Como costuma suceder, há uma convergência (relativa) das sondagens nesta fase final. Quatro colocam Cavaco Silva abaixo dos 60%, depois de meses onde foi frequente encontrar resultados completamente discrepantes. Quatro colocam Alegre algures entre 20 e 25%. Todas colocam Nobre acima dos 10%. Quatro colocam Francisco Lopes acima dos 5%. Há casos onde as diferenças entre as últimas cinco sondagens são, tomando em conta a dimensão das amostras, estatisticamente significativas. Mas são raros. A Marktest, claro, está aqui um pouco como outlier. Mas também já estava nas Europeias e depois foi o que se viu. Cuidado com as precipitações.
Nos comentários perguntam-me muito se acho que estes resultados sugerem que Cavaco Silva se salvará de uma 2ª volta. É uma pergunta interessante, porque denuncia o que me parece ser uma boa tendência: uma abordagem mais informada e realista das sondagens. Ninguém colocou este tipo de pergunta nas últimas Europeias. Mas as pessoas vão percebendo que há eleições onde só se pode ficar muito surpreendido se os comportamentos das pessoas no dia das eleições acabarem por ser muito diferentes das intenções captadas através de as amostras antes das eleições. É esse o caso das legislativas, ou das presidenciais onde o presidente em exercício não concorre, mais competitivas e com menor abstenção. E vão também percebendo que há outras eleições onde os comportamentos dos eleitores - votar ou não votar, votar em quem - podem acabar por ser relativamente diferentes das intenções captadas em sondagens. Desde que tenho este blogue - há seis anos - venho avisando que isso tende a acontecer mais em eleições com favoritos claros e elevada abstenção. É o caso destas presidenciais, assim como - pelo lado da abstenção sempre, e pelo lado dos favoritos claros algumas vezes - as europeias. É por isto que nos devemos tentar recordar das presidenciais de 2001. Em média, as estimativas de intenção de voto para Sampaio andavam pelos 65%, mas o resultado das eleições esteve 10 pontos abaixo. Muitas pessoas se lembraram disso nesta campanha, e é bom que nos preparemos para a possibilidade de um fenómeno semelhante.
Mas prepararmo-nos para um fenómeno semelhante não significa que ele vá acontecer. As empresas de sondagens sabem perfeitamente disto e têm teorias, mais ou menos desenvolvidas, sobre as razões por que estas coisas sucedem. Logo, é natural que introduzam alterações na maneira como fazem as coisas para evitarem discrepâncias entre intenções de voto e comportamentos. A alteração com maiores efeitos potenciais, creio, é tentar ter um bom "modelo" (mais ou menos complexo) do que é um votante provável. Sabemos que muitas pessoas que nos dizem que irão votar não o vão fazer, e isso é tanto mais verdade quanto menos competitiva e mobilizadora for a eleição. Se essas pessoas foram diferentes daqueles onde há consistência entre intenções e comportamentos, o resultado inevitável são desvios para além do que seria justificável à luz do erro amostral. Mas o que lhes fazer, como apurar o que é uma intenção que se realizará com elevada probabilidade, o que fazer aos que se declaram indecisos, são opções que não estão escritas na pedra: estudam-se, debatem-se, aprendem-se, adaptam-se e permanecem controversas. Para além disso, as empresas lutam contra uma tendência crescente: erros de não-contacto e erros de não-resposta, ou seja, a dificuldade cada vez maior em contactar aqueles que deveriam ser inquiridos e obter deles colaboração para a realização das sondagens. As últimas europeias sugerem que, sejam quais foram as soluções que tenham sido adoptadas, estão longe de serem infalíveis. E sugerem também que, em última análise, pode não haver nada a fazer, em determinadas circunstâncias, para vencer o incontornável: uma sondagem mede intenções e os resultados eleitorais resultam de comportamentos posteriores. Intenções comportamentais e comportamentos são coisas muito fortemente relacionadas, mas diferentes e não perfeitamente relacionadas, como de resto a investigação sobre o comportamento dos consumidores já aprendeu há muito tempo.
Tudo isto para dizer que devemos estar preparados para tudo. A minha impressão - mera impressão - é que o fenómeno de "sobrestimação" (vamos chamar-lhe assim) do vencedor não deverá ter o mesmo tipo de magnitude que teve em 2001, em parte porque acredito que as empresas estão a tomar medidas no sentido de melhorar a forma como lidam com a inconsistência dos eleitores e em parte também devido àquilo que expliquei logo de início: se os apoiantes do favorito tiverem desta vez a noção de que a vitória à 1ª volta não está garantida pelas sondagens, é natural que não se desmobilizem da mesma forma. Mas veremos se a minha impressão se confirma. E outra coisa que me deixa muito curioso é saber como se vai portar isto. Looking good.
E o resto é votar no Domingo e pronto.
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2 comentários:
é que o fenómeno de "subestimação"
apodemos assi também anda em baixa
Mais uma eleição
Mais uma humilhação!
Que raio de pessoas é que formam as "Amostras"?
Como é que de uma amostra se infere que Cavaco (Por exemplo) tem entre 50 e 60% com uma margem de erro pequena e a mesma amostra nada consegue dizer sobre a abstenção (Que foi quem teve o maior número de votos).
Qual é a probabilidade de numa amostra de 1000 pessoas encontrarmos 0% de abstencionistas? Quando sabemos que cerca de 50% do Universo opta por esta decisão?
Eu diria que é uma probabilidade próxima de zero!
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