Verifico que há quem esteja disponível para defender James Watson, apesar do seu racismo, porque isso pelos vistos serve para atacar os perigosos excessos do "politicamente correcto". Verifico também que há quem tenha desenvolvido um inesperado apreço pelos gémeos Kaczynski, apesar de terem sido responsáveis por regulares atropelos a algumas regras bastante elementares da democracia no seu país, simplesmente porque isso dá jeito para atacar o défice democrático da União Europeia, os excessos do tratado, a eurocracia e mais não sei o quê. E estes são os casos mais recentes, mas não muito diferentes, por exemplo, dos admiradores do actual presidente da Venezuela cuja principal (para não dizer única) explicação para a sua condição de fãs é o facto do homem "mandar vir com o Bush" (para citar um taxista que me transportou há umas semanas atrás, que isto dos taxistas, afinal, é um bocado mais complicado do que eu imaginava).
Na maior parte dos casos, estas parvoíces são completamente inofensivas. Mas quando acontecem em grande escala podem ser verdadeiramente deprimentes. Julgo que a última vez que isso sucedeu foi quando muitas pessoas que eu pensava serem bastante decentes defenderam a administração Bush e a invasão do Iraque, muito para além do que a simples racionalidade ainda admitia, porque isso lhes era conveniente para atacar a "complacência com o terrorismo" e o "anti-americanismo primário" de meia-dúzia de esquerdistas avulsos. Subordinando assim o essencial - aquilo que nos une como pessoas decentes- ao acessório - a possibilidade de ganhar uns feijões na luta contra adversários políticos domésticos, muitos deles politica e socialmente irrelevantes e alguns deles pura e simplesmente imaginários. Mas eu quero crer que tudo não passa de uma espécie de tique. Eles sabem que é estúpido e até queriam parar, mas é mais forte que eles. Haja paciência.
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