Neste post, apontei o facto de as sondagens anteriores às sondagens "do dia" no Reino Unido terem muito maiores discrepâncias entre si do que as seguintes. E sugeri que isso podia ter a ver com três coisas:
1. Acaso;
2. Mudança da própria realidade que estava a ser descrita, anulando efeitos da variação a nível metodológico;
3. Ajustamento "indutivo" de expectativas.
Agora, um novo elemento: segundo este site, os números brutos obtidos pelas sondagens ICM e Populus davam margens muito maiores aos Trabalhistas dos que aqueles que as sondagens acabaram por dar nas suas sondagens finais e do que aqueles que acabaram por ser os resultados reais.
Ora bem. Isto é um bocado perturbante. O que é perturbante não é o facto de os números brutos serem diferentes dos números "projectados". Todas as sondagens fazem escolhas quanto ao tratamento dos dados obtidos, escolhas que visam corrigir uma série de problemas conhecidos dos processos de amostragem e inquirição: distorções entre características da amostra e características conhecidas da população; efeitos de não-resposta e recusa; efeitos do inquérito; ocultação de real intenção de ir ou não votar ou de votar neste ou naquele partido, etc.
O que é perturbante é que os resultados obtidos de uma amostra sejam tão diferentes daqueles que depois resultam dos tratamentos. Se eles são assim tão diferentes, isto significa que as pressuposições acerca daquele que é e será o comportamento dos eleitores e a sua relação com características dos inquiridos pesam tanto ou mais nas inferências que se fazem acerca da população do que a própria amostra. E se isto é assim, para quê fazer sondagens de intenção de voto? Não será preferível fazer "forecasting" na base de resultados eleitorais anteriores e de factores de previsão (economia, popularidade de líderes)?
E se as pressuposições pesam assim tanto, não se levanta a suspeita de que a convergência entre resultados de sondagens nas últimas eleições inglesas (e já agora, as portuguesas) resulte muito menos de escolhas metodológicas do que de "um bom palpite" (mesmo que o palpite seja um palpite sobre que "contas" hei-de eu fazer para que os dados brutos se convertam "naquilo que eu espero que aconteça"?).
Não é, repito, uma questão de "honestidade", mas sim uma questão de sabermos para que servem as sondagens, o que elas realmente nos dizem e como são feitas. "Ciência" ou "voodoo"?
E notem: eu ficava muito menos preocupado se, com ou sem "voodoo", as sondagens das semanas anteriores tivessem dado coisas parecidas umas com as outras e com aqueles que vieram a ser os resultados finais. Isso passou-se, mais coisa menos coisa, em Portugal em 2005. Mas não foi assim em Inglaterra. Que espécie de informação está a ser dada aos eleitores? Como é ela obtida? Podemos confiar minimamente nela? Dúvidas.
quarta-feira, maio 11, 2005
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