Já está no correio para distribuição e estará em breve disponível no site da Sociedade Portuguesa de Estatística o Boletim da SPE da Primavera de 2011, dedicado ao tema Sondagens e Censos. Tem quatro artigos sobre o tema "sondagens": dois são de Manuela Magalhães Hill e de Paula Vicente (a primeira é co-autora de um dos livros em português de que mais gosto sobre inquéritos por questionário), um dando uma perspectiva histórica sobre as sondagens e outro discutindo problemas e implicações da utilização de telemóveis e da internet, assim como da adopção de sondagens mixed-mode. Outro é de um colectivo de autores, liderado por Sandra Aleixo, e aborda o tema dos "erros não amostrais". Finalmente, há um quarto artigo, escrito por mim, pelo Luís Aguiar-Conraria e pelo Miguel Maria Pereira, estudante de mestrado do ICS. É sobre este último artigo que gostaria de falar um pouco.
Em 2009, a ERC encomendou um relatório sobre as sondagens em Portugal, que fazia algumas constatações sobre divulgação/depósito dos resultados das sondagens, sobre as próprias sondagens e seus resultados e algumas recomendações. Na altura, discuti aqui, aqui e aqui este documento, e fui especialmente crítico da análise feita acerca das sondagens, suas características e sua relação com as discrepâncias entre os resultados das sondagens e os resultados das eleições. Este artigo para o Boletim da SPE, intitulado "As sondagens e os resultados eleitorais em Portugal", é a nossa proposta sobre como esse tipo de análise pode e deve ser feita.
O que fazemos? Basicamente, pegamos nos resultados de todas as sondagens de intenção de voto divulgadas na imprensa nos últimos 100 dias antes das eleições legislativas de 1991, 1995, 1999, 2002, 2005 e 2009, europeias de 1994, 1999, 2004 e 2009, e autárquicas de 2005 e 2009. No total, 287 sondagens. Com base nestes resultados, estimamos duas grandezas:
1. O desvio absoluto médio entre os resultados das sondagens e os resultados das eleições a que dizem respeito.
2. O desvio, por partido ou lista conjunta, entre os resultados das sondagens e os resultados das eleições a que dizem respeito.
E procuramos responder a duas questões:
1. Que factores contribuem para que o resultado de uma sondagem esteja, em média, mais ou menos próximo do resultado da eleição a que diz respeito?
2. Que factores contribuem para que o resultado de uma sondagem acabe por constituir uma sobrestimação (ou subestimação) do resultado de um determinado partido?
Sei que muitas das pessoas que visitam este blogue o fazem por razões que vão para além de saber "quem vai à frente nas sondagens" e que se interessam por estes temas. Gostávamos muito de ter os vossos comentários, sugestões e críticas.
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2 comentários:
1. Creio que não tenho nada de novo a dizer sobre esta questão. Ocorrem-me vários factores, mas creio que todos eles já foram mencionados neste espaço.
2. Existe um fenómeno que creio nunca ter sido aqui referido, que não estou certo que exista, mas suspeito que sim.
A natureza auto-profética das declarações públicas por parte dos dirigentes de um partido de que as sondagens não lhe fazem justiça.
Proponho a hipótese disso influenciar o eleitorado desse partido de forma a diminuir a sua propensão para colaborar com estudos de opinião (vistos como um exercício manipulador no qual não querem ter parte). Assim, passa a existir uma correlação entre a pertença a esse partido e a disposição para a recusar a participação na sondagem.
O facto da profecia ter tendência a verificar-se pode aumentar este efeito em eleições seguintes, até eventualmente outro partido tomar a liderança no protesto pela forma como é injustiçado.
Bom trabalho!
Parece-me um bom ponto. O António Salvador, da Intercampus, tem-no referido várias vezes. Não era impossível testar a hipótese: havendo indicadores ao longo do tempo, baseados na imprensa, por exemplo, que pudessem medir o discurso dos partidos sobre as sondagens, poderíamos medir se aumentos de "queixas" têm correlação com tendências na subestimação,e até tentar perceber o que precede o quê.
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