A propósito dos posts anteriores sobre o peso dos pensionistas no eleitorado, lembrei-me de revisitar as mesmas bases de dados para responder à pergunta do título. Estes inquéritos perguntam qual o sector da actividade em que os respondentes trabalham e, quando casados ou vivendo com um parceiro, qual o sector de actividade dele/dela. Se consideramos as duas situações como relevantes para identificar o eleitorado dos "trabalhadores do estado", verificamos que as percentagens das amostras (que são representativas da população portuguesa residente no Continente com 18 ou mais anos) de "trabalhadores do estado" é bastante estável:
2002: 17%
2005: 20%
2009: 21%
2011: 19%
Entre aqueles que disseram ter votado na última eleição, em que partido dizem ter votado? Os gráficos seguintes mostram a comparação entre o comportamento de voto declarado dos trabalhadores do Estado e a distribuição total de votos no Continente. A preto, os trabalhadores do Estado. Tudo isto tem, por lidarmos com amostras, margens de erro associadas, etc, etc, etc, por isso cuidado. Mas vamos lá.
Duas ideias. Primeiro, os trabalhadores do Estado não são uma manada que vota toda no mesmo partido. É possível que, se os diferenciássemos internamente (quadros superiores, por instrução, por idade, vínculo, sindicalização, etc), encontrássemos aqui situações diferentes. Mas o ponto geral é mesmo esse: são heterogéneos social e politicamente, e de resto não se distribuem de forma excessivamente diferente do resto da população. Se fossem só os funcionários públicos a votar, talvez o PS tivesse ganho por pouco em 2002 (em vez de perder por pouco) e as eleições de 2009 talvez tivessem sido mais renhidas. A CDU tem bom desempenho, previsivelmente. Mas não há, até 2009, grandes sobressaltos.
Mas 2011 é, novamente, especial. Em 2009, o PS já tinha sofrido um pouco junto dos trabalhadores do Estado e em 2011 voltou a ter mau desempenho, sem surpresa, tendo em conta os primeiros PEC's, se quisermos ver as coisas assim. Mas o PSD, tendo ganho as eleições em 2011, teve igualmente uma má prestação. Pelo contrário, são os partidos mais pequenos que tiveram um desempenho eleitoral particularmente bom junto dos trabalhadores do Estado (e daqueles que com eles vivem).
Visto por outro ângulo, em 2011, os trabalhadores do Estado representam apenas 15% do eleitorado do PSD ou do PS. Parte da possível recuperação do PS estará na capacidade para reconquistar apoio junto deste contigente. A não ser que o CDS se torne o partido dominante junto dos trabalhadores do sector privado e dos pequenos comerciantes, parte da sua sobrevivência estará certamente na capacidade de manter estas pessoas, o que por estes dias deve dar umas enxaquecas tremendas para os lados do Caldas e das Necessidades. Já o PSD parece ter ganho as eleições sem ter necessitado muito deste eleitorado, o que de resto se nota bem na sua prática e discurso político. Resta saber quantos destes 27% de trabalhadores do Estado que nele votaram em 2011 estará o PSD capaz de perder. 5% 10%? 20% Mais? Se isto for mesmo assim como é aqui explicado, acho que não podemos excluir nada.
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