O último número do
International Journal of Forecasting é uma delícia para viciados nas eleições americanas. Vários artigos discutem o desempenho passado de modelos de previsão dos resultados das eleições, das sondagens e dos mercados electrónicos.
Em 2004, o primeiro modelo a ser divulgado, logo em Janeiro, foi o de
Helmut Norpoth. Foi o primeiro modelo porque se baseia em variáveis que podem ser medidas relativamente cedo: os resultados das primárias em New Hampshire, os resultados das duas últimas eleições presidenciais e uma variável medindo identificação partidária (baseada nos resultados das eleições para o Congresso). Aplicado a todas as eleições desde 1912, o modelo prevê correctamente o vencedor em todas as eleições menos uma (1960). Para 2004, previa que Bush iria derrotar Kerry por 54,7% contra 45,3%. Na verdade, o resultado foi 50,7% contra 48,3%. Mas o modelo bateu, de longe, como instrumento de previsão, quer as sondagens quer as cotações dos mercados electrónicos da mesma altura, ou seja, Janeiro de 2004. E o que diz o modelo desta vez para Obama-McCain em 2008?
50,1% contra 49,9%. Um dos problemas disto, claro, está aqui:
(1) weighted-average growth of per capita real personal disposable income over the term, and (2) cumulative US military fatalities owing to unprovoked, hostile deployments of American armed forces in foreign conflicts.
Those political-economic fundamentals imply an expected Republican two-party vote share centered on 48.2%. Barring unforeseen political shocks favoring the Republican candidate (presumptively John McCain), the Democratic standard bearer (presumptively Barack Obama) ought to win the 2008 presidential election by a margin in the neighborhood of 3.6 percentage points.
Estes modelos costumam ter versões finais em Julho/Agosto, dado que utilizam dados da economia ou da popularidade do
incumbent que só nesta altura estão disponíveis. Mas neste último número do IJF - com artigos escritos entre Julho e Novembro de 2007 - há já outras "previsões condicionais", baseadas em valores hipotéticos dos dados da popularidade e do crescimento.
Alan Abramovitz prevê que uma vitória do Partido Republicano é impossível com os actuais valores da popularidade de Bush. Ela só começaria a tornar-se possível com um saldo de popularidade acima dos 10% em Junho de 2008. Neste momento,
existe um saldo negativo com valores entre os -30 e os -50%.
Michael Lewis-Beck e Charles Tien prevêm, condicionalmente, uma votação para o Partido Republicano entre 41.4 e 48.5%, dependendo de utilização de crescimento económico ou criação de empregos como variáveis independentes.
E depois há, claro, algo completamente diferente:
The Keys to the White House, por Alan Lichtman, um historiador da American University. O método de Lichtman é um índice, de natureza qualitativa, que usa simplesmente respostas "sim"/"não" a 13 perguntas básicas. Quanto mais respostas "sim", maior a probabilidade de que o partido no poder renove a vitória. O método prevê correctamente o resultado de todas as eleições desde 1860 (mas ver
aqui como a frase anterior não faz muito sentido). Eis as "chaves":
Destas perguntas, Lichtman respondia negativamente, em Novembro de 2007, a oito delas (e com Obama talvez tenha de responder a nove, ou seja, à última). Resposta: Democratas ganham. E como isto é convertível num modelo de previsão de percentagem de voto - nº de keys como variável independente do voto no incumbent - Lichtman prevê 46% para os Republicanos.
A última coisa a tomar em consideração, neste momento, é que, em 2004, a partir de Maio, os valores do Iowa Prediction Market estabilizou numa percentagem para Bush que, comparada com o que se veio a verificar em Novembro, exibia um desvio sempre igual ou inferior a um ponto percentual. E qual tem sido o valor para vote shares?
Em suma: ninguém, com excepção de Norpoth em Janeiro passado, prevê outra coisa que não uma vitória dos Democratas nesta eleição. Vou actualizando isto com as novas previsões à medida que forem saindo.