terça-feira, dezembro 06, 2005

Os efeitos dos debates

Nos últimos dias, há que diga que não têm, há quem diga que têm, tudo na base de dados recolhidos com um instrumento de medida habitualmente usado nestes coisas: o "palpitómetro". O "palpitómetro" tem vantagens e desvantagens. Por um lado, é de utilização fácil e e produz resultados imediatos. Por outro lado, esses resultados tendem misteriosamente a coincidir com as preferências políticas e interesses pessoais do utilizador. Mas não se pode ter tudo.

Longe de mim querer desincentivar as práticas tradicionais da cultura opinativa indígena. Contudo, caso haja alguém que tenha a intenção de saber alguma coisa sobre o assunto antes ou depois (de preferência, antes) de usar o "palpitómetro", deixaria aqui uma única sugestão de leitura, relativamente recente e que sintetiza quarenta anos de investigação sobre o tema nos Estados Unidos:

A meta-analysis of the effects of viewing U.S. presidential debates.

Algumas conclusões:

- os efeitos dos debates na percepção das qualidades pessoais dos candidatos são grandes, mas os efeitos na percepção da competência dos candidatos é reduzida. Há quem chame a isto efeitos na percepção dos atributos estilísticos em vez dos atributos políticos*;

- através dos mecanismos anteriores, os debates influenciam o comportamento de voto, especialmente quando as diferenças entre os candidatos do ponto de vista político e ideológico são reduzidas;

- efeitos maiores quando nenhum dos candidatos é o "incumbent" (já que, para este, os eleitores já tiveram tempo para formar uma imagem mais cristalizada).

Pode sempre dizer-se que isto é nos Estados Unidos e não aqui. Mas entre isto e o "palpitómetro", eu arriscava-me a dizer (usando, reconheço, o meu próprio "palpitómetro") que as condições são de molde a que os debates possam ter um efeito não irrelevante nas decisões de voto dos eleitores, tendo em conta:

- as pequenas diferenças ideológicas visíveis entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, por um lado, e Cavaco Silva,Mário Soares e Manuel Alegre, por outro;

- o facto de um dos factores que mais determina a exposição e percepção selectivas - a identificação partidária - ser, apesar de tudo, menos relevante nestas eleições do que nas legislativas;

- o facto de não estar a concorrer um Presidente para reeleição.

P.S. - Para uma bibliografia assustadoramente exaustiva sobre o tema nos Estados Unidos (não conheço nem um vigésimo das referências), ver aqui.

* Nimmo, D. & Savage, R. L. (1976). Candidates and their images: Concepts, methods, and findings. Santa Monica, CA: Goodyear.

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