Não posso deixar de comentar a projecção de deputados da sondagem no Expresso de 8 de Janeiro. Queria começar por dizer que a Eurosondagem tem tido boas prestações quando se confrontam as suas sondagens com aqueles que acabam por ser os resultados das eleições (melhor nas sondagens pré-eleitorais, mais vacilante nas sondagens à boca das urnas). E que acho que o Rui Oliveira e Costa tem intuição para estas coisas. E quando a intuição se confirma várias vezes, deixa de ser intuição para se tornar saber propriamente dito.
Contudo, a projecção de deputados avançada no dia 8 - "exercício técnico-científico realizado por Rui Oliveira Costa" - é um bocado assustadora. Se não vejamos:
1. Os deputados são eleitos por círculo. Logo, para calcular deputados eleitos, precisamos de amostras representativas de cada um dos círculos para obter boas estimativas percentuais, não das intenções do total dos eleitores portugueses, mas sim das intenções dos eleitores em cada círculo.
2. Para ter não mais de, digamos, 5% de margem de erro (e pode já ser muito) em cada círculo, uma amostra aleatória tem de ter, pelo menos, 380 inquiridos.
3. Portugal tem 20 círculos, sem contar com Europa e Fora da Europa.
4. Logo, para ter estimações dos resultados de cada círculo com menos de 5% de margem de erro em cada um necessitamos de 7600 inquiridos.
5. Mas esta sondagem foi feita com cerca de 2000 entrevistas.
6. Claro que se pode dar a volta ao texto não indo a alguns círculos e pressupondo que as tendências que se apanham naqueles a que se vai se vão aplicar àqueles onde não se vai. Pode-se até usar algumas freguesias-tipo e, digamos, rezar para que o continuem a ser. Não sei se isto foi feito. Pelo menos, nada disto é dito no Expresso.
7. Acresce que, a acreditar na ficha técnica, a escolha dos inquiridos nesta sondagem respondeu a uma estratificação por região: o peso na amostra dos inquiridos em cada região foi proporcional à distribuição da população eleitora por regiões.
8. Isto significa que 2,6% dos inquéritos foram feitos na Madeira. São 56 pessoas. E que 2,3% foram feitos nos Açores. 46 inquiridos. E que as estimativas feitas para os círculos de Évora, Beja, Faro e parte de Setúbal foram feitos com os inquiridos na região Alentejo e Algarve. São 8,9%, 179 inquiridos.
"Técnico-científico"? Até pode dar certo. Mas só por mero acaso.
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