segunda-feira, agosto 31, 2009
"Modernidade" vs. "os pilares da sociedade"
Bem, mas não será só isso. É natural que o PS se volte para estes temas e que o PSD não esteja propriamente entusiasmado em tê-los na campanha. Tomemos como indicador - certamente parcial - das opiniões sobre estes temas a posição dos eleitores sobre os direitos dos casais formados por pessoas do mesmo sexo. Num inquérito de Outubro de 2008, feito pelo CESOP, perguntava-se aos inquiridos se concordavam com o acesso desses casais ao casamento civil em condições iguais aos dos casais heterossexuais e, em caso negativo, se defendiam a ausência de qualquer reconhecimento legal, a manutenção do regime actual (mero reconhecimento de uniões de facto) ou a possibilidade de uniões civis (sem serem casamentos).
Se tomarmos a última opção, assim como a defesa do casamento, como representando apoio a uma mudança do statu quo, eis como se distribuem os grupos de simpatia partidária:
% de inquiridos que defendem casamento ou união civil entre pessoas do mesmo sexo:
PS: 59%
PSD: 48%
Sem simpatia partidária: 61%
Ou seja: apesar de ambos os partidos estarem divididos, ao introduzir este tema na agenda política, o PS tenta presumivelmente encostar o PSD a uma posição ("conservadora", chamemos-lhe assim) de manutenção do statu quo, que divide os seus simpatizantes, ao passo que defende posição maioritária quer entre os seus simpatizantes quer entre os "independentes".
Claro que uma resposta possível do PSD seria a de, por exemplo, pagar ao PS na mesma moeda e descrevê-lo como "radical" e "extremista" quando defende o "casamento" para pessoas do mesmo sexo, por exemplo. E isto porque, quando voltamos a olhar para os mesmos dados, vemos que o casamento propriamente dito suscita as seguintes reacções:
% de inquiridos que defendem casamento entre pessoas do mesmo sexo:
PS: 47%
PSD: 29%
Sem simpatia partidária: 45%
Assim, quando o assunto é tematizado nestes termos, é o PS, e não o PSD, que parece mais dividido.
Contudo, percebe-se que o PS insista. Outra coisa que era perguntada no mesmo estudo era se "um partido que tenha sobre este assunto uma posição diferente da sua é um partido onde nunca votaria ou poderia, mesmo assim, votar nesse partido". Eis as respostas:
% de inquiridos que afirmam que "nunca votariam" num partido com uma posição diferente da sua neste tema:
PS: 37%
PSD: 47%
Sem simpatia partidária: 37%
Ou seja, parece ser (mesmo que marginalmente) mais fácil para o PSD perder eleitores com a posição "errada" sobre estes assuntos do que para o PS. Já agora, para os eleitores do Bloco e do CDS-PP, os resultados são, previsivelmente, semelhantes aos do PSD: 45 e 48%, respectivamente. Mas BE e CDS-PP não correm riscos de terem posições "erradas" sobre estes assuntos: mais de 70% dos eleitores do BE são a favor do casamento e mais de 80% dos eleitores do CDS-PP são contra. E claro, o PS está também a pensar nos eleitores do Bloco quando coloca o tema no centro da agenda.
Assim, para ou bem ou para mal, parece fazer sentido esperar mais disto até ao dia 27 de Setembro por parte do PS. O PSD é que terá de decidir se alinha ("diluíram-se pilares da sociedade como a família e o casamento") ou não. Não parece muito sensato alinhar e, num sistema puramente bipartidário, o PSD deveria fugir disto como o diabo da cruz. Mas, claro, há o CDS-PP à espreita, etc. O multipartidarismo é mesmo uma coisa complicada.
terça-feira, agosto 25, 2009
Faz favor de não dar estes resultados, sim?
"A um mês das eleições é importante repetir que as sondagens custam muito dinheiro às empresas de Comunicação Social que não podem andar por aí a vender gato por lebre aos seus clientes. A um mês das eleições não vale a pena começarem por aí a inventar isto e aquilo, indecisos para trás e para a frente, altos níveis de abstenção e outras coisas mais para justificarem erros crassos e resultados verdadeiramente enganadores. A um mês das eleições só faltava mesmo que as sondagens começassem a repetir empates técnicos a torto e a direito entre o PS e o PSD. A um mês das eleições Legislativas é perfeitamente legítimo começar, desde já, a desconfiar do que aí vem em matéria de sondagens."
Por outras palavras, ARF considera que as sondagens que vão ser feitas nas próximas semanas devem indicar diferenças estatisticamente significativas entre o PS e o PSD. "Era o que faltava" que não o fizessem. E se o fizerem, estão a vender gato por lebre aos seus clientes. Ora toma. Desta forma, a Aximage, empresa que faz as sondagens para o Correio da Manhã, e Jorge de Sá, o seu director, ficam a saber que resultados são ou não são aceitáveis para um dos "grandes repórteres" do jornal para o qual conduzem sondagens.
sexta-feira, agosto 14, 2009
Acabou a recessão!, que bom, que bom
Saíram os números para o 2º trimestre de 2009. O primeiro-ministro agarra-se aos 0.3% de crescimento do PIB e a oposição agarra-se ao aumento da taxa de desemprego em 0,2 pontos percentuais. Cada um encontrou a sua bóia de salvação. Aconselha-se cautela: ambas as bóias estão furadas.
Comecemos pela taxa de desemprego. Dizem os números que subiu de 8,9% para 9,1%. Logo a oposição culpa o primeiro-ministro por estes números maléficos. O relatório sobre as estatísticas do des(emprego) está disponível online. Lendo o documento, descobrimos que estes números são calculados com base numa amostra. Depois, com base nessa amostra, extrapola-se para a população total. Claro que, mesmo que o procedimento seja feito na perfeição, existe sempre uma margem de erro associada a estas estatísticas. O documento, detalhado como é, dá-nos informação suficiente para calcularmos um intervalo de confiança para a estatística que nos interessa.
Se calcularmos um intervalo de confiança de 95% para a taxa de desemprego, descobrimos que esse intervalo nos diz que a taxa de desemprego se situará entre os 8,6 e os 9,6%. Ou seja, estes números dizem-nos que é perfeitamente possível que a taxa de desemprego tenha diminuído, em vez de ter aumentado. Não é intelectualmente honesto usar este número como arma de arremesso contra o governo.
E a taxa de crescimento do PIB? Passa-se o mesmo, só que aqui é o primeiro-ministro a embandeirar em arco. 0,3% de crescimento face ao trimestre anterior é, com toda a certeza, um valor estatisticamente não significativo. Infelizmente, no INE, não consigo encontrar informação que me permita calcular intervalos de confiança, mas é fácil argumentar por que motivo é perfeitamente possível que o crescimento real tenha sido negativo.
Em primeiro lugar, é prática corrente rever estas estimativas. Por exemplo, a estimativa que saiu sobre a taxa de crescimento no primeiro trimestre deste ano, já foi revista em baixa em 0,2 pontos percentuais. Se uma revisão semelhante for aplica ao segundo semestre, já teremos uma estimativa para a taxa de crescimento de apenas 0,1%. Em segundo lugar, os dados são sazonalmente ajustados (para corrigir o fortíssimo efeito sazonal do Natal). Tal procedimento é puramente estatístico/econométrico e, como tal, tem a ele associado uma margem de erro. Acresce que este é um ano excepcional devido à crise internacional, fazendo com que a queda brutal na produção no 1º trimestre deste ano se confunda com as fortes quedas sazonais associadas ao trimestre que vem depois do Natal. Sendo mais difícil separar os efeitos, a probabilidade de erro é maior. Finalmente, o cálculo do PIB é também uma estimativa com base numa amostra, pelo que os argumentos apresentados relativamente à taxa de desemprego se aplicam, ipsis verbis, à taxa de crescimento do PIB.
É assim perfeitamente possível que a taxa de crescimento do PIB neste trimestre tenha sido negativa, sendo cedo para decretar o fim da recessão. O ministro da finanças, Teixeira dos Santos, como economista sério que é, sabe disto perfeitamente e, provavelmente por isso mesmo, já disse que com base nestes números não podíamos dizer que a crise acabou. Temos de esperar para ver.
Post Scriptum: Entrada publicada em estéreo na Destreza das Dúvidas.
sábado, agosto 01, 2009
Legislativas. Marktest, 23-26 Julho, N=811, Tel.
PSD: 34,2%
BE: 14,3%
CDU: 7,4%
CDS-PP: 4,4%
OBN: 4,2%
Em relação aos 811 inquiridos, 36,7% declinaram responder à pergunta sobre intenção de voto ou afirmaram não saber. Creio que a Marktest abandonou a ponderação dos resultados na base da recordação de voto em 2005. A única ponderação que faz agora consiste em reduzir os votos brancos e nulos a valores mais realistas (os de 2005) do que aqueles que são revelados na amostra.