Coloquemos agora esta última sondagem no contexto das anteriormente publicadas. Foram quatro: duas também da Eurosondagem e duas da Aximage para o Correio da Manhã (uma delas sem ficha técnica, pelo menos na net). Digo "quatro" porque tudo o que se publicou antes do anúncio da dissolução da Assembleia (incluindo uma sondagem da Católica e outra da Marktest pouco tempo antes) não conta: perguntar aos portugueses em que partido votariam caso houvesse eleições quando não há eleições à vista é como perguntar-lhes o que fariam caso eclodisse a III Guerra Mundial. Não sabem, nem lhes interessa.
Vejamos então os resultados tal como destacados pelos órgãos de comunicação, da mais recente para a mais antiga:
Não sei se já perceberam a dificuldade: estes resultados não são comparáveis entre si, e nem todos são comparáveis com resultados eleitorais. Isto sucede porque a Aximage só divulga resultados com indecisos, abdicando sempre de apresentar resultados comparáveis com resultados eleitorais. Isto resulta de uma convicção dos seus responsáveis de que as sondagens são apenas "descrições" de intenções de voto num determinado momento e nunca devem ser vistas como previsões nem sequer comparadas com resultados eleitorais.
Voltaremos a este assunto, mas o certo que é, das duas, uma: ou ignoramos a Aximage (o que seria uma pena) ou fazemos aquilo que se faz em todo o lado há muitos e bons anos nestes casos*:a fim de tornar as sondagens comparáveis entre si e os seus resultados mais intuitivos para o público em geral (ou seja, comparáveis com resultados eleitorais), redistribuem-se os indecisos proporcionalmente quando os responsáveis das sondagens não tomam decisões sobre o que fazer com eles. Ficamos assim com as seguintes estimativas:
Como vêem, as sondagens são menos discrepantes entre si do que parecia no quadro anterior e as diferenças entre os partidos nas sondagens conduzidas em momentos próximos no tempo estão (ainda) dentro das margens de erro. A única tendência desde o início de Dezembro parece ser (surprise, surprise) a subida do CDS-PP (de 5,5 para 6,3 na Eurosondagem e de 4 para 7 na Aximage). Tudo o resto é, para já, trendless (se bem que cinco sondagens não cheguem para trend de espécie alguma) E tudo indica uma vitória confortável do PS, com percentagens que apontam para a maioria absoluta.
Na primeira linha está então a nossa poll of polls, a média das três sondagens mais recentes, que actualizarei regularmente. Tem um interesse, reconheço, limitado, pelo menos em comparação com o que sucede noutros países: em Portugal fazem-se muito poucas sondagens, e a vantagem das médias ("cancelar" o erro aleatório) não se realiza tão bem como desejaríamos. Mas fica a indicação.
Inquietações? As do costume. Primeiro, falta mais de um mês, e sabe-se bem como é volátil o eleitorado português, como são tardias as decisões de muitos eleitores e como são importantes os desempenhos dos líderes partidários nas campanhas, pelo menos para alguns partidos (especialmente à direita...). Segundo, a pressuposição de que os indecisos se vão "redistribuir" proporcionalmente pelas várias opções disponíveis (ou abster-se todos, o que vai dar ao mesmo) é questionável (para além de eu não acreditar que existam tão poucos indecisos...).
Finalmente, olhem para a coluna I. Viram? Tudo T's, ou seja, todas telefónicas. Os problemas são conhecidos: as telefónicas são baratas, mas não apanham quase 20% dos alojamentos que não têm telefone fixo e suscitam imensas recusas. E há outra coisa: ou muito me engano, ou vamos ter este ano alguns potenciais eleitores do PSD com grandes hesitações em reconhecer essa sua hoje tão vilipendiada condição quando questionados pelo telefone ou confrontados com um questionário à entrada da porta. Vamos aguardar pelas simulações de voto em urna - anónimas - para ver se o meu palpite tem pernas para andar...
*Desde, pelo menos, 1949: cf. Mosteller, Frederick et at. (1949). The Pre-election Polls of 1948, Nova Iorque, Social Science Research Council.
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