E já que estamos nesta onda, há um texto imperdível na New York Review of Books sobre a vitória do Hamas: este, de Hussein Agha e Robert Malley. Independentemente dos pressupostos de partida ou das simpatias ou antipatias dos autores, é um texto exemplar do ponto de vista da análise política: não se conforma com uma única banalidade que saia da boca dos "comentadores" ou dos agentes políticos. Procura ver o que está "por detrás". Pergunto-me se, por vezes, não estará a ver demais. Mas tem, por exemplo, uma explicação plausível para algo que, numa das sondagens anteriores, me deixou perplexo. Isto:
Q12. The PA is committed to the option of political negotiations with Israel. Do you believe that the new government headed by Hamas has to continue with the political negotiations, stop the political negotiations and should adopt other options?
To continue with the political negotiations: 66.3%
Stop the political negotiations: 29.6%
No answer: 4.1%
Q15. Some believe that the negotiations are the best path to achieve our national goals, whereas others believe that the armed struggle is the best way to do so. Which option is the closest to your opinion?
Through Negotiations: 38.8%
Through armed struggle: 17.9%
Through negotiations and armed struggle: 40.3%
Don't know: 2.3%
No answer: 0.7%
A resposta pode ser esta:
Because of all it did, said, and stood for, a vote for Hamas became one way to exorcise the disgrace. The Palestinian Authority had been unable to protect its people, and Hamas evidently could do no better on that score. But though its brutal attacks on Israelis did not provide safety, they provided revenge, and, for many Palestinians, in the biblical land of primal urges, that was second best. While not condoning every Hamas operation, for vast numbers of Palestinians, the Islamists' current position on Israel and the use of violence against it also rang as a truer, more authentic expression of their feelings. In this, Prime Minister Sharon displayed greater discernment than the Israeli left: deep down, most Palestinians, though ready to accept Israel's existence, have not accepted its historical legitimacy; though supportive of a mutual cease-fire and peace agreements, they will not relinquish the right to fight for their land.
E fazendo uma ponte um bocado enviesada com este post na Praia, há uma sensação que sempre tenho quando leio artigos como este, muito bom, mas não especialmente melhor que muitos outros que encontramos regularmente na NYRB, na Atlantic Monthly, no Economist, no Times Literary Supplement, só para falar das coisas que leio menos irregularmente: é que, desculpem-me, mas tenho sérias dúvidas que haja um único português com o conhecimento de causa e a qualidade suficientes para escrever um artigo como este. Como este ou, repito, como muitos outros que encontramos todos os meses em publicações como as que mencionei. Voltei a pensar nisto quando li, na autobiografia da Maria Filomena Mónica, a história do artigo para a Atlantic sobre a revolução portuguesa que o Vasco Pulido Valente nunca chegou a enviar.
Para responder mais directamente ao post do Ivan: para se ser capaz, é preciso ser-se ou muito ignorante ou muito descarado. E peço que não vejam isto como um ataque à Atlântico ou às pessoas que lá escrevem. É só uma constatação sobre aquilo que temos.
quinta-feira, março 02, 2006
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