Nos últimos dias, há que diga que não têm, há quem diga que têm, tudo na base de dados recolhidos com um instrumento de medida habitualmente usado nestes coisas: o "palpitómetro". O "palpitómetro" tem vantagens e desvantagens. Por um lado, é de utilização fácil e e produz resultados imediatos. Por outro lado, esses resultados tendem misteriosamente a coincidir com as preferências políticas e interesses pessoais do utilizador. Mas não se pode ter tudo.
Longe de mim querer desincentivar as práticas tradicionais da cultura opinativa indígena. Contudo, caso haja alguém que tenha a intenção de saber alguma coisa sobre o assunto antes ou depois (de preferência, antes) de usar o "palpitómetro", deixaria aqui uma única sugestão de leitura, relativamente recente e que sintetiza quarenta anos de investigação sobre o tema nos Estados Unidos:
A meta-analysis of the effects of viewing U.S. presidential debates.
Algumas conclusões:
- os efeitos dos debates na percepção das qualidades pessoais dos candidatos são grandes, mas os efeitos na percepção da competência dos candidatos é reduzida. Há quem chame a isto efeitos na percepção dos atributos estilísticos em vez dos atributos políticos*;
- através dos mecanismos anteriores, os debates influenciam o comportamento de voto, especialmente quando as diferenças entre os candidatos do ponto de vista político e ideológico são reduzidas;
- efeitos maiores quando nenhum dos candidatos é o "incumbent" (já que, para este, os eleitores já tiveram tempo para formar uma imagem mais cristalizada).
Pode sempre dizer-se que isto é nos Estados Unidos e não aqui. Mas entre isto e o "palpitómetro", eu arriscava-me a dizer (usando, reconheço, o meu próprio "palpitómetro") que as condições são de molde a que os debates possam ter um efeito não irrelevante nas decisões de voto dos eleitores, tendo em conta:
- as pequenas diferenças ideológicas visíveis entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, por um lado, e Cavaco Silva,Mário Soares e Manuel Alegre, por outro;
- o facto de um dos factores que mais determina a exposição e percepção selectivas - a identificação partidária - ser, apesar de tudo, menos relevante nestas eleições do que nas legislativas;
- o facto de não estar a concorrer um Presidente para reeleição.
P.S. - Para uma bibliografia assustadoramente exaustiva sobre o tema nos Estados Unidos (não conheço nem um vigésimo das referências), ver aqui.
* Nimmo, D. & Savage, R. L. (1976). Candidates and their images: Concepts, methods, and findings. Santa Monica, CA: Goodyear.
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