terça-feira, março 31, 2009

Zoom

A maior parte das perguntas que recebo por e-mail têm a ver com a comparação entre os dois gráficos anteriores e a questão da "descida" do PS. Qual é o "melhor" gráfico?

Bem, vejamos a coisa assim:

1. O gráfico que contém todas as estimativas - vamos chamar-lhe "Mr. Smoother" - faz o seu trabalhinho da seguinte forma: pega em cada observação e transforma-a numa observação "amaciada", usando para esse efeito um sub-conjunto de observações na sua vizinhança (no caso, 25% do total das observações) e dando dando mais peso àquelas que estão mais próximas. Juntando os pontos "amaciados" ficamos com uma linha cuja variabilidade é inferior à real variabilidade dos dados e que, desejavalmente, nos permite visualizar melhor tendências sem estarmos a ser confundidos por ruído aleatório.

O problema de Mr. Smoother é que é um bocadinho ingénuo: se eu lhe atirar com 50 sondagens de um instituto e uma de outro para cima, ele ignora esse facto e continua com o seu trabalhinho como se nada fosse. Mas compensa essa ingenuidade com um sólido conservadorismo: como "tempera" cada observação com informação das observações vizinhas, Mr. Smoother não se deixa enganar facilmente por flutuações irrelevantes e, para dizer que algo está a mudar, exige ser convencido e persuadido repetidamente. Só se lhe mostrar várias observações consecutivas que apontam na mesma direcção é que ele se decide a dizer que algo está a mudar. Não lhe fica mal.

2. O Dr. House Effects (PhD) é toda uma outra personalidade: chega ao fim de um mês e grita "Subiu!", "Desceu!", "Não mudou!" em comparação com o mês anterior. E diz estas coisas mesmo se eu só lhe mostrar uma sondagem para esse mês. Como é que a criatura se arrisca a dizer uma coisa destas? Bem, a diferença entre o Dr. House Effects e o Mr. Smoother é que o primeiro, quando diz qualquer coisa, olha para todas as observações desde 2005. E sabe uma coisa sobre cada uma delas que o Mr. Smoother resolve ignorar: que instituto fez cada sondagem.

Tomando essa informação em conta, o Dr. House Effects apura que, ao longo de todo o período, há institutos que tendem a dar melhores ou piores resultados para um determinado partido. E quando lhe dizem que um determinado resultado veio de um determinado instituto, o Dr. House Effects toma essa informação em conta para estimar um resultado para cada mês. Ele não diz que esse resultado é o resultado "certo". Esse assunto não o interessa. O que lhe interessa é dar resultados mensais comparáveis uns com os outros, independentemente do "mix" particular de institutos que fizeram sondagens em cada mês. Gosta de arriscar e pode-se mais facilmente espatifar, ao contrário do Sr. Smoother. Mas é menos ingénuo que o seu colega.

Como vêem nos dois posts anteriores, o Dr. House Effects anda há uns tempos a gritar: "Hey, o PS subiu bastante de Setembro para Outubro, mas a partir de Dezembro começou a descer novamente!". Mr. Smoother já tinha percebido a subida há algum tempo, mas demorava a ser convencido da descida. Mas com as últimas sondagens, começa também a achar que sim. O Dr. House Effects grita: "por que é que não olhaste para as tendências por instituto? Eu tinha-te dito!":




Mr. Smoother não quer saber e vai continuar como dantes. Antes tarde e seguro que cedo e errado.

O "zoom" mostra também que não é fácil apurar causas destas coisas. Na Marktest é limpinho: PS sobe após à crise financeira e desce após o caso Freeport. Mas os resultados das outras sondagens são compatíveis com outras hipóteses, nomeadamente a de que a descida não passa de um retomar de uma tendência anterior.

3 comentários:

Helena disse...

Caro Pedro Magalhães,

Parabéns pelas suas análises. São de fazer inveja ao pollster.com!

Entretanto, ao ler alguns comentários no seu blog, em que se atribuíam lugares aos partidos de deputados e se especulava sobre eventuais coligações coligativas fiquei com a seguinte dúvida:
Qual será o efeito das recentes alterações nos lugares de deputados atribuidos aos vários distritos nos resultados "estimados" nas últimas sondagens? Sem querer cair no exagero do caso "Bush" em 2004, em que a vitória nas presidenciais não correspondeu ao n.º de votos, nem no recente caso do Kadima em Israel, exemplos de situações cuja possibilidade de translacção para o panorama Português desconheço; no entanto, analisando os resultados da última sondagem que "Postou", fiquei a ponderar na eventualidade de, apesar do PSD e do CDS terem menos votos do que o PS, estes se traduzirem num aumento regional estratégico no n.º de deputados (note-se que a zona norte foi a mais beneficiada nestas alterações), e assim ainda se poder ressuscitar o mito da AD. É só um "suponhamos". De qualquer modo, a distribuição dos deputados parece-me cada vez mais crítica neste combate de maiorias cada vez menos absolutas. Fico com a sensação de que traduzir as percentagens em n.º deputados através de regras de 3 simples (e método de Hondt), é um erro crasso.
Por isso lanço-lhe este tema para discussão, convicta de que a sua sabedoria julgue os meus empirismos e intuições.
Gosto em lê-lo
Helena

Helena disse...

Só espero que o Sr. House não cocheie e não esteja metido no Vicodin(R)...

Unknown disse...

Por sua causa, vou mudar o post e passar a chamar-lhe Dr. House Effects. Quanto à outra questão, lá chegarei.