Vale a pena ler o livro sobre a campanha de Manuel Alegre às presidenciais, tal como também valia a pena ler o livro de Filipe Santos Costa sobre a campanha de Soares (e não é por este blogue ser mencionado em ambos).
São dois produtos muito diferentes. O livro sobre Soares é uma reportagem jornalística, o livro sobre Alegre é uma obra colectiva, escrita por pessoas ligadas à campanha. Mas o capítulo de Helena Roseta ("Uma candidatura pioneira"), apesar dos enviesamentos compreensíveis, serve como reportagem da pré-campanha e campanha tal como vista pelo lado da candidatura de Alegre, tem muita informação factual e está uma coisa que me parece realmente bem feita. Os capítulos de António Pina Ferreira - sobre o financiamento - e de Nuno David - sobre a campanha na Net - são também muito informativos. E há o capítulo de Luis Moita sobre "A estratégia de campanha eleitoral de Manuel Alegre", que é de especial interesse para apreciar semelhanças e diferenças com que se vai passar por aqui. O resto do livro é mais soft e interessa mais aos fiéis da crença.
Temas "quentes" não há muitos, a não ser alguns elementos adicionais da intriga em torno da escolha de candidato por parte do PS, acusações bastante explícitas de manipulação dos resultados de sondagens feitas à Eurosondagem e um alegado acordo "implícito" entre Soares e o PCP e o BE. Mas há também uma janela, nos vários textos, para a mundividência e para o tipo de discurso político que está por detrás deste tema do "poder dos cidadãos", de que havemos ouvir falar mais vezes . E há outra coisa que me interessa pessoalmente: a enorme importância que as sondagens divulgadas publicamente parecem ter, não tanto (directamente) para o comportamento do eleitorado, mas sim para o interior das próprias campanhas, aumentando o ânimo ou o desânimo, dando a percepção de objectivos atingidos ou por atingir, afectando estratégias e, logo, afectando a capacidade de mobilização dessas campanhas e a sua eficácia. Uma sondagem em particular, feita pela Católica e divulgada no dia 7 de Janeiro, parece ter sido um momento charneira nas candidaturas Soares e Alegre, para além, claro, do impacto da "tracking poll" da Marktest. Feita a constatação, não sei bem o que deva ficar a pensar sobre o assunto.
Em resumo, independentemente do que achemos disto tudo, publicar livros destes após eleições é um bom hábito, que seria bom que não se perdesse.
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