segunda-feira, julho 29, 2013

Crisis and party system change: Greece, Portugal, and others

Alexandre Afonso makes interesting points about how and why the financial crisis and austerity policies hit the Greek party system more severely than the Portuguese one (here, in Spanish and here, in English). A summary, hoping to do it justice:

1. First, according to Afonso, Greek parties relied more on state-sponsored clientelism and patronage than the Portuguese ones. Economic crisis and austerity thus hurt the Greek parties more severely in terms of their ability to sustain mass support.

2. Second, PASOK ruled alone in 2009 and thus could not avoid being held responsible and massively punished for the economy and economic policies. In contrast, the Portuguese Socialists were a minority government since 2009, implemented austerity policies negotiated with the PSD even before the bailout, and this made “responsibility more difficult to attribute,” thus mitigating incumbent losses.

3. Finally, according to Afonso, “technocratic governments” and “grand coalitions”, creating “a political cartel where participants make a commitment to avoid blaming each other in order to minimize electoral costs” (…)”may be the only one available for parties to survive in the current situation”.

My feeling is that the first point sounds about right, the second only partially so, and the third not at all, at least to me.

I’m ready to accept that Greek parties relied more extensively on patronage to muster support, and thus that it is plausible that the crisis and the austerity policies forced by the EU/IMF bailout had bigger consequences in Greece than in Portugal from that point of view. I also agree (I have made that point myself on the basis of a post-election survey) that, in the Portuguese 2011 elections, voters’ propensity to assign blame not only to the incumbent Socialists but also to a variety of other forces and factors (although not so much to the opposition parties) seems to have mitigated the punishment exacted upon the PS for the economic situation then faced and for the very need for a bailout.

However, from the point of view of Afonso’s arguments, it sometimes seems that the debacle of the Greek party system was basically something very bad that happened to the incumbent PASOK. But that’s not exactly right, is it? “Very bad” things have also happened to other incumbents in financially troubled European countries, including to Fianna Fáil in Ireland, to the Independence Party in Iceland, or even, for that matter, to the Socialists in Portugal (with a cumulative loss of 17 percentage points from 2005 to 2011). What makes the Greek crisis  different from said countries was the overall massive level of electoral volatility, including the fact that the major party of the opposition (New Democracy) was also punished in 2012, even in comparison with its 2009 loss (as Afonso shows in his own graph), as well as the dramatic rise of other parties that were either new or previously much less relevant. Nothing like that happened in the 2009 elections in Iceland, in the January February 2011 elections in Ireland, or in the June 2011 elections in Portugal, where the existing major alternatives to incumbents did predictably well. In fact, an even longer view shows us that the defeats suffered by the incumbents in those elections did not prevent their later (at least partial) electoral recovery since then, as the performance of the Independence Party in the 2013 Iceland elections (or of Fianna Fáil and the Portuguese PS in the opinion polls today) show.

So, if we want to treat party system “resilience” or ”change” as the thing we want to explain, what are the two cases among the ”financial crisis” countries where party systems were more badly shaken? Interestingly, and, I think, countering Afonso’s argument, these are precisely the two cases where ”technocratic” or “national unity” governments were formed. In Greece, it is fascinating to see how the performance of ND in the polls plummeted in the aftermath of the formation of the Papademos cabinet in November 2011. In Italy, one and a half years of Monti (as well as Berlusconi’s tactical withdrawal of support by the end of the term) ended up leaving the Democratic Party awkwardly associated with austerity and crisis, something that, in other circumstances, an opposition party would probably be able to avoid (if not capitalize from). The result, in both countries, is that the punishment of incumbents was not accompanied by a reward for the main challengers in the party system. Instead, protest voting appeared with enormous strength and new parties emerged or strengthened, a result, I would argue, of the shared responsibility of the major traditional parties for increasingly detested policies and their consequences.

So to me, the question is: why have the Greek and Italian party systems been so transformed, while the Portuguese, Irish, and Icelandic ones were  less so? The answer, I think, may be the opposite to the one provided by Afonso: cases of “national unity”/”technocratic” governments were followed by the deeper manifestations of party system transformation. In contrast, where party government prevailed, punishments for incumbents may have been very large in some cases and smaller in others, but party systems seem (so far) to have basically preserved most of their main features.

P.S.- I cautiously avoided Spain where, in the absence of any sort of “national unity” or “technocratic” cabinets, there’s an argument to be made about an important change away from a basic two-party system and towards a more fragmented one. However, this is mostly based on polling data, and I would reserve judgment on this until an actual election takes place…

terça-feira, julho 16, 2013

Uma frincha

Vou fazer agora uma coisa para a qual não tenho jeito nenhum: aquilo a que se costuma chamar "análise política". O meu negócio é outro, mas perdoem a incursão em terreno alheio. É porque há uma passagem muito curiosa num artigo de Leonete Botelho e Sofia Rodrigues no Público de hoje que não resisto comentar:
Desde há muito que a maioria e o Governo pediam um entendimento com o PS que tinha por objectivo fazer pressão à troika para ganhar vantagens nas negociações. Com isso, a maioria apresentava como argumento perante a troika um apoio reforçado no Parlamento, mas também ganhava margem para negociar matérias, como a flexibilização do défice, a coberto do PS, com o argumento de que os socialistas eram menos receptivos a medidas que implicam cortes na despesa social.
Só comprovo a minha distracção e a minha ignorância, mas confesso que não sabia nada disto. Eu sabia, por exemplo, que o Primeiro-Ministro não excluía a possibilidade de flexibilizar a meta do défice para 2014, "mas faremos tudo o que está ao nosso alcance para cumprir as metas que foram agora acordadas no sétimo exame regular", e até já tem "prontos os diplomas que terminam os cortes de 4,3 mil milhões de euros que foram acordados para 2014". Sabia também que o CDS considerava que "factores externos" faziam com que fosse "prudente" admitir a possibilidade de nova flexibilização das metas do défice para 2014, mas pouco mais para além de dezenas de notícias injectadas nos jornais sobre nunca claramente assumidas posições do partido e do seu líder sobre o programa de ajustamento. O que eu não sabia era que o Governo, por considerar essas metas impossíveis (ou até, quem sabe, indesejáveis), andava há muito a pedir um entendimento com o PS para, usando o PS como "desculpa" ou para mostrar base de apoio doméstico, ganhar poder negocial frente à troika para renegociar as metas acordadas.

Para além de eu ser distraído e ignorante, há também a possibilidade destes "pedidos" feitos há muito terem sido privados, ou até, que sei eu, de estarmos perante uma oportuna reconstrução da história política recente. Mas isso agora não interessa muito. O interessante é que de repente vejo, não uma "janela de oportunidade", mas pelo menos uma pequenina frincha por onde pode passar um acordo entre os três partidos. O PS consensualiza objectivos de ajustamento mais modestos com o Governo, os nossos credores aceitam a coisa e continuam a mandar os cheques, Seguro reclama para si o mérito de "fazer ver" à maioria os seus erros passados e o PSD e o CDS evitam eleições antecipadas potencialmente catastróficas (especialmente para o segundo, se as indicações desta sondagem se confirmarem).

Contudo, a frincha continua a ser muito estreita. Se esses objectivos consensualizados incluírem "concordar com despedimentos, cortes nas pensões", a coesão interna no PS deverá estar em risco, se José Sócrates servir de barómetro para esse efeito (e provavelmente serve). E mesmo sem contar com isso, para o PS, a equação eleitoral não é inequivocamente favorável a qualquer espécie de acordo com os partidos de governo: CDU e BE espreitam, e um ano (até menos que isso) de "salvação nacional" é muito, muito tempo. Mas a frincha está lá.


segunda-feira, julho 15, 2013

Mais sobre a sondagem Aximage

A Aximage pede aos inquiridos que avaliem os principais líderes políticos como tendo actuado "bem", "mal" ou "assim-assim". Depois atribui valores de 3, -3, e 1 a cada uma das opções (-1 sem opinião). Depois agrega e converte numa numa escala de 0 a 20. É um pouco complicado (porventura excessivamente complicado), mas a regra é explicada e consistente, e logo a comparabilidade é possível. Eis a evolução:

 O tombo do líder do CDS-PP é grande. Em consistência com os resultados de intenção de voto do PSD na mesma sondagem, Passos Coelho sobe. Para já, a indicação é esta: o conjunto de episódios em torno da demissão de Portas penalizou-o fundamentalmente a ele e ao seu partido, mas não o seu parceiro de coligação. Mas são indicações a confirmar (ou não) com mais sondagens que sejam realizadas após a crise da coligação.

domingo, julho 14, 2013

sexta-feira, julho 12, 2013

Eurosondagem, 5-10 julho 2013, N=1007, Tel.

PS: 37% (+0.1)
PSD: 25% (+0.2)
CDU: 12% (-0.1)
CDS-PP: 8% (+0.3)
BE: 8% (=)

Paulo Portas e Passos Coelho são os líderes políticos cuja aprovação mais desceu. Aqui. Se tivesse tempo, tentaria calcular a probabilidade de duas amostras aleatórias (esta e a do mês anterior) darem resultados quase exactamente iguais, presumindo que a distribuição de intenções no universo é igual.

P.S.- Boa ideia a apresentação de %'s sem casas decimais. A ver se continua. 

segunda-feira, julho 08, 2013

Pitagórica, 28 Junho-2 Julho, N=503, Tel.

Intenções de voto. Entre parêntesis, comparação com sondagem anterior (trabalho de campo terminado a 28 de Maio):

PS: 33.9% (+1.2)
PSD: 23.7% (-1.7)
CDU: 13.2% (+0.7)
CDS-PP: 9.1% (-0.4)
BE: 8.9% (-0.5)

Aqui. Outros resultados:

* 57% (contra 33%) acham que "um governo de coligação entre o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda" não "seria capaz de responder aos desafios que Portugal está a viver".

*  40% acham que "chegaremos a Junho de 2014" "melhor"ou "muito melhor", enquanto que 32% "pior" ou "muito pior".

* 66% acham "devem-se fazer as eleições no seu período normal" (contra 31% que querem legislativas com autárquicas).


sexta-feira, junho 28, 2013

PSD nas sondagens, 2001-2013

Graças ao trabalho incansável do Miguel Maria Pereira, bolseiro do projecto POPSTAR (em breve terei novidades que poderão ser interessantes), e da ajuda da ERC, temos agora uma coisa simples mas útil: uma base de dados das sondagens eleitorais desde 2001. Um exemplo abaixo do que se pode fazer com isto: a evolução das intenções de voto no PSD. Porque as sondagens divulgam os resultados de maneira diferente - com e sem indecisos, aplicando filtros que diminuem a % de brancos e nulos, etc. - estes resultados representam a % de intenções de voto no PSD em relação ao total dos 5 maiores partidos, de modo a aumentar a comparabilidade entre as diferentes sondagens. Logo, o que interessa aqui não é tanto uma comparação com resultados eleitorais reais (que serão sempre menores), mas sim a comparação ao longo do tempo. Sinalizei alguns factos políticos relevantes para nos situarmos. A linha é um smoother LOESS a 5%. É melhor clicar na imagem para ver bem.


















 Julgo que não precisa de muitos comentários. Talvez dizer que o declínio do PSD desde 2011, depois de uma breve fase inicial de sustentação (que Barroso não teve), tornou-se logo de seguida mais acentuado e rápido que o que sofreu desde 2002 e que, hoje, o PSD está com intenções de voto nos mínimos dos últimos 12 anos, mas que esses mínimos já foram atingindos em várias circunstâncias (Santana Lopes, Menezes, Ferreira Leite). A dúvida, claro, é o que pode estar ainda para vir.

terça-feira, junho 25, 2013

Um inquérito, um pedido de ajuda, e prémios!

Uma investigadora da Nova SBE, Ana Cláudia Gouveia, no contexto da sua tese de doutoramento, desenvolveu um questionário online sobre pensões de reforma. Era muito importante que o questionário fosse respondido pelo número mais alargado possível de pessoas, pelo que venho pedir-vos ajuda no sentido lhe responderem e circularem o link. Responde-se AQUI. E pode dar um prémio! (a sério).


O link por extenso, para copiarem e enviarem  para outros, se puderem: https://novasbe.qualtrics.com/SE/?SID=SV_6lng3AfIhrmYiCV

terça-feira, junho 18, 2013

The polls in Portugal

Vote intention polls since the last election in Portugal. In spite of the scarcity of polls here, there is little room for doubt on what the three largest parties might be in terms of current voter support. Of the 32 media polls conducted since September 2012, PS has led the PSD in every single one of them, with an average voting intention of 34%. PSD's average in those polls is 27%, giving a 7 points lead to the Socialists. But it may be more already. For the polls conducted in the last four months, that lead is slightly higher: 8 points. CDU is comfortably in 3rd place, with an average of 11% since September.

PSD's decline is steeper than PS's rise, since smaller parties - not the government partner CDS-PP, but rather BE and, especially, CDU - seem to be on the rise too. Not quite like Spain, where IU and UPyD are now worth something like 30% of vote intentions. However, these two Portuguese parties, both to the left of the Socialists, are clearly worth a combined 20% of vote intentions. BE's potential in an actual election is always a bit questionable, as it has a more fickle and volatile electorate. But CDU's performance deserves greater atention. Although the Communists typically have good polls in the middle of electoral cycles and always tend to decline as the election approaches and campaigns start mobilizing other sorts of voters, CDU hasn't had such a consistent string of good results in polls since at least 2005. And let's say they get 10% in the next election. This would be their best score since...1987.

quarta-feira, junho 12, 2013

Marktest, 27-30 Maio, N=802, Tel.

PS: 34,6% (+2)
PSD: 25,0% (-2.9)
CDU: 13,1% (+0,7)
BE: 8.2% (-5,1)
CDS-PP: 5,6% (+0.4)
OBN: 13,6% (+5,0)

Aqui.

sexta-feira, junho 07, 2013

quarta-feira, maio 29, 2013

Government effectiveness and support for democracy

I just published an article on EJPR with the same title as this post. For those of you that may be interested on the subject but not so interested as to read the whole thing, here's an attempted summary.

Looking at survey data, many scholars have found that whether individuals prefer Democracy to alternative types of regimes is something that is unrelated with individual ("subjective") perceptions of governmental or economic performance, or even with "objective" measures of economic performance. The conclusion that has been reached on this basis can be summarized thus: "popular belief in the superiority of democracy is not susceptible to the ups-and-downs of government performance or the short-term economic fluctuation.” Instead, it “is largely a principled affair”, "a stable cognitive value cultivated through the socialization process in the society."

This finding seems to fit the basic conjecture that David Easton made a long time ago about the difference between "specific" and "diffuse support". Specific support is directed to "the perceived decisions, policies, actions, and the general style of (…) authorities.” In turn, diffuse support,“representing as it does attachment to political objects for their own sake, will not be easily dislodged because of current dissatisfaction with what the government does.” To put this in a simpler way, people's reasons to be happy or unhappy with the way the regime they live under works may very well be shaped by short-term factors related to the performance of governments or of the economy. But whether they are "democrats", or better put, whether they believe democracy to be "the only game in town" and to see it as "legitimate", is shaped by deeper, more structural, longer-term forces.

My point in this article is, I hope, very simple. I question the previous ideas in three ways. First, upon careful rereading of Easton and others, we find that this is not exactly what they conjectured. There's a very nice quote from a 1975 piece by Easton on this subject:
"Diffuse support may also, however, derive from experience. If only because this is a source usually associated with specific support, its significance for diffuse support may easily be overlooked or underemphasized. Members do not come to identify with basic political objects only because they have learned to do so through inducements offered by others – a critical aspect of socialization processes. If they did, diffuse support would have entirely the appearance of a non-rational phenomenon. Rather, on the basis of their own experiences, members may also judge the worth of supporting these objects for their own sake. Such attachment may be a product of spill-over effects from evaluations of a series of outputs and of performance over a long period of time" (Easton 1975: 446
Others, like Lipset, Dahl or Linz, made similar conjectures. Rational people living under ineffective regimes will sooner or later question their legitimacy.

Second, following recent work on the subject, I argue that one of the reasons why this has not been borne out by the data may be the use of inappropriate measures of regime support. Asking people directly about whether they "prefer democracy to other regimes" or whether they think "democracy is a good thing" is just one way of measuring support. There are different and more indirect ways, which focus more on whether people reject autocratic alternatives or whether they perceive an inevitable trade-off between "democracy" and universally valued outcomes, such as prosperity, decisiveness, and order. If we employ those measures, arguably less prone to "democratic lip service" and demonstrably more valid in cross-national research, maybe we will find that support for democracy is less prevalent than what people think, and more vulnerable to regime performance that what has been suggested.

Third, and finally, I argue that measures of regime performance could focus more on outputs than outcomes. In other words, effectiveness should be measured in terms of the quality of policy formulation and implementation, rather than economic outcomes or the perception of those outcomes. In spite of its arguable failings, there is an available measure that fulfills these criteria and has been used extensively in cross-national research: the World Bank's "government effectiveness" indicator.

What follows is quite simple. I use the World Values Survey integrated data file, construct three measures of regime support - one more "explicit" (EDS), another capturing rejection of autocratic alternatives (DAP), and another capturing whether people reject an inevitable trade-off between democracy and universally valued goals (DPE) - and pose two hypotheses.

H1. In democracies, greater effectiveness is linked to stronger democratic support.

H2. In non-democracies, greater effectiveness is linked to weaker democratic support (this is not really what one would like to test. Instead, one would like to test whether effectiveness in non-democracies increases support for whatever type of non-democracy people live under, but we simply have no good measures of that).

I use a multilevel model applied to data from never less than 50 countries and 76 surveys (depending on the availability of data), taking into account that respondents are clustered in country-years and those in countries, add a series of contextual and individual-level controls (GDP per capita, Ethnic fractionalization, Years under democracy, Income inequality, Age, Gender, Education, Income, Social trust, etc), and estimate the impact of Government effectiveness on the three measures of democratic support in different regime-types ("democracies" vs. "non-democracies", measured in two alternative ways). The take home figure is this, showing the marginal effects of effectiveness on these measures of democratic support:




When we use explicit measures of democratic support, support for H1 is absent. However, when we use alternative measures of support, effectiveness has a relevant positive impact in democratic support in democratic regimes (one standard deviation increase in effectiveness increases democratic support - DAP or DPE - by 2/3 of a standard deviation). Support for H2 is slimmer. Still, several of the marginal effects are negative, and two are significant at conventional levels. In short, effectiveness in democracies is a correlate of democratic support. Note also that all other macro-level predictors fail to perform as some of the literature suggests they should, at least once effectiveness is taken into account.

 It's a very simple idea, but I hope it is reasonably well executed. The message is less optimistic than what a democrat would like. Democracies are not immune to the consequences of government ineffectiveness and bad policy-making. Ineffective democracies are likely to suffer in terms of their legitimacy near mass publics. And there are signs, to be confirmed with better data, that effective autocracies may be more stable than what we think, by diminishing demand for democracy and increasing their own legitimacy.

That's it. I plan to continue to work on this issue. Comments very welcome.

quarta-feira, maio 22, 2013

Aximage, 7-10 maio, N=604, Tel.

PS: 35.5% (+2.9)
PSD: 26.2% (+0.9)
CDS-PP: 9.5% (+0.1)
CDU: 9.4% (-2.6)
BE: 6.9 (-0.9)

Aqui, com atraso meu.

Autárquicas e legislativas

Hoje passei por Oeiras e vi os cartazes da candidatura de Moita Flores:










Não vivo para estes lados e talvez por isso não faça ideia de quem é a nova Catarina mas notei duas coisas. A primeira é a ausência de menção aos partidos que apoiam a candidatura. A segunda é algo que não se vê aqui: em todos os cartazes que vi hoje, alguém tinha pintado "PSD". Obviamente, muitos candidatos do PSD pelo país fora tentarão omitir qualquer referência ao seu partido, enquanto muitos dos seus adversários farão o possível por chamar a atenção para ele. Mas isto fez-me pensar nos resultados das eleições autárquicas e na sua relação com a política nacional.

Tivemos 10 autárquicas até ao momento (excluindo intercalares). Que resultados tiveram os partidos do governo nessas eleições, e como se comparam eles com os resultados que obtiveram nas legislativas anteriores? No gráfico seguinte, comparo a percentagem de votos obtida pelos partidos no governo nas autárquicas (Câmara Municipal) com o resultado das legislativas anteriores. Nos casos em que há um partido de governo que concorreu em coligações pré-eleitorais nalgumas câmaras, extraí desses resultados a componente do partido de governo na base da distribuição dos total dos votos nos casos em que os partidos dessas coligações concorreram separados.




O desfecho mais frequente é que os partidos de governo sofram perdas nas autárquicas (-4.5 pontos, em média). Mas há grande dispersão: há três eleições com ganhos, assim como duas eleições com perdas catastróficas (acima dos 16 pontos, para o PSD, em 1989 e 1993).

O gráfico abaixo mostra a relação entre as perdas sofridas pelo(s) partido(s) de governo e o tempo decorrido após as legislativas. Os únicos casos em que os partidos de governo ganharam em relação às legislativas anteriores foi quando as autárquicas tiveram lugar imediatamente depois dessas legislativas, beneficiando aparentemente assim de um efeito de "lua de mel" e porventura do facto de, para os eleitores, o "incumbente" ser ainda outro (o que pode explicar os resultados particulamente bons para a AD em 1979 ou para o PSD em 1985 mas não a subida do PS em 2009). Em eleições autárquicas aproximadamente a meio do ciclo das legislativas, há sempre perdas, mas essas perdas podem ser relativamente pequenas (AD em 1982, PS em 1997) ou tremendas (PSD em 1989 e 1993).

As próximas autárquicas terão lugar cerca de 850 dias depois das legislativas de 2011. Se quisermos ser amáveis para a actual coligação de governo, podemos fixar-lhe um objectivo modesto: conseguirão os seus partidos em conjunto mais de 33% dos votos nessas autárquicas (tendo assim perdas inferiores ao PSD em 1993) ou ficarão abaixo desse resultado?

segunda-feira, maio 20, 2013

"Crise de regime"

António José Seguro fala de uma "crise de regime". Do ponto de vista de quem estuda a política através das opiniões e percepções dos eleitores (que certamente não é o único ponto de vista possível), este tipo de coisas é mensurável. Um primeiro indicador utilizado mede o "grau de satisfação" dos portugueses com o funcionamento do regime. A fonte com mais observações é o Eurobarómetro, que pergunta desde 1985 a amostras representativas da população se "De uma maneira geral, está muito satisfeito, bastante satisfeito, não muito satisfeito ou nada satisfeito com o funcionamento da democracia?" As opções de resposta vão de "nada satisfeito" (1) a "muito satisfeito" (4). Eis os valores médios amostrais para Portugal:

Os portugueses estão mais insatisfeitos que satisfeitos, situando-se, em média, no ponto 2 ("não muito satisfeito"). Do ponto de vista comparativo, os nossos valores são baixos, como podemos ver no gráfico abaixo. Abaixo de nós, em Novembro de 2012, apenas a Grécia, a Roménia, a Eslovénia e a Bulgária.

Todavia, a investigação sobre estes temas mostra que a "satisfação" é apenas uma das dimensões da relação das pessoas com o regime democrático. É uma dimensão "instrumental", muito dependente da relação das pessoas com os governos, do desempenho da economia e da própria situação financeira dos inquiridos. O verdadeiro teste da "consolidação" de um regime democrático é não tanto se os cidadãos estão satisfeitos mas sim se, independentemente dessa satisfação, consideram a democracia o "only game in town", se recusam formas alternativas, ditatoriais ou autocráticas, para a organização política. O European Values Survey coloca várias perguntas destinadas a medir essa rejeição da autocracia. Uma delas é se o inquirido considera que "um líder forte que não tivesse de se preocupar com o parlamento ou eleições" seria uma maneira "muito boa, boa, má ou muito má" de governar o país. O gráfico abaixo mostra a % de inquiridos em cada país que respondeu "má" ou "muito má" em 2008 (clicar no gráfico para ver melhor):

Apenas 41% dos portugueses vêem esta solução autocrática como "má" ou "muito má", com valores próximos dos encontrados nos países da Europa de Leste (e mesmo assim bastante abaixo da alguns deles, como a Eslováquia, a Hungria, ou a República Checa). Para além disso, em 1999, esta percentagem era de 50%, o que significa que a rejeição desta solução autocrática diminuiu. Por falta de tempo, não vos apresento os resultados de questões semelhantes sobre "ditaduras militares", ou de questões sobre a incompatibilidade entre a democracia e a prosperidade económica, a manutenção da ordem ou o bom governo. Mas a mensagem geral é a mesma: Portugal está entre os países europeus onde a defesa da democracia enquanto regime é mais baixa, e é um dos países europeus onde essa propensão para defender a democracia baixou nos últimos anos. Se isto é uma "crise de regime", vocês dirão.

sexta-feira, maio 10, 2013

Eurosondagem, 2-8 maio, N=1009, Tel.

PS: 36% (+1)
PSD: 25.9% (-0.6)
CDU: 12.1 (-0.4)
BE: 8.8% (+0.3)
CDS-PP: 8.4% (-0.1)

Aqui.

Como votam os trabalhadores do Estado?

A propósito dos posts anteriores sobre o peso dos pensionistas no eleitorado, lembrei-me de revisitar as mesmas bases de dados para responder à pergunta do título. Estes inquéritos perguntam qual o sector da actividade em que os respondentes trabalham e, quando casados ou vivendo com um parceiro, qual o sector de actividade dele/dela. Se consideramos as duas situações como relevantes para identificar o eleitorado dos "trabalhadores do estado", verificamos que as percentagens das amostras (que são representativas da população portuguesa residente no Continente com 18 ou mais anos) de "trabalhadores do estado" é bastante estável:

2002: 17%
2005: 20%
2009: 21%
2011: 19%

Entre aqueles que disseram ter votado na última eleição, em que partido dizem ter votado? Os gráficos seguintes mostram a comparação entre o comportamento de voto declarado dos trabalhadores do Estado e a distribuição total de votos no Continente. A preto, os trabalhadores do Estado. Tudo isto tem, por lidarmos com amostras, margens de erro associadas, etc, etc, etc, por isso cuidado. Mas vamos lá.





Duas ideias. Primeiro, os trabalhadores do Estado não são uma manada que vota toda no mesmo partido. É possível que, se os diferenciássemos internamente (quadros superiores, por instrução, por idade, vínculo, sindicalização, etc), encontrássemos aqui situações diferentes. Mas o ponto geral é mesmo esse: são heterogéneos social e politicamente, e de resto não se distribuem de forma excessivamente diferente do resto da população. Se fossem só os funcionários públicos a votar, talvez o PS tivesse ganho por pouco em 2002 (em vez de perder por pouco) e as eleições de 2009 talvez tivessem sido mais renhidas. A CDU tem bom desempenho, previsivelmente. Mas não há, até 2009, grandes sobressaltos.

Mas 2011 é, novamente, especial. Em 2009, o PS já tinha sofrido um pouco junto dos trabalhadores do Estado e em 2011 voltou a ter mau desempenho, sem surpresa, tendo em conta os primeiros PEC's, se quisermos ver as coisas assim. Mas o PSD, tendo ganho as eleições em 2011, teve igualmente uma má prestação. Pelo contrário, são os partidos mais pequenos que tiveram um desempenho eleitoral particularmente bom junto dos trabalhadores do Estado (e daqueles que com eles vivem).

Visto por outro ângulo, em 2011, os trabalhadores do Estado representam apenas 15% do eleitorado do PSD ou do PS. Parte da possível recuperação do PS estará na capacidade para reconquistar apoio junto deste contigente. A não ser que o CDS se torne o partido dominante junto dos trabalhadores do sector privado e dos pequenos comerciantes, parte da sua sobrevivência estará certamente na capacidade de manter estas pessoas, o que por estes dias deve dar umas enxaquecas tremendas para os lados do Caldas e das Necessidades. Já o PSD parece ter ganho as eleições sem ter necessitado muito deste eleitorado, o que de resto se nota bem na sua prática e discurso político. Resta saber quantos destes 27% de trabalhadores do Estado que nele votaram em 2011 estará o PSD capaz de perder. 5% 10%? 20% Mais? Se isto for mesmo assim como é aqui explicado, acho que não podemos excluir nada.

Mais do "efeito Draghi"

Um comentário recebido por e-mail:

"Relativamente à questão das aparentes incoerências entre a evolução das taxas de juro dos países em dificuldades e a sua explicação como resultado da intervenção do BCE, parece-me que, embora não seja linear, detecta-se claramente os seguintes efeitos, como se pode observar no quadro que anexo:


Primeiro temos a intervenção de Dezembro de 2011 que marca a estabilização dos juros, que estavam em trajectória ascendente, e é um ponto de viragem das tendências, não só de Portugal e Grécia, como Itália e Espanha, embora estes últimos menos evidentes por não existir uma tendência clara de subida antes da intervenção e posteriormente não se observar a descida dos juros, até porque ainda não tido oportunidade de subir significativamente. A segunda intervenção inverte a nova tendência de subida de Espanha e Itália e podemos especular que reforça a tendência de descida de Portugal e Espanha. No global temos que as intervenções resultam na eliminação significativa, entretanto criada, dos diferenciais de taxas entre os países.

PS: Relativamente à Irlanda a inversão da tendência está certamente relacionada com a decisão da UE, em julho de 2011, de cortar os juros cobrados à Irlanda em mais de 2%. Se não estou em erro também com extensão de maturidades."

E um novo post no Ladrão de Bicicletas.

quarta-feira, maio 08, 2013

O efeito Mario Draghi

 






























Desculpem lá meter-me num assunto de que não percebo nada, estando - em tudo, mas especialmente aqui - disponível para ser corrigido. Mas no Ladrões de Bicicletas, Nuno Serra explica que as tendências de descida das taxas de juro a 10 anos se devem a um "efeito Mário Draghi", e dá como exemplo os casos acima. Ora isto confunde-me. Mário Draghi é presidente do ECB desde 1 de Novembro de 2011. Se tomarmos esta data como referência (não creio que seja essa a ideia, mas comecemos por aqui), por que razão começaram as taxas na Irlanda a descer de forma mais ou menos contínua muito antes disso, as portuguesas a partir de Fevereiro de 2012, as gregas a partir de Junho de 2012 e as espanholas a partir de Julho de 2012? Mas se, como depreendo da ligação a este post, é o anúncio de Draghi de que o ECB faria tudo para salvar o Euro que contou, por que razão começaram os juros a descer antes (Portugal) e muito antes (Irlanda) disso? Gostava de perceber melhor este "efeito Mario Draghi".

Os pensionistas nos eleitorados

A pedido de várias famílias (a pedido de uma, pronto), o peso dos pensionistas nos eleitorados dos 5 maiores partidos:

Talvez o mais fácil será dizer que há um partido que não é o partido dos pensionistas: o BE, naturalmente (se bem que, para 2009 e 2011, a estimativa pontual seja superior à de eleições anteriores). Talvez também valha a pena dizer que, em 2009 e 2011, o peso dos pensionistas no eleitorado da CDU foi claramente superior (mas o natural é que peso dos pensionistas venha aumentando no eleitorado de todos os partidos, seja por razões demográficas seja por diminuição da participação dos mais jovens). Os resultados para o CDS em 2011 tornam-se assim ainda mais intrigantes.

O partido dos pensionistas

Bruno Faria Lopes, jornalista do Diário Económico, telefonou-me com uma pergunta interessante: será o CDS o "partido dos pensionistas"? Mais concretamente: que dados haveria sobre o comportamento de voto dos pensionistas e sobre a composição do eleitorado do CDS que pudessem sustentar essa ideia? Desde 2002, o ICS conduz inquéritos pós-eleitorais nas legislativas, no âmbito do programa Comportamento Eleitoral dos Portugueses. Para este fim, três perguntas desses inquéritos são relevantes:

D6. Qual é a sua situação profissional actual? Uma das opções é "Reformado" e a outra é "Invalidez Permanente". Agregando-as, não devemos ficar muito longe de representar o universo dos "pensionistas".

P46. Em relação às Legislativas de 20XX, qual das seguintes situações é adequada ao seu caso?
P47. Importa-se de me dizer em que partido/coligação votou nessas eleições legislativas de 20XX?
Com estas duas perguntas, ficamos primeiro a saber se o inquirido votou e, para quem responde afirmativamente, em quem votou.

O gráfico seguinte mostra a percentagem dos que dizem ter votado no CDS-PP em 2002, 2005, 2009 e 2011 que afirmaram ser pensionistas. Por outras palavras, mostra o peso dos pensionistas na composição do eleitorado do partido. Para fins de comparação, junto os mesmos dados para o PSD. Em inquéritos que têm amostras que, no máximo (2005), chegaram a 2.300 inquiridos, as sub-amostras daqueles que dizem ter votado no CDS são naturalmente pequenas. Logo, a margem de erro associada a estas percentagens é especialmente grande para o CDS. No gráfico, os intervalos de confiança (Wald ajustados) encontram-se expressos em barras de erro:














A primeira coisa interessante é que parece não haver razão para designarmos o CDS como "o partido dos pensionistas". O CDS não está especialmente dependente dos pensionistas para compôr o seu eleitorado, pelo menos em comparação com o PSD. De 2002 a 2009, apesar de umas barras serem mais altas que as outras,  a sobreposição dos intervalos de confiança mostra que não há diferenças significativas entre os dois partidos deste ponto de vista.

A segunda coisa interessante passa-se em 2011. É a única eleição em que há diferenças significativas entre o peso dos pensionistas nos eleitorados dos dois partidos. Mas essa diferença vai no sentido porventura oposto às expectativas: os pensionistas são uma parte maior do eleitorado do PSD que do CDS.

Não tenho explicação para esta diferença em 2011, e não podemos excluir uma anomalia qualquer nos resultados. Mas a serem verdadeiros, sugerem uma coisa interessante: as posições recentes do CDS sobre temas que interessam aos pensionistas, a servirem para alguma coisa, não servem para manter esse apoio, mas sim para o recuperar.

É certo que o comportamento de voto é determinado por muitas coisas, algumas delas desligadas das circunstâncias concretas da vida das pessoas. Sabemos, por exemplo, que a percepção que as pessoas fazem da economia do país tem um peso muito maior no comportamento de voto que a percepção da sua situação financeira concreta, pelo que não convém exagerar o peso que estes apelos possam ter. De resto, o próprio facto de o CDS não ser nem nunca ter sido "o partido dos pensionistas" é suficientemente indicativo de que a imagem e o discurso dos partidos não tem necessariamente uma tradução directa na composição do seu eleitorado.

Dito isto, o facto do PSD ter acordado com o CDS que o segundo se poderia posicionar desta forma à sua custa parece, mesmo assim, algo arriscado do ponto de vista eleitoral. Apesar de haver dúvidas sobre o número de eleitores recenseados com real capacidade para votar, é provável que os 3 milhões de pensionistas correspondam a cerca de um terço da totalidade do eleitorado. E outra coisa que os dados dos inquéritos mostram é que a percentagem de abstenção entre os pensionistas é sempre inferior à média, fruto da bem conhecida correlação entre a idade e a participação eleitoral.

sábado, maio 04, 2013

Os exames do 4º ano

Fiz a 15 de Abril passado uma queixa ao Provedor de Justiça sobre a realização de exames do 4º ano fora das escolas dos alunos. Já tive resposta do Provedor-Adjunto. Não a transcrevo aqui inteiramente, porque acho que não o devo fazer numa carta que me é dirigida. Mas queria notar algumas coisas:

1. A Norma 2/JNE/2013, cuja versão definitiva é de 24 de Abril, prevê o acompanhamento dos alunos por “professores e assistentes operacionais das escolas de origem”, quer nos procedimentos de entrada e orientação para as salas, quer durante o intervalo.

2. O Provedor-Adjunto adianta também que, apesar de não estar na Norma, foi-lhe comunicado que "as turmas de origem não serão, por regra, desfeitas para a realização das provas de exame, estando assim garantido que os alunos não se verão rodeados por caras desconhecidas, mas sim pelas dos respetivos colegas do ano que ora finda (e, presumivelmente, dos 4 anos de escolaridade já frequentados), bem como do seu professor, nos termos acima descritos." Importa confirmar se isso será mesmo assim, dado que as informações originais não apontavam para nada disto. Espero mesmo que se confirme.

3. Enviou também uma carta ao Júri Nacional de Exames com várias recomendações.

Continuo a não ser contra a existência de exames, continuo a achar que há um inimaginável excesso de zelo e regras irracionais na gestão deste processo (pelo menos no que toca às crianças do 4º ano) e pondero fazer nova queixa ao Provedor se o meu filho for obrigado a este completo absurdo. Mas registo algum esforço - a confirmar pela prática - do Júri Nacional de Exames para mitigar algumas das consequências mais negativas deste processo em comparação com o que estava previsto inicialmente. E é bom ver como o Provedor de Justiça, dentro das suas competências limitadas e circunscritas, é uma instituição que funciona bem e responde em tempo útil. Assim fossem todas.

sexta-feira, abril 26, 2013

Pitagórica, 17-20 abril, N=503, Tel.

PS: 28.6% (-8.1)
PSD: 26.9% (+1.2)
CDU: 12.8% (+1.6)
CDS-PP: 12% (+1.4)
BE: 8.7% (+0.8)

Entre parêntesis, comparação com sondagem de Março. Aqui.

P.S.- Há quem tenha reparado que a notícia contém a seguinte frase: "Com este resultado, o CDS é o segundo partido da oposição que mais reforça a sua posição eleitoral, a seguir à CDU."

quarta-feira, abril 17, 2013

terça-feira, abril 16, 2013

Catch-22

O famoso livro Catch-22, de Joseph Heller, passado na II Guerra Mundial na base aérea de Pianosa, Itália, tornou-se especialmente conhecido por descrever uma situação paradoxal. Há um aviador que quer ser isentado de fazer missões de combate. Para tal, tem de requerer um exame médico que o diagnostique como não estando na posse das suas capacidades mentais. Contudo, se o aviador requerer exame médico para esse fim, então é evidente que está na posse das suas capacidades mentais. Logo, tem de continuar a fazer missões de combate.

O post anterior, sobre os exames do 4º ano, teve uma evolução. Na escola do meu filho mais velho, como só tem o 1º ciclo, e como as provas têm de ser vigiadas por professores de outros ciclos, para poupar os miúdos a fazerem o exame numa escola que nunca viram e também evitar muitas manhãs de trabalho perdidas aos pais, estes e a escola decidiram juntar-se para pagar a dois professores de 2º e 3º ciclo, externos, para fazerem a vigilância em regime de prestação de serviço.

A escola fez esta proposta às autoridades competentes (por enquanto, ainda sem nomes). Eis a resposta do servidor público em causa:

"Em referência ao vosso pedido de esclarecimento informa-se V. Exas. que, tendo em consideração que os referidos professores a contratar (2º e 3 ciclos) não exercem a sua função educativa no vosso estabelecimento de ensino, não poderão assegurar a vigilância das provas."

Temos então que:

1. As provas têm de ser vigiadas por professores da escola que não sejam do mesmo ciclo.
2. Nas escolas que só tenham um ciclo, não há professores de outro ciclo.
3. Logo, para serem vigiados por professores de outro ciclo, teriam de vir professores de outras escolas.
4. Mas como os exames têm de ser vigiados por "professores da escola que não sejam do mesmo ciclo", professores de outras escolas não podem vigiar o exame (mesmo que pagos pelos pais e pela escola).

Joseph Heller voou 60 missões de combate num bombardeiro na frente italiana. Mas se tivesse lidado com o Ministério da Educação de Portugal teria podido escrever Catch-22 na mesma.

domingo, abril 14, 2013

Como tratar malfeitores de 10 anos

Ao que parece, para os exames de Matemática e Língua Portuguesa do 1º ciclo (1ª fase a 7 e 10 de maio, 2ª fase a 9 e 12 de julho), as regras aprovadas pelo Ministério da Educação para o funcionamento das provas a prestar por estes terríveis malfeitores de 10 anos de idade incluem:

1. A presença obrigatória de dois professores, que;

2. Não podem ser do mesmo "grupo de docência" (ou seja, se bem entendo, não podem ser nem de português nem de matemática). Isto é bom, porque como sabemos professores de Estudo do Meio e de Educação Física não sabem o que é o pretérito perfeito nem que 2/4 é igual a 0,5 e assim não podem ajudar os miúdos no exame.

 3. Também não podem ser do mesmo ciclo, o que certamente aumenta a integridade do processo, porque como sabemos os professores de Geografia do 11º ano ou de História do 7º não fazem a mais pequena ideia sobre como se calculam áreas nem sobre quantos lados tem um triângulo, e assim não podem ajudar os miúdos a fazer batota neste momento absolutamente crucial de avaliação do seu percurso escolar.

A consequência deste rigoroso dispositivo de segurança é simples: em escolas onde só haja o 1º ciclo, os tais miúdos (já vos tinha dito que têm 10 anos?) têm de se deslocar a outra escola onde haja professores de outros grupos de docência e de outros ciclos para lhes vigiarem os exames, onde serão sentados por ordem, presumo, alfabética, em salas onde nunca estiveram e sob a feroz vigilância de professores que nunca viram mais gordos, uma coisa mais ou menos parecida com a minha inspecção militar no Quartel de Santa Clara em Coimbra, com a diferença de que aí os tropas nos berraram as respostas aos testes psicotécnicos para haver a certeza absoluta de que ninguém ficava inapto.

Mesmo assumindo que este dispositivo de segurança faria alguma espécie de sentido para miúdos desta idade - uma assunção heróica - sempre haveria a hipótese de fazer com que os professores externos se deslocassem às escolas em vez de serem os miúdos a fazê-lo. Mas reconheçamos que isso privaria o país de milhares de pais a perderem manhãs de trabalho nos dias desses exames, evitaria que houvesse desigualdades entre crianças que frequentam escolas só com 1º ciclo e as outras (que podem fazer o exame na própria escola), e daria até a imagem de que no Ministério da Educação alguém teria pensado sobre as consequências destas regras, e é evidente que não queremos nada disto.

sexta-feira, abril 12, 2013

quarta-feira, abril 10, 2013

Confiança pública no Tribunal Constitucional

No actual contexto, apeteceu-me procurar dados sobre atitudes dos cidadãos em relação ao Tribunal Constitucional. Que eu saiba, há pouca coisa. O primeiros dados são antigos, mais concretamente dos anos 90, mas têm a vantagem de ser comparativos. Mostram que o nível de "lealdade institucional" da população em relação ao Tribunal Constitucional era dos mais altos entre os 19 países comparados, logo abaixo dos Estados Unidos.























Na edição de Maio de 2000 do Barómetro de Opinião Pública do CESOP (Católica), perguntava-se o grau de confiança numa série de instituições. Eis a percentagem de inquiridos que dizia ter "pouca" ou "nenhuma" confiança em cada instituição:















Mais recentemente, num inquérito para um estudo sobre a "qualidade da democracia" tal como apercebida pelos cidadãos feito em 2009 sob o patrocínio da SEDES, uma das baterias de perguntas era sobre a capacidade de diferentes instituições para travarem eventuais abusos de poder por parte dos governos:















Em geral, portanto, a imagem que fica é a de uma instituição que tem uma imagem tendencialmente favorável junto dos cidadãos, seja em comparação com instituições estrangeiras congéneres seja em comparação com instituições políticas e judiciais nacionais. Isto, claro, pode ter mudado entretanto...

"¿Fin del bipartidismo?" Portugal too?

Big discussion in Spain about the "the end of the two-party system". Just for the sake of comparison, here's Portugal. Voting intentions in polls since the 2005 elections, vertical reference lines are election dates. The first figure shows the sum for the two major parties in the system (PS+PSD) while the second shows the sum for the two major parties to the left of PS (BE+CDU). Linear regression lines and LOESS lines (25% bandwidth).


Aximage, 1-4 abril, N=601, Tel.

PS: 32.6% (+1)
PSD: 25.3% (+0.2)
CDU: 12% (-0.2)
CDS: 9.4 (-2.7)
BE: 7.8 (+0.7)

Aqui. Outros dados: Paulo Portas ministro menos impopular, Vítor Gaspar ministro mais impopular; 57% opõem-se à realização de eleições antecipadas (contra 39% que as defendem).

domingo, abril 07, 2013

O que eu li no acórdão 187/2013

Ao longo deste fim de semana, nas redes sociais, nos editoriais dos jornais e nas colunas de opinião, li muitas vezes que o acórdão 187/2013 basicamente implica que, em Portugal, e com este Tribunal Constitucional, é impossível fazer consolidação orçamental pelo lado da despesa, nomeadamente cortando salários à função pública. O próprio Primeiro Ministro, no seu discurso de hoje ao final da tarde, afirmou que “não aceita aumentar mais os impostos, que parece ser a solução que o Tribunal Constitucional favorece nas suas interpretações.”

Não sou jurista, e receio que me passem ao lado muitas subtilezas ou que esteja a ser ingénuo. Por favor corrijam-me se for esse o caso. Mas o que eu leio no acórdão é o seguinte (paráfrases e sublinhados meus):


 1. Páginas 116 a 121, pontos 33 a 35: os juízes do TC (todos, maioria e vencidos) acham que é perfeitamente legítimo ao legislador tratar os funcionários públicos de forma diferente dos trabalhadores do sector privado. Isso inclui reduzir os seus salários. O legislador democrático tem eventualmente outras opções, mas reduzir as remunerações de quem é pago por verbas públicas não é, em si mesmo, uma arbitrariedade.

2. Páginas 122 a 123, pontos 37 e 38: o TC acha que, apesar de ser aceitável diferenciar trabalhadores do sector privado de trabalhadores do sector público, e apesar de o princípio da igualdade exigir mesmo que o que é desigual seja desigualmente tratado, é também preciso que o tratamento diferenciado seja proporcionado, i.e. que não seja excessivamente desigual.

3. Páginas 127 a 129, ponto 41: a maioria dos juízes do TC nota que o legislador já argumentou várias vezes, seja para o OE 2011 seja para o OE 2012, que o corte de salários era a única maneira de, a curto prazo, cumprir compromissos com instâncias internacionais. Mas à medida que o tempo passa, essa invocação de excepcionalidade, feita agora novamente para o OE2013, vai-se tornando cada vez menos válida. É cada vez mais exigível ao legislador que encontre soluções alternativas ao tratamento excessivamente diferenciado de diferentes categorias de trabalhadores, nomeadamente tomando outras medidas de redução da despesa pública. Por outras palavras, quando mais tempo passa, menos toleráveis se tornam possíveis excessos de diferenciação entre diferentes categorias de trabalhadores.

4. Páginas 129 a 139: a maioria dos juízes do TC acha que a suspensão de pagamento de subsídio de férias ou equivalente e a redução de compensação de trabalho extraordinário, subsídio doença e ajudas de custo, medidas que se acrescentam às reduções de 3.5% a 10% para salários na função pública acima de 1500 euros, à proibição de valorizações remuneratórias decorrentes de promoções ou progressões, e à proibição de prémios de gestão a gestores de empresas públicas (OE 2011 e 2012), assim como ao aumento generalizado da carga fiscal a todos os trabalhadores (OE 2013), configuram, no seu conjunto, um tratamento excessivamente desigual dos trabalhadores pagos com verbas públicas.

É isto, acho eu. A declaração dos cinco juízes que votaram vencidos também é interessante. Nela se defende que a situação orçamental do país mudou consideravelmente em relação ao acórdão anterior, que esta matéria sobre a qual o TC se está a pronunciar exige um escrutínio menos intenso (dando mais latitude ao legislador) sobre desigualdades de tratamento do que em matérias sobre as quais a Constituição explicitamente proibe desigualdades de tratamento, e que, no seu juízo de inconstitucionalidade, o TC se fundou em dados indemonstráveis (no ponto 3 acima) e se atribuiu uma competência que devia ser do legislador (ao fazer o juízo do ponto 4 acima).

Mas vão ler, que eu posso estar a fazer uma leitura errada. Eu sei que agora interessa a várias partes descrever a decisão do tribunal como tendo sido "radical". A uns para manterem credibilidade externa e passarem culpas internas. A outros para descreverem o governo como ilegítimo e apresentarem o TC como última trincheira. Mas o acórdão deve ser o que lá está escrito, não o que uns e outros queiram fazer dele para esconderem as suas próprias incapacidades e interesses. E quer o acórdão quer as declarações de voto são, em grande medida, aquilo que nos tem faltado: uma conversa séria sobre o nosso passado recente e sobre o nosso futuro próximo, e uma conversa em que, para variar, quer os juízes cuja opinião venceu quer aqueles que sairam derrotados nos tratam a nós e à nossa Constituição como soberanos.

quarta-feira, abril 03, 2013

Portugal nos indicadores de governação do Banco Mundial

Um gráfico de um texto sobre a qualidade da democracia em Portugal em que estou a trabalhar. Apeteceu-me mostrar já:

quinta-feira, março 28, 2013

Pitagórica, 19-24 mar., N=503, Tel.

PS: 36.7% (+1.6)
PSD: 25.7% (-0.7)
CDU: 11.2% (+0.5)
CDS: 10.6% (-0.1)
BE: 7,9% (-0.7)

Entre parêntesis, mudança em relação a sondagem de Fevereiro passado da mesma empresa. Aqui.

sexta-feira, março 15, 2013

Cesop-Católica, 9-11 mar, N=949, Face to face

PS: 31% (=)
PSD: 28% (+4)
CDU: 12% (-1)
BE: 8% (-3)
CDS-PP: 5% (-2)
OBN: 14% (+2)

Entre parêntesis, comparação com setembro de 2012. Aqui. Avaliação muito negativa do governo (77% acham-no "mau" ou "muito mau"), mas 61% acham que nenhum partido da oposição faria melhor.

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

www.pop.pt

É muito habitual ouvirmos dizer que os portugueses "pensam", "acham" ou "querem" isto ou aquilo. O que é menos habitual é que essas afirmações venham acompanhadas de qualquer espécie de fundamentação empírica. Mas em muitos casos ela existe, servindo seja para confirmar seja para refutar essas afirmações. Nas últimas décadas, na Europa, projectos muito conhecidos como o Eurobarómetro, ou menos conhecidos como o Estudo Europeu dos Valores ou o Inquérito Social Europeu, têm feito inquéritos por questionário a amostras representativas das populações europeias, medindo atitudes e valores sociais e políticos.

A verdade também é que sociológos, politólogos e psicólogos sociais não se podem queixar muito do desconhecimento destes dados. Eles são públicos, é certo, mas estão em geral dispersos, em plataformas difíceis de utilizar por não-especialistas e onde a visualização é difícil e deselegante. O Portal de Opinião Pública - POP - procura suprir estas lacunas. Tem mais de 100 indicadores sobre sete temas diferentes - política, economia, família, trabalho, religião, o indivíduo e os grupos sociais - em 27 países e nos últimos 20 anos (nalguns casos mais). É, espero que concordem, de utilização fácil e intuitiva. Gera gráficos e dados fáceis de partilhar. Tem uma versão em inglês. E pode contribuir, esperamos, para melhorar a qualidade do debate público sempre que se entra por aquilo que os portugueses (e os outros europeus) são supostos "pensar", "achar" ou "querer". Convido-vos a visitarem o POP, a brincarem com ele, a partilharem os seus dados e a dizerem o acham que nele falta ou podia ser melhorado.

POP - Portal de Opinião Pública


quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Nós

Há muita gente chocada com as declarações de Fernando Ulrich. Aparentemente, é um problema de "falta de sensibilidade social" ou até de "mau gosto". Mas não me parece que essa seja a questão mais interessante. Afinal, se formos ler o que realmente disse, veremos como assinalou o sofrimento dos sem-abrigo, e nada me faz supor que semelhante sentimento - "sensibilidade", "compaixão", o que lhe quisermos chamar -  não seja genuíno. O que me chama a atenção é outra coisa.

É aquele "nós":

"Se andar aí na rua e infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim, porquê? Isso também nos pode acontecer", disse na conferência de Imprensa. "Se as pessoas que vemos ali na rua, naquela situação a sofrer tanto aguentam, porque é que nós não aguentamos?"

Há pouco tempo, reli um artigo de Frederick Solt sobre desigualdade e nacionalismo. Solt começa por citar Hobsbawm, Tilly, Dahl e até Rosa Luxemburgo em favor de uma ideia simples: a de que "o conceito de 'nação' como uma entidade social e política homogénea" é em parte um "véu" que oculta a desigualdade de condições e os interesses antagónicos dos membros dessa entidade. Segue-se uma hipótese: a de que, quanto maiores forem os níveis de desigualdade de rendimentos numa sociedade, maior a propensão dos seus membros para se mostrarem "orgulhosos da sua nação" e "emocionalmente ligados" ao seu país. Solt confirma a hipótese recorrendo a dados do World Values Survey, e conclui que isto apoia uma "teoria diversionária" do nacionalismo:

"When economic inequality in a country is greater, the state will generate more nationalism in its citizens so as to divert their attention from their diverging conditions and forestall demands for redistributive policies."

Não sei se concordo com a ideia de que as elites políticas tenham sempre o poder suficiente e até partilhem os incentivos para promoverem essa unidade ilusória em contextos de elevada desigualdade, nem com a ideia de que essa unidade é meramente ilusória (afinal, os "países" e as comunidades políticas também têm interesses antagónicos em relação a outros países e outras comunidades). Mas é difícil não recordar que o elenco de argumentos políticos a favor das políticas de austeridade, aqui e noutros países, passa frequentemente pelo apelo ao "interesse nacional", à partilha de responsabilidades e "culpas", dos mesmos deveres de "aguentar" e dos benefícios que supostamente daí advêm para "todos". De resto, um dos argumentos - plausível - que venho ouvindo em conversas sobre a forma "ordeira" como os portugueses têm lidado com os sacrifícios da estabilização orçamental é precisamente a nossa forte unidade nacional e o sentimento de pertença a uma mesma comunidade.

Não sei bem por que razão os políticos conseguem recorrer a este tipo de discurso com relativa impunidade. Talvez por a sua legitimidade advir do "povo", porventura outra ficção, mas de alguma forma consubstanciada, em democracias, em eleições livres e regulares.  Mas essa é uma impunidade de que Ulrich não pôde beneficiar quando apelou a estas semelhanças entre "nós" em torno dos "sacrifícios". Talvez porque tenha inadvertidamente introduzido um "eles" (os sem-abrigo), ou mais provavelmente por ser um membro visível da nossa rarefeita elite social e económica, Ulrich acabou por chamar a atenção para o facto de que, pelo menos de um certo ponto de vista, não há qualquer espécie de "nós" ao qual ele, o seu motorista, um sem-abrigo, eu, e vocês que me estão a ler possamos todos simultaneamente pertencer. Como me recordava há dias um amigo, a esperança de vida dos sem-abrigo britânicos é de 47 anos, e nada faz supor que a dos portugueses seja superior. 72% dos portugueses afirmam ter dificuldades em pagar as contas ao fim do mês. Por detrás do "véu" da unidade nacional, aquilo que cada um tem de aguentar e como aguenta é, afinal, muito diferente. Ulrich ajudou assim a desfazer esta amável ilusão de unidade, relembrando-nos que a profunda desigualdade da nossa sociedade é também uma desigualdade perante os "necessários sacrifícios". Talvez lhe devêssemos agradecer o serviço prestado.

Depois disto, espera-se também que os espíritos mais atentos detectem outras situações comparáveis. Como quando alguns sindicatos e até partidos invocam os interesses dos "trabalhadores", quando é patente que os interesses que defendem são os de uma parte, cada vez mais pequena, daqueles que trabalham, normalmente contra os interesses da outra parte. Ou quando muitos patrões que falam dos interesses das empresas, da "criação de emprego" ou - acaba quase sempre aí - dos "apoios do estado" estão, de facto, a representar os interesses de uma parte das empresas, normalmente as que vivem do mercado interno. Etc, etc, etc. Na verdade, o que há mais é disto.

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Marktest, 15-21 jan, N=803, Tel.

PS: 32.6%
PSD: 27.9%
BE: 13.3%
CDU: 12.4%
CDS-PP: 5.2%

Aqui.

Panetta-Burns

A liderança bicéfala do Bloco de Esquerda complica a vida a quem faz sondagens. Quem é o "líder" do Bloco, aquele cuja popularidade ou actuação, tal como percepcionada pelos eleitores, as sondagens querem medir? Eis como a Eurosondagem lidou com o problema no Barómetro Político de Dezembro:


P.14: Acha que a actuação da liderança do BE, Cristina Martins e João Semedo, tem sido:

Positiva: 28,6%
Nem boa nem má: 28,4%
Negativa: 22,0%
Ns/Nr: 21,0%

Daqui podem decorrer várias conclusões. Uma é que há mais inquiridos que fazem uma avaliação positiva que negativa da liderança do Bloco de Esquerda. Outra é que mesmo um público informado, como aquele que é responsável por conduzir sondagens, pode ainda não saber que Catarina Martins não se chama Cristina Martins (eu, por exemplo, não reparei nisto quando olhei para o documento. Foi um colega que me alertou para a coisa). E a terceira é que há pessoas que têm opinião sobre tudo, mesmo aquilo que não existe. Por exemplo, há uns tempos ficámos a saber que 25% dos americanos tinham uma opinião sobre o plano Panetta-Burns de redução do défice, não muito menos que os 39% que tinham opinião sobre o plano Simpson-Bowles. O único detalhe, claro, é que o plano Panetta-Burns nunca existiu...

quarta-feira, janeiro 23, 2013

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Intenções de voto

Loooongo prazo:



















Desde as eleições:


















Smoother 25% bandwidth, cores explicam-se a si próprias, etc.

sábado, janeiro 12, 2013

O relatório do FMI, 2

Não tencionava escrever o que se segue porque me pareceu tão banal que achei que alguém me pouparia o esforço. Mas não dei por quem o tenha dito, por isso aqui vai. Para o governo, a discussão que este relatório está a gerar deverá ser, em saldo final, muito positiva. Porque:

1. Se o governo for comandado por agentes racionais e não puramente ideológicos, aquilo que haja de discussão séria sobre o relatório ajudará a expurgar os erros e as soluções tecnicamente inadequadas que uma coisa destas inevitalmente terá (e parece que tem alguns), permitindo que se tomem melhores decisões. Com isto não quero dizer que o governo seja comandado por pessoas racionais ou que a discussão possa ser séria, mas acho que não se deve excluir completamente a hipótese.

2. Independentemente do ponto 1, o FMI cumpre aqui a função de batedor. Faz barulho, levanta a caça, não paga preços eleitorais e ajuda a gerar informação preciosa para o governo sobre que medidas deverão ser, à partida, completamente inaceitáveis e inaplicáveis do ponto de vista político. Como o governo não está em rigor obrigado a tomar essas medidas e como quem fica com a responsabilidade das ideias mais politicamente mirabolantes é o FMI, esta é a maneira certa de levantar a caça. Murmurar frases mutuamente contraditórias sobre o financiamento do ensino obrigatório em entrevistas televisivas e nos dias seguintes é a maneira errada.

3. Finalmente, este relatório e a discussão que está a ocorrer deixa o país a marinar num conjunto de hipóteses aterrorizadoras de corte de despesa que o governo se encarregará de rejeitar ou mitigar quando chegar a altura certa. "Afinal", dir-se-á, não foi tão mau como se pensava. As piores expectativas não serão cumpridas. Vai-se cortar, vai doer, mas claro que não se vai cortar 4.000 milhões. Mas como os credores já explicaram, o que conta não é tanto a meta mas sim a direcção da corrida, e os esforços do país serão elogiados, e Portugal não é a Grécia, e enfim, mais 1% menos 1%, estabilizadores e multiplicadores e tal.

Não faço ideia se isto é bom ou não para o país e para nós, mas é o que é, ou o que vai ser.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

O relatório do FMI

Não é boa maneira de começar um post com este título, mas a verdade é que não me sinto capaz de dar uma opinião fundamentada sequer sobre o sumário executivo. Nada do que se discute ali é a minha área. Mas a discussão que está a ocorrer leva-me a falar de um paper de Boeri e Tabellini com o título "Does information increase political support for pension reform?" Basicamente, eles partem de inquéritos feitos em Itália onde se medem junto dos inquiridos:

- se são a favor de aumentar a idade de reforma e/ou reduzir benefícios;
- o seu conhecimento sobre a situação financeira da segurança social, como são usadas as contribuições e a % do salário usada para pagar contribuições;
- o grau de atenção aos media sobre estes temas.

Isto é complementado com uma experiência onde, a uma parte aleatoriamente seleccionada de uma amostra num inquérito online,  é pedido que leiam um texto descritivo sobre o funcionamento do sistema italiano.

Resultados:

*65% dos italianos sabiam que o sistema estava em situação deficitária, só 50% percebiam que o sistema é "pay-as-you go", e só 10% (dos empregados, menos do total) acertavam na taxa dentro de um intervalo +/- 2.5% (e apenas um em cada quatro acertava num intervalo maior, 25%-40%).
* Quanto menos informação objectiva sobre o funcionamento do sistema, menor a propensão para aceitar reformas ao sistema no sentido de aumentar idade da reforma e/ou diminuir benefícios. Isto é estimado de uma data de maneiras diferentes, presumindo exogeneidade e endogeneidade das variáveis que medem informação, etc.
* Exposição ao debate nos media sobre a reforma do sistema tem efeito nulo sobre a real informação sobre o sistema. Vale a pena citar:

"Individuals who declare to be more exposed to media coverage do not appear to be more informed about basic features of the pension system. One interpretation of this result is that individuals read newspaper articles or watch TV programs on the issue just to confirm their priors, more than to collect new information."

* A experiência confirma o resultado anterior: quem lê o texto fica mais propenso a aceitar reformas. Sei no que vocês estão a pensar, e eles também:

"There is, however, an unavoidable issue of interpretation. Although the description is factual and unloaded with normative suggestions, we cannot rule out the possibility that exposure to treatment here conveys more than just factual information, but also forces the respondent to think more carefully about his answers, or provides additional information besides that captured by the variable info." 


Sobre saúde não conheço estudos assim, mas fiz, com Henrique Lopes, um estudo de apoio a um relatório de Jorge Simões, Pedro Pita Barros e João Pereira sobre a sustentabilidade do SNS, que consistiu num inquérito por questionário a uma amostra nacional sobre o tema (disponível aqui). O inquérito tratava muita coisa mas o aspecto relevante aqui é este: 

* 81% dos inquiridos consideravam-se mal informados sobre a forma como o SNS é financiado.
Só 11% tentaram responder à pergunta do valor da despesa do SNS por habitante por ano. Desses 11%, quase ninguém respondeu no intervalo 721-880 (o valor real de 2005 com uma flutuação de +/- 10%) e a maior parte achava que era menos.
* Só 7% tentaram responder à pergunta do valor da despesa agregada (8.000 milhões) e, desses, apenas 1 em 10 acertaram num intervalo generoso de 5.000/10.000 milhões. No total, em 1.173 pessoas inquiridas, só uma deu as duas respostas "certas".

Nos estudos eleitorais, tende a prevalecer uma visão benévola sobre a ignorância que as pessoas possam ter sobre os temas substantivos discutidos na vida política, alegando-se que com "atalhos informacionais" as pessoas acabam por chegar às "respostas certas", ou seja, àquelas que chegariam mesmo se tivessem mais informação. Mas estudos como este sugerem que a falta de conhecimento tem implicações maiores, pelo menos quando se trata de debates com este grau de tecnicidade. Outro ponto é que, pelos vistos, a exposição a estes debates junto dos meios de comunicação social muda pouco ou nada.

P.S.- De resto, uma das sugestões de Boeri e Tabellini é que se siga o exemplo da Suécia, onde "“orange envelopes” are mailed every year to all contributors, providing basic information on the functioning of the pension system, a glos- sary, a statement of past contributions and projections of the annual entitlements under three retirement ages and for two assumptions on economic growth." Isso, contudo, exige governos que confiam na inteligência dos seus cidadãos e cidadãos que confiam na honestidade dos seus governos...