Foi divulgada ontem uma sondagem da Intercampus para a TVI, seguida de outra hoje da Aximage para o Correio da Manhã. Confesso-vos que eu próprio já não me consigo ler nem ouvir a escrever ou a falar sobre estas coisas, e não estranharei se a vossa paciência já se tiver esgotado há muito. Mas vejamos:
1. Intercampus, TVI, 22 de Dezembro: temos os resultados brutos. Os "não sabe/não responde" e dos "não vou votar" são agregados numa mesma categoria (14,5%). Depois apresentam-se os resultados após uma redistribuição de indecisos onde são tratados como abstencionistas. As minhas contas dão uma diferença de uma décima em dois dos candidatos, mas tudo bem: está tudo claro e bem explicado.
Mais confuso é o tratamento da notícia pela TVI. Escreve-se o seguinte:
De acordo com a sondagem Intercampus/TVI, se as eleições fossem hoje e tendo em conta os indecisos, o candidato da direita venceria com 45,6 por cento dos votos, um resultado que não chega para se eleito Presidente da República.
Bem, mas logo a seguir escreve-se:
Na verdade, e de acordo com a sondagem Intercampus/TVI, retirando os indecisos, Cavaco Silva obtém 53,3 por cento dos votos, um resultado que tendo em conta a margem de erro da sondagem garante a eleição à primeira volta.
Que confusão. Outro problema é que a TVI continua a não informar na ficha técnica como selecciona os locais do país onde escolhe alojamentos, como escolhe esses alojamentos onde faz inquéritos nem como selecciona os inquiridos dentro de cada alojamento, ou seja, não descreve o método de amostragem. Como calculo que não seja nada que não se possa explicar de forma relativamente simples, não seria melhor fazê-lo? Já agora, interpreto "entrevista directa e pessoal" como significando que foi um inquérito face-a-face, presencial. A ser assim, trata-se do primeiro do género divulgado na comunicação social desde que todos os principais candidatos estão confirmados.
2. Aximage, CM, 23 de Dezembro: Temos, na página 8, um gráfico de "tarte" com os resultados brutos, a saber:
Cavaco Silva: 56,5%
Mário Soares: 11,4%
Manuel Alegre: 10,3%
Jerónimo de Sousa: 3,7%
Francisco Louçã: 3,4%
Outros: 0,9%
Indecisos: 13,8%
A soma disto dá 100%. São apresentadas também estimativas para, cito, os "votos sem indecisos". Não se faz menção a qualquer método específico de redistribuição, pelo que a primeira interpretação possível é a de que as percentagens foram recalculadas redistribuindo proporcionalmente os indecisos pelos votos válidos, ou seja, tratando-os como abstencionistas. Os resultados apresentados no jornal são os seguintes:
Cavaco Silva: 61%
Mário Soares: 17,1%
Manuel Alegre: 13,1%
Jerónimo de Sousa: 4%
Francisco Louçã: 3,8%
Outros: 1%
Como se chegou a estes números? Não sei, mas sei outra coisa: de certeza que não foi redistribuindo os 13,8% indecisos proporcionalmente pelas restantes opções. Se assim tivesse sido, os resultados teriam sido estes:
Cavaco Silva: 65,5%
Mário Soares: 13,2%
Manuel Alegre: 11,9%
Jerónimo de Sousa: 4,3%
Francisco Louçã: 3,9%
Outros: 1,0%
Não passa de uma regra de três simples, simples mesmo: no caso de Cavaco, 56,5 está para 86,2 (100-13,8) como x está para 100. X é igual a 56,5*100/86,2=65,5. Para os outros é só repetir a operação. É possível que esteja a ver a coisa mal mas, sinceramente, não creio. Logo, das duas uma: ou a Aximage e/ou o Correio da Manhã se enganaram nas contas, ou usam um método de redistribuição diferente deste, mas que não é explicado.
Vou supor que estamos perante o segundo caso, aceitando como "bons" - respeitando as decisões de quem apresenta os dados - os resultados "sem indecisos" apresentados pelo jornal. Contudo, sendo assim, acho que teria sido melhor ter-se explicado o método de redistribuição de indecisos usado.
E mais uma vez, desculpem o que pode parecer excesso de zelo, mas eu só quero perceber bem o que é feito para obter estes resultados, e assim não se vai lá.
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