segunda-feira, dezembro 26, 2005

Tendências

É possível, contudo, que parte do que estamos a observar em termos de diferenças entre as sondagens se deva não apenas ao erro amostral ou a discrepâncias entre os instrumentos usados pelos diferentes institutos nos diferentes momentos, mas sim a uma real mudança nas intenções de voto válidas ao longo do tempo (causadas quer por mudanças de intenção de voto de um candidato para outro quer pela "entrada" ou "saída" de indivíduos das categorias de "indecisão" ou "abstenção).

Os gráficos seguintes permitem-nos apreciar visualmente a plausibilidade desta hipótese genérica. Vou manter isto também simples, para benefício de todos incluindo eu próprio, que tenho lacunas importantes de formação técnica quando de trata de analisar séries temporais.

A linha sólida é a que melhor se ajusta aos dados na pressuposição de uma relação linear entre a passagem do tempo e o resultado das sondagens. A vantagem desta análise consiste em que podemos ver até que ponto as diferenças entre sondagens podem ser tratadas mero "ruído" em relação a uma tendência geral. A desvantagem, claro, é a pressuposição de uma relação de linearidade entre a passagem do tempo e as intenções de voto, pressuposição essa que pode ocultar outro tipo de tendências. A curva tracejada resulta de uma regressão polinomial ponderada loess (ou "regressão local") aos dados, em que os pontos da curva são previstos pelas observações imediatamente adjacentes (e não por todas as observações, o que resultaria numa linha igual à da regressão linear). Vantagens e desvantagens são simétricas em relação as associadas à pressuposição de linearidade: sensibilidade a evoluções não lineares, mas excessiva sensibilidade a mudanças de curto prazo e "outliers".


A tendência de subida de Soares desde meados de Outubro é muito clara. A passagem do tempo explica mais de metade da variância nos resultados e, apesar das diferenças claras entre institutos (Eurosondagem sempre mais lisonjeira, Marktest e Aximage sempre menos), a subida é constante para todos.

Alegre desce. Os efeitos da passagem do tempo são menores que no caso de Soares e os dados ajustam-se menos bem à pressuposição de linearidade, mas a tendência está lá e também é estatisticamente significativa.


Jerónimo e Louçã estão estáveis, apesar de, como já sabemos, os resultados de Louçã exibirem maior dispersão. Mas essa dispersão terá de ter outra explicação que não o factor tempo.


Os resultados de Cavaco são os mais intrigantes. Grande dispersão, compreensível tendo em conta as maiores margens de erro. Linearmente, uma descida mas, no máximo, ultra-lenta e, na verdade, carecendo de significância estatística (até agora). Mas grandes outliers: Eurosondagem (em Novembro e agora esta última), Aximage (Outubro e esta última), o IPAM (na sondagem para o Diário de Coimbra). Inconsistência de tendências no interior de cada instituto: descida seguida de subida na Aximage, subida seguida de descida na Eurosondagem, descida seguida de subida na Marktest.

As dúvidas não são resolvidas olhando para os resultados brutos. Em regra, não olho para eles porque creio que há opções técnicas que influenciam dramaticamente a percentagem de indecisos e abstencionistas captados pelas diferentes sondagens, quer entre institutos quer entre sondagens feitas pelos mesmos institutos. Contudo, ignorando isso, a análise deste quadro mostra as "intenções directas" de voto a descerem continuamente na Marktest, a descerem e depois a subirem na Aximage e a subirem para logo depois descerem na Eurosondagem.

Assim, em síntese:
1. Sinais muito claros de subida para Soares, com dispersão grandemente explicada pela passagem do tempo;
2. Sinais claros de descida para Alegre;
3. Estabilidade genérica para Jerónimo e Louçã, mas maior incerteza para o segundo;
4. Incógnita (e, à falta de melhor, estabilidade) para Cavaco.

Em Janeiro voltamos a falar.

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