No artigo de hoje apresentas uma sondagem sobre o apoio da populacao a Chávez, e como costumas ser tão rigoroso há algo que tenho de perguntar, tendo em conta as grandes disparidades sociais que existem na Venezuela. Como foi feita tal sondagem? Telefonicamente? Nas zonas ricas? pobres? Misto? Sinceramente, e tendo em conta toda a problemática/dualidade da sociedade venezuelana, sinto que seja quase impossível ser feita uma sondagem imparcial. Não terá sido também esta encomendada pelos media, estando estes claramente alinhados a um tipo de resposta? No fim, rematas com "É em momentos como este que as minhas dúvidas existenciais sobre a contribuição das sondagens para a democracia se dissipam completamente. Depois voltam, mas o momento é de aproveitar."Achas que este tipo de sondagem contribui de que forma para a democracia? Ou, a que te referes quando falas de democracia?
Nota: não acho grande piada ao Chávez, embora ache interessante muito do que ele anda a fazer pela Venezuela, por isso não consideres isto um mail de apoio incondicional ao Chávez, mas apenas o que é, uma série de dúvidas.
Na verdade, concedo facilmente que o caso da Venezuela (e possivelmente o de muitas outras "semi-democracias" ou "semi-autoritarismos") é um bom exemplo de como as sondagens tendem a ser objecto de forte manipulação. Já relatei isso no caso da Venezuela há uns meses atrás, e confesso que não sei o suficiente sobre o panorama político da Venezuela para conseguir navegar com segurança por este mar de acusações mútuas.
Mas sei o seguinte: no referendo de 15 de Agosto 2004, o resultado final foi 59/41, favorável ao Não, ou seja, como saberás, favorável a Chávez. A Datos, em Junho, estava a dar 51/39, o que redistribuindo dá 57/43. É um resultado muito próximo do final, e favorável a Chávez. Tomei isto, conciliado agora com os resultados desfavoráveis a Chávez, como indicação de que estamos perante uma empresa minimamente séria. Isto pode não chegar, mas é a indicação que tenho, e não me parece má.
Agora, é certo que a sondagem - e deveria ter mencionado isso no post - não foi feita a uma amostra nacional mas sim a uma amostra da população residente nas 8 maiores cidades, representando apenas 1/3 da população do país. Mas a amostra, como verás, tem uma maioria de inquiridos dos estratos sociais mais baixos. Assim, mesmo com algumas precauções, e especialmente tendo em conta resultados tão expressivos, acho que se pode dizer com alguma segurança que as últimas medidas de Chávez estão a ser mal recebidas pela população.
Finalmente, por que é que contribui para a democracia? Se não conhecêssemos estes resultados, aquilo que saberíamos da vontade do povo seria apenas aquilo que Chávez e os seus opositores teriam para nos dizer. E tendo em conta que Chávez vem silenciando os opositores, seria provavelmente apenas a versão do primeiro. Mas com esta sondagem, sabemos algo mais, e melhor.
Eu dei uma vista de olhos no powerpoint da sondagem, mas, não conhecendo a realidade "socio-geografica" do país não consigo ter opinião sobre a justeza dos sítios escolhidos. Tenho algumas dificuldades em acreditar que consigamos saber o que se passa na Venezuela através de sondagens, e penso, ao contrário do que dizes, que muito do que nos chega, é pelo contrario, contrario a Chávez, e não oriundo deste ou do estado/máquina estatal venezuelana. Como podemos nós compreender um pais claramente do 3º mundo, com problemas gravíssimos de fome, miséria, degradação social em todos os aspectos? É-me muito difícil criticar Chávez a nível das medidas, quando o vejo (pode ser apenas aparente) a efectivar medidas que melhoram as condições de vida dos extractos mais baixos. É-me difícil criticar Chávez por fechar um canal de televisão que se dedicava 24/24 a criticas absolutamente destrutivas, e quantas vezes mentirosas contra o estado (inclusive dentro das telenovelas, com todo o controlo social que isso implica). Qual seria a reacção do estado português a uma SIC ou TVI que participasse activamente num golpe de estado, e em milhentas iniciativas para derrubar o estado? Penso que não seja a liberdade de expressão que esteja em causa, mas sim algo diferente.
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