quinta-feira, março 24, 2011

Incerteza 2: a avaliação do governo.

Sabe-se que os eleitores são retrospectivos e castigam e recompensam os governos em eleições. Logo, a avaliação que fazem do governo há-de contar para qualquer coisa. E nesse capítulo, as notícias para o PS são péssimas:

1. Católica, Outubro de 2010: 80% (oitenta) consideravam o desempenho do governo "mau" ou "muito mau" (41% "muito mau").
2. Aximage, Marco de 2011: 50% consideravam a actuação do governo pior do que aquilo que esperavam.
3. Eurosondagem, Fevereiro de 2011: 44% de opiniões negativas sobre actuação do governo, contra 19% de opiniões positivas.

Dito isto, atenção ao seguinte:
1. Novamente, estamos a falar da totalidade da amostra, e não de presumíveis votantes.
2. Católica em Outubro: apenas 25% dos inquiridos dizem achar que um partido da oposição faria melhor se estivesse a governar.

E outra coisa interessante dessa sondagem da Católica: questionados sobre as medidas propostas no Orçamento de Estado na altura, aquela que, de longe, mais pessoas diziam que as iria afectar directamente e às suas famílias (79%) e que seria mais difícil para os afectados (76%) era...o aumento do IVA. Para compararmos, 32% diziam que um possível congelamento de pensões os iria afectar e 36% a seleccionavam como sendo uma das mais difíceis para os afectados. O que, em conjugação com as notícias de hoje e recordando também o episódio da revisão constitucional, confirma que o PSD se pode descrever, do ponto de vista estrito do pragmatismo eleitoral, como uma agremiação de suicidas. Isto não implica, note-se, e muito sinceramente, qualquer juízo da minha parte sobre a justeza ou necessidade da medida.

Finalmente, regresso ao início: o "castigo" e a "recompensa" decorrem, evidentemente, de uma avaliação de responsabilidades. Já se percebeu que todo o discurso político do PS vai estar orientado para fornecer considerações aos eleitores que os levem a valorizar a "responsabilidade" (ou "culpa", "imaturidade", "irresponsabilidade") do PSD pela "perda de face" causada pelo pedido de ajuda financeira à Europa e ao FMI e pelas medidas alegadamente mais gravosas que terão de resultar desse pedido de ajuda. Previsivelmente, o PSD tentará colocar a "culpa" da situação do país em toda a actuação do governo até ao momento, e há sinais claros de um outro elemento desse discurso: afinal, a situação do país é ainda mais grave do que o Governo dizia. E a esquerda colocará a culpa de tudo isto nas medidas já aplicadas pelo governo, com a colaboração anterior do PSD, e nas regras impostas do exterior. Este vai ser o combate retórico mais importante desta campanha, e não faço a mínima ideia sobre qual será o seu desfecho.

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