quinta-feira, julho 14, 2005

Autárquicas, Lisboa

Católica, 7-11 Julho, N=989, Aleatória (com ponderação sexo, idade e instrução pós-amostragem), Telefónica.

Intenção directa de voto:
Carmona Rodrigues (PSD): 24%
Manuel Maria Carrilho (PS): 22%
José Sá Fernandes (BE): 5%
Ruben de Carvalho (CDU): 4%
Maria José Nogueira Pinto (CDS): 2%
Outro: 2%
Em branco/nulo: 4%
Não vai votar: 11%
Não sabe : 18%
Não responde: 9%

Estimativa de resultados eleitorais:
Manuel Maria Carrilho (PS): 41%
Carmona Rodrigues (PSD): 36%
José Sá Fernandes (BE): 8%
Ruben de Carvalho (CDU): 6%
Maria José Nogueira Pinto (CDS): 3%
Outro: 3%
Em branco/nulo: 2%

Gera-se sempre alguma perplexidade quando os "resultados brutos" parecem dizer uma coisa e as "estimativas" (os resultados apresentados de forma comparável aos resultados de eleições) parecem dizer outra. Quando, para fins de tornar os resultados de sondagens comparáveis com os de eleições, se tratam os indecisos como abstencionistas, essa aparente contradição nunca surge. Os indecisos são proporcionalmente redistribuídos pelas opções válidas de voto e, claro, as ordens mantêm-se.

Contudo, nem sempre é essa a opção utilizada. A Marktest, por exemplo, utilizada um modelo de redistribuição de indecisos baseado em anteriores resultados eleitorais e/ou anteriores resultados de sondagens e/ou no anterior comportamento de voto dos inquiridos (confesso que nunca percebi bem, apesar das várias explicações dos responsáveis no DN). Seja como for, sucede por vezes (e sucedeu várias vezes em 2001 e 2002, gerando alguma controvérsia) que o partido mais votado nos "resultados brutos" não era o mesmo.

Nesta sondagem da Católica, isso acontece por razões mais fáceis de explicar. As sondagens da Católica que não sáo feitas em urna usam uma "squeeze question", onde àqueles que dizem "não saber" em quem votariam é pedida uma "inclinação" de voto. Porquê? Passo a palavra a outro:

"The reason for the inclusion of this second question is purely pragmatic - history has shown, and the present has continued to show, that pollsters get better results by having it than by not having it".*

Eu até acho que é algo mais do que isso: a "squeeze question" permite-nos ir um pouco mais longe na recolha de intenções de voto que os inquiridos preferem ocultar ("espiral do silêncio") ou, pelo menos, permite-nos basear a redistribuição dos indecisos não em pressuposições abstractas mas sim em algo que os próprios inquiridos indecisos nos dizem: em que partido ou candidato se sentem inclinados a votar. E o que sucedeu aqui foi que, quando se foi saber o que os indecisos tencionavam, apesar de tudo, fazer, houve uma concentração desproporcional em Manuel Maria Carrilho. Quando se juntaram as inclinações às intenções, MMC passou à frente de Carmona. Questionável, controverso, não necessariamente a melhor opção? Claro, tudo isso pode ser, já foi, e continuará a ser debatido. Mas o que me interessa é que se perceba.

Interpretações? Haveria duas principais:
1. MMC está a conseguir trazer para o seu campo eleitores não habituais do PS, que hesitam em assumir (perante si próprios e os outros) uma real intenção em votar em Carrilho.
2. MMC está a conseguir repelir para fora do seu campo eleitores habituais do PS, que adiam a decisão devido à contradição entre a sua fidelidade partidária e a opinião menos positiva que têm de Carrilho.

Há algo que torna a segunda mais plausível: para os eleitores que já formaram opinião dos candidatos, Carrilho é pior do que Carmona Rodrigues em tudo. Ainda por cima, Carmona tem a(o) suprema(o) sorte/mérito de ter estado no poder o tempo suficiente para criar uma imagem positiva e tempo insuficiente para ser responsabilizado seja pelo que for, como a comparação entre a avaliação da sua actuação e da de Santana Lopes revelam. Logo, a avaliação do trabalho da CML vai ter pouca importância nestas eleições, em desfavor de factores mais tradicionais: simpatia partidária/ideológica e imagem dos candidatos. E neste último domínio, MMC parece muito chamuscado. Isto é confirmado por uma coisa que, apesar de não vir no Público, creio poder dizer-vos sem problemas: quando se cruza a intenção de voto com a opinião sobre os candidatos, os eleitores de Carmona estão sistematicamente mais unidos em torno das maiores qualidades do seu candidato do que os eleitores de Carrilho.

Chamo ainda a atenção para três coisas:

1. Atenção que Ruben de Carvalho passa para a frente de Sá Fernandes quando se consideram apenas aqueles que dizem "ter a certeza que vão votar";
2. As mulheres, os menos instruídos e os mais jovens dizem-se mais indecisos;
3. Maria José Nogueira Pinto falava ontem da exclusão dos "idosos isolados" do "universo" da sondagem (suponho que queria dizer "amostra"). Queria só dizer que o que se passa, na realidade, é o contrário. Os eleitores a que uma sondagem com amostragem aleatória e feita por telefone tem mais dificuldade em chegar são, precisamente, os mais jovens. Por isso é que há quem use quotas (procurando assegurar à partida que a amostra não fica povoada desproporcionalmente por idosos, que estão mais tempo em casa e tendem a não substituir o telefone fixo por telemóvel) e há (como a Católica) quem pondere os resultados a que chegou de acordo com os dados do recenseamento.


* Nick Moon (1999), Opinion Polls: History, Theory, and Practice. Manchester: Manchester University Press, p. 73.

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