O grande destaque noticioso tem sido dado à pergunta sobre a probabilidade de votar nas próximas europeias. A pergunta foi feita pedindo aos inquiridos que usassem uma escala entre 1 e 10, em que 1 significa que "de certeza não irá votar" e 10 significa que "de certeza irá votar". Quem analisou os dados apresenta as percentagens daqueles que respondem "9" e "10" como indicando que "provavelmente irá votar", e menciona-se que uma "pesquisa anterior indica que só as pessoas que avaliam a sua probabilidade de votar nos níveis 10 e 9, numa escala de 10, poderão de facto votar nas eleições."
Bem, não conheço a tal pesquisa, mas conheço os resultados do Eurobarómetro 61, da Primavera de 2004, onde se colocava exactamente a mesma pergunta. A percentagem daqueles que, na Primavera, responderam 9 e 10 na probabilidade de irem votar foi um bom preditor da participação eleitoral em Junho de 2004? "Só as pessoas que avaliam a probabilidade de votar nos níveis 10 e 9 poderão de facto votar nas eleições"? Disparate:
Em nove países, a participação real foi mais de 10 pontos superior à da percentagem de inquiridos que, na Primavera de 2004, eram aquilo que agora o EB descreve como "prováveis votantes". E em outros sete países, a participação real foi mais de 10 pontos inferior à dos "prováveis votantes" da Primavera de 2004. Para o conjunto dos países, a correlação entre a percentagem de "prováveis votantes" e a participação real é de 0,6, o que não sendo irrelevante também não é nada famoso para algo que se apresenta como um "preditor".
Porquê? Bem, era um projecto de investigação em si mesmo, mas há desde logo algumas pistas possíveis. Parece haver uma tendência para que, em países de voto obrigatório actual ou recente, a participação acabe por ser superior àquilo que os inquiridos indicam como sendo a sua participação provável. Importava também ver circunstâncias especiais de cada eleição: se houve outras eleições recentes, deprimindo a participação; se houve eleições legislativas pouco depois, potencialmente aumentado o interesse na eleição; se houve outras eleições simultâneas à europeia em 2004 (e houve nalguns casos), aumentando a participação; etc.
Não excluo nada a hipótese (pelo contrário) de que, na base destas e de outras informações, se pudesse chegar a um bom modelo preditivo da participação em Junho. Mas o que importa perceber é que as inferências directas sobre a participação provável para Junho na base da probabilidade declarada de voto dos eleitores no EB71 são algo precipitadas...
P.S.-Parto do princípio que os dados apresentados pela rapaziada do Eurobarómetro sobre a probabilidade de votar dizem respeito às sub-amostras dos inquiridos com 18 e mais anos, e não à totalidade da amostra usada no Eurobarómetro (15 e mais anos). Mas se for a segunda, então os resultados são ainda mais problemáticos como meio de inferência sobre o que se irá passar em Junho...
3 comentários:
Ou então são outros factores muito mais prosaicos que estão por detrás dos desvios, como o tempo que fazia no dia das eleições.
Concordo quase em tudo.
Na Espanha quando menos eu tenho a percepção de que a participação irá cair por baixo da registada em 2004, não acredito nesses 10 pontos de diferença mas sim em uma percentagem próxima do 40%.
Houve eleições legislativas há apenas um ano e aqui na Galiza há apenas dois mêses. Sem dúvida crescerá a abstenção.
A crise irá disparar o voto de castigo contra o Governo central em minoria do PSOE e mobilizará o eleitorado da primeira força da oposição, o PP.
As minhas dúvidas centram-se no resultados das pequenas forças. Suponho que para elas a mobilização do seu eleitorado é, dum lado, mais fácil (derivado de uma maior proporção de votantes ideologizados). Mais doutro lado, as posições críticas ou mornas con o proceso de construição europea, tornam máis difícil uma posição.
Neste estudo (http://www.predict09.eu/) prognosticam algumas coisas. No geral pode-se concordar. Mas em resultados individuais dos Estados há fortes incoherências (estimações que não têm em conta a realidade pluracional dos Estados) e mesmo agrupações erradas de partidos en coligações (como no caso da Galiza, onde o BNG irá concorrer junto com ERC, Aralar e quiçá também Eusko Alkartasuna, e não com CiU e o PNB).
De uma forma geral concordo.
É que o Eurobarometro parece ser uma desgraça. Basta ver o que prediz e o que acontece...
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