Para estas eleições, a Rádio Renascença, a SIC e o Expresso decidiram não solicitar à Eurosondagem a realização de uma última sondagem antes das eleições, o que julgo ser inédito. Não conheço as razões, mas vou aqui presumir - e retiro o que escreverei de seguida se me disserem que a pressuposição está errada - que isto sucede em consequência do que se passou nas Europeias. É quase inútil dizer que estão no seu pleno direito. Mas atrevo-me a dizer que foi uma péssima decisão, por duas razões:
1. O público fica mais bem servido com mais sondagens e não com menos. Mais sondagens significa que ficamos a dispor de mais resultados com maior variabilidade de métodos. Por outras palavras, descontando erro amostral, ficamos a poder apreciar melhor se diferentes resultados se devem a diferentes opções técnicas ou metodológicas ou se os resultados são independentes delas. Mais sondagens significa mais observações e, logo, menos incerteza. E mais sondagens significa ainda que um outlier -sempre possível - é mais facilmente "desdramatizado" e colocado em contexto.
2. Não fazer sondagens porque os resultados das últimas sondagens de intenções de voto nas Europeias tiveram importantes discrepâncias em relação aos resultados eleitorais é mandar uma mensagem completamente errada à opinião pública sobre o que é uma sondagem. É dizer que ela é uma previsão e que, se essa "previsão" falhar, se cometeu um erro. Pode ser que sim. Mas pode ser que não. É preciso estudar, como não me canso de dizer. E há mais. Depois das Europeias, os relatos e as explicações do "fracasso" ficaram quase exclusivamente nas mãos de políticos ou de comentadores directa ou indirectamente ao serviço de partidos políticos. Não detectei, na esmagadora maioria destes comentários, um único argumento minimamente apresentável de natureza técnica, mas apenas julgamentos sumários, insultos e injuriosas alegações de desonestidade e manipulação. Deixar parecer que este discurso absolutamente inane influenciou uma decisão sobre a condução ou não de sondagens pré-eleitorais é, pura e simplesmente, entregar o ouro aos bandidos.
Desculpem meter-me na vida dos outros e, como mencionei, retiro o que escrevi se me explicarem que as razões foram outras. Mas decisões como estas influenciam a qualidade do debate público sobre as sondagens e a qualidade da informação que é transmitida ao público.
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5 comentários:
será que a explicação é afinal tão-só económica, no sentido de que, em época de crise, algum dinheiro se poupará no grupo Impresa e na RR?
Hoje de manhã ouvi o Henrique Monteiro do Expresso no Rádio Clube a dizer que a razão de não realização de sondagem na última semana de campanha se devia precisamente aos resultados das sondagens das europeias.
E que a decisão estava tomada há meses.
Tão ou mais grave que os comentários dos politícios, são os comentários destes "fazedores de opinião", director de jornais, directores de informação de canais TV, etc., que são sempre incapazes de aprofundar qualquer tema. Mesmo que seja simples, como é o caso, de explicar a diferença entre uma "previsão" e um "estudo de opinião" (para não falar nas advertências prévias dos efeitso de uma grande abstenção, que veio a acontecer...).
Está no plena direito de um jornal não encomendar sondagens, mas está também no pleno direito o Pedro Magalhães dizer que está contra a não realização. Faltou-lhe foi dizer que o Pedro M. que a sua opinião não é isenta uma vez que parte do seu trabalho é fazer sondagens, logo o seu trabalho estaria em causa se todos os jornais decidissem parar com as mesmas. Faltou dizer isto, que a sua opinião não é independente.
Obrigado Pedro Cerqueira pela clarificação da minha posição. Podemos aguardar também um argumento substantivo sobre o assunto ou vamos ficar pela nota metodológica?
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