1. As sondagens estiveram bem. Os agregadores de sondagens ainda melhor. As previsões com modelos quantitativos também. Nate Silver é o maior.
2. Isto não implica necessariamente que não tenha havido Bradley effect. Mas implica que, se houve, foi neutralizado por outros factores.
3. A boa prestação dos modelos quantitativos, que, em geral, previam este resultado há muitos meses, também não implica que a campanha tenha sido irrelevante. Mas implica que os fundamentals são o primeiro sítio para onde olhar e que as flutuações de curto-prazo nas sondagens devem ser descontadas.
4. Essa prestação também não implica necessariamente que a raça tenha sido irrelevante para o voto. Mas em conjunto com a prestação de Obama junto dos eleitores brancos (que não foi nada má, em comparação com Kerry, por exemplo), põe o fardo da prova do outro lado.
5. A participação eleitoral voltou a aumentar, pela terceira eleição consecutiva. Quando se lembrarem de dizer que os Estados Unidos são um país de elevada abstenção, mordam a língua: por estes dias, Portugal não é muito diferente.
6. A participação dos jovens aumentou, mas pouco. O que aumentou mais foi a participação de jovens que votou em Obama. Entre os que têm menos de 30 anos, 66% votou em Obama. Há pelos menos 30 anos que não se via nada assim. O legado para o futuro pode ser importante.
7. Obama dominou entre as minorias étnicas, entre os mais pobres, entre os menos instruídos, mas também entre os mais instruídos. E esteve a par de McCain entre os mais ricos. Isto mostra fissuras nas bases sociais de apoio tradicionais dos Republicanos. E apesar de quer McCain quer Obama terem conseguido mobilizar bem aqueles que se identificam com, respectivamente, os partidos Republicano e Democrata, há cada vez menos "Republicanos", e os "Republicanos" estiveram mais desmobilizados nesta eleição. Curto prazo, ou legado para o futuro? A ver.
8. O declínio da imagem de McCain nas sondagens coincide com a crise financeira. Mas a crise financeira não teve grande impacto nas sondagens de intenções de voto propriamente ditas. Não vai ser fácil perceber isto, e muito menos tendo em conta que tudo isto também coincide com os debates e com o desencanto com Sarah Palin.
9. Não há sinais claros de que o mapa dos "estados vermelhos" e "estados azuis" tenha sido redesenhado. Pelo contário: as perdas e ganhos são uniformes. Simon Jackman já tinha avisado. A tese do grande "realinhamento" sofre aqui um bocadinho (talvez um bocadão).
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5 comentários:
sobre o ponto 7.
Creio que já era assim em anteriores eleições.
Os democratas conquistam mais votos entre as minorias etnicas relevantes (latinos, negros e judeus), entre as mulheres, entre os mais pobres, menos instruidos mas tambem entre os mais instruidos (c/ mestrados e doutoramentos) e os ultra-ricos.
Os republicanos entre os com instrução intermedia (que na america é um curso superior), homens brancos, classe média, média-alta.
Já vi isso em anteriores eleições e era exactamente igual.
Quanto a realinhamentos o jogo só agora começou. Depende de Obama corresponder ou não ao esperado.
Creio que a luta pelo realinhamento de longo prazo passará por conquistar a minoria latina que está em forte crescimento demografico.
Cam
Caro Cam:
Há continuidades, mas também há mudanças:
"As with previous Republican candidates, McCain did better among the rich than the poor, but the pattern has changed among the highest-income categories"
"By ethnicity: Barack Obama won 96% of African Americans, 68% of Latinos, 64% of Asians, and 44% of whites. In 2004, Kerry won 89% of African Americans, 55% of Latinos, 56% of Asians, and 41% of whites. So Obama gained the most among ethnic minorities."
Está tudo explicado aqui e aqui.
A minha tese é que o grande realinhamento se dará daqui a 4 anos.
Se Obama conseguir cumprir minimamente as expectativas os democratas passaram a dominar durante umas decadas. Se desiludir fortemente... muitas vezes os grandes ódios já foram grandes amores.
Com os desafios colocados pelos BRIC vai ser dificil mas Socrates tambem tem aguentado a popularidade apesar da crise estrutural.
Por isso é que digo que o grande jogo começa agora. Se tivesse de apostar diria que Obama e os democratas perdem, apesar da previsivel evolução demografica os favorecer (aumento da % de latinos), não por culpa propria mas porque a transferencia de poder economico para o oriente é imparavel.
Cam
Ah, o site é muito interessante.
Em particular vou ver se leio com calma esta parte:
http://redbluerichpoor.com/excerpt.php
Este paradoxo tambem me parece existir em Portugal.
Cam
Boa noite Prof. Pedro Magalhães. Gostaria de lhe deixar uma pergunta: Considera que a vitória de Obana eleva as expectativas políticas dos Americanos e do mundo a um nível tão alto, que a margem de erro se torna inversamente proporcional e a não correspondencia das espectativas pode trazer consequências polítas mundiais graves? Se a vitória de Obama muda o panorama político americano e por "arrasto" o mundial, também terá graves consequências no carro de falhar (por exemplo nas relações com outras nações)? Obrigado
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