O famoso livro Catch-22,
de Joseph Heller, passado na II Guerra Mundial na base aérea de
Pianosa, Itália, tornou-se especialmente conhecido por descrever uma
situação paradoxal. Há um aviador que quer ser isentado de fazer missões
de combate. Para tal, tem de requerer um exame médico que o
diagnostique como não estando na posse das suas capacidades mentais.
Contudo, se o aviador requerer exame médico para esse fim, então é
evidente que está na posse das suas capacidades mentais. Logo, tem de
continuar a fazer missões de combate.
O post anterior,
sobre os exames do 4º ano, teve uma evolução. Na escola do meu filho
mais velho, como só tem o 1º ciclo, e como as provas têm de ser vigiadas
por professores de outros ciclos, para poupar os miúdos a fazerem o exame numa escola que nunca viram e também evitar muitas manhãs de trabalho perdidas aos pais, estes e a escola decidiram
juntar-se para pagar a dois professores de 2º e 3º ciclo, externos, para
fazerem a vigilância em regime de prestação de serviço.
A escola fez esta proposta às autoridades competentes (por enquanto, ainda sem nomes). Eis a resposta do servidor público em causa:
"Em
referência ao vosso pedido de esclarecimento informa-se V. Exas. que,
tendo em consideração que os referidos professores a contratar (2º e 3
ciclos) não exercem a sua função educativa no vosso estabelecimento de
ensino, não poderão assegurar a vigilância das provas."
Temos então que:
1. As provas têm de ser vigiadas por professores da escola que não sejam do mesmo ciclo.
2. Nas escolas que só tenham um ciclo, não há professores de outro ciclo.
3. Logo, para serem vigiados por professores de outro ciclo, teriam de vir professores de outras escolas.
4.
Mas como os exames têm de ser vigiados por "professores da escola que
não sejam do mesmo ciclo", professores de outras escolas não podem vigiar o
exame (mesmo que pagos pelos pais e pela escola).
Joseph Heller
voou 60 missões de combate num bombardeiro na frente italiana. Mas se
tivesse lidado com o Ministério da Educação de Portugal teria podido
escrever Catch-22 na mesma.
terça-feira, abril 16, 2013
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7 comentários:
Bom dia,
Esta história faz-me lembrar outro Catch 22, que um colega meu contava relativamente ao Estado, aqui há uns anos, e em relação a imposotos:
1º- Para o Estado os cidadãos são todos aldrabões.
2ª- Cabe ao Estado decidir se são ou não.
Voltamos a esses tempos "gloriosos".
Está tudo louco.
Cumprimentos
O "Estado" ou o "Ministério da Educação" não decidem.
Há uma opção política por submeter crianças e famílias a este "tratamento".
Pois... No meu agrupamento os miúdos de 6 ou 7 escolas do 1º ciclo terão de fazer o exame na "escola mãe". Acho isto um absurdo!! Nem quero imaginar o stress que aqueles miúdos vão ter. Deslocar de autocarro até à sede e depois voltar, tudo em nome de uma prova, que no meu ver, poderia ser realizada no meio ambiente deles mas com professores do agrupamento.
è uma rica ideia pagar a professores para vigiarem as provas dos nossos filhos.
Uma ideia a ser seguida.
Concordo! Esta é uma ideia genial!
Faz-me lembrar outro círculo:
vigilância "descuidada", melhor nota, melhor ranking, mais alunos, mais dinheiro a entrar, mais vigilância descuidada...
Qual é a solução então? Sou todo ouvidos.
Brilhante analogia que, lamentavelmente, apenas destaca a opacidade do nosso país.
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