quarta-feira, julho 19, 2006

Hezbollah e opinião pública libanesa

Não sei onde Edward Luttwak foi buscar a ideia, expressa hoje em artigo no Público (aqui, para subscritores) de que o desarmamento do Hezbollah era visto como condição para a sua aceitação pelos libaneses. Pelo menos, o que sabe da opinião pública libanesa lança sérias dúvidas sobre o diagnóstico. Em Abril de 2004, foi feita a seguinte sondagem no Líbano:

Zogby International, N=600, 2ª semana de Abril de 2004

Do you agree or disagree with the following statement? - "Hezbollah should be disarmed".
Agree: 6%
Agree, if peace exists: 18%
Only if Hezbollah Agrees: 31%
Disagree:41%

Decompondo os resultados por filiação religiosa, nem entre os Maronitas havia uma maioria a favor do desarmamento incondicional, enquanto que, entre os Xiitas, 79% eram contra esse desarmamento em quaisquer circunstâncias. Na mesma sondagem, questionados sobre se estavam ou não de acordo que os Estados Unidos colocassem maior pressão sobre a Síria para o desarmamento do Hezbollah, 61% eram contra (e só entre os Maronitas havia uma maioria a favor).

As perspectivas noutros países não são especialmente diferentes. Na Jordânia, numa sondagem bem mais recente (23 de Junho passado, Centre for Strategic Studies at the University of Jordan), 63% classificavam o Hezbollah como uma "organização de resistência legítima" (e não como uma organização terrorista).

É possível que "o objectivo político de Israel" seja "destruir a posição do Hezbollah enquanto partido político legítimo do Líbano". E é muito possível que os líderes árabes vejam o Hezebollah como um "irritante" ou mesmo um "inimigo mais perigoso que Israel", como também se diz numa notícia do Público. Mas o sentimento das populações não condiz nem com o putativo objectivo de Israel nem com as alegadas posições das lideranças políticas árabes, o que, em última análise, vai condicionar quer o sucesso do primeiro quer a manutenção das segundas. Esse sentimento, aquilo que o produz e o ressentimento brutal quer contra Israel quer contra os Estados Unidos, não deviam - pela milionésima vez - ser sub-estimados na análise da questão.

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