É das perguntas que mais me fazem. Mas quem responde, e bem, é Medeiros Ferreira:
"As pessoas com mais qualidade afastaram-se da vida política?
O poder político perdeu poder. Com a entrada de Portugal no sistema monetário europeu e a privatização da banca passou-se da república dos empresários para a república dos financeiros, que tem várias expressões, mas enfraqueceu o poder político, que é visto muitas vezes como uma espécie de epifenómeno dos grandes grupos financeiros ou muito dependente dos grandes negócios.
E é dependente dos grandes grupos financeiros?
Portugal é um país onde não há crescimento económico, mas onde há grandes negócios, e isso enfraqueceu o poder político. O resultado é que muita gente deixou de ir para a política. Se o poder político é uma espécie de epifenómeno, as pessoas afastam-se, porque não se querem sujeitar a estar ao serviço de outras coisas que não sejam as suas próprias convicções. Por outro lado, a actividade política - e vou dizer uma coisa muito impopular - não tem boas condições materiais de atracção.
Os políticos ganham mal?
Não há condições de poder, porque está enfraquecido, e não há condições materiais de atracção para pessoas que estejam disponíveis para ser úteis e não ficar numa situação de dependência. Por outro lado, há o próprio funcionamento interior dos partidos, que vai gerando uma espécie de terceira geração de dirigentes, que já andam nisto há 30 anos e têm uma noção burocrática do modo de fazer política.
Os partidos políticos não estão também muito fechados, sem capacidade para reflectir sobre os novos problemas? O PS tem as Novas Fronteiras...
Isso não existe. É só para aparecer na televisão, mas não é só o PS. O PSD é a mesma coisa. E não foi só o PS que deixou de pensar o país. Eu quase me comovo quando vejo um grupo a estudar o país. Já não há pensamento estratégico sobre o país e não há um pensamento estratégico que parta do plano nacional para se entender como Portugal se deve inserir na integração europeia. "
No jornal i.
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