Através deste site, cheguei ao site da Associação Brasileira de Ciência Política, um lugar de visita indispensável a quem se interessa a sério pela política no Brasil. Especialmente interessante é a lista de papers apresentados no último encontro (o 5º; nós por cá na APCP ainda só tivemos três), que foi em Belo Horizonte. O site não é particularmente amigável, mas se clicarem em "Programação" e forem às sessões temáticas lá encontrarão os papers.
Vale muito a pena ler vários, entre os quais este (.pdf), de Yan de Souza Carreirão, sobre os efeitos do Mensalão nas preferências, atitudes políticas e intenções de voto dos brasileiros. Principais conclusões (ainda preliminares, note-se):
1. "Começando pelas preferências partidárias: foram afetadas pelo "mensalão", mas de forma não muito intensa, embora aparentemente mais duradoura, já que o PT, mesmo tendo se recuperado um pouco em relação ao período mais crítico, parece ter perdido algo em torno de 5% das preferências em âmbito nacional, comparando com o período "pré-mensalão". Nenhum partido conseguiu crescer significativamente com o declínio do PT; o efeito principal do "mensalão", parece ter sido o do aumento do descrédito dos eleitores nos partidos e nos políticos, em geral."
2. "Contrariamente ao que ocorreu nas três últimas eleições presidenciais, mas, de forma semelhante ao que ocorreu em 1989, as clivagens socioeconômicas (de renda, escolaridade e região do país) têm se mostrado relevantes para diferenciar os eleitores, segundo a avaliação que fazem do governo e segundo suas intenções de voto. São os mais pobres, menos educados e das regiões mais pobres que avaliam melhor o governo e votam mais em Lula."
3. "A avaliação moral tem um impacto relevante: isso fica claro com o declínio da aprovação ao governo, da preferência pelo PT e das intenções de voto em Lula, durante o auge da crise do "mensalão", bem como as variações nestas variáveis, segundo as opiniões dos eleitores sobre corrupção. Mas, a avaliação dos resultados das políticas econômica e social do governo também mostra sua força ao longo de todo o período. A manutenção da estabilidade econômica, com taxas de crescimento econômico um pouco maiores do que as ocorridas no governo anterior; o aumento do emprego com carteira assinada; um maior crescimento do poder de compra do salário mínimo; a ampliação da abrangência e do volume de recursos destinados aos programas sociais do governo que implicam em transferência de renda (especialmente o Bolsa Família), tudo isso parece ter neutralizado, em grande parte, os efeitos negativos das denúncias do "mensalão" e resultado numa avaliação mais positiva do governo Lula, comparado ao governo FHC, especialmente nos segmentos mais pobres e mais beneficiados pelo aumento do salário mínimo e pelos programas sociais."
E uma pergunta muito interessante:
"Central para ponderar a influência de cada um destes fatores é a interpretação sobre as causas da recuperação da avaliação do governo e das intenções de voto no presidente Lula, ao longo do presente ano. É possível pensar que essa recuperação se deva em parte a uma avaliação "final" (até o momento) de que o presidente Lula não estava envolvido nos fatos revelados pelas acusações. Outra possibilidade é a de que essa recuperação seja fruto de uma percepção mais "cínica": o que importaria seria a avaliação sobre os benefícios trazidos pelas políticas governamentais, independente da moralidade das suas ações. O fato de serem especialmente os mais pobres, menos escolarizados e da região Nordeste que avaliam melhor o governo e têm maiores intenções de voto no presidente, coloca como questão crucial a relação de causalidade: estes segmentos sustentam o presidente por terem menos informações e, portanto, por não conseguirem avaliar "corretamente" a gravidade das acusações e o grau de envolvimento do presidente, ou por se sentirem beneficiários dos resultados das políticas governamentais ?"
A história do próximo dia 1 de Outubro já começou a ser escrita. À atenção daqueles que se interessam por estas coisas.
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