quarta-feira, abril 29, 2009

domingo, abril 26, 2009

EU Profiler

Aí está o EU Profiler. Há semelhanças com instrumentos anteriores, como o Political Compass, o Moral Politics ou o Political Matrix. Mas a diferença aqui, tal como no original KiesKompas ou no Smartvote, é que a aplicação está explicitamente concebida não para posicionar ideologicamente o inquirido em abstracto, mas sim para conciliar isso com o que se passa num contexto eleitoral concreto. Há partidos ou candidatos, esses partidos e candidatos têm posições, e o que a aplicação faz é comparar as posições dos inquiridos com as dos partidos. O sucesso disto na Holanda e na Bélgica tem sido brutal: mais de 10% dos eleitores reportam, em inquéritos pós-eleitorais, ter recorrido a uma voter advice application.

Normalmente, estas aplicações presumem a existência de duas dimensões: uma de "esquerda/direita" socioeconómica e outra de "conservador/progressista" no domínio dos valores sociais. O EU Profiler assume que estes temas escalam numa mesma dimensão e transformam a segunda numa dimensão pró-anti Europeia. Percebo a ideia, tendo em conta que as eleições são europeias e que é preciso dar peso a esse aspecto. Mas na verdade, a dimensão pró-anti Europeia tende a escalar com o conservadorismo-progressismo: "support for European integration tends to be high among parties that can be characterised as Green/Alternative/Libertarian (GAL) and low among parties that rather qualify as Traditional/Authoritarian/Nationalist (TAN)". Logo, pode haver aqui um problema.

Outra dificuldade é que, apesar do esforço louvável para tornar o inquérito mais próximo de cada contexto eleitoral e de permitir que sirva como "voting advice", a verdade é que todas as respostas continuam a ser medidas numa escala "abstracta" esquerda/direita ou pró/anti integração. Assim, eu percebo que se pergunte, por exemplo, pelo referendo europeu. Mas tenho dúvidas sobre como se codificam as respostas: ser-se pelo uso do referendo é ser-se pró ou anti-integração? Da mesma forma, questões sobre o TGV ou a regionalização ajudam a que nos aproximemos de conflitos políticos concretos, mas como se codificam as respostas numa escala esquerda/direita?

Numa ou noutra perguntas, a tradução poderia estar melhor (o que significa "tornar a imigração mais restritiva"?) mas enfim. Dito tudo isto, parece-me bom nesta aplicação, apesar de tudo, o esforço de contextualização, a preocupação com medir a saliência de cada tema para as pessoas, o esforço em documentar o posicionamento dos partidos com textos de programas, moções e declarações públicas, e a flexibilidade da ferramenta (permitindo comparações focalizadas). E uma declaração de interesses: estou neste momento a trabalhar com outras pessoas na possibilidade de adaptar esta aplicação para as eleições legislativas. Todos os comentários e opiniões que nos façam chegar sobre o EU Profiler são bem vindos.

sábado, abril 25, 2009

Autárquicas, Lisboa. Aximage, 21-23 Abril, N=600, Tel. (revisto)

PS:36,1%
PSD/CDS-PP/PPM/MPT:29,6%
CDU:8,4%
Cidadãos por Lisboa: 7,1%
BE:3,8%

Aqui. A notícia não diz quantos dos restantes 15% são votos brancos, nulos, noutros partidos ou indecisos.

P.S.- Um amigo fez-me chegar os resultados completos. Aqui vão:

Com indecisos:
PS:36,1%
PSD/CDS-PP/PPM/MPT:29,6%
CDU:8,4%
Cidadãos por Lisboa: 7,1%
BE:3,8%
OBN: 5,2%
Indecisos: 9,8%

Redistribuição proporcional:
PS:40%
PSD/CDS-PP/PPM/MPT:32,8%
CDU:9,3%
Cidadãos por Lisboa: 7,9%
BE:4,2%
OBN: 5,8%

Europeias. Intercampus, 17-22 Abril, N=1201, Tel.

PS: 34%
PSD: 33,5%
BE: 18%
CDU: 7,9%
CDS-PP: 6,9%

Aqui. A soma disto é 100,3%, pelo que, pelos vistos, na redistribuição, se terá presumido que não há votos noutros partidos, nem em branco, nem nulos.

Uma sondagem é só uma sondagem, mas como esta é a única até agora, o melhor, por isso mesmo, é -la em perspectiva. Se os resultados acabassem por ser estes, estariam em linha com as previsões aqui para o PSD, mas mais longe para os outros partidos. E seriam muito maus para todos os partidos menos o BE. O PS só teve resultados piores em eleições europeias em 1987 e 1989. Um partido de governo só teve resultados piores que estes em 1989 e 2004. O PSD só teve resultados piores em 1989 e 2004. A CDU nunca teve menos de 9%. E o CDS-PP, sozinho, nunca teve menos de 8%.

5ª feira há mais.

terça-feira, abril 21, 2009

Uma teoria da dissonância cognitiva

Como não pude ver o Prós e Contras de ontem, fui tentar saber o que se passou aqui. Mas descubro que, afinal, a sucessão de comentários é uma bela homenagem a este livro.

Meirinho

Manuel Meirinho, do ISCSP, tem um blogue que vou seguir a partir de hoje: Homo Civicus. Qualquer dia, não sobra gente da Ciência Política fora da blogosfera. Parece-me bem.

quinta-feira, abril 16, 2009

Participação nas europeias e os resultados do EB71

Foram divulgados oficialmente os resultados do Eurobarómetro da Primavera de 2009, onde se tratam vários temas ligados às próximas eleições europeias. No Eleições 2009, Vítor Dias apresenta alguns resultados.

O grande destaque noticioso tem sido dado à pergunta sobre a probabilidade de votar nas próximas europeias. A pergunta foi feita pedindo aos inquiridos que usassem uma escala entre 1 e 10, em que 1 significa que "de certeza não irá votar" e 10 significa que "de certeza irá votar". Quem analisou os dados apresenta as percentagens daqueles que respondem "9" e "10" como indicando que "provavelmente irá votar", e menciona-se que uma "pesquisa anterior indica que só as pessoas que avaliam a sua probabilidade de votar nos níveis 10 e 9, numa escala de 10, poderão de facto votar nas eleições."

Bem, não conheço a tal pesquisa, mas conheço os resultados do Eurobarómetro 61, da Primavera de 2004, onde se colocava exactamente a mesma pergunta. A percentagem daqueles que, na Primavera, responderam 9 e 10 na probabilidade de irem votar foi um bom preditor da participação eleitoral em Junho de 2004? "Só as pessoas que avaliam a probabilidade de votar nos níveis 10 e 9 poderão de facto votar nas eleições"? Disparate:


Em nove países, a participação real foi mais de 10 pontos superior à da percentagem de inquiridos que, na Primavera de 2004, eram aquilo que agora o EB descreve como "prováveis votantes". E em outros sete países, a participação real foi mais de 10 pontos inferior à dos "prováveis votantes" da Primavera de 2004. Para o conjunto dos países, a correlação entre a percentagem de "prováveis votantes" e a participação real é de 0,6, o que não sendo irrelevante também não é nada famoso para algo que se apresenta como um "preditor".

Porquê? Bem, era um projecto de investigação em si mesmo, mas há desde logo algumas pistas possíveis. Parece haver uma tendência para que, em países de voto obrigatório actual ou recente, a participação acabe por ser superior àquilo que os inquiridos indicam como sendo a sua participação provável. Importava também ver circunstâncias especiais de cada eleição: se houve outras eleições recentes, deprimindo a participação; se houve eleições legislativas pouco depois, potencialmente aumentado o interesse na eleição; se houve outras eleições simultâneas à europeia em 2004 (e houve nalguns casos), aumentando a participação; etc.
Não excluo nada a hipótese (pelo contrário) de que, na base destas e de outras informações, se pudesse chegar a um bom modelo preditivo da participação em Junho. Mas o que importa perceber é que as inferências directas sobre a participação provável para Junho na base da probabilidade declarada de voto dos eleitores no EB71 são algo precipitadas...
P.S.-Parto do princípio que os dados apresentados pela rapaziada do Eurobarómetro sobre a probabilidade de votar dizem respeito às sub-amostras dos inquiridos com 18 e mais anos, e não à totalidade da amostra usada no Eurobarómetro (15 e mais anos). Mas se for a segunda, então os resultados são ainda mais problemáticos como meio de inferência sobre o que se irá passar em Junho...

segunda-feira, abril 13, 2009

O precedente e a regra

Num artigo recente no Público, Vasco Campilho afirma que "o precedente faz regra: o próximo Presidente da Comissão Europeia será membro do partido que vencer a nível europeu".

Mas atenção: a regra é que o Conselho nomeia um candidato a Presidente da Comissão por maioria qualificada, nomeação essa que depois é aceite ou não pelo Parlamento Europeu. E o Parlamento volta a votar a totalidade da composição da Comissão, Presidente incluído. Logo, da regra resulta apenas que quem o Conselho nomear precisa de não ser bloqueado por uma maioria no Parlamento. Ora, para ser mais concreto, tendo em conta os resultados prováveis das eleições de Junho, isto exige que os Liberais se juntem ao EPP e aos Conservadores britânicos para dar uma maioria ao candidato do EPP, em vez de se juntarem a outros grupos parlamentares para o bloquearem. Garantido? Bem, "ni pour ni contre".

domingo, abril 12, 2009

Aximage, 1-3 Abr., N=600, Tel.

Resultados com redistribuição proporcional de indecisos:
PS:39,9% (40,2%)
PSD:26,3% (25,2%)
BE:13,2% (13,2%)
CDU:10,8% (9,5%)
CDS:6,0% (7,1%)
OBN:4,0% (4,7%)

Resultados brutos:
PS:38,1% (38,3%)
PSD:25,1% (24,0%)
BE:12,6% (12,6%)
CDU:10,3% (9,0%)
CDS:5,7% (6,8%)
OBN:3,8% (4,5%)
Indecisos:4,3% (4,8%)

Aqui.

sábado, abril 11, 2009

Previsões europeias

Tem circulado na blogosfera um estudo de Simon Hix, Michael Marsh e Nick Vivyan onde se prevê a composição do Parlamento Europeu que resultará das eleições de Junho. Há até um site: Predict09.eu.

O que Hix, Marsh e Vivyan fazem é pressupôr que a votação de cada partido é uma função dos resultados desse partido numa sondagem conduzida alguns meses antes da eleição e da votação desse partido nas Europeias anteriores. Para além disso, se esse partido for um partido de governo ou eurocéptico, usa-se também informação sobre os resultados anteriores nas legislativas. E caso seja um partido no governo, toma-se em conta o facto desse partido estar ou não no primeiro ano de mandato.

Quem tiver lido o paper de que falei aqui, percebe que há alguma teoria por detrás disto: 

- partidos de governo são especialmente castigados nas Europeias, a não ser que estejam em "lua de mel";
- partidos Eurocéticos tendem a dar-se melhor nas Europeias que nas legislativas.

Que tal se têm portado estas previsões? Em 2004, Hix e Marsh previam um PE assim (em percentagem de deputados; entre parêntesis, o desvio da previsão em relação aos resultados reais):

EPP-ED: 38,9% (+2,3%)
PES: 29,6% (+2,3%)
ELDR: 10,0% (-2,0%)
EUL/NGL:5,3% (-0,3%)
G/EFA:5,5% (-0,2%)
UEN:3,8% (+0,1%)

Nada mau. Desta vez, prevêm isto:

Mas atenção: uma boa previsão do PE não é necessariamente uma boa previsão para todas e cada uma das eleições europeias em cada país. Para 2004, por exemplo, Hix e Marsh previam, para Portugal, o seguinte:
Bem, a verdade é que PSD+CDS somaram 33,3% (e não 46,6%), elegendo 9 deputados (e não 12). A previsão subestimou o PS, a CDU e o BE. Por isso, algum cuidado com as previsões aqui, especialmente tendo em conta que quem lhes está a fazer as análises para Portugal detecta, com a previsão de 31% para o PSD, uma quebra de 2,3 pontos, o que só mostra alguma distracção. Como é óbvio, 31% só será uma quebra para o PSD se esquecermos que, em 2004, concorreu coligado com o CDS-PP. O que a previsão para 2009 está a dizer, pelo contrário, é que, se PSD+CDS valiam 33,3% em 2004, agora valeriam 40,8%.

Mas são detalhes. Em geral, o modelo, ao nível máximo de agregação (a distribuição de deputados do PE) parece funcionar muito bem.

sexta-feira, abril 03, 2009

E agora...

Um intervalo de uns dias enquanto vou aqui, almoçar aqui, jantar aqui e embebedar-me e ir à caça à raposa com este (três das anteriores são verdadeiras).

Portugal nos índices internacionais de "bom governo"

A propósito de um comentário mais abaixo, fui ver como estamos. Os índices são construídos de maneiras diferentes, com objectivos e pressupostos normativos diferentes e englobando conjuntos de países diferentes. Não tenho tempo para me alargar nos detalhes, mas deixo as ligações para quem queira investigar. As posições são dadas em relação ao conjunto dos países da OCDE (são 30) e em relação às "novas democracias" da OCDE (são 10) e para os períodos temporais mais aproximados entre si que foi possível:

Bertelsmann Foundation Management Index (2007-2008) Portugal 20º; entre as novas democracias, (depois da Coreia do Sul, da Eslováquia e da Hungria).

World Bank Governance Indicators (2007, calculei a média dos 6 indicadores): Portugal 20º; entre as novas democracias, .

World Economic Forum Global Competitiveness Index (2007-2008): Portugal 23º, entre as novas democracias, (depois de Coreia do Sul, Espanha e República Checa).

Heritage Foundation Index of Economic Freedom (2007-2008): Portugal 25º; entre as novas democracias, .

Há mais coisas, sob perspectivas diferentes, tais como o Product Market Regulation Index (mas faltam dados para alguns países) ou, pelo lado do grau de democracia, a Polity IV ou a Freedom House (mas nestes não há variância para as democracias mais avançadas, como a nossa, e o que está sob estudo é algo diferente). E haverá mais índices deste género? Digam coisas.

Isto é bom? É mau? Meio cheio? Meio vazio? Não sei. Eu não fico satisfeito com menos do que o 1º lugar e, para além disso, o conjunto da OCDE pode ajudar a que nos posicionemos melhor (faltam aqui muitas outras "novas democracias"). Mas concordo que, deste ponto de vista, parece que o mundo não nos vê assim tão profundamente atolados como nós próprios vemos. Enfim, o costume.

Actualizações

A base de dados sobre as estimativas de resultados eleitorais divulgadas nas sondagens foi actualizada. A das avaliações dos líderes ainda não.

Eurosondagem, 25-31 Março, N=1011, Tel.

PS: 39,6% (39,0%)
PSD: 29,6% (28,3%)
BE: 9,6% (10,4%)
CDU: 9,4% (9,6%)
CDS-PP: 7,0% (7,7%)
OBN: 4,8% (5,0%)

Aqui e aqui.

quarta-feira, abril 01, 2009

Deliberação da ERC

Sobre alegada manipulação de sondagens, denunciada pelo deputado Agostinho Branquinho. Noto que há um voto contra e duas declarações de voto. Confesso que tenho curiosidade em conhecê-las, mas creio que não estão disponíveis no site.