Agora as presidenciais:
Cavaco Silva: 71,3%
Manuel Alegre: 20,2%
Fernando Nobre: 5%
Francisco Lopes: 1,1%
Defensor de Moura: 0,9%
Fonte.
sexta-feira, outubro 29, 2010
quinta-feira, outubro 28, 2010
CESOP, 23-25 Outubro, N=1140, Presencial
Intenções de voto após redistribuição de indecisos (e apenas entre quem tem a certeza que votaria em legislativas):
PSD: 40%
PS: 26%
BE: 12%
CDU: 8%
CDS-PP: 7%
OBN: 7%
Em relação ao total da amostra, a distribuição é a seguinte:
PSD: 17%
PS:13%
BE: 5%
CDU:4%
CDS-PP: 3%
OBN:7%
Não votava:22%
Não sabe: 24%
Recusa responder: 6%
Para que a vantagem do PSD seja tão expressiva nas estimativas de resultados eleitorais em comparação com os resultados brutos, isso quer dizer que há um "enthusiasm gap" à portuguesa: quando restringimos aos eleitores que dizem que "têm a certeza que vão votar", o PS afunda.
Também se obtiveram intenções de voto para as presidenciais:
Cavaco Silva: 63%
Manuel Alegre: 20%
Fernando Nobre: 7%
Francisco Lopes: 3%
Defensor de Moura: 1%
Aqui.
PSD: 40%
PS: 26%
BE: 12%
CDU: 8%
CDS-PP: 7%
OBN: 7%
Em relação ao total da amostra, a distribuição é a seguinte:
PSD: 17%
PS:13%
BE: 5%
CDU:4%
CDS-PP: 3%
OBN:7%
Não votava:22%
Não sabe: 24%
Recusa responder: 6%
Para que a vantagem do PSD seja tão expressiva nas estimativas de resultados eleitorais em comparação com os resultados brutos, isso quer dizer que há um "enthusiasm gap" à portuguesa: quando restringimos aos eleitores que dizem que "têm a certeza que vão votar", o PS afunda.
Também se obtiveram intenções de voto para as presidenciais:
Cavaco Silva: 63%
Manuel Alegre: 20%
Fernando Nobre: 7%
Francisco Lopes: 3%
Defensor de Moura: 1%
Aqui.
Marktest, 19-24 Out., N=807, Tel.
Após redistribuição proporcional de indecisos:
PSD: 42%
PS: 25%
BE: 10%
CDU: 8,3%
CDS-PP: 8%
Fonte aqui. Comparar com sondagem anterior: PSD sobe quatro pontos, PS desce quase 11, vantagem de PSD sobre PS passa de pouco mais de 2 pontos para 17.
Sobre isto, acho que vale a pena fazer um comentário. É certo que Portugal é um país onde há muita volatilidade de eleição para eleição, onde o voto se encontra pouco ancorado socialmente, e onde
muitos eleitores declaram não se sentirem próximos de qualquer partido e respondem "5" ("centro") quando convidados a posicionarem-se ideologicamente numa escala de 0 (esquerda) a 10 (direita). Logo, flutuações importantes de sondagem para sondagem não são coisa que nos deva espantar demasiado, porque o voto se encontra comparativamente pouco ancorado em factores sociais, psicológicos ou ideológicos que que lhe dêem estabilidade. Dito isto, a diferença entre esta sondagem e a anterior é muito grande. Uma ideia, nada original, seria fazer nessas sondagens algumas perguntas que nos permitissem algum controlo sobre a "representatividade política" da amostra.
Em tempos, a Marktest (e outras empresas) perguntavam aos inquiridos como tinham votado na eleição anterior e usavam esses resultados para ponderar as intenções de voto. Por exemplo, se na amostra a percentagem daqueles que dizem ter votado em 2009, digamos, na CDU, fossem metade daqueles que realmente votaram, o resultado ponderado duplicaria as intenções de voto nesse partido para a sondagem em concreto. Sempre me pareceu má ideia fazer isso, pela simples razão de que a memória da pessoas é muito selectiva. Uma alternativa preferível seria perguntar às pessoas de que partido se sentem mais próximas ou o seu posicionamento ideológico. Há inquéritos - como o European Social Survey, realizado de 2 em 2 anos - onde essas questões são colocadas a amostras de qualidade necessariamente muito superior às de uma qualquer sondagem eleitoral e onde a distribuição obtida poderia servir de "gold standard" para uma comparação. É evidente que identificação partidária ou posicionamento ideológico não são imutáveis, mas são bastante mais estáveis e fiáveis que a recordação de voto numa eleição ocorrida há meses ou anos. Conhecendo esses resultados para a sondagem eleitoral, ficaríamos com uma ideia sobre o que poderia estar por detrás de mudanças tão grandes como as detectadas nas duas últimas sondagens da Marktest, e se essas mudanças reflectem - como até é plausível que tenha sucedido - reais mudanças nas preferências das pessoas.
Nada disto é novo, e encontramos este tipo de discussão com muita frequência sobre as sondagens feitas nos Estados Unidos. Um exemplo.
PSD: 42%
PS: 25%
BE: 10%
CDU: 8,3%
CDS-PP: 8%
Fonte aqui. Comparar com sondagem anterior: PSD sobe quatro pontos, PS desce quase 11, vantagem de PSD sobre PS passa de pouco mais de 2 pontos para 17.
Sobre isto, acho que vale a pena fazer um comentário. É certo que Portugal é um país onde há muita volatilidade de eleição para eleição, onde o voto se encontra pouco ancorado socialmente, e onde
muitos eleitores declaram não se sentirem próximos de qualquer partido e respondem "5" ("centro") quando convidados a posicionarem-se ideologicamente numa escala de 0 (esquerda) a 10 (direita). Logo, flutuações importantes de sondagem para sondagem não são coisa que nos deva espantar demasiado, porque o voto se encontra comparativamente pouco ancorado em factores sociais, psicológicos ou ideológicos que que lhe dêem estabilidade. Dito isto, a diferença entre esta sondagem e a anterior é muito grande. Uma ideia, nada original, seria fazer nessas sondagens algumas perguntas que nos permitissem algum controlo sobre a "representatividade política" da amostra.
Em tempos, a Marktest (e outras empresas) perguntavam aos inquiridos como tinham votado na eleição anterior e usavam esses resultados para ponderar as intenções de voto. Por exemplo, se na amostra a percentagem daqueles que dizem ter votado em 2009, digamos, na CDU, fossem metade daqueles que realmente votaram, o resultado ponderado duplicaria as intenções de voto nesse partido para a sondagem em concreto. Sempre me pareceu má ideia fazer isso, pela simples razão de que a memória da pessoas é muito selectiva. Uma alternativa preferível seria perguntar às pessoas de que partido se sentem mais próximas ou o seu posicionamento ideológico. Há inquéritos - como o European Social Survey, realizado de 2 em 2 anos - onde essas questões são colocadas a amostras de qualidade necessariamente muito superior às de uma qualquer sondagem eleitoral e onde a distribuição obtida poderia servir de "gold standard" para uma comparação. É evidente que identificação partidária ou posicionamento ideológico não são imutáveis, mas são bastante mais estáveis e fiáveis que a recordação de voto numa eleição ocorrida há meses ou anos. Conhecendo esses resultados para a sondagem eleitoral, ficaríamos com uma ideia sobre o que poderia estar por detrás de mudanças tão grandes como as detectadas nas duas últimas sondagens da Marktest, e se essas mudanças reflectem - como até é plausível que tenha sucedido - reais mudanças nas preferências das pessoas.
Nada disto é novo, e encontramos este tipo de discussão com muita frequência sobre as sondagens feitas nos Estados Unidos. Um exemplo.
sexta-feira, outubro 15, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
Atrasada: Eurosondagem, 30 Set., N=620, Tel.
PSD: 35%
PS: 33%
CDU: 9,7%
BE: 9,3%
CDS: 7%
A dimensão da amostra utilizada é bastante inferior ao habitual na Eurosondagem.
PS: 33%
CDU: 9,7%
BE: 9,3%
CDS: 7%
A dimensão da amostra utilizada é bastante inferior ao habitual na Eurosondagem.
Aximage, 6-9 Outubro, N=600, Tel.
Há uma sondagem recente da Aximage, cujos dados estão muito incompletos na notícia online. Quando o depósito na ERC estiver visível actualizo tudo isto. Contudo, é curioso que dê o mesmo sinal que a sondagem Intercampus: PS e PSD a descerem.
Nas presidenciais, a mesma coisa: Cavaco Silva a descer, Manuel Alegre a subir. Mais exactamente:
Cavaco Silva: 55,1%
Manuel Alegre: 35,7%
Fernando Nobre: 7,1%
Francisco Lopes: 1,9%
Defensor de Moura: 0,2%
Nas presidenciais, a mesma coisa: Cavaco Silva a descer, Manuel Alegre a subir. Mais exactamente:
Cavaco Silva: 55,1%
Manuel Alegre: 35,7%
Fernando Nobre: 7,1%
Francisco Lopes: 1,9%
Defensor de Moura: 0,2%
terça-feira, outubro 12, 2010
Entretanto, no Brasil...
Que eu saiba, há apenas uma sondagem realizada para o 2º turno: Datafolha (8 Out., N=3.265): após redistribuição de indecisos (7%), Dilma 54%, Serra 46%.
Uma análise muito interessante sobre o peso do Bolsa Família nas eleições, aqui. Como é óbvio, não se deve inferir causalidade, porque os dados são agregados (em vez de individuais) e a relação pode ser espúria (as razões que fazem com que indivíduos recebam Bolsa Família já os predisporia seja como fosse a votar Dilma). Mas é sugestivo.
Uma análise muito interessante sobre o peso do Bolsa Família nas eleições, aqui. Como é óbvio, não se deve inferir causalidade, porque os dados são agregados (em vez de individuais) e a relação pode ser espúria (as razões que fazem com que indivíduos recebam Bolsa Família já os predisporia seja como fosse a votar Dilma). Mas é sugestivo.
sábado, outubro 09, 2010
Intercampus, 4-6 Out, N=609, Tel.
A notícia no site da TVI24 não menciona nem data de realização do estudo, nem dimensão da amostra, nem modo de inquirição. Teremos de concluir que a TVI supõe que a Lei 10/2000 não se aplica a sites da internet e que a ERC não tem jurisdição sobre nada disto. Contudo, aqui vai:
Legislativas:
PSD: 35,2%
PS: 32%
PCP: 11,1%
BE: 10,6%
CDS-PP: 9,1%
Presidenciais:
Cavaco Silva: 55,5%
Manuel Alegre: 30,7%
Francisco Lopes: 5,6%
Fernando Nobre: 4,9%
Defensor de Moura: 1,2%
Em comparação com a última sondagem da Intercampus que conheço, de Julho passado, o PSD desce 4 pontos, o PS desce 2,4 pontos, CDU, BE e CDS-PP sobem (mas diferenças não são estatisticamente significativas). Cavaco Silva desce quase 4 pontos e Alegre sobe quase 4 pontos. Claro que, ao passo que comparar sondagens dentro do mesmo instituto é sempre uma boa ideia ("house effects"), comparar Julho com Outubro pode não ser.
P.S. - A ficha técnica está no Público. Obrigado a Luciano Alvarez pela chamada de atenção.
Legislativas:
PSD: 35,2%
PS: 32%
PCP: 11,1%
BE: 10,6%
CDS-PP: 9,1%
Presidenciais:
Cavaco Silva: 55,5%
Manuel Alegre: 30,7%
Francisco Lopes: 5,6%
Fernando Nobre: 4,9%
Defensor de Moura: 1,2%
Em comparação com a última sondagem da Intercampus que conheço, de Julho passado, o PSD desce 4 pontos, o PS desce 2,4 pontos, CDU, BE e CDS-PP sobem (mas diferenças não são estatisticamente significativas). Cavaco Silva desce quase 4 pontos e Alegre sobe quase 4 pontos. Claro que, ao passo que comparar sondagens dentro do mesmo instituto é sempre uma boa ideia ("house effects"), comparar Julho com Outubro pode não ser.
P.S. - A ficha técnica está no Público. Obrigado a Luciano Alvarez pela chamada de atenção.
segunda-feira, outubro 04, 2010
Sondagens no Brasil: muito barulho por nada?
Os resultados (quase) finais (99,99% das secções apuradas) da 1ª volta no Brasil foram os seguintes:
Dilma Rousseff: 46,9%
José Serra: 32,61%
Marina Silva: 19,33%
A abstenção foi, como sempre, relativamente baixa (18,12%). O voto "obrigatório" (ponho com aspas porque a coisa é complicada, havendo eleitores para quem o voto não é obrigatório e mais algumas complicações, ver aqui) ajuda. Outra coisa que costuma estar associada a uma abstenção baixa é uma alta proximidade entre os resultados das últimas sondagens e aqueles que acabam por ser os resultados finais. A razão é simples: em sistemas com alta abstenção, as intenções de voto recolhidas anteriormente têm menor probabilidade de se concretizarem. E se, por alguma razão, aqueles que declaram uma intenção de voto e votam forem diferentes daqueles que declaram uma intenção de voto e não votam, é óbvio que vai haver, ceteris paribus, uma maior discrepância entre as sondagens e os resultados eleitorais. Em países com alta abstenção, a única maneira de lidar com isto é ter bons modelos de "votantes prováveis". Mas o que é um bom modelo de "votantes prováveis" é algo que pode mudar de eleição para eleição. No Brasil, essa dificuldade não se coloca de forma tão grave como noutros países (Portugal, por exemplo, e Estados Unidos, ainda mais).
No Brasil, nas eleições de 2006, 1º turno, Lula teve 48,6%, seguido de Alckmin (41,6%) e Helena (6,9%). Nessa altura, se excluirmos a sondagem da Sensus (feita no dia 24 de Setembro), as restantes (conduzidas pelo Ipespe, Vox Populi, Datafolha e IBOPE) deram resultados que não foram muito diferentes daqueles que vieram a ser os resultados das eleições. Em todos os casos, Lula e Helena tiveram pior resultado nas eleições do que nas sondagens, e o inverso sucedeu com Alckmin. Mas a média dos desvios absolutos entre o resultado eleitoral dos três principais candidatos e o resultado da última sondagem foi de 4,3 pontos para a Vox Populi, 2,4 para Datafolha e IBOPE e 2 pontos para o Ipespe.
Isto é "bom" ou é "mau"? Para termos um ponto de comparação, podemos usar as últimas presidenciais portuguesas. Aí, a média dos desvios absolutos para os três maiores candidatos, nas sondagens conduzidas logo antes das eleições, oscilou entre 1,3 pontos (Católica) e 3,2 pontos (Eurosondagem). Logo, uma conclusão rápida é que, apesar da "pressão para o erro" causada por uma maior abstenção em Portugal, há qualquer coisa a causar maiores discrepâncias entre as sondagens brasileiras e os resultados eleitorais. E julgo que é evidente que a gigantesca diferença de escala e as dificuldades colocadas pela realização de trabalho de campo no Brasil têm de ter um papel aqui. Imaginem o que significa tentar chegar a contactar pessoas que vivem em prédios com segurança armada à porta, em favelas ou em zonas rurais inacessíveis. Para lidar com isto, os institutos brasileiros utilizam amostras muito grandes - a última sondagem da Datafolha tinha 20.960 inquiridos! - e, quase invariavelmente, amostragem por quotas. Mas a amostragem por quotas tem problemas potenciais, a começar pela qualidade da informação censitária e indo até à própria escolha das quotas relevantes. Talvez um ponto de comparação mais relevante sejam as eleições presidenciais americanas: aí, "a média dos erros médios" anda pelos 2,8 pontos percentuais. Os resultados do Ibope e da Datafolha foram, deste ponto de vista, "normais", e o que é "anormal" são os resultados das sondagens portuguesas.
Como correram as coisas nesta 1ª volta de 2010? Vejamos as últimas sondagens que julgo terem sido publicadas antes da eleição (votos válidos):
Datafolha (1 e 2 de Outubro): Dilma, 50%; Serra, 31%; Marina, 17%.
IBOPE (27 de Setembro): Dilma, 51%; Serra, 31%; Marina, 17%.
Sensus (28 Setembro): Dilma, 54,7%; Serra, 29,5%; Marina, 13,3%.
Isto corresponde a uma média de desvios absolutos de 2,3 pontos para a Datafolha, 2,7 para o Ibope e 5,6 para a Sensus. Logo, para Ibope e Datafolha, valores muito próximos dos de 2006 (como sucede de resto para a Sensus, que já em 2006 tinha estado muito longe dos resultados finais).
Pelo que leio, há agitação no Brasil pelos "falhanços" das sondagens. Mas de um ponto de vista estritamente técnico, não vejo bem porquê. Os dois institutos mais prestigiados ambos apontaram para a impossibilidade de determinar se Dilma ganharia à 1ª volta. Ambas as sondagens sobrevalorizaram Dilma, mas em 2006 ambas tinham sobrevalorizado Lula, sendo de resto habitual que um candidato claramente favorito acabe por ter nas eleições resultados piores que nas sondagens (seja porque os seus apoiantes, tendo segurança de vitória, se desmobilizam ou votam noutros candidatos seja porque os apoiantes de outros candidatos se inibem de mostrar uma intenção "minoritária" aos inquiridores). Muito barulho por nada, aqui.
Já na sondagem à boca das urnas ("boca de urna", no Brasil), a coisa complica-se um pouco. Em princípio, uma boca de urna resolve dois problemas: primeiro, mede comportamentos de votantes, não intenções de potenciais votantes; segundo, tem menos problemas amostrais, porque não tem de encontrar as pessoas nos seus domicílios, mas apenas à saída do local de voto. Aqui, 51% para Dilma, como sucedeu na boca de urna do IBOPE, sugere problemas na selecção dos locais de voto, na capacidade para seleccionar uma boa amostra de eleitores ou em ajustar em relação a recusas. O último ponto costuma ser muito relevante. Recordem-se que, naturalmente, a recolha dos votos numa boca de urna continua a depender da colaboração voluntária de eleitores. E se houve recusas maiores da parte dos apoiantes de Serra ou Marina (e incapacidade das empresas para ajustar resultados a essas recusas), uma coisa destas pode suceder, mesmo numa boca de urna. Mas é só uma hipótese.
Dilma Rousseff: 46,9%
José Serra: 32,61%
Marina Silva: 19,33%
A abstenção foi, como sempre, relativamente baixa (18,12%). O voto "obrigatório" (ponho com aspas porque a coisa é complicada, havendo eleitores para quem o voto não é obrigatório e mais algumas complicações, ver aqui) ajuda. Outra coisa que costuma estar associada a uma abstenção baixa é uma alta proximidade entre os resultados das últimas sondagens e aqueles que acabam por ser os resultados finais. A razão é simples: em sistemas com alta abstenção, as intenções de voto recolhidas anteriormente têm menor probabilidade de se concretizarem. E se, por alguma razão, aqueles que declaram uma intenção de voto e votam forem diferentes daqueles que declaram uma intenção de voto e não votam, é óbvio que vai haver, ceteris paribus, uma maior discrepância entre as sondagens e os resultados eleitorais. Em países com alta abstenção, a única maneira de lidar com isto é ter bons modelos de "votantes prováveis". Mas o que é um bom modelo de "votantes prováveis" é algo que pode mudar de eleição para eleição. No Brasil, essa dificuldade não se coloca de forma tão grave como noutros países (Portugal, por exemplo, e Estados Unidos, ainda mais).
No Brasil, nas eleições de 2006, 1º turno, Lula teve 48,6%, seguido de Alckmin (41,6%) e Helena (6,9%). Nessa altura, se excluirmos a sondagem da Sensus (feita no dia 24 de Setembro), as restantes (conduzidas pelo Ipespe, Vox Populi, Datafolha e IBOPE) deram resultados que não foram muito diferentes daqueles que vieram a ser os resultados das eleições. Em todos os casos, Lula e Helena tiveram pior resultado nas eleições do que nas sondagens, e o inverso sucedeu com Alckmin. Mas a média dos desvios absolutos entre o resultado eleitoral dos três principais candidatos e o resultado da última sondagem foi de 4,3 pontos para a Vox Populi, 2,4 para Datafolha e IBOPE e 2 pontos para o Ipespe.
Isto é "bom" ou é "mau"? Para termos um ponto de comparação, podemos usar as últimas presidenciais portuguesas. Aí, a média dos desvios absolutos para os três maiores candidatos, nas sondagens conduzidas logo antes das eleições, oscilou entre 1,3 pontos (Católica) e 3,2 pontos (Eurosondagem). Logo, uma conclusão rápida é que, apesar da "pressão para o erro" causada por uma maior abstenção em Portugal, há qualquer coisa a causar maiores discrepâncias entre as sondagens brasileiras e os resultados eleitorais. E julgo que é evidente que a gigantesca diferença de escala e as dificuldades colocadas pela realização de trabalho de campo no Brasil têm de ter um papel aqui. Imaginem o que significa tentar chegar a contactar pessoas que vivem em prédios com segurança armada à porta, em favelas ou em zonas rurais inacessíveis. Para lidar com isto, os institutos brasileiros utilizam amostras muito grandes - a última sondagem da Datafolha tinha 20.960 inquiridos! - e, quase invariavelmente, amostragem por quotas. Mas a amostragem por quotas tem problemas potenciais, a começar pela qualidade da informação censitária e indo até à própria escolha das quotas relevantes. Talvez um ponto de comparação mais relevante sejam as eleições presidenciais americanas: aí, "a média dos erros médios" anda pelos 2,8 pontos percentuais. Os resultados do Ibope e da Datafolha foram, deste ponto de vista, "normais", e o que é "anormal" são os resultados das sondagens portuguesas.
Como correram as coisas nesta 1ª volta de 2010? Vejamos as últimas sondagens que julgo terem sido publicadas antes da eleição (votos válidos):
Datafolha (1 e 2 de Outubro): Dilma, 50%; Serra, 31%; Marina, 17%.
IBOPE (27 de Setembro): Dilma, 51%; Serra, 31%; Marina, 17%.
Sensus (28 Setembro): Dilma, 54,7%; Serra, 29,5%; Marina, 13,3%.
Isto corresponde a uma média de desvios absolutos de 2,3 pontos para a Datafolha, 2,7 para o Ibope e 5,6 para a Sensus. Logo, para Ibope e Datafolha, valores muito próximos dos de 2006 (como sucede de resto para a Sensus, que já em 2006 tinha estado muito longe dos resultados finais).
Pelo que leio, há agitação no Brasil pelos "falhanços" das sondagens. Mas de um ponto de vista estritamente técnico, não vejo bem porquê. Os dois institutos mais prestigiados ambos apontaram para a impossibilidade de determinar se Dilma ganharia à 1ª volta. Ambas as sondagens sobrevalorizaram Dilma, mas em 2006 ambas tinham sobrevalorizado Lula, sendo de resto habitual que um candidato claramente favorito acabe por ter nas eleições resultados piores que nas sondagens (seja porque os seus apoiantes, tendo segurança de vitória, se desmobilizam ou votam noutros candidatos seja porque os apoiantes de outros candidatos se inibem de mostrar uma intenção "minoritária" aos inquiridores). Muito barulho por nada, aqui.
Já na sondagem à boca das urnas ("boca de urna", no Brasil), a coisa complica-se um pouco. Em princípio, uma boca de urna resolve dois problemas: primeiro, mede comportamentos de votantes, não intenções de potenciais votantes; segundo, tem menos problemas amostrais, porque não tem de encontrar as pessoas nos seus domicílios, mas apenas à saída do local de voto. Aqui, 51% para Dilma, como sucedeu na boca de urna do IBOPE, sugere problemas na selecção dos locais de voto, na capacidade para seleccionar uma boa amostra de eleitores ou em ajustar em relação a recusas. O último ponto costuma ser muito relevante. Recordem-se que, naturalmente, a recolha dos votos numa boca de urna continua a depender da colaboração voluntária de eleitores. E se houve recusas maiores da parte dos apoiantes de Serra ou Marina (e incapacidade das empresas para ajustar resultados a essas recusas), uma coisa destas pode suceder, mesmo numa boca de urna. Mas é só uma hipótese.
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