Numa crónica publicada ontem no Correio da Manhã, António Ribeiro Ferreira, "grande repórter" do jornal, escreve o seguinte:
"A um mês das eleições é importante repetir que as sondagens custam muito dinheiro às empresas de Comunicação Social que não podem andar por aí a vender gato por lebre aos seus clientes. A um mês das eleições não vale a pena começarem por aí a inventar isto e aquilo, indecisos para trás e para a frente, altos níveis de abstenção e outras coisas mais para justificarem erros crassos e resultados verdadeiramente enganadores. A um mês das eleições só faltava mesmo que as sondagens começassem a repetir empates técnicos a torto e a direito entre o PS e o PSD. A um mês das eleições Legislativas é perfeitamente legítimo começar, desde já, a desconfiar do que aí vem em matéria de sondagens."
Por outras palavras, ARF considera que as sondagens que vão ser feitas nas próximas semanas devem indicar diferenças estatisticamente significativas entre o PS e o PSD. "Era o que faltava" que não o fizessem. E se o fizerem, estão a vender gato por lebre aos seus clientes. Ora toma. Desta forma, a Aximage, empresa que faz as sondagens para o Correio da Manhã, e Jorge de Sá, o seu director, ficam a saber que resultados são ou não são aceitáveis para um dos "grandes repórteres" do jornal para o qual conduzem sondagens.
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2 comentários:
Isso faz lembras os ensaios clínicos duplamente cegos na epidemiologia.
Neste caso a variável aleatória seria o resultado do estudo, o investigador corresponderia ao jornalista, e o objecto seriam as pessoas inquiridas.
Nestes termos, "cegar" o jornalista seria possível criando um mecanismo que assegurasse que assim que o estudo fosse enviado, este teria necessariamente de ser publicado (vamos admitir que quem realiza o estudo é neutro neste processo). Assim poderíamos evitar eventuais problemas de selecção da nossa variável aleatória. Qualquer coisa do tipo - como os resultados não estão de acordo com as minhas crenças repita-se uma, duas, ou as vezes que forem necessárias até obter a consistência que desejo.
"Cegar" o objecto torna-se bem mais complicado (e não julgo que os inquiridos mudem de resposta só porque estão a participar num estudo de sondagens - mas daí até não! pelo menos para determinar a abstenção). Ainda assim com um pouco de imaginação conseguiríamos cegar o objecto - fazer com que os inquiridos não se apercebessem que estão a participar num estudo.
Mas enfim. Os jornalistas têm de ter opinião para tudo. Muitas vezes fundamenta deficientemente. Assim não julgo que o enviesamento que descreveu possa vir a materializar-se, ie, alguém mais ajuizado clarificaria a opinião desse jornalista.
Sou completamente leigo no assunto, mas não é o reconhecimento - presente no seu artigo relativamente aos sistemas de avaliação de tendências de voto - da sistematicidade de uma sobreavaliação ou de uma subavaliação por diversos institutos de determinados partidos uma confissão de falta de credibilidade destes?
E reflectem as últimas sondagens que presumo que tenham contribuído para a curva que obtém utilizado os métodos em causa o sururu em torno das listas do PSD?
Obrigado pelo serviço público.
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