quarta-feira, janeiro 23, 2013
sexta-feira, janeiro 18, 2013
sábado, janeiro 12, 2013
O relatório do FMI, 2
Não tencionava escrever o que se segue porque me pareceu tão banal que achei que alguém me pouparia o esforço. Mas não dei por quem o tenha dito, por isso aqui vai. Para o governo, a discussão que este relatório está a gerar deverá ser, em saldo final, muito positiva. Porque:
1. Se o governo for comandado por agentes racionais e não puramente ideológicos, aquilo que haja de discussão séria sobre o relatório ajudará a expurgar os erros e as soluções tecnicamente inadequadas que uma coisa destas inevitalmente terá (e parece que tem alguns), permitindo que se tomem melhores decisões. Com isto não quero dizer que o governo seja comandado por pessoas racionais ou que a discussão possa ser séria, mas acho que não se deve excluir completamente a hipótese.
2. Independentemente do ponto 1, o FMI cumpre aqui a função de batedor. Faz barulho, levanta a caça, não paga preços eleitorais e ajuda a gerar informação preciosa para o governo sobre que medidas deverão ser, à partida, completamente inaceitáveis e inaplicáveis do ponto de vista político. Como o governo não está em rigor obrigado a tomar essas medidas e como quem fica com a responsabilidade das ideias mais politicamente mirabolantes é o FMI, esta é a maneira certa de levantar a caça. Murmurar frases mutuamente contraditórias sobre o financiamento do ensino obrigatório em entrevistas televisivas e nos dias seguintes é a maneira errada.
3. Finalmente, este relatório e a discussão que está a ocorrer deixa o país a marinar num conjunto de hipóteses aterrorizadoras de corte de despesa que o governo se encarregará de rejeitar ou mitigar quando chegar a altura certa. "Afinal", dir-se-á, não foi tão mau como se pensava. As piores expectativas não serão cumpridas. Vai-se cortar, vai doer, mas claro que não se vai cortar 4.000 milhões. Mas como os credores já explicaram, o que conta não é tanto a meta mas sim a direcção da corrida, e os esforços do país serão elogiados, e Portugal não é a Grécia, e enfim, mais 1% menos 1%, estabilizadores e multiplicadores e tal.
Não faço ideia se isto é bom ou não para o país e para nós, mas é o que é, ou o que vai ser.
1. Se o governo for comandado por agentes racionais e não puramente ideológicos, aquilo que haja de discussão séria sobre o relatório ajudará a expurgar os erros e as soluções tecnicamente inadequadas que uma coisa destas inevitalmente terá (e parece que tem alguns), permitindo que se tomem melhores decisões. Com isto não quero dizer que o governo seja comandado por pessoas racionais ou que a discussão possa ser séria, mas acho que não se deve excluir completamente a hipótese.
2. Independentemente do ponto 1, o FMI cumpre aqui a função de batedor. Faz barulho, levanta a caça, não paga preços eleitorais e ajuda a gerar informação preciosa para o governo sobre que medidas deverão ser, à partida, completamente inaceitáveis e inaplicáveis do ponto de vista político. Como o governo não está em rigor obrigado a tomar essas medidas e como quem fica com a responsabilidade das ideias mais politicamente mirabolantes é o FMI, esta é a maneira certa de levantar a caça. Murmurar frases mutuamente contraditórias sobre o financiamento do ensino obrigatório em entrevistas televisivas e nos dias seguintes é a maneira errada.
3. Finalmente, este relatório e a discussão que está a ocorrer deixa o país a marinar num conjunto de hipóteses aterrorizadoras de corte de despesa que o governo se encarregará de rejeitar ou mitigar quando chegar a altura certa. "Afinal", dir-se-á, não foi tão mau como se pensava. As piores expectativas não serão cumpridas. Vai-se cortar, vai doer, mas claro que não se vai cortar 4.000 milhões. Mas como os credores já explicaram, o que conta não é tanto a meta mas sim a direcção da corrida, e os esforços do país serão elogiados, e Portugal não é a Grécia, e enfim, mais 1% menos 1%, estabilizadores e multiplicadores e tal.
Não faço ideia se isto é bom ou não para o país e para nós, mas é o que é, ou o que vai ser.
sexta-feira, janeiro 11, 2013
O relatório do FMI
Não é boa maneira de começar um post com este título, mas a verdade é que não me sinto capaz de dar uma opinião fundamentada sequer sobre o sumário executivo. Nada do que se discute ali é a minha área. Mas a discussão que está a ocorrer leva-me a falar de um paper de Boeri e Tabellini com o título "Does information increase political support for pension reform?" Basicamente, eles partem de inquéritos feitos em Itália onde se medem junto dos inquiridos:
- se são a favor de aumentar a idade de reforma e/ou reduzir benefícios;
- o seu conhecimento sobre a situação financeira da segurança social, como são usadas as contribuições e a % do salário usada para pagar contribuições;
- o grau de atenção aos media sobre estes temas.
Isto é complementado com uma experiência onde, a uma parte aleatoriamente seleccionada de uma amostra num inquérito online, é pedido que leiam um texto descritivo sobre o funcionamento do sistema italiano.
Resultados:
*65% dos italianos sabiam que o sistema estava em situação deficitária, só 50% percebiam que o sistema é "pay-as-you go", e só 10% (dos empregados, menos do total) acertavam na taxa dentro de um intervalo +/- 2.5% (e apenas um em cada quatro acertava num intervalo maior, 25%-40%).
* Quanto menos informação objectiva sobre o funcionamento do sistema, menor a propensão para aceitar reformas ao sistema no sentido de aumentar idade da reforma e/ou diminuir benefícios. Isto é estimado de uma data de maneiras diferentes, presumindo exogeneidade e endogeneidade das variáveis que medem informação, etc.
* Exposição ao debate nos media sobre a reforma do sistema tem efeito nulo sobre a real informação sobre o sistema. Vale a pena citar:
"Individuals who declare to be more exposed to media coverage do not appear to be more informed about basic features of the pension system. One interpretation of this result is that individuals read newspaper articles or watch TV programs on the issue just to confirm their priors, more than to collect new information."
* A experiência confirma o resultado anterior: quem lê o texto fica mais propenso a aceitar reformas. Sei no que vocês estão a pensar, e eles também:
"There is, however, an unavoidable issue of interpretation. Although the description is factual and unloaded with normative suggestions, we cannot rule out the possibility that exposure to treatment here conveys more than just factual information, but also forces the respondent to think more carefully about his answers, or provides additional information besides that captured by the variable info."
Sobre saúde não conheço estudos assim, mas fiz, com Henrique Lopes, um estudo de apoio a um relatório de Jorge Simões, Pedro Pita Barros e João Pereira sobre a sustentabilidade do SNS, que consistiu num inquérito por questionário a uma amostra nacional sobre o tema (disponível aqui). O inquérito tratava muita coisa mas o aspecto relevante aqui é este:
* 81% dos inquiridos consideravam-se mal informados sobre a forma como o SNS é financiado.
* Só 11% tentaram responder à pergunta do valor da despesa do SNS por habitante por ano. Desses 11%, quase ninguém respondeu no intervalo 721-880€ (o valor real de 2005 com uma flutuação de +/- 10%) e a maior parte achava que era menos.
* Só 7% tentaram responder à pergunta do valor da despesa agregada (8.000 milhões) e, desses, apenas 1 em 10 acertaram num intervalo generoso de 5.000/10.000 milhões. No total, em 1.173 pessoas inquiridas, só uma deu as duas respostas "certas".
Nos estudos eleitorais, tende a prevalecer uma visão benévola sobre a ignorância que as pessoas possam ter sobre os temas substantivos discutidos na vida política, alegando-se que com "atalhos informacionais" as pessoas acabam por chegar às "respostas certas", ou seja, àquelas que chegariam mesmo se tivessem mais informação. Mas estudos como este sugerem que a falta de conhecimento tem implicações maiores, pelo menos quando se trata de debates com este grau de tecnicidade. Outro ponto é que, pelos vistos, a exposição a estes debates junto dos meios de comunicação social muda pouco ou nada.
P.S.- De resto, uma das sugestões de Boeri e Tabellini é que se siga o exemplo da Suécia, onde "“orange envelopes” are mailed every year to all contributors, providing basic information on the functioning of the pension system, a glos- sary, a statement of past contributions and projections of the annual entitlements under three retirement ages and for two assumptions on economic growth." Isso, contudo, exige governos que confiam na inteligência dos seus cidadãos e cidadãos que confiam na honestidade dos seus governos...
- se são a favor de aumentar a idade de reforma e/ou reduzir benefícios;
- o seu conhecimento sobre a situação financeira da segurança social, como são usadas as contribuições e a % do salário usada para pagar contribuições;
- o grau de atenção aos media sobre estes temas.
Isto é complementado com uma experiência onde, a uma parte aleatoriamente seleccionada de uma amostra num inquérito online, é pedido que leiam um texto descritivo sobre o funcionamento do sistema italiano.
Resultados:
*65% dos italianos sabiam que o sistema estava em situação deficitária, só 50% percebiam que o sistema é "pay-as-you go", e só 10% (dos empregados, menos do total) acertavam na taxa dentro de um intervalo +/- 2.5% (e apenas um em cada quatro acertava num intervalo maior, 25%-40%).
* Quanto menos informação objectiva sobre o funcionamento do sistema, menor a propensão para aceitar reformas ao sistema no sentido de aumentar idade da reforma e/ou diminuir benefícios. Isto é estimado de uma data de maneiras diferentes, presumindo exogeneidade e endogeneidade das variáveis que medem informação, etc.
* Exposição ao debate nos media sobre a reforma do sistema tem efeito nulo sobre a real informação sobre o sistema. Vale a pena citar:
"Individuals who declare to be more exposed to media coverage do not appear to be more informed about basic features of the pension system. One interpretation of this result is that individuals read newspaper articles or watch TV programs on the issue just to confirm their priors, more than to collect new information."
* A experiência confirma o resultado anterior: quem lê o texto fica mais propenso a aceitar reformas. Sei no que vocês estão a pensar, e eles também:
"There is, however, an unavoidable issue of interpretation. Although the description is factual and unloaded with normative suggestions, we cannot rule out the possibility that exposure to treatment here conveys more than just factual information, but also forces the respondent to think more carefully about his answers, or provides additional information besides that captured by the variable info."
Sobre saúde não conheço estudos assim, mas fiz, com Henrique Lopes, um estudo de apoio a um relatório de Jorge Simões, Pedro Pita Barros e João Pereira sobre a sustentabilidade do SNS, que consistiu num inquérito por questionário a uma amostra nacional sobre o tema (disponível aqui). O inquérito tratava muita coisa mas o aspecto relevante aqui é este:
* 81% dos inquiridos consideravam-se mal informados sobre a forma como o SNS é financiado.
* Só 11% tentaram responder à pergunta do valor da despesa do SNS por habitante por ano. Desses 11%, quase ninguém respondeu no intervalo 721-880€ (o valor real de 2005 com uma flutuação de +/- 10%) e a maior parte achava que era menos.
* Só 7% tentaram responder à pergunta do valor da despesa agregada (8.000 milhões) e, desses, apenas 1 em 10 acertaram num intervalo generoso de 5.000/10.000 milhões. No total, em 1.173 pessoas inquiridas, só uma deu as duas respostas "certas".
Nos estudos eleitorais, tende a prevalecer uma visão benévola sobre a ignorância que as pessoas possam ter sobre os temas substantivos discutidos na vida política, alegando-se que com "atalhos informacionais" as pessoas acabam por chegar às "respostas certas", ou seja, àquelas que chegariam mesmo se tivessem mais informação. Mas estudos como este sugerem que a falta de conhecimento tem implicações maiores, pelo menos quando se trata de debates com este grau de tecnicidade. Outro ponto é que, pelos vistos, a exposição a estes debates junto dos meios de comunicação social muda pouco ou nada.
P.S.- De resto, uma das sugestões de Boeri e Tabellini é que se siga o exemplo da Suécia, onde "“orange envelopes” are mailed every year to all contributors, providing basic information on the functioning of the pension system, a glos- sary, a statement of past contributions and projections of the annual entitlements under three retirement ages and for two assumptions on economic growth." Isso, contudo, exige governos que confiam na inteligência dos seus cidadãos e cidadãos que confiam na honestidade dos seus governos...
quinta-feira, janeiro 10, 2013
The social consequences of the crisis: Greece and the rest
Talking to a Greek colleague today, I was again reminded that "financial crisis" or "austerity" are really too general descriptors to talk about countries like Greece, Portugal, Spain, or Ireland. One way of seeing this is through the Flash Eurobarometer surveys that have been conducted to "monitor the social impact of the crisis" since 2009. For some unfortunate reason, as far as I can tell, the very last one is Flash Eurobarometer 338, whose fieldwork was more than a year ago, back in December 2011. Nevertheless, here are some really eye opening questions and results, from July 2009 to December 2011:
Has your household at any time during the past 12 months run out of money to pay ordinary bills or buying food or other daily consumer items? (% 'Yes')
Which of the following best describes how your household is keeping up with all its credit commitments at present? (% "You are falling behind with some bills\ credit commitments" + % "You are having real financial problems and have fallen behind with many bills and credit commitments")
As we can see, Greece is really on a different planet from this point of view. Unfortunately, as I mentioned, I can't find more data like this since December 2011. But the Standard EB regularly asks questions about "difficulty in paying bills". The ZACAT data on EB 77.4, from June 2012, shows this:
Difficulty in paying bills in the last year? (% "Most of the time)
Regardless of other factors, any discussion on voting behavior, government approval, protest and political mobilization in the aftermath of austerity policies in these countries must take this into account.
Has your household at any time during the past 12 months run out of money to pay ordinary bills or buying food or other daily consumer items? (% 'Yes')
Which of the following best describes how your household is keeping up with all its credit commitments at present? (% "You are falling behind with some bills\ credit commitments" + % "You are having real financial problems and have fallen behind with many bills and credit commitments")
As we can see, Greece is really on a different planet from this point of view. Unfortunately, as I mentioned, I can't find more data like this since December 2011. But the Standard EB regularly asks questions about "difficulty in paying bills". The ZACAT data on EB 77.4, from June 2012, shows this:
Difficulty in paying bills in the last year? (% "Most of the time)
Regardless of other factors, any discussion on voting behavior, government approval, protest and political mobilization in the aftermath of austerity policies in these countries must take this into account.
segunda-feira, janeiro 07, 2013
Pitagórica, 13-18 Dez., N=505, Tel.
PS: 34.6 % (-1.6)
PSD: 29% (+2.6)
CDS-PP: 11.4% (+1.6)
CDU: 11.2% (+1.4)
BE: 8.4% (+0.9)
Data com "?" porque esta notícia indica "9 A 16 DE NOVEMBRO DE 2012". Mas isso foi o período de trabalho de campo da sondagem anterior, pelo que há aqui certamente um lapso. Já corrigido na notícia.
Com uma amostra de 505 (e estas percentagens são certamente calculadas em relação a uma base inferior, devido a abstencionistas e indecisos), nenhuma das mudanças em relação à sondagem anterior é estatisticamente significativa. Mas isso não dá notícia.
PSD: 29% (+2.6)
CDS-PP: 11.4% (+1.6)
CDU: 11.2% (+1.4)
BE: 8.4% (+0.9)
Com uma amostra de 505 (e estas percentagens são certamente calculadas em relação a uma base inferior, devido a abstencionistas e indecisos), nenhuma das mudanças em relação à sondagem anterior é estatisticamente significativa. Mas isso não dá notícia.
quarta-feira, janeiro 02, 2013
Subscrever:
Mensagens (Atom)