sexta-feira, julho 15, 2005

"No nation could preserve its freedom in the midst of continual warfare". James Madison, burocrata bruxelense*

É por isso que não basta bater no peito e dizer que “somos todos londrinos” e na volta da esquina já estar a discutir as tenebrosas propostas do Sr. Blair para limitar direitos de privacidade das mensagens porque isso facilita a vida aos terroristas. Na volta da memória, escarnecer o Patriot Act, essa “fascização da América” como já lhe ouvi falar, atacada por tudo que é burocracia bruxelense e suas extensões nacionais, como se, sobre a dupla pressão dos autocarros que explodem, e da insegurança popular, não se tenha também que ir por aí, com a prudência e as cautelas que as democracias tem que ter por tal caminho. Já o disse e repito, a separação cada vez maior entre elites europeias e americanas nesta questão do terrorismo, vem dos segundos se acharem em guerra e os primeiros não. Será apenas uma questão de tempo, até esta ser apenas uma questão de termos, não de substância, porque, falando como um sábio da Guerra das Estrelas, “em guerra estamos”.
(...)
Acima de tudo, não compreendo porque razão um terrorismo apocalíptico, que tenta por todos os meios ter as armas mais pesadas, nucleares, químicas e bacteriológicas, para garantir o seu Armagedão sacrificial, que tem como objectivo a guerra total, ou seja a aniquilação de milhões dos seus adversários, haja os meios para isso, não tem que ser combatido com tudo o que tenho á mão: tropas, polícias, agentes de informações, à dentada diria um velho inglês da Home Guard, daqueles que esperava a invasão da sua ilha e achava que sempre podia levar um “boche” consigo. E aí o “não se limpam armas”, é de um simplicidade brutal. Ou nós ou eles.

*in "Political Observations," 20 de Abril de 1795, in Letters and Other Writings of James Madison, Volume IV, Lippincott: 1867, p. 491.

Agora é que é: até Agosto.

quinta-feira, julho 14, 2005

Férias

Até Agosto.

A opinião pública é uma coisa complicada II

Tenho de me dedicar mais ao Brasil para além da praia ( desta e desta). O Ivan - da outra - tenta ajudar-me a perceber algo de que nada sei:

As minhas apreciações sobre a política brasileira são puramente impressionistas. No entanto, quem lê os opinion-makers (de direita) daqui é levado a crer que o Lula era encarado, em finais de 2002, quando foi eleito, como uma espécie de salvador. A minha percepção, quando estive no Brasil nessa altura, foi precisamente a contrária. É certo que toda a gente falava de política, incluindo as empregadas da lanchonete, de uma maneira que não é comum cá. Mas as apreciações sobre o Lula não tinham messianismo nenhum, eram uma coisa contida, do género «vamos fazer a experiência», «já é hora de dar uma oportunidade», etc. A impressão com que fiquei - pode ser errada, evidentemente - é que o Brasil já tinha tido o Collor uma vez, e que tinha aprendido com a experiência. Se isto for verdade, pode talvez ser em parte creditado ao FHC. E o Lula pode perder a próxima eleição, mas não vai passar abruptamente de anjo a demónio. Talvez as pessoas compreendam que o poder dele não é absoluto.

Sobre o Lula, as ilusões de óptica no "primeiro mundo" parecem ser, de facto, comuns. Ver aqui e aqui, mas principalmente, e se puderem, aqui.

A opinião pública é uma coisa complicada

No Brasil, depois disto, isto.
























Vá-se lá perceber. Talvez a percentagem de "ficou como sempre esteve" ajude a compreender o que se passa.
Mais informação aqui.

O insucesso escolar de Valadares Tavares

Recomendo vivamente a leitura deste post no Canhoto. À excepção de um artigo do Nuno Crato no Público que, infelizmente, já não consigo localizar, é a primeira vez que vejo expostas com clareza as gravíssimas debilidades metodológicas do estudo de LVT. E só queria dizer que, como os meus alunos de métodos e técnicas de investigação do ICS e da Católica bem sabem, tenho usado este estudo como exemplo da chamada falácia ecológica.

Autárquicas, Lisboa

Católica, 7-11 Julho, N=989, Aleatória (com ponderação sexo, idade e instrução pós-amostragem), Telefónica.

Intenção directa de voto:
Carmona Rodrigues (PSD): 24%
Manuel Maria Carrilho (PS): 22%
José Sá Fernandes (BE): 5%
Ruben de Carvalho (CDU): 4%
Maria José Nogueira Pinto (CDS): 2%
Outro: 2%
Em branco/nulo: 4%
Não vai votar: 11%
Não sabe : 18%
Não responde: 9%

Estimativa de resultados eleitorais:
Manuel Maria Carrilho (PS): 41%
Carmona Rodrigues (PSD): 36%
José Sá Fernandes (BE): 8%
Ruben de Carvalho (CDU): 6%
Maria José Nogueira Pinto (CDS): 3%
Outro: 3%
Em branco/nulo: 2%

Gera-se sempre alguma perplexidade quando os "resultados brutos" parecem dizer uma coisa e as "estimativas" (os resultados apresentados de forma comparável aos resultados de eleições) parecem dizer outra. Quando, para fins de tornar os resultados de sondagens comparáveis com os de eleições, se tratam os indecisos como abstencionistas, essa aparente contradição nunca surge. Os indecisos são proporcionalmente redistribuídos pelas opções válidas de voto e, claro, as ordens mantêm-se.

Contudo, nem sempre é essa a opção utilizada. A Marktest, por exemplo, utilizada um modelo de redistribuição de indecisos baseado em anteriores resultados eleitorais e/ou anteriores resultados de sondagens e/ou no anterior comportamento de voto dos inquiridos (confesso que nunca percebi bem, apesar das várias explicações dos responsáveis no DN). Seja como for, sucede por vezes (e sucedeu várias vezes em 2001 e 2002, gerando alguma controvérsia) que o partido mais votado nos "resultados brutos" não era o mesmo.

Nesta sondagem da Católica, isso acontece por razões mais fáceis de explicar. As sondagens da Católica que não sáo feitas em urna usam uma "squeeze question", onde àqueles que dizem "não saber" em quem votariam é pedida uma "inclinação" de voto. Porquê? Passo a palavra a outro:

"The reason for the inclusion of this second question is purely pragmatic - history has shown, and the present has continued to show, that pollsters get better results by having it than by not having it".*

Eu até acho que é algo mais do que isso: a "squeeze question" permite-nos ir um pouco mais longe na recolha de intenções de voto que os inquiridos preferem ocultar ("espiral do silêncio") ou, pelo menos, permite-nos basear a redistribuição dos indecisos não em pressuposições abstractas mas sim em algo que os próprios inquiridos indecisos nos dizem: em que partido ou candidato se sentem inclinados a votar. E o que sucedeu aqui foi que, quando se foi saber o que os indecisos tencionavam, apesar de tudo, fazer, houve uma concentração desproporcional em Manuel Maria Carrilho. Quando se juntaram as inclinações às intenções, MMC passou à frente de Carmona. Questionável, controverso, não necessariamente a melhor opção? Claro, tudo isso pode ser, já foi, e continuará a ser debatido. Mas o que me interessa é que se perceba.

Interpretações? Haveria duas principais:
1. MMC está a conseguir trazer para o seu campo eleitores não habituais do PS, que hesitam em assumir (perante si próprios e os outros) uma real intenção em votar em Carrilho.
2. MMC está a conseguir repelir para fora do seu campo eleitores habituais do PS, que adiam a decisão devido à contradição entre a sua fidelidade partidária e a opinião menos positiva que têm de Carrilho.

Há algo que torna a segunda mais plausível: para os eleitores que já formaram opinião dos candidatos, Carrilho é pior do que Carmona Rodrigues em tudo. Ainda por cima, Carmona tem a(o) suprema(o) sorte/mérito de ter estado no poder o tempo suficiente para criar uma imagem positiva e tempo insuficiente para ser responsabilizado seja pelo que for, como a comparação entre a avaliação da sua actuação e da de Santana Lopes revelam. Logo, a avaliação do trabalho da CML vai ter pouca importância nestas eleições, em desfavor de factores mais tradicionais: simpatia partidária/ideológica e imagem dos candidatos. E neste último domínio, MMC parece muito chamuscado. Isto é confirmado por uma coisa que, apesar de não vir no Público, creio poder dizer-vos sem problemas: quando se cruza a intenção de voto com a opinião sobre os candidatos, os eleitores de Carmona estão sistematicamente mais unidos em torno das maiores qualidades do seu candidato do que os eleitores de Carrilho.

Chamo ainda a atenção para três coisas:

1. Atenção que Ruben de Carvalho passa para a frente de Sá Fernandes quando se consideram apenas aqueles que dizem "ter a certeza que vão votar";
2. As mulheres, os menos instruídos e os mais jovens dizem-se mais indecisos;
3. Maria José Nogueira Pinto falava ontem da exclusão dos "idosos isolados" do "universo" da sondagem (suponho que queria dizer "amostra"). Queria só dizer que o que se passa, na realidade, é o contrário. Os eleitores a que uma sondagem com amostragem aleatória e feita por telefone tem mais dificuldade em chegar são, precisamente, os mais jovens. Por isso é que há quem use quotas (procurando assegurar à partida que a amostra não fica povoada desproporcionalmente por idosos, que estão mais tempo em casa e tendem a não substituir o telefone fixo por telemóvel) e há (como a Católica) quem pondere os resultados a que chegou de acordo com os dados do recenseamento.


* Nick Moon (1999), Opinion Polls: History, Theory, and Practice. Manchester: Manchester University Press, p. 73.

quarta-feira, julho 13, 2005

Sem limites

Quando se pensa que nada podia ser pior, o horror recorda-nos que não tem limites.

24 CHILDREN DEAD IN IRAQ BOMB13.7.2005. 19:18:39
A car bomb in south-eastern Baghdad has killed 24 Iraqi schoolchildren and a US soldier. Hospital and US military sources said another 20 children were wounded, along with at least one US soldier. "A driver approached one of the US Humvees and then detonated his car," said Sergeant David Abrams, according to AFP. A witness said children had gathered around the Americans who were handing out sweets when the bomber drove towards them and blew himself up. A parent of one of the slain children said he heard the explosion and rushed out of his house to find his son. "I only found his bicycle," said Abu Hamed, speaking at Kindi hospital where hundreds of distraught parents were gathered. He said he had found his son in the hospital morgue. "I recognized him from his head. The rest of the body was completely burnt," he said. The blast is said to have taken place as the US patrol was passing through Baghdad's al-Jedidah district. Another witness said nearby homes were demolished in the explosion.

Homónimos

Uma visita ao Technorati obriga a que vos informe que:

Não sou este.
Nem este.
Nem ainda este (mas se calhar gostava de ser).
E muito menos este.

Política pós-moderna

O político mais popular na Alemanha, quem será? Schröder? Claro que não. Merkel, talvez? Também não. É Christian Wulff, da CDU, Presidente da Baixa Saxónia.



Uma visita ao site pessoal é particularmente informativa. De especial relevância são as secções "Philosophische Provokationen" e "Mein Tag" (o homem farta-se mesmo de trabalhar). Mas confesso que, para alguém cujos cinco anos de alemão acabaram por ser insuficientes para conseguir ler um artigo de jornal, as fotos têm um encanto especial. Digam lá se isto não ficava bem no catálogo da Banana Republic:














Sabemos também, claro, que nos países civilizados não se usa a família para ganhar votos:













De certeza que quer continuar com as fotografias a preto e branco?

Autárquicas, Porto

Segundo soube, por lapso, o Público esqueceu-se da ficha técnica. Sai amanhã. Entretanto, aqui vai:
Esta sondagem foi realizada pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica (CESOP) para a Antena 1, o Público e a RTP nos dias 4 a 6 de Julho de 2005. O universo alvo é composto pelos indivíduos com 18 ou mais anos residentes em domicílios com telefone fixo no concelho do Porto. Os números de telefone foram seleccionados aleatoriamente da lista telefónica correspondente ao concelho do Porto. Em cada domicílio, foi seleccionado o último aniversariante com 18 ou mais anos. Foram obtidos 910 inquéritos válidos e a taxa de resposta foi de 70%. 51% dos inquiridos eram do sexo feminino. Todos os resultados obtidos foram ponderados de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais anos residente no concelho do Porto por sexo, escalões etários e qualificação académica. A margem de erro máximo associado a amostra aleatória de 910 inquiridos é de 3,2%, com um nível de confiança de 95%.

Rui Rio (PSD/CDS): 55%
Francisco Assis (PS): 29%
Rui Sá (CDU): 9%
J. Teixeira Lopes: 3%
Outro: 2%
B/N: 2%

Esta estimativa partiu dos seguintes "resultados brutos":
Rui Rio (PSD/CDS): 38%
Francisco Assis (PS): 19%
Rui Sá (CDU): 6%
J. Teixeira Lopes: 2%
Outro: 1%
B/N: 3%
Não vai votar: 15%
Não sabe: 11%
Não responde: 6%

O Público, por opção editorial, não publicou uma parte da sondagem. Enquanto o CESOP não divulga os resultados em site próprio (está para muito breve...), aqui ficam eles. Tratava-se de um conjunto de perguntas sobre os "dois maiores problemas" da cidade do Porto, as duas melhores áreas de actuação da CMP e as duas piores. As perguntas eram abertas e de resposta espontânea, sendo codificadas posteriormente:

Na sua opinião, quais são os dois problemas mais importantes da cidade do Porto?
(pergunta aberta, com respostas codificadas posteriormente; resposta múltipla até dois, com soma das percentagens superior a 100%)
Edifícios degradados:26%
Criminalidade/insegurança:24%
Trânsito/estacionamento:22%
Pobreza, falta de apoio aos mais desfavorecidos:16%
Ruas/passeios/equipamentos danificados:14%
Falta de/maus transportes públicos:9%
Sujidade das ruas:9%
Falta de casas/casas caras:7%
Má qualidade do ambiente/ espaços verdes:6%
Falta de actividades culturais e de lazer: 3%
Outros problemas:23%
Ns/Nr:14%

Na sua opinião, quais são as duas coisas que a Câmara Municipal do Porto tem feito MELHOR?
(perguntas abertas, com respostas codificadas posteriormente; resposta múltipla até dois, com soma das percentagens superior a 100%)
Restauração e conservação de edifícios: 15%
Apoio aos mais desfavorecidos:11%
Transportes públicos: 11%
Conservação de equipamentos/ruas/passeios: 11%
Actividades culturais e de lazer:8%
Combate à criminalidade: 7%
Limpeza das ruas: 5%
Melhoria do trânsito/estacionamento: 5%
Ambiente/espaços verdes:4%
Habitação: 4%
Outras: 22%
Ns/Nr: 42%

Na sua opinião, quais são as duas coisas que a Câmara Municipal do Porto tem feito PIOR? (perguntas abertas, com respostas codificadas posteriormente; resposta múltipla até dois, com soma das percentagens superior a 100%)
Restauração e conservação de edifícios: 12%
Conservação de equipamentos/ruas/passeios: 11%
Melhoria do trânsito/estacionamento: 10%
Combate à criminalidade: 9%
Habitação: 7%
Apoio aos mais desfavorecidos:6%
Transportes públicos: 6%
Ambiente/espaços verdes: 5%
Limpeza das ruas: 5%
Actividades culturais e de lazer: 4%
Outras: 24%
Ns/Nr: 41%

Hoje (RTP/RDP) e amanhã (Público) é divulgada a sondagem de Lisboa. Ou muito me engano ou os resultados poderão gerar perplexidade entre algumas pessoas. Amanhã explico o melhor que puder.

Suportar o terrorismo II

UK, Yougov, 8 Julho, N=1834

Do you think that it may sometimes be necessary to restrict the civil liberties of suspected terrorists even though there is not enough usable evidence to charge and convict them, or should nobody ever have their civil liberties restricted unless they are charged with a specific offence and taken before the courts?
Sometimes necessary to restrict civil liberties:70%(58% em Fevereiro)
Nobody should have their liberty restrictedwithout being charged and taken to court: 23%
(32% em Fevereiro)
Don’t know:7% (10%)

Do you agree or disagree with the following statement? – The threat of terrorism in Britain these days is so serious that it may be necessary sometimes to take action against people who have not yet committed any offence, but about whom the intelligence services have evidence that they are planning an act of terrorism.
Agree: 81% (75% em Fevereiro)
Disagree: 11% (14% em Fevereiro)
Don’t know: 8% (10% em Fevereiro)


Itália, Ispo, Jul. 8-9, N=1600, Telefónica:
Do you think a terrorist attack could take place in Italy soon?
Yes: 82%
No:10%
Not sure:8%


EUA, Gallup, Jul. 7 to Jul. 10, N= 517, Telefónica
Do you think the war with Iraq has made the U.S. safer—or less safe—from terrorism?

Safer: 40% (44% em Maio)
Less safe:54% (39%)
No change:5% (13%)
No opinion: 1% (4%)

segunda-feira, julho 11, 2005

Darwin às voltas na tumba em Westminster

Estados Unidos, Harris Interactive, Junho17-21, N=1000, Telefónica

Do you think human beings developed from earlier species or not?
Yes, think so: 38%
No, do not think so: 54%
Not sure / Declined to answer:8%

Which of the following do you believe about how human beings came to be?
Human beings were created directly by God: 64%
Human beings evolved from earlier species: 22%
Human beings are so complex that they required apowerful force or intelligent being to help:10%
Not sure / Declined to answer:4%

sábado, julho 09, 2005

Suportar o terrorismo

Após o atentado de Londres, a punditry nacional e internacional regressa ao tema da "democratização" do Médio Oriente. Contudo, Vasco Pulido Valente coloca também a questão contrária: sobreviverá a democracia ocidental ao terrorismo?

"Os sinais não prometem. Na América, há hoje, como em tempo de guerra, leis de excepção e Guantánamo não deixou de existir. Em Inglaterra, a Câmara dos Lordes recusou recentemente a Blair algumas medidas drásticas de segurança, como o direito de fixar residência e passar buscas por ordem policial. (...) Resta saber se não chegou ainda o ponto de ruptura: se alguma vez chegar, e esperamos que não. Em teoria, no entanto, nada impede que chegue e ninguém sabe qual seria a reacção da Espanha, da França, da Inglaterra ou da América a um desastre igual ao 11 de Setembro. Pensar que somos 'civilizados' demais para voltar aos crimes do passado é uma ilusão que partilhamos com os criminosos do passado" (Público, 9 Julho 2005, sem link).

Na blogosfera, o assunto tem merecido a atenção de um dos blogues que leio regularmente, o Insurgente. Contudo, FCG - que certamente pensará que o Prevention of Terrorism Act foi inventado em 2005 - discute os riscos das restrições arbitrárias aos direitos cívicos como eles fossem, pasme-se, um resultado da "fúria reguladora do New Labour". Por vezes, o contorcionismo intelectual necessário para mantêr a aparência de alguma coerência ideológica é suficiente para partirmos o pescoço. Já LA aponta outras e mais diversificadas "fúrias reguladoras". Mas ambos parecem partir do princípio não explicitado que essas fúrias se fazem contra a vontade dos cidadãos, os "corajosos" e "fleumáticos" britânicos. Pois atenção ao seguinte:

ICM Research, 23-24 Abril 2004, N=510, Telefónica.
Here are some things people have suggested should be done to counter the risks of terrorism. Others oppose them as they say they would endanger the rights of everyone. Bearing these two things in mind, for each one please say whether you would suppose or oppose the measure to counter terrorism?
Indefinite detention of foreign terrorist suspects. Support: 62%.
Police powers to stop and search anyone at any time. Support:69%.
Detain all immigrants and asylum seekers until they can be assessed as potential terror threats. Support: 66%

Yougov, 24-25 Fevereiro 2005, N=1970.
Do you agree or disagree with the following statements?
It may be necessary sometimes to take action against people who have not yet committed any offence, but about whom the intelligence services have evidence that they are planning an act of terrorism. Agree: 75%

It is sometimes necessary to restrict the civil liberties of suspected terrorists even though there is not enough usable evidence to charge and convict them. Agree: 58%

E ainda na sondagem Yougov:
If a situation arose in which the Government HAD to choose between taking steps to prevent a terrorist act and defending civil liberties, which should the Government do?
Protect national security 61%
Defend civil liberties: 28%

E como não, se a questão for colocada nesses termos? Quem é capaz de colocar manutenção dos "direitos cívicos" antes da sua vida e a dos seus? Na verdade, apesar de muitos lamentarem a "fraqueza" das democracias ocidentais, acomodadas à prosperidade e à segurança e impreparadas para lidar com o terrorismo, essa "fraqueza" tem sido a sua força: é precisamente devido ao facto de uma grande parte dos seus eleitorados ter sido socializada no contexto de relativa paz e prosperidade que a segurança física e material foi relegada para segundo plano em favor de outras preocupações mais "imateriais", tais como os "direitos" e a "democracia". E, mais importante, é também isso que tem permitido a emergência de eleitorados cada vez mais instruídos e sofisticados, que aprenderam a desconfiar de governos que lhes dizem que têm de escolher entre a prevenção do terrorismo e a defesa dos direitos cívicos.

Mas por quanto tempo durará esta resistência, numa "guerra sem fim"? Dois terços dos americanos, por exemplo, parecem já ter capitulado:

Gallup, Jun. 24-26, N=1006, Telefónica.
Based on what you have read or heard, do you think the Patriot Act goes too far, is about right, or does not go far enough in restricting people’s civil liberties in order to fight terrorism?
Too far: 30%
About right: 41%
Not far enough: 21%
No opinion: 8%

sexta-feira, julho 08, 2005

Lula em queda



Dois anos depois

ICM Research, 5-6 Fevereiro 2003, N=1003, Telefónica.

Do you think Britain's support for America's war against terror makes it more or less likely that Britain will be a target for terrorists?
More likely:87%
Less likely:5%
Don't know: 9%

How likely do you think it is that there will be a major terrorist attack in Britain over the next year or so?
Certain: 7%
Very likely: 31%
Fairly likely:42%
Not very likely:10%
Very unlikely:4%
Don't know:5%

quinta-feira, julho 07, 2005

Mais Alemanha, sem novidades

TNS Enmid, 23-30 Junho, N=3236
CDU-CSU:44%
SPD: 26%
PDS/WASG: 11%
Grüne: 9%
FDP: 7%

Forsa, 27 Junho-1 Julho
CDU-CSU:47%
SPD: 26%
PDS/WASG: 10%
Grüne: 7%
FDP: 6%

TNS Enmid, 27 Junho-4 Julho, N=2555
CDU-CSU:43%
SPD: 27%
PDS/WASG: 11%
Grüne: 8%
FDP: 7%

Estou com dificuldade em recolher detalhes metodológicos das minhas fontes, mas espero que a coisa melhore.

E também sei que, com o que aconteceu hoje em Londres, nada disto interessa seja a quem for. Mas fica arquivado. Depois voltaremos ao assunto.

Alemanha, 28-29 Junho

Infratest-Dimap, N=1000, Telefónica.

What party would you support in Germany’s next federal election?
CDU-CSU: 44%
SPD: 27%
PDS/WASG: 10%
Grüne: 8%
FDP: 7%

quarta-feira, julho 06, 2005

Autárquicas, Coimbra

IPAM, N=400, Telefónica, sem data de trabalho de campo online

Carlos Encarnação (PSD/CDS-PP/PPM): 38,3%
Vitor Baptista (PS): 13%
José Manuel Pureza (BE): 5,1%
Gouveia Monteiro (CDU): 4,6%
Outros: 1,8%
Indecisos: 27%
Não responde: 10,2%

Não vão votar: 32,5% em relação ao total da amostra
Não sabem se vão votar: 18,5% em relação ao total da amostra

Após redistribuição de indecisos (feita pelo IPAM "de acordo com a matriz de transferência/fidelização de voto tendo em conta as autárquicas de 2001"):
Carlos Encarnação (PSD/CDS-PP/PPM): 61%
Vitor Baptista (PS): 22%
Gouveia Monteiro (CDU): 11%
José Manuel Pureza (BE): 5%

Fonte: Diário de Coimbra, enviado por amável leitor.

A encarar com as cautelas necessárias ditadas pela distância temporal em relação ao acto eleitoral e a dimensão reduzida da amostra. Há também - pelo menos na versão online da notícia a que acedi - uma certa falta de clareza no processo de redistribuição de indecisos, se bem que seja sempre difícil explicar como se fazem estas coisas. Mas por isso mesmo, haveria que explicar, por exemplo, como é que o BE tem 5,1% em intenção directa de voto e fica só com 5% após a redistribuição de indecisos.

Provavelmente, o voto em eleições passadas está aqui a pesar muito nesta redistribuição. Mas se assim é, importa pensar no seguinte. O BE teve, como se diz na notícia, 1,8% nas últimas autárquicas em Coimbra. Mas teve 3,7% no concelho de Coimbra nas legislativas de 2002. E 8,8% no concelho de Coimbra nas legislativas de 2005...

terça-feira, julho 05, 2005

Mais sondagens sobre o SCOTUS

Mais informação favorável ao Partido Republicano e aos interesses mais conservadores: a maioria dos americanos não quer "filibustering" por parte da minoria e quer que a Constituição seja interpretada "tal como escrita" (expressão-código que significa uma interpretação "originalista" a la Scalia, ou seja, em oposição ao "broad constructionism" que permitiu a expansão das liberdades cívicas). Sei que estou a simplificar mas, para um eleitor normal, é isto que "exactly as it was written" significa hoje em dia.

SurveyUSA, 1 Julho, N=1200, Telefónica

President Bush’s nominee to replace Sandra Day O’Connor must be approved by the United States Senate. If a minority of senators oppose the nominee, but do not have enough votes to defeat the nominee, do you think it is acceptable or unacceptable for those senators to use a filibuster to prevent the nominee from coming to a vote?
Acceptable: 32%
Unacceptable: 53%
Not sure: 15%

Which of the following two statements do you more agree with: The U.S. Supreme Court should interpret the Constitution exactly as it was written; or The U.S. Supreme court should interpret the Constitution in light of modern circumstances.
Exactly as it was written: 53%
In light of modern circumstances: 44%
Not sure: 3%

segunda-feira, julho 04, 2005

A saída de O'Connor (actualizado)

Sandra Day O'Connor vai sair do Supremo Tribunal americano. "Moderate conservative", é como é descrita pela imprensa. As análises de comportamento judicial confirmam: O'Connor votou contra precedentes ditos "liberais" 70% das vezes, enquanto só o fez para precedentes "conservadores" em 30% das vezes.* Contudo, num tribunal maioritariamente conservador (muito mais conservador do que nos tempos de Fortas, Warren, Brennan ou Marshall), O'Connor até faz figura de liberal, tendo à sua esquerda apenas juízes como Breyer ou Ginsburg. Os últimos, aliás, foram ambos nomeados por Clinton. O resto são nomeações de presidentes Republicanos.

Será talvez um exagero dizer-se que "the Senate debates may prove more divisive than those over Judge Robert Bork, a conservative rejected by the Senate in 1987, and Justice Clarence Thomas, who became the Supreme Court's most conservative judge after winning narrow Senate confirmation in 1991". É difícil imaginar algo, à excepção de uma guerra civil, que possa ser "more divisive" que as nomeações de Bork e Thomas.

Mas não vai ser bonito. Para já, a coisa não parece muito favorável aos Democratas:

1. Bush não concorre a novas eleições, logo, sente-se menos constrangido;

2. Do ponto de vista do conteúdo das políticas públicas, os Democratas têm muito a perder com a entrada de alguém hostil à affirmative action ou ao aborto;

3. Os Republicanos poderiam ter muito a perder do ponto de vista eleitoral, ao apresentarem-se como excessivamente conservadores. Mas o que se passa é que:

In general, is the United States Supreme Court in-step with your beliefs, out-of-step with your beliefs, do you not know enough about the court to have an opinion?
In step: 27%
Out of step : 53%
Don’t know: 20%

Survey USA, Julho 1, N=1200, Telefónica

E agora perguntamo-nos : out of step em que sentido? Neste:

Suppose one of the U.S. Supreme Court justices retires at the end of this term. Would you like to see President Bush nominate a new justice who would make the Supreme Court more liberal than it currently is, more conservative than it currently is or who would keep the Court as it is now?

More Liberal: 30%
More Conservative: 41%
Keep As It Is Now: 24%
Unsure: 5%


Gallup, Junho 16-19, N=1006.

Mais conservador? Com certeza, arranja-se já.

P.S.- Sobre o mesmo tema, ver os posts do Causa Nossa e do Insurgente (mas o que quer dizer AAA com "o sinal correcto")?

*Jeffrey A. Segal e Harold J. Spaeth, The Supreme Court and the Attitudinal Model Revisited. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2002.

sábado, julho 02, 2005

Zapatero sabe o que faz

Opina, 29 Jun, N=1000, Telefónica

Apoia ou rejeita a decisão do governo em legalizar o casamento de pessoas do mesmo sexo?
Apoia: 63%
Rejeita: 30%
Ns/Nr:6%

sexta-feira, julho 01, 2005

Exterminado implacavelmente?

Field, 13-19 Junho, N=711, votantes recenseados da Califórnia, telefónica

Suppose that governor Arnold Schwarzenegger runs for re-election next year. As things stand now, are you inclined to vote to re-elect Schwarzenegger as governor?

Inclined: 36%
Not inclined: 57%

É melhor esperarem sentados

Knowledge Networks / Program on International Policy Attitudes, Junho 22-26, N=812

As you may know, at the G-8 summit there will be discussion of the idea of all the wealthy countries committing at least seven tenths of one percent of their gross domestic product to reducing poverty and disease, and promoting economic development in poor countries, especially in Africa. If the other wealthy countries are willing to make this commitment, do you think the U.S. should or should not be willing to make such a commitment?

Should: 65%
Should not: 29%
No answer: 6%

Contudo...

Zogby America Poll. June 27-29, 2005. N=905 likely voters nationwide. MoE ± 3.3 (for all likely voters).

"Do you agree or disagree that if President Bush did not tell the truth about his reasons for going to war with Iraq, Congress should consider holding him accountable through impeachment?"
Agree: 42%
Disagree: 50%
Unsure: 8%

Mas nós gostamos dele na mesma...

Zogby America Poll. June 27-29, 2005. N=905 likely voters nationwide. MoE ± 3.3.

Overall, how would you rate President Bush's performance on the job . . . ?"
Excellent/Good: 43%
Fair/Poor: 56%
Unsure:1%

"Is your overall opinion of George W. Bush very favorable, somewhat favorable, somewhat unfavorable, or very unfavorable, or you are not familiar enough to form an opinion?"
Favorable: 50%
Unfavororable: 48%
NotFamiliar/Unsure: 1%

Fonte: Polling Report

Voltamos ao mesmo

Correio da Manhã, 26-6-05

Ainda ontem, o semanário ‘Expresso’ publicava uma sondagem onde o candidato apoiado pelo PSD, Carmona Rodrigues, ganhava a autarquia com uma margem folgada – 41 por cento, contra 33 por cento de Carrilho.Confrontado com os números, o candidato socialista contrapôs com as conclusões de uma outra sondagem, esta encomendada pelo PS e realizada pela Metris, que lhe dava a vitória.“Hoje [sexta-feira] recebi os resultados de uma outra sondagem, feita em urna – não como esta que é telefónica – com a proporcionalidade das freguesias, dos estratos sociais e profissionais, e que me dá 39, a Carmona Rodrigues 33, ao Partido Comunista 12, ao Bloco 9 e ao PP 5”, especificou.

Se bem que neste caso, ao contrário de aqui, é altamente provável que a sondagem exista. Mas o problema não é esse...É este.

Há aqui alguém que anda seriamente enganado...

Marktest, 18-19 Maio, N=811, Telefónica, Quotas
Referendo à Constituição Europeia
Sim: 54,5%
Não: 7,3%
Ns/Nr: 38,2%

Eurosondagem, 6-8 Junho, N=1057, Presencial (urna), Estratificada Aleatória
Referendo à Constituição Europeia
Sim: 50,8%
Não: 49,2%

Marktest, 14-17 Junho, N=800, Telefónica, Quotas
Referendo à Constituição Europeia
Sim: 36,6%
Não: 22,8%
Ns/Nr: 40,6%

Católica, 18-20 Junho, N=1354, Presencial, Estratificada Aleatória
Referendo à Constituição Europeia
Sim: 43%
Não: 25%
Ns/Nr:33%