americanos hoje fazem da invasão do Iraque. Critiquei alguns aspectos desse post aqui.

Agora, JM responde, dizendo que a única coisa que quis fazer foi chamar a atenção para o simplismo desse tipo de análise, e que só procurou "provar" que ela não teve em consideração alguns factos óbvios. E acrescenta que

"não pretende provar nenhuma tese sobre os resultados das eleições americanas, pretende apenas provar que as análises que estão a ser feitas não provam que o Iraque foi o principal factor que levou os eleitores a votar nos democratas."

Eu acho que isto estaria correctíssimo se tivesse sido realmente aquilo que JM fez no post mencionado. Mas não foi. Na verdade, aquilo que JM fez foi não apenas apontar o simplismo das análises que apontam o Iraque como causa da derrota do Partido Republicano, mas também defender a teoria de que o Iraque não foi a principal causa da derrota do Partido Republicano. Dizer que uma hipótese pode não ser confirmada pelos factos e dizer que uma hipótese é infirmada pelos factos são duas coisas muito diferentes.

Os dados avançados por JM que, cito o post, "contrariam a tese de acordo com a qual o Iraque foi o principal factor que levou os eleitores a votar nos democratas" são os seguintes:

1. Os partidos dos presidentes americanos são sempre penalizados nas eleições realizadas no sexto ano do seu mandato, mas isso deve-se, em parte, "ao cansaço do eleitorado em relação a quem está no poder";

2. Nas sondagens à boca das urnas, os próprios eleitores explicaram as suas razões, "e o que os próprios eleitores disseram foi que as suas principais preocupações são a corrupção, o terrorismo, a economia e Iraque. Exactamente por esta ordem."

3. Candidatos republicanos que se opuseram à invasão do Iraque foram derrotados nas urnas. "Se o Iraque foi um factor, porque é que os eleitores decidiram penalizar precisamente aqueles republicanos que votaram contra a invasão?"

Sucede que estes argumentos não servem para "contrariar a tese de acordo com a qual o Iraque foi o principal factor que levou os eleitores a votar nos democratas":

1. O argumento 1 aponta uma regularidade empírica - as eleições realizadas a meio de um segundo mandato são sempre mais penalizadoras para o partido do presidente do que as eleições realizadas a meio de um primeiro mandato - mas essa regularidade em nada impede que, nestas eleições, as atitudes sobre o Iraque tenham sido as que mais influenciaram a decisão do voto directa ou indirectamente (contribuindo para a formação da opinião sobre a actuação do Presidente e do seu partido, que se saber ter sempre enorme peso na decisão de voto e nos resultados deste tipo de eleição).

2. O argumento 2. não serve por razões já explicadas aqui e aqui.

2. O argumento 3. confunde um resultado agregado (vitória ou derrota) com decisões individuais dos eleitores, e em nada refuta a hipótese de que, entre os muitos factores que podem influenciar esses decisões, a opinião sobre o Iraque possa ter sido a que (directa ou indirectamente) tenha tido mais peso.

Gosto de muitos posts de JM no Blasfémias. Têm quase sempre a característica de desafiarem o "senso-comum", apresentando ângulos novos para olharmos para uma questão ou desmontando falsos pressupostos na base dos quais algumas conclusões "óbvias" são tiradas nos meios de comunicação social. Contudo, por vezes - como agora, ou quando escreve sobre o "aquecimento global" - desafiar o senso comum confunde-se com desafiar o bom senso. Neste caso, os argumentos que avança para infirmar a hipótese de que o Iraque terá sido o principal factor nestes eleições são tão débeis como os argumentos que têm sido avançados para confirmar a mesma hipótese, apesar de aparecerem revestidos de uma aparentemente maior "objectividade" e "atenção aos factos". É só este último aspecto que, aliás, fez com que essa sua análise tenha merecido o meu comentário: mais perigoso que o senso comum só o senso comum que ostenta uma pretensa objectividade.

É também isto que, diga-se, abre o flanco a uma crítica adicional que outros - que não eu - lhe possam querer fazer, a mesma que, sem qualquer fundamentação a não ser a do palpite, JM faz àqueles que defendem que o Iraque foi o principal factor nestas eleições: a de ter formado "opinião muito antes de saírem os primeiros resultados com base em preconceitos e não com base em factos."

sexta-feira, novembro 10, 2006

Peço desculpa...

...e não é para ser chato ou para me armar em esperto, mas esta discussão, no que diz respeito às causas dos resultados das eleições americanas, é um bocado absurda. Dizer que factores específicos explicam ou deixam de explicar as decisões dos eleitores em eleições como as de anteontem - para além do sobejamente demostrado efeito da avaliação da actuação do Presidente, o que aliás revela que há muito de "não local" nestes resultados - olhando para resultados agregados de sondagens à boca da urnas é a mesma coisa que escrever uma tese sobre física sub-atómica olhando muito perto e durante muito tempo para um bloco de cimento. Uma perda de tempo.

Primeiro, porque as sondagens à boca das urnas olham apenas para votantes e não para eleitores, impedindo a explicação de um elemento central nos resultados eleitorais e na punição aos governos: quem decide não votar. Segundo, porque a análise dos factores explicativos do comportamento eleitoral tem de ser multivariada e utilizando controlo estatístico - noções com que julgo o João Miranda deverá estar mais do que vagamente familiarizado - e não se faz comparando resultados agregados de uma suposta causa com resultados agregados de uma suposta consequência. Terceiro, ao contrário do que sugere o João Miranda, explicar os comportamentos dos eleitores na base daquilo que eles dizem sobre as motivações do seu comportamento é o pior caminho possível: fica-se apenas com racionalizações. Finalmente, é preciso olhar ou para dados individuais ou, pelo menos, para bons e completos dados ecológicos. E se não se queria responder a simplismos com outros simplismos, o melhor era nem ter começado. Desculpem, mas é assim. O resto é conversa e retórica política. Tenham lá calma que não há de tardar muito até que as análises sérias comecem a aparecer.

P.S.- E explicar o habitual castigo ao "incumbent" na base de "cansaço" é pura preguiça. As explicações sérias são fáceis de encontrar. Basta ler blogues.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Depois (e antes) da tempestade, a bonança

Outra impressão que fica depois de ser ver, ouvir e ler o comentário político nos Estados Unidos no dia de hoje é a de que as eleições trouxeram uma enorme mudança qualitativa na forma como o tema do Iraque é tratado.

Já escrevi aqui hoje como me surpreendeu que vários comentadores e políticos tenham vindo assumir uma "derrota" no Iraque. Mas não é só isso: hoje, vendo a Fox - queria tomar o pulso à maneira como os Republicanos se sentem - a demissão de Rumsfeld foi, para todos os efeitos, celebrada. Cheney foi descrito como o "remaining hardliner", depois da substituição de Rummy por Robert Gates. Gates foi descrito como alinhado com Brent Scowcroft e um conservador "à moda antiga", pragmático e realista, "what we need right now". Dizia-se um pouco mais à frente como foram os "hardliners como Rumsfeld" que "nos colocaram nesta situação". E toda a gente, de repente, Republicanos incluídos, concorda com a necessidade de uma "mudança de direcção". Na semana passada a conversa era outra: "stay the course". Logo, independentemente daquilo que se venha a saber sobre o impacto da opinião dos eleitores sobre o Iraque nos resultados, é inequívoco que eles foram interpretados pela administração como sendo um julgamento (negativo) sobre a sua actuação no tema.

Mas a bonança pode durar pouco tempo. Este novo consenso impressiona também por ser absolutamente vazio de conteúdo. Mudar de direcção, mas como, e para onde? Ninguém sabe muito bem, e quem sabe não diz. Para os Republicanos, o melhor é transformar Rummy no bode expoiatório e co-responsabilizar agora os Democratas pela procura de uma solução, a ver se os custos desta coisa se diluem até 2008. E para os Democratas, o melhor prestar o necessário "lip service" à ideia que estão dispostos a "colaborar" com o Presidente, ao mesmo tempo que lhe deixam a tarefa de encontrar uma solução para o que não tem remédio evidente e vão propondo uma série de coisas (aumento do salário mínimo, reforma do sistema de saúde) que o Presidente não poderá senão vetar. A bonança não pode durar.

Até porque Robert Gates parece partilhar algumas das características políticas, pessoais e ideológicas do seu encantador antecessor:

He served Bush's father as deputy national security adviser and later as CIA director. He was a rare hardliner in the Bush 41 White House, famously suspicious of Mikhail Gorbachev and closer ideologically to then-Defense boss Dick Cheney than to Colin Powell and James Baker.

He was marked for higher office by Reagan CIA Director William Casey but was slowed in his rise by minor involvement in the Iran-Contra scandal in the late 1980s, when Gates was Casey's Deputy director at the agency.

During Gates' second CIA confirmation hearings he was charged with cooking intelligence by CIA insiders and making it more favorable to White House policy makers; Gates rebutted the charges sufficiently to get confirmed. Many Democrats voted against him nonetheless.

Gates is an affable, soft-spoken man who can tell a good story and has a generous sense of humor.

Um gajo porreiro.

Eleições americanas 4 (aditado)

Estou em Notre Dame, Indiana, por razões que nada têm que ver com as eleições americanas. Mas sempre se pode aproveitar para ir tomando o pulso ao que se passa aqui de uma maneira diferente daquilo que se pode fazer à distância.

Primeiro, circulam nos media e entre as pessoas com quem falei muitas teorias explicativas dos resultados, mas a ideia de que a eleição foi um referendo à governação de Bush predomina e é relativamente pacífica. De resto, é tudo menos nova. Sabe-se há muito tempo que, se é verdade que o partido que governa tende sempre a ser punido nas eleições midterm, a dimensão dessa punição é explicada, em grande medida, pela avaliação que os eleitores fazem da actuação do Presidente. E essa é a segunda mais negativa no pós-guerra em eleições a meio do mandato. Que a punição não tenha sido maior talvez se explique pelo facto de que a maioria dos lugares do Senado em disputa desta vez eram lugares seguros para os Democratas.

Mais difícil é dizer que tema concreto mais terá pesado nessa avaliação negativa e, por sua vez, na punição do partido Republicano. O Iraque é um bom candidato, tendo em conta que é o problema que a maioria dos eleitores mais destacaram como sendo importante, seguido do terrorismo e, só depois, a economia.* Mas a corrupção é outro tema importante. Saber se a forma como os eleitores se comportaram coincide com aquilo que disserem ser importante é matéria para análise futura.

Segundo, só uma grande distância dos Estados Unidos e algum desconhecimento sobre o funcionamento do seu sistema político permite dizer que estes resultados não têm grande importância para o futuro. Um Congresso Democrata é um Congresso cujas poderosíssimas comissões e subcomissões vão ser lideradas por Democratas, onde o Presidente vai ter muito mais dificuldades em fazer passar leis, onde o preenchimento dos lugares judiciais e de nomeação política conjunta vai ser feito por figuras mais moderadas (devido à necessidade de compromisso), onde a distribuição de benefícios particularistas a grupos de interesse vai mudar de destinatários (ou, provavelmente, devido à divisão de poderes, ser mitigada) e onde a actuação da administração vai ser muito mais vigiada. A cara de enterro dos pivots da Fox News não consente duas interpretações: a mudança de controlo partidário do Congresso é importantíssima. Ontem, James Carville lembrava a manhã seguinte, em 1994, na Casa Branca, quando a administração Clinton se deu conta que teria de lidar com uma maioria Republicana no Congresso: "um pesadelo. O nosso mundo tinha mudado".

Três observações mais impressionistas:

1. Pela primeira vez, vejo muitos comentadores e políticos articularem a frase "a guerra do Iraque está perdida", assim, sem tirar nem pôr. Ontem, William Kristol, um dos maiores defensores e ideológos da invasão, disse isto na Fox, assim mesmo. Ele, claro, põe as culpas em Rumsfeld. Zangam-se as comadres...

2. O tema da investigação em células estaminais parece ter tido grande importância. Ou pelo menos, assim o pensam os candidatos democratas: não ouvi um único discurso de vitória onde este tema não tenha sido mencionado até à exaustão. A razão está muito bem explicada aqui.

3. A outra impressão com que fico é que algo estranho parece ter acontecido ao Partido Democrata. Todos os candidatos que ouvi, nos seus discursos de vitória, martelaram exactamente os mesmos assuntos: Iraque e células estaminais, já mencionados, assim como ordenado mínimo e saúde. E vejo figuras como McAuliffe, Obama e Pelosi dizer que têm de "trabalhar com o Presidente". Até parece, por momentos, que o Partido Democrata se transformou num partido a sério: disciplinado, com um discurso coerente,e pragmático. Será? Os próximos dois anos vão dizer.

* Nas sondagens à boca das urnas, o tema mais mencionado não foi o Iraque, mas sim a corrupção. Mas estas sondagens, claro, têm como universo apenas os votantes, e não os eleitores, impedindo assim a análise das motivações de um acto altamente susceptível de ser usado para punição dos governantes e de produzir enormes efeitos a nível agregado: a abstenção.

Eleições americanas 3

Confirma-se eleição de senador Democrata no Montana. Só falta confirmar Virginia.

Donald Rumsfeld sai. Lá se vai a teoria de que as eleições não têm impacto na administração.

Eleições americanas 2

A Câmara dos Representantes, como previsto, passou para os Democratas. No Senado, tudo depende dos resultados em dois estados já mencionados aqui: Montana (1.700 votos de vantagem para o candidato democrata) e Virginia (8.ooo votos de vantagem para o candidato democrata).

segunda-feira, novembro 06, 2006

Eleições americanas

O melhor sítio para ficar com uma ideia do que pode suceder amanhã é o indispensável pollster.com, dos nossos conhecidos Mark Blumenthal e Charles Franklin. Na base de centenas de sondagens divulgadas, tudo aponta para que os Democratas ganhem uma maioria da Câmara dos Representantes, mas no Senado as dúvidas são maiores. Tudo depende do que acontecer em quatro estados: Montana, Missouri, Viriginia e Maryland. Em todos eles, há um Democrata à frente nas sondagens, mas em todos eles a margem é muito curta. E vai ser preciso que os Democratas ganhem todos os quatro estados para de facto "controlarem" o Senado: se houver um empate 50/50, quem fica com poder de desempate é esta gentil criatura.

Se acontecer o que realmente se espera - Democratas com a Câmara, Republicanos com o Senado - isso significaria que os modelos de previsão dos resultados estão correctos. Podem encontrar três aqui, cada um dando importância a variáveis diferentes, mas todos eles convergindo na mesma previsão genérica.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Queda de Sócrates 2

Como interpretar?

1. Em primeiro lugar, uma sondagem é uma sondagem. Há mil e uma razões para que esta sondagem em concreto possa não estar a captar mudanças reais.

2. Mesmo que estejamos perante uma mudança real (e saberemos melhor se assim é com futuros resultados), a verdade é que o que era anormal era a elevada popularidade de Sócrates desde as autárquicas. Os ciclos políticos não costumam ser assim.*

3. Dito isto, a confirmar-se, uma descida é uma descida, e parece grande. A que se deverá? Não há nenhuma mudança fundamental no "pano de fundo" de "médio-prazo" que costuma afectar estas coisas, ou seja, a situação económica. De resto, mesmo que houvesse, ela costuma ter um efeito diferido nas atitudes dos eleitores, que demoram algum tempo a interiorizar essas mudanças. E mesmo que tivesse efeito imediato, teria sido para cima, e não para baixo.

4. Pelo que a coisa deve estar ligada a factores de muito curto prazo. Não se pode ter a certeza, claro, mas parece-me que o "fim da crise" decretado pelo Ministro da Economia (e logo retirado) e a questão da electricidade não podem ser irrelevantes. Primeiro, tiveram muito maior amplificação mediática do que anteriores episódios que alguns anunciaram ditar o "fim do estado de graça" (o que nunca aconteceu, até agora). Segundo, porque aquilo que os torna importantes é o facto de eles entrarem em contradição directa com o princípio genérico que visa legitimar a actuação do governo desde o início: a "resolução" da crise pelo ataque aos "privilégios" e aos "privilegiados" e a noção de que os sacrifícios serão distribuídos de forma equitativa ou mesmo progressiva. Sem crise, então para que servem os sacrifícios? E são os consumidores (os eleitores em geral) que têm a culpa dos aumentos da electricidade? Não tenho informação nem competência para avaliar a actuação do Ministério da Economia e da Inovação em todas as suas dimensões. Mas do ponto de vista político e comunicacional, é um tumor maligno.

5. Gostava muito de saber em que estratos sociais é que a descida de Sócrates na sondagem da Markest foi mais acentuada. Era capaz de apostar que foi nos mais baixos.

6. Também me cheira (só isso) que os meios de comunicação social começam a ficar menos dóceis com o governo. Não faço ideia se os noticiários da RTP são "governamentalizados" - há anos não vejo televisão a essas horas - e não me parece sensato, com todo o respeito (a sério), usar o Abrupto como fonte de análise imparcial sobre o tema. Mas o que a multiplicação de críticas à RTP quer provavelmente dizer é que, pelo menos, o contraste entre a cobertura da RTP e dos restantes meios de comunicação começa a tornar-se evidente.

7. E atenção, que vem aí a saúde, tema "popular" por excelência. Se a coisa correr como no caso da electricidade - em que a explicação cabal do "porquê" dos aumentos chegou depois do anúncio dos próprios - é melhor Sócrates apertar o cinto de segurança. Correia de Campos é já, na sondagem da Marktest, o ministro cuja popularidade mais desceu em Outubro.


*A propósito disto, uma nota. Numa conferência recente em que apresentei um estudo sobre o comportamento eleitoral nas presidenciais, um dos membros do público chamou a atenção para um factor muito importante: as eleições locais. O PS foi severamente castigado nas autárquicas, o que pode ter "descomprimido o ambiente" para o período seguinte, levando à recuperação da popularidade de Sócrates (que temos mostrado neste blogue e é visível no post anterior) e, de resto, ao facto de, quando analisamos dados individuais sobre decisão de voto nas presidenciais, a avaliação do governo não ter tido qualquer impacto. A hipótese é muito interessante.

Queda de Sócrates

Tal como medida na última sondagem Marktest/DN/TSF (.pdf). Haveria várias maneiras de a mostrar, mas opto aqui por mostrar a evolução do saldo entre opiniões positivas e negativas. Marques Mendes também paga a factura do que parece ser um aumento geral da insatisfação política, mas menos.

Professor Karamba

Tem alguma graça quando começa a ser possível prever certas coisas. Mais análise dos resultados ainda hoje.

Mais uma sondagem sobre o referendo

Uma sondagem feita pela Intercampus e divulgada ontem pela TVI, a juntar às três mais recentes:


Muito intrigante. É preciso deixar assentar a poeira.

Só dá Lula

terça-feira, outubro 24, 2006

Já podia ter dito

O Renas e Veados faz alguns comentários adicionais:

No entanto continua sem responder àquela que me parece ser a principal, porquê é que a questão do casamento foi a única nesta sondagem a merecer mais hipóteses de resposta que o "sim ou não" de todas as outras?

É simples: se a questão fosse colocada apenas em termos de uma dicotomia "a favor" ou "contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo", todas as pessoas que consideram que pessoas do mesmo sexo devem poder formar uniões com os mesmos ou alguns direitos de um casamento, mas discordam que o instituto legal se chame "casamento", não saberiam como responder. Provavelmente uns responderiam "contra", outros responderiam "a favor" e muitos refugiar-se-iam na não-resposta.

Se estivessemos perante um referendo em que as coisas fossem colocadas nesses termos, ou uma medida política sobre a qual se quisesse conhecer aprovação ou reprovação (como aqui), então era precisamente isso que se quereria saber. Mas como não é o caso, dar várias hipóteses plausíveis de resposta permitiu obter mais nuances de opinião, em vez de se sobrestimar o grau de polarização social sobre o tema. Foi só isto. E é isto, aliás, que se faz na maior parte das sondagens sobre este tema concreto quando não está em causa um referendo ou uma medida política concreta (ver aqui muitos exemplos): fornecer mais hipóteses do que mera dicotomia a favor/contra o casamento, para poder captar variância nos resultados. Procurei apenas seguir o que me pareceu boa prática.

E veja como poder fazer uma enorme diferença fornecer várias alternativas, seja em diferentes perguntas ou como diferentes opções de resposta a uma mesma pergunta: a maioria dos americanos é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo; a maioria dos americanos é favor de uniões que dêem muitos dos mesmos direitos. Voilá. Se a coisa ficasse só em "Sim"/Não" ao casamento, ficaríamos a saber menos do que aquilo que sabemos agora.

Quanto aos temas onde a Universidade Católica é suposta fazer ou não estudos, e distorções e assuntos semelhantes, já debati isso aqui e já me chega.

Brasil, 2º turno

É já no dia 29. A indicação de "descolagem" de Lula, que vinha da última sondagem Datafolha, vê-se confirmada por dois outros estudos:

segunda-feira, outubro 23, 2006

A sondagem da Católica

Tenho lido na blogosfera alguns comentários aos resultados da sondagem da Católica. Antes de mais, acedo à sugestão do João Gonçalves, mas por intermédio de outrem: se quiserem ver a melhor apresentação dos resultados desta sondagem, farão melhor em ir aqui, onde o Jorge Camões arranjou uma maneira de os transformar em "beautiful evidence". Os dados estão apresentados de forma a facilitar muitíssimo a sua compreensão. Este link vai já para os meus favoritos.

A apresentação mais imaginativa dos dados permite inclusivamente de deles possam emergir mais facilmente explicações para os padrões encontrados. Para o Jorge Camões, eles mostram:

"Que temas associados a minorias visíveis são aqueles que têm maior percentagem de rejeição. Que a eutanásia a pedido da família e a pena de morte estão estranhamente próximas. Que há um grupo de temas (quotas na política, células estaminais, sacerdócio, prostituição), todos curiosamente mais próximas do universo feminino, com níveis elevados de desconhecimento ou indiferença que se traduzem na incapacidade de opinar. Que a educação sexual nas escolas é o único tema consensual."

O que, aliás, não será muito diferente disto, se bem entendo:

"Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua."

Li também, no blogue de Miguel Vale de Almeida, meu antigo professor no ISCTE - de resto, um dos melhores - alguns comentários à sondagem. MVA critica o facto de nela se incluirem, ao mesmo tempo, perguntas sobre os direitos dos homossexuais e sobre outros temas:

"Colocar a igualdade de direitos no mesmo plano que o consumo das drogas ou o sacerdócio feminino numa confissão religiosa é mais do que enviesamento: é partilhar da premissa (e oferecê-la aos inquiridos) de que há um problema moral (para não dizer pior) com a homossexualidade. E se a pergunta tivesse sido a única da sondagem? Ou junto com outras perguntas relacionadas com a igualdade perante a lei?"

Eu percebo o argumento. Não excluo que a convivência destas várias perguntas num mesmo inquérito influencie as respostas e também preferia fazer uma sondagem para cada tema.

Mas dito isto, acho que Miguel Vale de Almeida está a ser "disingenous". Primeiro, ele sabe perfeitamente que há um traço comum a todas estas perguntas: o modo, limites e natureza da regulação dos comportamentos individuais por parte do Estado. Têm a ver com políticas de regulação, e não políticas extractivas e redistributivas, onde o que está em jogo são interesses específicos e recursos materiais. E no caso do sacerdócio feminino, tem a ver com a regulação dos comportamentos imposta pelo agente social que, antes do Estado ter assumido o monopólio legal, exercia essa função: a Igreja. É isso que une todas estas perguntas, e não outra coisa qualquer.

Para além disso, se se levasse a de MVA avante, então tínhamos de deitar fora o General Social Survey, o British Social Attitudes Survey, o European Values Study ou o World Values Survey, todos eles estudos onde, num mesmo questionário, são colocadas estas e outros perguntas sobre estes e outros temas. Foi destes questionários, aliás, que muitas das perguntas colocadas na sondagem da Católica foram textualmente retiradas. E já agora: donde vem a insólita ideia de MVA - insólita especialmente para um cientista social e, muito especialmente, um antropólogo - de que a questão da igualdade de direitos cívicos e políticos não tem a ver com valores?

Depois há a sugestão - "São Dagem" - retomada aqui, de que os resultados foram o que foram porque a sondagem foi feita pela Universidade Católica. Será isso? Mas então por que razão a sondagem haveria de dar resultados claramente desfavoráveis, nuns casos, em relação às posições defendidas na doutrina oficial da igreja, e favoráveis noutros? Embirração especial com os homossexuais?

A verdade é outra. Releio agora os resultados de um inquérito realizado em 1998 em parceria pelo ICS e pelo ISCTE, a instituição onde MVA trabalha, no âmbito do International Social Survey Programme. Questionados sobre as relações sexuais entre adultos do mesmo sexo (e, note-se, nem sequer se está a falar em "direitos"), 73% dizem que a sua mera existência "é sempre errada". MVA pode não gostar de viver num país onde as pessoas respondem desta maneira a estas perguntas. Agora, se o quiser mudar, fazer de conta que o país não é o que é, ou que tudo não passa de uma mera construção da Universidade Católica, não me parece bom ponto de partida.

Sondagens sobre despenalização do aborto

Em poucos dias, três sondagens sobre o tema. Resultados:

1. Aximage, Correio da Manhã, 2-4 Outubro 2006, Quotas, Telefónica, N=550:

"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 47,9%
Não: 39,9%
Sem opinião: 12,2%

2. Católica, Público, 14-15 Outubro 2006, Aleatória, Presencial, N=1282:

"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 53%
Não: 21%
Não tenciona votar: 16%
Sem opinião: 10%

3. Eurosondagem, Expresso/SIC/RR, Aleatória, Telefónica, N=1033:

"Se houver um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, como tenciona votar? (só quem respondeu "vai votar")
"Sim à descriminalização": 45,4%
"Não à descriminalização": 42,4%
Ns/Nr: 12,1%

Não é preciso fazer muitas contas para perceber que há grandes discrepâncias. Na sondagem da Católica, a percentagem de apoiantes da despenalização é 2,5 vezes maior que a de opositores. Na sondagem Aximage, 1,2 vezes. Na sondagem Eurosondagem é quase 1 para 1.

Estas discrepâncias não são novidade e não podem ser exclusivamente fruto do erro amostral nem parecem estar exclusivamente ligadas às diferentes opções genéricas de amostragem ou inquirição que costumam ser seguidas pelos diferentes institutos. Basta comparar os actuais resultados da Eurosondagem com este seu estudo de Fevereiro de 2004:

Eurosondagem, Expresso, 3 de Fevereiro de 2004, Aleatória, Telefónica, N=1025

Como votaria no referendo? (apenas aqueles que disseram que votariam)
"Pela legalização do aborto": 79%
"Contra a legalização": 14%

Não é fácil fazer sentido de tudo isto. No quadro seguinte, apresento, da forma mais comparável possível, os resultados das várias sondagens que conheço desde o início de 2004 sobre o tema. Nos casos em que as sondagens colocavam a pergunta em termos de "voto num referendo", há percentagens para aqueles que dizem que não iriam votar (no caso da Eurosondagem recalculei os resultados de forma a que esses fizessem parte do total).



Ajuda um bocadinho, mas não muito. Os resultados parecem ser brutalmente sensíveis a forma como a pergunta é formulada e às opções de resposta fornecidas, para além de serem certamente sensíveis a tudo o resto (amostragem, inquirição, etc). Hoje, no Público (amanhã, aqui) procurei explicar por que razão isto sucede e o que isto nos diz sobre as atitudes dos portugueses sobre o tema.

quinta-feira, outubro 19, 2006

655.000 (5)

A não perder, Anthony Wells, do UK Polling Report, sobre o estudo da Lancet.

Lula descola?

655.000 (4)

Entretanto, apercebi-me que também no Aspirina B se escreveu sobre o estudo da Lancet. E foi nos comentários ao post que encontrei uma ligação ao que me parece ser, até agora, o melhor comentário ao estudo: este, de um sociólogo americano especializado em saúde pública, por sua vez com uma outra ligação para um artigo que pode ajudar a explicar por que razão muitas mortes poderão ficar por registar. A leitura deste último artigo não é para quem tenha um estômago fraco.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Popularidade líderes políticos (Portugal)

Os dados mais recentes sobre os níveis de aprovação pública de Sócrates, Cavaco Silva e Marques Mendes são tão aborrecidos e trazem tão poucas mudanças em relação ao passado recente que, perdoem-me, nem os analiso. Podem ir vê-los aqui e aqui. Volto ao assunto quando houver novidades.

O que, já que falamos no assunto, pode nem tardar muito, com ministros e secretários de estado a dizerem coisas como esta, esta ou esta. Aposto que o PM não está a achar graça nenhuma à brincadeira.

P.S.- O Bloguítica já tinha opinado que se trata de um problema viral e adiciona o outro caso óbvio. Mas a leitura disto sugere que, neste caso concreto, a doença é provavelmente genética.

terça-feira, outubro 17, 2006

2º turno, Brasil

Resultados muito aproximados, quer em intenções directas de voto quer em votos válidos, para as quatro sondagens já realizadas depois da 1ª volta das eleições:



Segundo a pesquisa IBOPE, "a grande maioria (82%) dos eleitores afirma que seu voto já está definitivo, sendo 88% entre os eleitores de Lula e 85% entre os de Geraldo Alckmin."

655.000 (3)

Mais críticas ao estudo da Lancet, desta vez dos responsáveis do projecto Iraq Body Count (via Insurgente). Texto integral aqui. Alguns destaques:

1. O desfasamento em relação à cobertura dos meios de comunicação social:
If we consider the Lancet's June 2005 – June 2006 period, whose violent toll it estimates at 330,000, then daily estimates become lower but would still require 768 unrecorded violent deaths for every 67 that are recorded. The IBC database shows that the average number of people killed in any one violent attack is five. Therefore it would require about 150 unreported, average-size, violent assaults per day to account for 768 deaths. It is unlikely that incidents of this scale would be so consistently missed by the various media in Iraq. Although IBC technically requires only two sources for every corroborated death in its database, we actually collect, archive and analyse every unique report we can find about each incident before it is added to our database. For larger incidents the number of reports can run into the dozens, including news published in English in the original and others, mostly the Iraqi press, published in translation. In IBC's news archive for August 2006 the average-size attack leaving 5 civilians killed has a median number of 6 reports on it.

2. O desfasamento em relação ao número conhecido de feridos:
If 600,000 people have died violent deaths, then the 3:1 ratio implies that 1,800,000 Iraqis have by now been wounded. This would correspond to 1 in every 15 Iraqis.

3. A falta de credibilidade "face value" da taxa de mortalidade entre adultos masculinos
Of the 287 violent post-invasion deaths recorded by the Lancet authors where the age and sex was known, 235 (82%) were adult males between 15 and 59 years old. Extrapolating to the population as a whole would mean that around 470,000 men in this age group have been killed violently, i.e. one in 15 (7%) of adult males aged 15 to 59.

4. O desfasamento entre as certidões de óbito emitidas e as recebidas
If the Lancet estimate is correct then it follows that either (a) 500,000 documented violent deaths, for which certificates were issued, have somehow managed to completely disappear without a trace to Iraqi officials or the international media or (b) there is a vast, elaborate, and very successful, cover up of this massive number of bodies and their associated paper trail being carried out in Iraq.

5. O estranho aumento da taxa de mortalidade
Those who keenly recall the reported carnage associated with the invasion in 2003 will scarcely credit the notion that similar events but of a much greater scale and extent have continued unremarked and unrecorded, including by locals, in a nation at the level of education and urbanisation of Iraq. Iraq is not an undeveloped society where tiny, self-sufficient communities live in isolation and ignorance of each other.


O cerne da questão, segundo as pessoas da IBC:
The most likely source of such a flaw is some bias in the sampling methodology such that violent deaths were vastly over-represented in the sample. The precise potential nature of such bias is not clear at this point (it could, for example, involve problems in the application of a statistical method originally designed for studying the spread of disease in a population to direct and ongoing violence-related phenomena). But to dismiss the possibility of such bias out of hand is surely both irresponsible and unwise.

O debate continua...

segunda-feira, outubro 16, 2006

655.000 (2)

O Insurgente vem publicando vários posts onde se discute a credibilidade do estudo publicado na Lancet onde estima a mortalidade causada pela invasão do Iraque. Alguns deles são laterais , incluindo, por exemplo, cartoons, ou uma gravação vídeo onde o editor da revista de pronuncia contra a invasão. Tudo bem, que não se pode estar sempre a falar a sério.

Mas há um post muito interessante, onde se transcreve um e-mail de um "médico com algumas noções de epidemiologia", Fernando Gomes da Costa, que coloca várias dúvidas sobre o estudo. Longe de mim colocar-me na posição dos autores, que se defenderão como puderem. Mas quando a defesa já está no próprio texto do estudo, o melhor mesmo é lê-lo com atenção, como aliás eu já sugeria da primeira vez que falei no assunto. As perguntas de Fernando Gomes da Costa:

1- Foram feitos inquéritos a famílias escolhidas aleatoriamente, mas onde? também nas zonas menos tocadas pela guerra? ou só nas mais violentadas?

Segundo os autores, os clusters foram escolhidos aleatoriamente, sendo excluídos apenas três:
" On two occasions, miscommunication resulted in clusters not being visited in Muthanna and Dahuk, and instead being included in other Governorates. In Wassit, insecurity caused the team to choose the next nearest population area, in accordance with the study protocol. Later it was discovered that this second site was actually across the boundary in Baghdad Governorate."

Foi assim apenas excluído um cluster por razões potencialmente correlacionadas com as mencionadas na pergunta do e-mail, e dois outros por falta de comunicação. Consequências?

"The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths."


2- Os inquiridos contabilizaram (em meados de 2006) o número de familiares mortos desde os 14 meses anteriores à invasão até aos 14 seguintes. Foram mortes confirmadas por atestados em 90% dos casos dos 87% solicitados, o que dá 79% de confirmações. Temos assim que em 600.000 há portanto 126.000 casos não confirmados.

Este problema é mencionado no estudo:

"Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable."


3- As mortes não relatadas não puderam ser, obviamente, controladas por atestados. Isto quer dizer que nada nos garante não haver uma minimização do número de mortes antes da invasão, o que poderá distorcer grandemente o método de comparação "antes e depois".

Cito do estudo:

"Our estimate of the pre-invasion crude or all-cause mortality rate is in close agreement with other sources"

Essas fontes são:

CIA 2003 Factbook entry for Iraqhttp://permanent.access.gpo.gov/lps35389/2003/iz.html(accessed Oct 2, 2006).
US Agency for International Health and US Census Bureau. Global population profile: 2002. Washington, DC: US Census Bureau, 2004:.

Podem estar também erradas, claro. Mas o fundamental é que a estimativa da mortalidade pré-invasão que resulta do inquérito coincide com resultados obtidos independentemente do inquérito.


4- Uma das mais óbvias desonestidades do “estudo” tem aliás a ver com a amostra: comparar 14 meses antes da invasão (em “paz”) com 14 meses a seguir (e portanto na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno), e extrapolar os ditos casos desses 14 meses para os 28 meses seguintes, inflaciona, e de que maneira, os números.

Lamento, mas não há comparação com "os 14 meses a seguir". O que há é comparação da taxa de mortalidade de um período de tempo antes da invasão (14 meses) com um período de tempo posterior, a saber:

"We measured deaths from January, 2002, to July, 2006, which included the period of the 2004 survey." ~

Para além disso, a noção de que "na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno" terá sido a fase com maior mortalidade não parece resistir aos dados:

"By mid-year 2006, 91 violent deaths had occurred in 6 months, compared with 27 post-invasion in 2003 and 77 in 2004, and 105 for 2005, suggesting that violence has escalated substantially."

A mortalidade aumentou (em vez de diminuir) após os tais "14 meses"


5- Finalmente, todos sabemos que sempre que alguém morre vítima da violência bélica no Iraque isso nos é diligentemente comunicado pela generalidade da imprensa. Seria muito fácil essa mesma imprensa (ou algum curioso) dedicar-se a pegar nos jornais desde a altura da invasão e somar as mortes (só violentas e dos iraquianos, atenção). Mas vamos supor, já atirando muito (mas muito) por alto, que desde Março de 2003 morreram em média diariamente 100 pessoas vítimas de atentados, bombas, (ou torturas dos americanos, pois claro!). Há muitos dias, como hoje, em que nada vem relatado, mas fica por conta dos outros...Teríamos assim, desde Março de 2003: 100(mortes/dia)x365(dias/ano)x3,5(3 anos e meio) = 127.750 mortes! Um bocadinho longe das 600.000...Como diz a outra: há coisas fantásticas, não há? Já agora, fazendo as contas com os números do “estudo” da Lancet: 600.000 (mortes)/(3,5x365 dias) = 469 mortes por dia, ininterruptamente desde 2003! A ser assim, e lendo a nossa imparcialíssima imprensa, até o Avante está vendido ao imperialismo americano!

Aqui não há muito a dizer: o autor do e-mail acredita na imprensa mas "não acredita" nos números. Eu também gostava de não acreditar. Mas não me parece que isso chegue.

Já agora, fica aqui um excerto do estudo onde os autores - com honestidade - listam muitos dos seus possíveis enviesamentos, alguns no sentido da sobrestimação e outros no sentido da subestimação da mortalidade:

All surveys have potential for error and bias. The extreme insecurity during this survey could have introduced bias by restricting the size of teams, the number of supervisors, and the length of time that could be prudently spent in all locations, which in turn affected the size and nature of questionnaires. Further, calling back to households not available on the initial visit was felt to be too dangerous. Families, especially in households with combatants killed, could have hidden deaths. Under-reporting of infant deaths is a wide-spread concern in surveys of this type. Entire households could have been killed, leading to a survivor bias. The population data used for cluster selection were at least 2 years old, and if populations subsequently migrated from areas of high mortality to those with low mortality, the sample might have over-represented the high-mortality areas. The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths. Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable.
Large-scale migration out of Iraq could affect our death estimates by decreasing population size. Out-migration could introduce inaccuracies if such a process took place predominantly in households with either high or low violent death history. Internal population movement would be less likely to affect results appreciably. However, the number of individual households with in-migration was much the same as those with out-migration in our survey.
Although interviewers used a robust process for identifying clusters, the potential exists for interviewers to be drawn to especially affected houses through conscious or unconscious processes. Although evidence of this bias does not exist, its potential cannot be dismissed.
Furthermore, families might have misclassified information about the circumstances of death. Deaths could have been over or under-attributed to coalition forces on a consistent basis. The numbers of non-violent deaths were low, thus, estimation of trends with confidence was difficult. Not sampling two of the Governorates could have underestimated the total number of deaths, although these areas were generally known as low-violence Governorates. Finally, the sex of individuals who had died might not have been accurately reported by households. Female deaths could have been under-reported, or there might have been discomfort felt in reporting certain male deaths.

sexta-feira, outubro 13, 2006

2º turno

Posso estar enganado, mas ainda só dei com duas sondagens de intenção de voto na segunda volta das presidenciais brasileiras realizadas após o 1º turno. São ambas da Datafolha (6 e 10 de Outubro). Lula surge com 50/51% de intenções directas de voto, e 54/56% de votos válidos.

A visão de longo prazo está no gráfico seguinte: 60 sondagens, realizadas desde 2005, em que o cenário Lula/Alckmin foi avançado. Descida constante de Lula até há um ano, recuperação até fim de Agosto deste ano, e declínio deste então. As percentagens são de votos válidos:

Quando olhamos para as intenções directas de voto, o mecanismo do que se passa desde fim de Agosto fica mais claro. A percentagem de votantes que afirma tencionar votar em Lula numa segunda volta não desce muito. Só que, entretanto, aqueles que se diziam abstencionistas e indecisos vão diminuindo e, pelos vistos, passando para Alckmin (clique para ampliar):



Chega para Alckmin? Isso exigiria uma de três coisas. A primeira seria uma transferência para Alckmin de alguns daqueles que dizem hoje tencionar votar Lula. Mas segundo a Datafolha, 90% dos que afirmam tencionar votar em Lula ou Alckmin dizem que a sua decisão é definitiva. Não há muito espaço para mudanças de última hora. A segunda consistiria em que todos os que agora se dizem indecisos, abstencionistas ou votos brancos e nulos passassem para Alckmin. É implausível. A terceira seria que houvesse uma excepcional desmobilização de última hora entre o eleitorado Lula. Nada disto parece muito credível. Mas esperar para ver.

quinta-feira, outubro 12, 2006

655.000

Uma utilização menos usual da técnica do inquérito por questionário: um estudo publicado pela revista Lancet estima em 655.000 o número de mortos devidos à invasão no Iraque. Este "devido" deve ser concebido com significando que estas mortes estão "em excesso" em relação ao que seria previsível na base das taxas de mortalidade verificadas nos anos imediatamente anteriores. O estudo revela também que a taxa de mortalidade mais do que duplicou no período 2003-2006 em relação ao período anterior, e que parece estar a aumentar. Estima-se que cerca das 600.000 mortes tenham sido violentas.

Como se calcularam estes números? O melhor é ler. A base é um inquérito por questionário a 12.000 iraquianos. A metodologia é complexa e haverá muitos pontos para debate. Exemplo num blogue: aqui.

Entretanto, há quem recorra, como habitualmente, à fé : George W. Bush ou John Howard dizem que não "acreditam" nos números.

quarta-feira, outubro 04, 2006

A "queda" de Lula (2)

Eduardo Leoni, do Brazilian Politics, chama-me à atenção por e-mail de um dado importante: Lula não "perdeu" votos. O que sucede é que não conseguiu angariar votos entre os indecisos.

Assim é, quando olhamos para as intenções directas de voto:

Lula mexe pouco, mas Alckmin sobe à medida que os indecisos descem. Eduardo Leoni levanta outro problema que decorre daqui: a pressuposição de que os indecisos se redistribuem proporcionalmente pelas opções válidas (ou, o que é a mesma coisa, que se vão todos abster) não funciona no Brasil...

terça-feira, outubro 03, 2006

A "queda" de Lula

Anda por aí alguma discussão sobre as razões da incapacidade de Lula ganhar à 1ª volta. A maior parte delas anda pela questão da corrupção (no Público, só para assinantes). Mas atentem no seguinte gráfico com a evolução das intenções de voto em Lula e Alckmin no IBOPE, só para usar o instituto que mais se aproximou dos resultados que Lula acabou por obter:

O que se vê é que Lula vem a descer desde finais de Agosto. O que está para a direita do dia 10 de Setembro são sondagens realizadas após a divulgação do escândalo do "dossiê Serra", e pode-se levantar a hipótese de que essa divulgação terá acelerado a descida. Mas a descida vem de antes, como já repeti aqui até à exaustão, e importa também explicá-la. Descontando o que às vezes me parece ser uma certa mania da perseguição, amplificada aqui, estou de acordo: não se deu suficiente importância a Alckmin. Lula perde votos devido a uma boa campanha do seu opositor, e não apenas devido à corrupção.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Brasil: rescaldo e 2ª volta

O quadro seguinte compara as últimas estimativas de cada instituto com os resultados finais. Parabéns ao Datafolha e ao Ipespe. O segundo é especialmente notável, tendo em conta a utilização de uma amostra reduzida e a inquirição telefónica. Mas pode-se também levantar a hipótese de que o Ipespe tenha tido "razão antes de tempo", ou seja, que estivesse no dia 26 a subestimar a votação em Lula, acabando por se aproximar dos resultados finais devido à tendência geral de queda de Lula que se prolongou após o dia 26. Seja como for, as diferenças entre os institutos são reduzidas, a não ser no caso Sensus. Se quiserem comparar com a performance dos institutos portugueses em 2006, podem ir aqui. Nada mau para nós, mas o Brasil é o Brasil e Portugal é Portugal...



2ª volta? O que temos são os últimos resultados de sondagens que colocavam os eleitores perante o cenário Lula/Alckmin. O score de Lula oscila entre 62% e 52%. Mas agora, vai ser difícil levar os resultados da Sensus muito a sério.

sábado, setembro 30, 2006

Qualquer palpite é chute

Acaba de ser divulgada uma sondagem da Vox Populi, terminada ontem, que dá 52% de votos válidos para Lula (contra 60% na última sondagem, realizada dia 19). Mais uma que dá tendência de descida. Aguarda-se, pelo menos, uma última sondagem da Datafolha. As restantes (as mais recentes) são as seguintes:



A noite eleitoral no Domingo é capaz de acabar tarde. “O segundo turno é provável”, arrisca um especialista na análise de pesquisas. “Mas a essa altura dos acontecimentos, qualquer palpite é chute”, afirma.

P.S.- Actualização com IBOPE e Datafolha:

sexta-feira, setembro 29, 2006

Vale (muito) a pena ler

Os bastidores das pesquisas eleitorais

Meu reino por um ponto a mais

6ª feira: ponto de situação

O Ipespe dá 51% de votos válidos em Lula, em sondagem realizada no dia 26, confirmando a tendência de descida verificada em todos os outros institutos (o estudo anterior dava 53%). Não esquecer, contudo, que as sondagens Ipespe são telefónicas, presumivelmente deixando fora a amostra o eleitorado mais pobre.

Amanhã deveremos conhecer os resultados das últimas sondagens Vox Populi, Datafolha e IBOPE. Irão ter, pelo menos no caso Datafolha, amostras de muito grande dimensão, o que não só diminui a margem de erro amostral mas também permite uma estratificação mais fina da amostra. Isso, contudo, não resolve todos os problemas, como se pode depreender do quadro seguinte, onde se comparam os resultados das eleições de 1998 e 2002 com os resultados das últimas sondagens realizadas pelo IBOPE (ambas as eleições) e pelo Datafolha (2002). Como vêem, há um fenómeno recorrente: no dia das eleições, o vencedor recolheu menos votos do que aquilo que é estimado nas base das últimas sondagens. Coincidência?

quinta-feira, setembro 28, 2006

Novas sondagens IBOPE e Datafolha

Na sondagem IBOPE, terminada dia 26, Lula aparece com 53% de votos válidos, menos 1 ponto que na sondagem anterior (terminada dia 22). A"subida" de que se fala no texto linkado é nas intenções de voto, mas o que sucede é que, como os votos brancos, nulos e indecisos diminuem, a redistribuição acaba por redundar numa descida para Lula em termos de votos válidos.

Na sondagem Datafolha, terminada dia 27, Lula desce também um ponto em votos válidos, de 54% para 53%, em relação à pesquisa anterior (terminada dia 24).

Ambas as "descidas" são, tomadas individualmente, estatisticamente irrelevantes. Contudo, o facto de ambas indicarem descida e de essa descida vir na continuidade de uma tendência anterior sugere que podem indicar algo mais do que um mero efeito de erro aleatório. De assinalar também que as estimativas para os vários candidatos que resultam das sondagens IBOPE e Datafolha serem rigorosamente iguais (53%, 36%, 9%, 2%).

Dito isto, as notícias podiam ser piores para Lula. Como o gráfico abaixo mostra - evolução dos resultados limpos de "house effects" - Lula desceu de forma contínua desde a 2ª quinzena de Agosto até agora. Contudo, o ritmo de descida parece ter abrandado nas sondagens desta última semana. Chegou-se ao último reduto de eleitorado indefectível?