terça-feira, outubro 31, 2006
segunda-feira, outubro 30, 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Queda de Sócrates 2
Como interpretar?
1. Em primeiro lugar, uma sondagem é uma sondagem. Há mil e uma razões para que esta sondagem em concreto possa não estar a captar mudanças reais.
2. Mesmo que estejamos perante uma mudança real (e saberemos melhor se assim é com futuros resultados), a verdade é que o que era anormal era a elevada popularidade de Sócrates desde as autárquicas. Os ciclos políticos não costumam ser assim.*
3. Dito isto, a confirmar-se, uma descida é uma descida, e parece grande. A que se deverá? Não há nenhuma mudança fundamental no "pano de fundo" de "médio-prazo" que costuma afectar estas coisas, ou seja, a situação económica. De resto, mesmo que houvesse, ela costuma ter um efeito diferido nas atitudes dos eleitores, que demoram algum tempo a interiorizar essas mudanças. E mesmo que tivesse efeito imediato, teria sido para cima, e não para baixo.
4. Pelo que a coisa deve estar ligada a factores de muito curto prazo. Não se pode ter a certeza, claro, mas parece-me que o "fim da crise" decretado pelo Ministro da Economia (e logo retirado) e a questão da electricidade não podem ser irrelevantes. Primeiro, tiveram muito maior amplificação mediática do que anteriores episódios que alguns anunciaram ditar o "fim do estado de graça" (o que nunca aconteceu, até agora). Segundo, porque aquilo que os torna importantes é o facto de eles entrarem em contradição directa com o princípio genérico que visa legitimar a actuação do governo desde o início: a "resolução" da crise pelo ataque aos "privilégios" e aos "privilegiados" e a noção de que os sacrifícios serão distribuídos de forma equitativa ou mesmo progressiva. Sem crise, então para que servem os sacrifícios? E são os consumidores (os eleitores em geral) que têm a culpa dos aumentos da electricidade? Não tenho informação nem competência para avaliar a actuação do Ministério da Economia e da Inovação em todas as suas dimensões. Mas do ponto de vista político e comunicacional, é um tumor maligno.
5. Gostava muito de saber em que estratos sociais é que a descida de Sócrates na sondagem da Markest foi mais acentuada. Era capaz de apostar que foi nos mais baixos.
6. Também me cheira (só isso) que os meios de comunicação social começam a ficar menos dóceis com o governo. Não faço ideia se os noticiários da RTP são "governamentalizados" - há anos não vejo televisão a essas horas - e não me parece sensato, com todo o respeito (a sério), usar o Abrupto como fonte de análise imparcial sobre o tema. Mas o que a multiplicação de críticas à RTP quer provavelmente dizer é que, pelo menos, o contraste entre a cobertura da RTP e dos restantes meios de comunicação começa a tornar-se evidente.
7. E atenção, que vem aí a saúde, tema "popular" por excelência. Se a coisa correr como no caso da electricidade - em que a explicação cabal do "porquê" dos aumentos chegou depois do anúncio dos próprios - é melhor Sócrates apertar o cinto de segurança. Correia de Campos é já, na sondagem da Marktest, o ministro cuja popularidade mais desceu em Outubro.
*A propósito disto, uma nota. Numa conferência recente em que apresentei um estudo sobre o comportamento eleitoral nas presidenciais, um dos membros do público chamou a atenção para um factor muito importante: as eleições locais. O PS foi severamente castigado nas autárquicas, o que pode ter "descomprimido o ambiente" para o período seguinte, levando à recuperação da popularidade de Sócrates (que temos mostrado neste blogue e é visível no post anterior) e, de resto, ao facto de, quando analisamos dados individuais sobre decisão de voto nas presidenciais, a avaliação do governo não ter tido qualquer impacto. A hipótese é muito interessante.
1. Em primeiro lugar, uma sondagem é uma sondagem. Há mil e uma razões para que esta sondagem em concreto possa não estar a captar mudanças reais.
2. Mesmo que estejamos perante uma mudança real (e saberemos melhor se assim é com futuros resultados), a verdade é que o que era anormal era a elevada popularidade de Sócrates desde as autárquicas. Os ciclos políticos não costumam ser assim.*
3. Dito isto, a confirmar-se, uma descida é uma descida, e parece grande. A que se deverá? Não há nenhuma mudança fundamental no "pano de fundo" de "médio-prazo" que costuma afectar estas coisas, ou seja, a situação económica. De resto, mesmo que houvesse, ela costuma ter um efeito diferido nas atitudes dos eleitores, que demoram algum tempo a interiorizar essas mudanças. E mesmo que tivesse efeito imediato, teria sido para cima, e não para baixo.
4. Pelo que a coisa deve estar ligada a factores de muito curto prazo. Não se pode ter a certeza, claro, mas parece-me que o "fim da crise" decretado pelo Ministro da Economia (e logo retirado) e a questão da electricidade não podem ser irrelevantes. Primeiro, tiveram muito maior amplificação mediática do que anteriores episódios que alguns anunciaram ditar o "fim do estado de graça" (o que nunca aconteceu, até agora). Segundo, porque aquilo que os torna importantes é o facto de eles entrarem em contradição directa com o princípio genérico que visa legitimar a actuação do governo desde o início: a "resolução" da crise pelo ataque aos "privilégios" e aos "privilegiados" e a noção de que os sacrifícios serão distribuídos de forma equitativa ou mesmo progressiva. Sem crise, então para que servem os sacrifícios? E são os consumidores (os eleitores em geral) que têm a culpa dos aumentos da electricidade? Não tenho informação nem competência para avaliar a actuação do Ministério da Economia e da Inovação em todas as suas dimensões. Mas do ponto de vista político e comunicacional, é um tumor maligno.
5. Gostava muito de saber em que estratos sociais é que a descida de Sócrates na sondagem da Markest foi mais acentuada. Era capaz de apostar que foi nos mais baixos.
6. Também me cheira (só isso) que os meios de comunicação social começam a ficar menos dóceis com o governo. Não faço ideia se os noticiários da RTP são "governamentalizados" - há anos não vejo televisão a essas horas - e não me parece sensato, com todo o respeito (a sério), usar o Abrupto como fonte de análise imparcial sobre o tema. Mas o que a multiplicação de críticas à RTP quer provavelmente dizer é que, pelo menos, o contraste entre a cobertura da RTP e dos restantes meios de comunicação começa a tornar-se evidente.
7. E atenção, que vem aí a saúde, tema "popular" por excelência. Se a coisa correr como no caso da electricidade - em que a explicação cabal do "porquê" dos aumentos chegou depois do anúncio dos próprios - é melhor Sócrates apertar o cinto de segurança. Correia de Campos é já, na sondagem da Marktest, o ministro cuja popularidade mais desceu em Outubro.
*A propósito disto, uma nota. Numa conferência recente em que apresentei um estudo sobre o comportamento eleitoral nas presidenciais, um dos membros do público chamou a atenção para um factor muito importante: as eleições locais. O PS foi severamente castigado nas autárquicas, o que pode ter "descomprimido o ambiente" para o período seguinte, levando à recuperação da popularidade de Sócrates (que temos mostrado neste blogue e é visível no post anterior) e, de resto, ao facto de, quando analisamos dados individuais sobre decisão de voto nas presidenciais, a avaliação do governo não ter tido qualquer impacto. A hipótese é muito interessante.
Queda de Sócrates
Tal como medida na última sondagem Marktest/DN/TSF (.pdf). Haveria várias maneiras de a mostrar, mas opto aqui por mostrar a evolução do saldo entre opiniões positivas e negativas. Marques Mendes também paga a factura do que parece ser um aumento geral da insatisfação política, mas menos.
Professor Karamba
Mais uma sondagem sobre o referendo
Uma sondagem feita pela Intercampus e divulgada ontem pela TVI, a juntar às três mais recentes:
Muito intrigante. É preciso deixar assentar a poeira.
Muito intrigante. É preciso deixar assentar a poeira.
quarta-feira, outubro 25, 2006
E para não pensarem que não aceito críticas
Acho que a Lâmpada Mágica tem razão em relação a uma das perguntas sobre a eutanásia.
terça-feira, outubro 24, 2006
Já podia ter dito
O Renas e Veados faz alguns comentários adicionais:
No entanto continua sem responder àquela que me parece ser a principal, porquê é que a questão do casamento foi a única nesta sondagem a merecer mais hipóteses de resposta que o "sim ou não" de todas as outras?
É simples: se a questão fosse colocada apenas em termos de uma dicotomia "a favor" ou "contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo", todas as pessoas que consideram que pessoas do mesmo sexo devem poder formar uniões com os mesmos ou alguns direitos de um casamento, mas discordam que o instituto legal se chame "casamento", não saberiam como responder. Provavelmente uns responderiam "contra", outros responderiam "a favor" e muitos refugiar-se-iam na não-resposta.
Se estivessemos perante um referendo em que as coisas fossem colocadas nesses termos, ou uma medida política sobre a qual se quisesse conhecer aprovação ou reprovação (como aqui), então era precisamente isso que se quereria saber. Mas como não é o caso, dar várias hipóteses plausíveis de resposta permitiu obter mais nuances de opinião, em vez de se sobrestimar o grau de polarização social sobre o tema. Foi só isto. E é isto, aliás, que se faz na maior parte das sondagens sobre este tema concreto quando não está em causa um referendo ou uma medida política concreta (ver aqui muitos exemplos): fornecer mais hipóteses do que mera dicotomia a favor/contra o casamento, para poder captar variância nos resultados. Procurei apenas seguir o que me pareceu boa prática.
E veja como poder fazer uma enorme diferença fornecer várias alternativas, seja em diferentes perguntas ou como diferentes opções de resposta a uma mesma pergunta: a maioria dos americanos é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo; a maioria dos americanos é favor de uniões que dêem muitos dos mesmos direitos. Voilá. Se a coisa ficasse só em "Sim"/Não" ao casamento, ficaríamos a saber menos do que aquilo que sabemos agora.
Quanto aos temas onde a Universidade Católica é suposta fazer ou não estudos, e distorções e assuntos semelhantes, já debati isso aqui e já me chega.
No entanto continua sem responder àquela que me parece ser a principal, porquê é que a questão do casamento foi a única nesta sondagem a merecer mais hipóteses de resposta que o "sim ou não" de todas as outras?
É simples: se a questão fosse colocada apenas em termos de uma dicotomia "a favor" ou "contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo", todas as pessoas que consideram que pessoas do mesmo sexo devem poder formar uniões com os mesmos ou alguns direitos de um casamento, mas discordam que o instituto legal se chame "casamento", não saberiam como responder. Provavelmente uns responderiam "contra", outros responderiam "a favor" e muitos refugiar-se-iam na não-resposta.
Se estivessemos perante um referendo em que as coisas fossem colocadas nesses termos, ou uma medida política sobre a qual se quisesse conhecer aprovação ou reprovação (como aqui), então era precisamente isso que se quereria saber. Mas como não é o caso, dar várias hipóteses plausíveis de resposta permitiu obter mais nuances de opinião, em vez de se sobrestimar o grau de polarização social sobre o tema. Foi só isto. E é isto, aliás, que se faz na maior parte das sondagens sobre este tema concreto quando não está em causa um referendo ou uma medida política concreta (ver aqui muitos exemplos): fornecer mais hipóteses do que mera dicotomia a favor/contra o casamento, para poder captar variância nos resultados. Procurei apenas seguir o que me pareceu boa prática.
E veja como poder fazer uma enorme diferença fornecer várias alternativas, seja em diferentes perguntas ou como diferentes opções de resposta a uma mesma pergunta: a maioria dos americanos é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo; a maioria dos americanos é favor de uniões que dêem muitos dos mesmos direitos. Voilá. Se a coisa ficasse só em "Sim"/Não" ao casamento, ficaríamos a saber menos do que aquilo que sabemos agora.
Quanto aos temas onde a Universidade Católica é suposta fazer ou não estudos, e distorções e assuntos semelhantes, já debati isso aqui e já me chega.
Brasil, 2º turno
segunda-feira, outubro 23, 2006
A sondagem da Católica
Tenho lido na blogosfera alguns comentários aos resultados da sondagem da Católica. Antes de mais, acedo à sugestão do João Gonçalves, mas por intermédio de outrem: se quiserem ver a melhor apresentação dos resultados desta sondagem, farão melhor em ir aqui, onde o Jorge Camões arranjou uma maneira de os transformar em "beautiful evidence". Os dados estão apresentados de forma a facilitar muitíssimo a sua compreensão. Este link vai já para os meus favoritos.
A apresentação mais imaginativa dos dados permite inclusivamente de deles possam emergir mais facilmente explicações para os padrões encontrados. Para o Jorge Camões, eles mostram:
"Que temas associados a minorias visíveis são aqueles que têm maior percentagem de rejeição. Que a eutanásia a pedido da família e a pena de morte estão estranhamente próximas. Que há um grupo de temas (quotas na política, células estaminais, sacerdócio, prostituição), todos curiosamente mais próximas do universo feminino, com níveis elevados de desconhecimento ou indiferença que se traduzem na incapacidade de opinar. Que a educação sexual nas escolas é o único tema consensual."
O que, aliás, não será muito diferente disto, se bem entendo:
"Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua."
Li também, no blogue de Miguel Vale de Almeida, meu antigo professor no ISCTE - de resto, um dos melhores - alguns comentários à sondagem. MVA critica o facto de nela se incluirem, ao mesmo tempo, perguntas sobre os direitos dos homossexuais e sobre outros temas:
"Colocar a igualdade de direitos no mesmo plano que o consumo das drogas ou o sacerdócio feminino numa confissão religiosa é mais do que enviesamento: é partilhar da premissa (e oferecê-la aos inquiridos) de que há um problema moral (para não dizer pior) com a homossexualidade. E se a pergunta tivesse sido a única da sondagem? Ou junto com outras perguntas relacionadas com a igualdade perante a lei?"
Eu percebo o argumento. Não excluo que a convivência destas várias perguntas num mesmo inquérito influencie as respostas e também preferia fazer uma sondagem para cada tema.
Mas dito isto, acho que Miguel Vale de Almeida está a ser "disingenous". Primeiro, ele sabe perfeitamente que há um traço comum a todas estas perguntas: o modo, limites e natureza da regulação dos comportamentos individuais por parte do Estado. Têm a ver com políticas de regulação, e não políticas extractivas e redistributivas, onde o que está em jogo são interesses específicos e recursos materiais. E no caso do sacerdócio feminino, tem a ver com a regulação dos comportamentos imposta pelo agente social que, antes do Estado ter assumido o monopólio legal, exercia essa função: a Igreja. É isso que une todas estas perguntas, e não outra coisa qualquer.
Para além disso, se se levasse a de MVA avante, então tínhamos de deitar fora o General Social Survey, o British Social Attitudes Survey, o European Values Study ou o World Values Survey, todos eles estudos onde, num mesmo questionário, são colocadas estas e outros perguntas sobre estes e outros temas. Foi destes questionários, aliás, que muitas das perguntas colocadas na sondagem da Católica foram textualmente retiradas. E já agora: donde vem a insólita ideia de MVA - insólita especialmente para um cientista social e, muito especialmente, um antropólogo - de que a questão da igualdade de direitos cívicos e políticos não tem a ver com valores?
Depois há a sugestão - "São Dagem" - retomada aqui, de que os resultados foram o que foram porque a sondagem foi feita pela Universidade Católica. Será isso? Mas então por que razão a sondagem haveria de dar resultados claramente desfavoráveis, nuns casos, em relação às posições defendidas na doutrina oficial da igreja, e favoráveis noutros? Embirração especial com os homossexuais?
A verdade é outra. Releio agora os resultados de um inquérito realizado em 1998 em parceria pelo ICS e pelo ISCTE, a instituição onde MVA trabalha, no âmbito do International Social Survey Programme. Questionados sobre as relações sexuais entre adultos do mesmo sexo (e, note-se, nem sequer se está a falar em "direitos"), 73% dizem que a sua mera existência "é sempre errada". MVA pode não gostar de viver num país onde as pessoas respondem desta maneira a estas perguntas. Agora, se o quiser mudar, fazer de conta que o país não é o que é, ou que tudo não passa de uma mera construção da Universidade Católica, não me parece bom ponto de partida.
A apresentação mais imaginativa dos dados permite inclusivamente de deles possam emergir mais facilmente explicações para os padrões encontrados. Para o Jorge Camões, eles mostram:
"Que temas associados a minorias visíveis são aqueles que têm maior percentagem de rejeição. Que a eutanásia a pedido da família e a pena de morte estão estranhamente próximas. Que há um grupo de temas (quotas na política, células estaminais, sacerdócio, prostituição), todos curiosamente mais próximas do universo feminino, com níveis elevados de desconhecimento ou indiferença que se traduzem na incapacidade de opinar. Que a educação sexual nas escolas é o único tema consensual."
O que, aliás, não será muito diferente disto, se bem entendo:
"Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua."
Li também, no blogue de Miguel Vale de Almeida, meu antigo professor no ISCTE - de resto, um dos melhores - alguns comentários à sondagem. MVA critica o facto de nela se incluirem, ao mesmo tempo, perguntas sobre os direitos dos homossexuais e sobre outros temas:
"Colocar a igualdade de direitos no mesmo plano que o consumo das drogas ou o sacerdócio feminino numa confissão religiosa é mais do que enviesamento: é partilhar da premissa (e oferecê-la aos inquiridos) de que há um problema moral (para não dizer pior) com a homossexualidade. E se a pergunta tivesse sido a única da sondagem? Ou junto com outras perguntas relacionadas com a igualdade perante a lei?"
Eu percebo o argumento. Não excluo que a convivência destas várias perguntas num mesmo inquérito influencie as respostas e também preferia fazer uma sondagem para cada tema.
Mas dito isto, acho que Miguel Vale de Almeida está a ser "disingenous". Primeiro, ele sabe perfeitamente que há um traço comum a todas estas perguntas: o modo, limites e natureza da regulação dos comportamentos individuais por parte do Estado. Têm a ver com políticas de regulação, e não políticas extractivas e redistributivas, onde o que está em jogo são interesses específicos e recursos materiais. E no caso do sacerdócio feminino, tem a ver com a regulação dos comportamentos imposta pelo agente social que, antes do Estado ter assumido o monopólio legal, exercia essa função: a Igreja. É isso que une todas estas perguntas, e não outra coisa qualquer.
Para além disso, se se levasse a de MVA avante, então tínhamos de deitar fora o General Social Survey, o British Social Attitudes Survey, o European Values Study ou o World Values Survey, todos eles estudos onde, num mesmo questionário, são colocadas estas e outros perguntas sobre estes e outros temas. Foi destes questionários, aliás, que muitas das perguntas colocadas na sondagem da Católica foram textualmente retiradas. E já agora: donde vem a insólita ideia de MVA - insólita especialmente para um cientista social e, muito especialmente, um antropólogo - de que a questão da igualdade de direitos cívicos e políticos não tem a ver com valores?
Depois há a sugestão - "São Dagem" - retomada aqui, de que os resultados foram o que foram porque a sondagem foi feita pela Universidade Católica. Será isso? Mas então por que razão a sondagem haveria de dar resultados claramente desfavoráveis, nuns casos, em relação às posições defendidas na doutrina oficial da igreja, e favoráveis noutros? Embirração especial com os homossexuais?
A verdade é outra. Releio agora os resultados de um inquérito realizado em 1998 em parceria pelo ICS e pelo ISCTE, a instituição onde MVA trabalha, no âmbito do International Social Survey Programme. Questionados sobre as relações sexuais entre adultos do mesmo sexo (e, note-se, nem sequer se está a falar em "direitos"), 73% dizem que a sua mera existência "é sempre errada". MVA pode não gostar de viver num país onde as pessoas respondem desta maneira a estas perguntas. Agora, se o quiser mudar, fazer de conta que o país não é o que é, ou que tudo não passa de uma mera construção da Universidade Católica, não me parece bom ponto de partida.
Sondagens sobre despenalização do aborto
Em poucos dias, três sondagens sobre o tema. Resultados:
1. Aximage, Correio da Manhã, 2-4 Outubro 2006, Quotas, Telefónica, N=550:
"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 47,9%
Não: 39,9%
Sem opinião: 12,2%
2. Católica, Público, 14-15 Outubro 2006, Aleatória, Presencial, N=1282:
"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 53%
Não: 21%
Não tenciona votar: 16%
Sem opinião: 10%
3. Eurosondagem, Expresso/SIC/RR, Aleatória, Telefónica, N=1033:
"Se houver um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, como tenciona votar? (só quem respondeu "vai votar")
"Sim à descriminalização": 45,4%
"Não à descriminalização": 42,4%
Ns/Nr: 12,1%
Não é preciso fazer muitas contas para perceber que há grandes discrepâncias. Na sondagem da Católica, a percentagem de apoiantes da despenalização é 2,5 vezes maior que a de opositores. Na sondagem Aximage, 1,2 vezes. Na sondagem Eurosondagem é quase 1 para 1.
Estas discrepâncias não são novidade e não podem ser exclusivamente fruto do erro amostral nem parecem estar exclusivamente ligadas às diferentes opções genéricas de amostragem ou inquirição que costumam ser seguidas pelos diferentes institutos. Basta comparar os actuais resultados da Eurosondagem com este seu estudo de Fevereiro de 2004:
Eurosondagem, Expresso, 3 de Fevereiro de 2004, Aleatória, Telefónica, N=1025
Como votaria no referendo? (apenas aqueles que disseram que votariam)
"Pela legalização do aborto": 79%
"Contra a legalização": 14%
Não é fácil fazer sentido de tudo isto. No quadro seguinte, apresento, da forma mais comparável possível, os resultados das várias sondagens que conheço desde o início de 2004 sobre o tema. Nos casos em que as sondagens colocavam a pergunta em termos de "voto num referendo", há percentagens para aqueles que dizem que não iriam votar (no caso da Eurosondagem recalculei os resultados de forma a que esses fizessem parte do total).
Ajuda um bocadinho, mas não muito. Os resultados parecem ser brutalmente sensíveis a forma como a pergunta é formulada e às opções de resposta fornecidas, para além de serem certamente sensíveis a tudo o resto (amostragem, inquirição, etc). Hoje, no Público (amanhã, aqui) procurei explicar por que razão isto sucede e o que isto nos diz sobre as atitudes dos portugueses sobre o tema.
1. Aximage, Correio da Manhã, 2-4 Outubro 2006, Quotas, Telefónica, N=550:
"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 47,9%
Não: 39,9%
Sem opinião: 12,2%
2. Católica, Público, 14-15 Outubro 2006, Aleatória, Presencial, N=1282:
"Concorda com a despenalização da interrupção oluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Sim: 53%
Não: 21%
Não tenciona votar: 16%
Sem opinião: 10%
3. Eurosondagem, Expresso/SIC/RR, Aleatória, Telefónica, N=1033:
"Se houver um referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, como tenciona votar? (só quem respondeu "vai votar")
"Sim à descriminalização": 45,4%
"Não à descriminalização": 42,4%
Ns/Nr: 12,1%
Não é preciso fazer muitas contas para perceber que há grandes discrepâncias. Na sondagem da Católica, a percentagem de apoiantes da despenalização é 2,5 vezes maior que a de opositores. Na sondagem Aximage, 1,2 vezes. Na sondagem Eurosondagem é quase 1 para 1.
Estas discrepâncias não são novidade e não podem ser exclusivamente fruto do erro amostral nem parecem estar exclusivamente ligadas às diferentes opções genéricas de amostragem ou inquirição que costumam ser seguidas pelos diferentes institutos. Basta comparar os actuais resultados da Eurosondagem com este seu estudo de Fevereiro de 2004:
Eurosondagem, Expresso, 3 de Fevereiro de 2004, Aleatória, Telefónica, N=1025
Como votaria no referendo? (apenas aqueles que disseram que votariam)
"Pela legalização do aborto": 79%
"Contra a legalização": 14%
Não é fácil fazer sentido de tudo isto. No quadro seguinte, apresento, da forma mais comparável possível, os resultados das várias sondagens que conheço desde o início de 2004 sobre o tema. Nos casos em que as sondagens colocavam a pergunta em termos de "voto num referendo", há percentagens para aqueles que dizem que não iriam votar (no caso da Eurosondagem recalculei os resultados de forma a que esses fizessem parte do total).
Ajuda um bocadinho, mas não muito. Os resultados parecem ser brutalmente sensíveis a forma como a pergunta é formulada e às opções de resposta fornecidas, para além de serem certamente sensíveis a tudo o resto (amostragem, inquirição, etc). Hoje, no Público (amanhã, aqui) procurei explicar por que razão isto sucede e o que isto nos diz sobre as atitudes dos portugueses sobre o tema.
quinta-feira, outubro 19, 2006
655.000 (4)
Entretanto, apercebi-me que também no Aspirina B se escreveu sobre o estudo da Lancet. E foi nos comentários ao post que encontrei uma ligação ao que me parece ser, até agora, o melhor comentário ao estudo: este, de um sociólogo americano especializado em saúde pública, por sua vez com uma outra ligação para um artigo que pode ajudar a explicar por que razão muitas mortes poderão ficar por registar. A leitura deste último artigo não é para quem tenha um estômago fraco.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Popularidade líderes políticos (Portugal)
Os dados mais recentes sobre os níveis de aprovação pública de Sócrates, Cavaco Silva e Marques Mendes são tão aborrecidos e trazem tão poucas mudanças em relação ao passado recente que, perdoem-me, nem os analiso. Podem ir vê-los aqui e aqui. Volto ao assunto quando houver novidades.
O que, já que falamos no assunto, pode nem tardar muito, com ministros e secretários de estado a dizerem coisas como esta, esta ou esta. Aposto que o PM não está a achar graça nenhuma à brincadeira.
P.S.- O Bloguítica já tinha opinado que se trata de um problema viral e adiciona o outro caso óbvio. Mas a leitura disto sugere que, neste caso concreto, a doença é provavelmente genética.
O que, já que falamos no assunto, pode nem tardar muito, com ministros e secretários de estado a dizerem coisas como esta, esta ou esta. Aposto que o PM não está a achar graça nenhuma à brincadeira.
P.S.- O Bloguítica já tinha opinado que se trata de um problema viral e adiciona o outro caso óbvio. Mas a leitura disto sugere que, neste caso concreto, a doença é provavelmente genética.
terça-feira, outubro 17, 2006
2º turno, Brasil
Resultados muito aproximados, quer em intenções directas de voto quer em votos válidos, para as quatro sondagens já realizadas depois da 1ª volta das eleições:
Segundo a pesquisa IBOPE, "a grande maioria (82%) dos eleitores afirma que seu voto já está definitivo, sendo 88% entre os eleitores de Lula e 85% entre os de Geraldo Alckmin."
Segundo a pesquisa IBOPE, "a grande maioria (82%) dos eleitores afirma que seu voto já está definitivo, sendo 88% entre os eleitores de Lula e 85% entre os de Geraldo Alckmin."
655.000 (3)
Mais críticas ao estudo da Lancet, desta vez dos responsáveis do projecto Iraq Body Count (via Insurgente). Texto integral aqui. Alguns destaques:
1. O desfasamento em relação à cobertura dos meios de comunicação social:
If we consider the Lancet's June 2005 – June 2006 period, whose violent toll it estimates at 330,000, then daily estimates become lower but would still require 768 unrecorded violent deaths for every 67 that are recorded. The IBC database shows that the average number of people killed in any one violent attack is five. Therefore it would require about 150 unreported, average-size, violent assaults per day to account for 768 deaths. It is unlikely that incidents of this scale would be so consistently missed by the various media in Iraq. Although IBC technically requires only two sources for every corroborated death in its database, we actually collect, archive and analyse every unique report we can find about each incident before it is added to our database. For larger incidents the number of reports can run into the dozens, including news published in English in the original and others, mostly the Iraqi press, published in translation. In IBC's news archive for August 2006 the average-size attack leaving 5 civilians killed has a median number of 6 reports on it.
2. O desfasamento em relação ao número conhecido de feridos:
If 600,000 people have died violent deaths, then the 3:1 ratio implies that 1,800,000 Iraqis have by now been wounded. This would correspond to 1 in every 15 Iraqis.
3. A falta de credibilidade "face value" da taxa de mortalidade entre adultos masculinos
Of the 287 violent post-invasion deaths recorded by the Lancet authors where the age and sex was known, 235 (82%) were adult males between 15 and 59 years old. Extrapolating to the population as a whole would mean that around 470,000 men in this age group have been killed violently, i.e. one in 15 (7%) of adult males aged 15 to 59.
4. O desfasamento entre as certidões de óbito emitidas e as recebidas
If the Lancet estimate is correct then it follows that either (a) 500,000 documented violent deaths, for which certificates were issued, have somehow managed to completely disappear without a trace to Iraqi officials or the international media or (b) there is a vast, elaborate, and very successful, cover up of this massive number of bodies and their associated paper trail being carried out in Iraq.
5. O estranho aumento da taxa de mortalidade
Those who keenly recall the reported carnage associated with the invasion in 2003 will scarcely credit the notion that similar events but of a much greater scale and extent have continued unremarked and unrecorded, including by locals, in a nation at the level of education and urbanisation of Iraq. Iraq is not an undeveloped society where tiny, self-sufficient communities live in isolation and ignorance of each other.
O cerne da questão, segundo as pessoas da IBC:
The most likely source of such a flaw is some bias in the sampling methodology such that violent deaths were vastly over-represented in the sample. The precise potential nature of such bias is not clear at this point (it could, for example, involve problems in the application of a statistical method originally designed for studying the spread of disease in a population to direct and ongoing violence-related phenomena). But to dismiss the possibility of such bias out of hand is surely both irresponsible and unwise.
O debate continua...
1. O desfasamento em relação à cobertura dos meios de comunicação social:
If we consider the Lancet's June 2005 – June 2006 period, whose violent toll it estimates at 330,000, then daily estimates become lower but would still require 768 unrecorded violent deaths for every 67 that are recorded. The IBC database shows that the average number of people killed in any one violent attack is five. Therefore it would require about 150 unreported, average-size, violent assaults per day to account for 768 deaths. It is unlikely that incidents of this scale would be so consistently missed by the various media in Iraq. Although IBC technically requires only two sources for every corroborated death in its database, we actually collect, archive and analyse every unique report we can find about each incident before it is added to our database. For larger incidents the number of reports can run into the dozens, including news published in English in the original and others, mostly the Iraqi press, published in translation. In IBC's news archive for August 2006 the average-size attack leaving 5 civilians killed has a median number of 6 reports on it.
2. O desfasamento em relação ao número conhecido de feridos:
If 600,000 people have died violent deaths, then the 3:1 ratio implies that 1,800,000 Iraqis have by now been wounded. This would correspond to 1 in every 15 Iraqis.
3. A falta de credibilidade "face value" da taxa de mortalidade entre adultos masculinos
Of the 287 violent post-invasion deaths recorded by the Lancet authors where the age and sex was known, 235 (82%) were adult males between 15 and 59 years old. Extrapolating to the population as a whole would mean that around 470,000 men in this age group have been killed violently, i.e. one in 15 (7%) of adult males aged 15 to 59.
4. O desfasamento entre as certidões de óbito emitidas e as recebidas
If the Lancet estimate is correct then it follows that either (a) 500,000 documented violent deaths, for which certificates were issued, have somehow managed to completely disappear without a trace to Iraqi officials or the international media or (b) there is a vast, elaborate, and very successful, cover up of this massive number of bodies and their associated paper trail being carried out in Iraq.
5. O estranho aumento da taxa de mortalidade
Those who keenly recall the reported carnage associated with the invasion in 2003 will scarcely credit the notion that similar events but of a much greater scale and extent have continued unremarked and unrecorded, including by locals, in a nation at the level of education and urbanisation of Iraq. Iraq is not an undeveloped society where tiny, self-sufficient communities live in isolation and ignorance of each other.
O cerne da questão, segundo as pessoas da IBC:
The most likely source of such a flaw is some bias in the sampling methodology such that violent deaths were vastly over-represented in the sample. The precise potential nature of such bias is not clear at this point (it could, for example, involve problems in the application of a statistical method originally designed for studying the spread of disease in a population to direct and ongoing violence-related phenomena). But to dismiss the possibility of such bias out of hand is surely both irresponsible and unwise.
O debate continua...
segunda-feira, outubro 16, 2006
655.000 (2)
O Insurgente vem publicando vários posts onde se discute a credibilidade do estudo publicado na Lancet onde estima a mortalidade causada pela invasão do Iraque. Alguns deles são laterais , incluindo, por exemplo, cartoons, ou uma gravação vídeo onde o editor da revista de pronuncia contra a invasão. Tudo bem, que não se pode estar sempre a falar a sério.
Mas há um post muito interessante, onde se transcreve um e-mail de um "médico com algumas noções de epidemiologia", Fernando Gomes da Costa, que coloca várias dúvidas sobre o estudo. Longe de mim colocar-me na posição dos autores, que se defenderão como puderem. Mas quando a defesa já está no próprio texto do estudo, o melhor mesmo é lê-lo com atenção, como aliás eu já sugeria da primeira vez que falei no assunto. As perguntas de Fernando Gomes da Costa:
1- Foram feitos inquéritos a famílias escolhidas aleatoriamente, mas onde? também nas zonas menos tocadas pela guerra? ou só nas mais violentadas?
Segundo os autores, os clusters foram escolhidos aleatoriamente, sendo excluídos apenas três:
" On two occasions, miscommunication resulted in clusters not being visited in Muthanna and Dahuk, and instead being included in other Governorates. In Wassit, insecurity caused the team to choose the next nearest population area, in accordance with the study protocol. Later it was discovered that this second site was actually across the boundary in Baghdad Governorate."
Foi assim apenas excluído um cluster por razões potencialmente correlacionadas com as mencionadas na pergunta do e-mail, e dois outros por falta de comunicação. Consequências?
"The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths."
2- Os inquiridos contabilizaram (em meados de 2006) o número de familiares mortos desde os 14 meses anteriores à invasão até aos 14 seguintes. Foram mortes confirmadas por atestados em 90% dos casos dos 87% solicitados, o que dá 79% de confirmações. Temos assim que em 600.000 há portanto 126.000 casos não confirmados.
Este problema é mencionado no estudo:
"Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable."
3- As mortes não relatadas não puderam ser, obviamente, controladas por atestados. Isto quer dizer que nada nos garante não haver uma minimização do número de mortes antes da invasão, o que poderá distorcer grandemente o método de comparação "antes e depois".
Cito do estudo:
"Our estimate of the pre-invasion crude or all-cause mortality rate is in close agreement with other sources"
Essas fontes são:
CIA 2003 Factbook entry for Iraqhttp://permanent.access.gpo.gov/lps35389/2003/iz.html(accessed Oct 2, 2006).
US Agency for International Health and US Census Bureau. Global population profile: 2002. Washington, DC: US Census Bureau, 2004:.
Podem estar também erradas, claro. Mas o fundamental é que a estimativa da mortalidade pré-invasão que resulta do inquérito coincide com resultados obtidos independentemente do inquérito.
4- Uma das mais óbvias desonestidades do “estudo” tem aliás a ver com a amostra: comparar 14 meses antes da invasão (em “paz”) com 14 meses a seguir (e portanto na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno), e extrapolar os ditos casos desses 14 meses para os 28 meses seguintes, inflaciona, e de que maneira, os números.
Lamento, mas não há comparação com "os 14 meses a seguir". O que há é comparação da taxa de mortalidade de um período de tempo antes da invasão (14 meses) com um período de tempo posterior, a saber:
"We measured deaths from January, 2002, to July, 2006, which included the period of the 2004 survey." ~
Para além disso, a noção de que "na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno" terá sido a fase com maior mortalidade não parece resistir aos dados:
"By mid-year 2006, 91 violent deaths had occurred in 6 months, compared with 27 post-invasion in 2003 and 77 in 2004, and 105 for 2005, suggesting that violence has escalated substantially."
A mortalidade aumentou (em vez de diminuir) após os tais "14 meses"
5- Finalmente, todos sabemos que sempre que alguém morre vítima da violência bélica no Iraque isso nos é diligentemente comunicado pela generalidade da imprensa. Seria muito fácil essa mesma imprensa (ou algum curioso) dedicar-se a pegar nos jornais desde a altura da invasão e somar as mortes (só violentas e dos iraquianos, atenção). Mas vamos supor, já atirando muito (mas muito) por alto, que desde Março de 2003 morreram em média diariamente 100 pessoas vítimas de atentados, bombas, (ou torturas dos americanos, pois claro!). Há muitos dias, como hoje, em que nada vem relatado, mas fica por conta dos outros...Teríamos assim, desde Março de 2003: 100(mortes/dia)x365(dias/ano)x3,5(3 anos e meio) = 127.750 mortes! Um bocadinho longe das 600.000...Como diz a outra: há coisas fantásticas, não há? Já agora, fazendo as contas com os números do “estudo” da Lancet: 600.000 (mortes)/(3,5x365 dias) = 469 mortes por dia, ininterruptamente desde 2003! A ser assim, e lendo a nossa imparcialíssima imprensa, até o Avante está vendido ao imperialismo americano!
Aqui não há muito a dizer: o autor do e-mail acredita na imprensa mas "não acredita" nos números. Eu também gostava de não acreditar. Mas não me parece que isso chegue.
Já agora, fica aqui um excerto do estudo onde os autores - com honestidade - listam muitos dos seus possíveis enviesamentos, alguns no sentido da sobrestimação e outros no sentido da subestimação da mortalidade:
All surveys have potential for error and bias. The extreme insecurity during this survey could have introduced bias by restricting the size of teams, the number of supervisors, and the length of time that could be prudently spent in all locations, which in turn affected the size and nature of questionnaires. Further, calling back to households not available on the initial visit was felt to be too dangerous. Families, especially in households with combatants killed, could have hidden deaths. Under-reporting of infant deaths is a wide-spread concern in surveys of this type. Entire households could have been killed, leading to a survivor bias. The population data used for cluster selection were at least 2 years old, and if populations subsequently migrated from areas of high mortality to those with low mortality, the sample might have over-represented the high-mortality areas. The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths. Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable.
Large-scale migration out of Iraq could affect our death estimates by decreasing population size. Out-migration could introduce inaccuracies if such a process took place predominantly in households with either high or low violent death history. Internal population movement would be less likely to affect results appreciably. However, the number of individual households with in-migration was much the same as those with out-migration in our survey.
Although interviewers used a robust process for identifying clusters, the potential exists for interviewers to be drawn to especially affected houses through conscious or unconscious processes. Although evidence of this bias does not exist, its potential cannot be dismissed. Furthermore, families might have misclassified information about the circumstances of death. Deaths could have been over or under-attributed to coalition forces on a consistent basis. The numbers of non-violent deaths were low, thus, estimation of trends with confidence was difficult. Not sampling two of the Governorates could have underestimated the total number of deaths, although these areas were generally known as low-violence Governorates. Finally, the sex of individuals who had died might not have been accurately reported by households. Female deaths could have been under-reported, or there might have been discomfort felt in reporting certain male deaths.
Mas há um post muito interessante, onde se transcreve um e-mail de um "médico com algumas noções de epidemiologia", Fernando Gomes da Costa, que coloca várias dúvidas sobre o estudo. Longe de mim colocar-me na posição dos autores, que se defenderão como puderem. Mas quando a defesa já está no próprio texto do estudo, o melhor mesmo é lê-lo com atenção, como aliás eu já sugeria da primeira vez que falei no assunto. As perguntas de Fernando Gomes da Costa:
1- Foram feitos inquéritos a famílias escolhidas aleatoriamente, mas onde? também nas zonas menos tocadas pela guerra? ou só nas mais violentadas?
Segundo os autores, os clusters foram escolhidos aleatoriamente, sendo excluídos apenas três:
" On two occasions, miscommunication resulted in clusters not being visited in Muthanna and Dahuk, and instead being included in other Governorates. In Wassit, insecurity caused the team to choose the next nearest population area, in accordance with the study protocol. Later it was discovered that this second site was actually across the boundary in Baghdad Governorate."
Foi assim apenas excluído um cluster por razões potencialmente correlacionadas com as mencionadas na pergunta do e-mail, e dois outros por falta de comunicação. Consequências?
"The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths."
2- Os inquiridos contabilizaram (em meados de 2006) o número de familiares mortos desde os 14 meses anteriores à invasão até aos 14 seguintes. Foram mortes confirmadas por atestados em 90% dos casos dos 87% solicitados, o que dá 79% de confirmações. Temos assim que em 600.000 há portanto 126.000 casos não confirmados.
Este problema é mencionado no estudo:
"Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable."
3- As mortes não relatadas não puderam ser, obviamente, controladas por atestados. Isto quer dizer que nada nos garante não haver uma minimização do número de mortes antes da invasão, o que poderá distorcer grandemente o método de comparação "antes e depois".
Cito do estudo:
"Our estimate of the pre-invasion crude or all-cause mortality rate is in close agreement with other sources"
Essas fontes são:
CIA 2003 Factbook entry for Iraqhttp://permanent.access.gpo.gov/lps35389/2003/iz.html(accessed Oct 2, 2006).
US Agency for International Health and US Census Bureau. Global population profile: 2002. Washington, DC: US Census Bureau, 2004:.
Podem estar também erradas, claro. Mas o fundamental é que a estimativa da mortalidade pré-invasão que resulta do inquérito coincide com resultados obtidos independentemente do inquérito.
4- Uma das mais óbvias desonestidades do “estudo” tem aliás a ver com a amostra: comparar 14 meses antes da invasão (em “paz”) com 14 meses a seguir (e portanto na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno), e extrapolar os ditos casos desses 14 meses para os 28 meses seguintes, inflaciona, e de que maneira, os números.
Lamento, mas não há comparação com "os 14 meses a seguir". O que há é comparação da taxa de mortalidade de um período de tempo antes da invasão (14 meses) com um período de tempo posterior, a saber:
"We measured deaths from January, 2002, to July, 2006, which included the period of the 2004 survey." ~
Para além disso, a noção de que "na fase em que houve guerra mais intensa e generalizada no terreno" terá sido a fase com maior mortalidade não parece resistir aos dados:
"By mid-year 2006, 91 violent deaths had occurred in 6 months, compared with 27 post-invasion in 2003 and 77 in 2004, and 105 for 2005, suggesting that violence has escalated substantially."
A mortalidade aumentou (em vez de diminuir) após os tais "14 meses"
5- Finalmente, todos sabemos que sempre que alguém morre vítima da violência bélica no Iraque isso nos é diligentemente comunicado pela generalidade da imprensa. Seria muito fácil essa mesma imprensa (ou algum curioso) dedicar-se a pegar nos jornais desde a altura da invasão e somar as mortes (só violentas e dos iraquianos, atenção). Mas vamos supor, já atirando muito (mas muito) por alto, que desde Março de 2003 morreram em média diariamente 100 pessoas vítimas de atentados, bombas, (ou torturas dos americanos, pois claro!). Há muitos dias, como hoje, em que nada vem relatado, mas fica por conta dos outros...Teríamos assim, desde Março de 2003: 100(mortes/dia)x365(dias/ano)x3,5(3 anos e meio) = 127.750 mortes! Um bocadinho longe das 600.000...Como diz a outra: há coisas fantásticas, não há? Já agora, fazendo as contas com os números do “estudo” da Lancet: 600.000 (mortes)/(3,5x365 dias) = 469 mortes por dia, ininterruptamente desde 2003! A ser assim, e lendo a nossa imparcialíssima imprensa, até o Avante está vendido ao imperialismo americano!
Aqui não há muito a dizer: o autor do e-mail acredita na imprensa mas "não acredita" nos números. Eu também gostava de não acreditar. Mas não me parece que isso chegue.
Já agora, fica aqui um excerto do estudo onde os autores - com honestidade - listam muitos dos seus possíveis enviesamentos, alguns no sentido da sobrestimação e outros no sentido da subestimação da mortalidade:
All surveys have potential for error and bias. The extreme insecurity during this survey could have introduced bias by restricting the size of teams, the number of supervisors, and the length of time that could be prudently spent in all locations, which in turn affected the size and nature of questionnaires. Further, calling back to households not available on the initial visit was felt to be too dangerous. Families, especially in households with combatants killed, could have hidden deaths. Under-reporting of infant deaths is a wide-spread concern in surveys of this type. Entire households could have been killed, leading to a survivor bias. The population data used for cluster selection were at least 2 years old, and if populations subsequently migrated from areas of high mortality to those with low mortality, the sample might have over-represented the high-mortality areas. The miscommunication that resulted in no clusters being interviewed in Duhuk and Muthanna resulted in our assuming that no excess deaths occurred in those provinces (with 5% of the population), which probably resulted in an underestimate of total deaths. Families could have reported deaths that did not occur, although this seems unlikely, since most reported deaths could be corroborated with a certificate. However, certificates might not be issued for young children, and in some places death certificates had stopped being issued; our 92% confirmation rate was therefore deemed to be reasonable.
Large-scale migration out of Iraq could affect our death estimates by decreasing population size. Out-migration could introduce inaccuracies if such a process took place predominantly in households with either high or low violent death history. Internal population movement would be less likely to affect results appreciably. However, the number of individual households with in-migration was much the same as those with out-migration in our survey.
Although interviewers used a robust process for identifying clusters, the potential exists for interviewers to be drawn to especially affected houses through conscious or unconscious processes. Although evidence of this bias does not exist, its potential cannot be dismissed. Furthermore, families might have misclassified information about the circumstances of death. Deaths could have been over or under-attributed to coalition forces on a consistent basis. The numbers of non-violent deaths were low, thus, estimation of trends with confidence was difficult. Not sampling two of the Governorates could have underestimated the total number of deaths, although these areas were generally known as low-violence Governorates. Finally, the sex of individuals who had died might not have been accurately reported by households. Female deaths could have been under-reported, or there might have been discomfort felt in reporting certain male deaths.
sexta-feira, outubro 13, 2006
2º turno
Posso estar enganado, mas ainda só dei com duas sondagens de intenção de voto na segunda volta das presidenciais brasileiras realizadas após o 1º turno. São ambas da Datafolha (6 e 10 de Outubro). Lula surge com 50/51% de intenções directas de voto, e 54/56% de votos válidos.
A visão de longo prazo está no gráfico seguinte: 60 sondagens, realizadas desde 2005, em que o cenário Lula/Alckmin foi avançado. Descida constante de Lula até há um ano, recuperação até fim de Agosto deste ano, e declínio deste então. As percentagens são de votos válidos:
Quando olhamos para as intenções directas de voto, o mecanismo do que se passa desde fim de Agosto fica mais claro. A percentagem de votantes que afirma tencionar votar em Lula numa segunda volta não desce muito. Só que, entretanto, aqueles que se diziam abstencionistas e indecisos vão diminuindo e, pelos vistos, passando para Alckmin (clique para ampliar):
Chega para Alckmin? Isso exigiria uma de três coisas. A primeira seria uma transferência para Alckmin de alguns daqueles que dizem hoje tencionar votar Lula. Mas segundo a Datafolha, 90% dos que afirmam tencionar votar em Lula ou Alckmin dizem que a sua decisão é definitiva. Não há muito espaço para mudanças de última hora. A segunda consistiria em que todos os que agora se dizem indecisos, abstencionistas ou votos brancos e nulos passassem para Alckmin. É implausível. A terceira seria que houvesse uma excepcional desmobilização de última hora entre o eleitorado Lula. Nada disto parece muito credível. Mas esperar para ver.
A visão de longo prazo está no gráfico seguinte: 60 sondagens, realizadas desde 2005, em que o cenário Lula/Alckmin foi avançado. Descida constante de Lula até há um ano, recuperação até fim de Agosto deste ano, e declínio deste então. As percentagens são de votos válidos:
Quando olhamos para as intenções directas de voto, o mecanismo do que se passa desde fim de Agosto fica mais claro. A percentagem de votantes que afirma tencionar votar em Lula numa segunda volta não desce muito. Só que, entretanto, aqueles que se diziam abstencionistas e indecisos vão diminuindo e, pelos vistos, passando para Alckmin (clique para ampliar):
Chega para Alckmin? Isso exigiria uma de três coisas. A primeira seria uma transferência para Alckmin de alguns daqueles que dizem hoje tencionar votar Lula. Mas segundo a Datafolha, 90% dos que afirmam tencionar votar em Lula ou Alckmin dizem que a sua decisão é definitiva. Não há muito espaço para mudanças de última hora. A segunda consistiria em que todos os que agora se dizem indecisos, abstencionistas ou votos brancos e nulos passassem para Alckmin. É implausível. A terceira seria que houvesse uma excepcional desmobilização de última hora entre o eleitorado Lula. Nada disto parece muito credível. Mas esperar para ver.
quinta-feira, outubro 12, 2006
655.000
Uma utilização menos usual da técnica do inquérito por questionário: um estudo publicado pela revista Lancet estima em 655.000 o número de mortos devidos à invasão no Iraque. Este "devido" deve ser concebido com significando que estas mortes estão "em excesso" em relação ao que seria previsível na base das taxas de mortalidade verificadas nos anos imediatamente anteriores. O estudo revela também que a taxa de mortalidade mais do que duplicou no período 2003-2006 em relação ao período anterior, e que parece estar a aumentar. Estima-se que cerca das 600.000 mortes tenham sido violentas.
Como se calcularam estes números? O melhor é ler. A base é um inquérito por questionário a 12.000 iraquianos. A metodologia é complexa e haverá muitos pontos para debate. Exemplo num blogue: aqui.
Entretanto, há quem recorra, como habitualmente, à fé : George W. Bush ou John Howard dizem que não "acreditam" nos números.
Como se calcularam estes números? O melhor é ler. A base é um inquérito por questionário a 12.000 iraquianos. A metodologia é complexa e haverá muitos pontos para debate. Exemplo num blogue: aqui.
Entretanto, há quem recorra, como habitualmente, à fé : George W. Bush ou John Howard dizem que não "acreditam" nos números.
quarta-feira, outubro 04, 2006
A "queda" de Lula (2)
Eduardo Leoni, do Brazilian Politics, chama-me à atenção por e-mail de um dado importante: Lula não "perdeu" votos. O que sucede é que não conseguiu angariar votos entre os indecisos.
Assim é, quando olhamos para as intenções directas de voto:
Lula mexe pouco, mas Alckmin sobe à medida que os indecisos descem. Eduardo Leoni levanta outro problema que decorre daqui: a pressuposição de que os indecisos se redistribuem proporcionalmente pelas opções válidas (ou, o que é a mesma coisa, que se vão todos abster) não funciona no Brasil...
Assim é, quando olhamos para as intenções directas de voto:
Lula mexe pouco, mas Alckmin sobe à medida que os indecisos descem. Eduardo Leoni levanta outro problema que decorre daqui: a pressuposição de que os indecisos se redistribuem proporcionalmente pelas opções válidas (ou, o que é a mesma coisa, que se vão todos abster) não funciona no Brasil...
terça-feira, outubro 03, 2006
A "queda" de Lula
Anda por aí alguma discussão sobre as razões da incapacidade de Lula ganhar à 1ª volta. A maior parte delas anda pela questão da corrupção (no Público, só para assinantes). Mas atentem no seguinte gráfico com a evolução das intenções de voto em Lula e Alckmin no IBOPE, só para usar o instituto que mais se aproximou dos resultados que Lula acabou por obter:
O que se vê é que Lula vem a descer desde finais de Agosto. O que está para a direita do dia 10 de Setembro são sondagens realizadas após a divulgação do escândalo do "dossiê Serra", e pode-se levantar a hipótese de que essa divulgação terá acelerado a descida. Mas a descida vem de antes, como já repeti aqui até à exaustão, e importa também explicá-la. Descontando o que às vezes me parece ser uma certa mania da perseguição, amplificada aqui, estou de acordo: não se deu suficiente importância a Alckmin. Lula perde votos devido a uma boa campanha do seu opositor, e não apenas devido à corrupção.
O que se vê é que Lula vem a descer desde finais de Agosto. O que está para a direita do dia 10 de Setembro são sondagens realizadas após a divulgação do escândalo do "dossiê Serra", e pode-se levantar a hipótese de que essa divulgação terá acelerado a descida. Mas a descida vem de antes, como já repeti aqui até à exaustão, e importa também explicá-la. Descontando o que às vezes me parece ser uma certa mania da perseguição, amplificada aqui, estou de acordo: não se deu suficiente importância a Alckmin. Lula perde votos devido a uma boa campanha do seu opositor, e não apenas devido à corrupção.
segunda-feira, outubro 02, 2006
Brasil: rescaldo e 2ª volta
O quadro seguinte compara as últimas estimativas de cada instituto com os resultados finais. Parabéns ao Datafolha e ao Ipespe. O segundo é especialmente notável, tendo em conta a utilização de uma amostra reduzida e a inquirição telefónica. Mas pode-se também levantar a hipótese de que o Ipespe tenha tido "razão antes de tempo", ou seja, que estivesse no dia 26 a subestimar a votação em Lula, acabando por se aproximar dos resultados finais devido à tendência geral de queda de Lula que se prolongou após o dia 26. Seja como for, as diferenças entre os institutos são reduzidas, a não ser no caso Sensus. Se quiserem comparar com a performance dos institutos portugueses em 2006, podem ir aqui. Nada mau para nós, mas o Brasil é o Brasil e Portugal é Portugal...
2ª volta? O que temos são os últimos resultados de sondagens que colocavam os eleitores perante o cenário Lula/Alckmin. O score de Lula oscila entre 62% e 52%. Mas agora, vai ser difícil levar os resultados da Sensus muito a sério.
2ª volta? O que temos são os últimos resultados de sondagens que colocavam os eleitores perante o cenário Lula/Alckmin. O score de Lula oscila entre 62% e 52%. Mas agora, vai ser difícil levar os resultados da Sensus muito a sério.
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