Mas vejamos a questão por outro lado. Há meses que circulam modelos econométricos que prevêem, na base dos tais "fundamentals" - economia, cansaço/aprovação do incumbent, etc. - a percentagem de votos para candidatos do Partido Republicano (o incumbent). Estes modelos são "cegos" em relação à "raça" dos candidatos. Alguns deles podem tê-la indirectamente, se usarem sondagens sobre os candidatos -mesmo que distantes no tempo em relação às eleições - mas a maioria não tem. Os resultados estão no Pollyvote:
A vantagem máxima para o candidato Democrata é de 16 pontos, a mínima é de 0,2 pontos. Mas a média é de 5,4 pontos.
Agora olhem para aqui:
A estimativa actual da vantagem de Obama, excluídos indecisos e 3ºs candidatos, é de 8,3 pontos. Por outras palavras a vantagem de Obama é maior do que se poderia esperar "given the fundamentals". Claro que: ainda não é dia 4, e mesmo até à véspera do dia 4, as sondagens podem vir a revelar-se erradas. Mas se há alguma coisa que se possa dizer "given the fundamentals", é que o facto de Obama ser negro o favorece eleitoralmente. Absurdo, não é? Sim, mas o contrário, na base disto, também é.
3 comentários:
Caro Pedro,
Em primeiro, quero-lhe felicitar pelo blog que acompanho há muito devido ao mesmo gosto por esta temática.
Tenho acompanhado as eleições americanas e "assaltaram-me" algumas dúvidas sobre as sondagens. São dúvidas que surgem de uma leitura muito superficial, mas que penso serem úteis serem aqui esclarecidas:
1º Trata-se da fiabilidade das sondagens que são agregadas nos principais sites como o RCP, Pollster ou 538. No mesmo dia ou espaço curto de tempo, cerca de meia dúzia sondagens são capazes de ter 6 ou 8 pontos percentuais de diferença nos resultados (relativamente à distância entre candidatos), acontecendo isto com muita regularidade.
Isto não compromete a confiança das sondagens? Penso que as margens de erro andarão nos 3%, na média, e o n. confiança em 95%. É possível 95% destas sondagens estarem dentro da margem de erro?
2ª A média das amostras penso que andam em cerca de 2000 mil pessoas por sondagem a nível nacional. Não será este um número demasiado baixo para um país de 300 milhões? Penso que 2000 mil é o número usado regularmente em Portugal, estou certo?
3º Esta já é de leitura de sondagens. Há já sondagens (em número e qualidade) suficientes para falarmos de uma tendência após o último debate presidencial, principalmente nos estados mais decisivos?
Talvez sejam perguntas triviais, mas fiquei com estas dúvidas.
Sobre o efeito Bradley, tenho muitas dúvidas sobre esse efeito. Será que o constrangimento de se declarar um voto em Obama é assim tão diferente numa sondagem ou na urna. Ambas não têm garantias de confidencialidade? Será que a convicção nos candidatos muda em tão pouco espaço de tempo?
Cumprimentos e a continuação de um excelente trabalho.
Reflexões de um diletante anónimo (eu).
Desde muito cedo se focou a raça de Obama, se fincou que era de raça negra (é mestiço, educado numa familia branca, mas repetiu-se que é negro).
Quem deu mais relevo a esse pormenor, os apoiantes de Obama, adversarios de Obama ou 3ºs sem interesse na disputa?
Um pormenor pode ajudar a responder a isso, isto visto com a distância de quem acompanha tudo isto de forma pouca atenta (como aliás acompanhará o eleitor médio americano). O tom com que era referida a raça do candidato! Era referido em tom positivo, seria o 1º presidente negro da historia dos USA.
Este tom claramente positivo com que é apresentado no panorama mediatico portugues deve ser um reflexo das peças televisivas que já chegam a Portugal montadas pelos estudios americanos. Logo a raça do candidato era referida como algo positivo, ía fazer-se história.
Esta focagem na raça sendo positiva se foi planeadamente incentivada por alguem foi por apoiantes de Obama.
E numa primeira fase faz todo o sentido. Ajuda o candidato a emergiu do meio da dezenas de candidatos iniciais, ajuda, e muito, a dar o arranque à campanha.
Numa segunda fase, ainda dentro das primarias do partido democratico já só restavam Hillary e Obama. Uma mulher e um negro a concorrer pelo partido democratico. Será um sinal dos tempos em que pelo menos entre partidos de esquerda é uma vantagem ser mulher ou ser negro? Na França tambem Ségolène Royal pareceu beneficiar de esse factor para se afirmar como candidata do PSF.
Se entre o eleitorado em geral pode ser discutivel se a raça de Obama é uma vantagem ou uma desvantagem entre o eleitorado democratico ser negro será claramente mais favoravel que entre o eleitorado em geral.
Pareceu-me perceber que Obama usou, discretamente, a sua raça para fazer campanha durante as primarias. Se o fez certamente apoiou-se em estudos de opinião.
Agora entre o eleitorado em geral torna-se mais dificil a percepção se a raça de Obama lhe confere vantagens ou desvantagens. Mesmo no dia da eleição irá ser dificil perceber se as diferenças em relação às sondagens foram provocados pelo efeito Bradley, por diferenças de motivação nos eleitorados do 2 candidatos ou outras razões.
Um hipotese para respondermos a esta questão é seguir a pista de quem levanta a questão da raça de Obama. Em politica, principalmente em tempo de eleições não há lugar para ingenuidades e parece-me que os media americanos são profundamente politizados. Quem levantar a questão da raça, quem apontar para esse pormenor é quem tem a ganhar com ele. Se forem media pró-republicanos então a raça de Obama é-lhe prejudicial, se forem media pró-democratas então a raça de Obama é-lhe vantajosa em termos eleitorais.
Quem levanta a lebre é que quer caçar.
Por ultimo refira-se que Obama é um politico negro bastante diferente do politico negro tipico.
Tudo espremido, a sensação com que fico, observando esta campanha de forma pouco atenta é que Obama deve estar a ganhar votos por ser negro. Basicamente porque as tvs portuguesas reproduzem peças televisivas feitas nos USA aonde a raça de Obama é referida de forma positiva.
Cam
Agora dificil vai ser perceber até que ponto as diferenças verificadas entre as sondagens e o resultado final serão devidas a erros metodologicos das sondagens, a diferenças de motivação que se traduzem em diferenças de abstenção, efeito bradley, respostas condicionadas pela pressão social (como cá acontece com as respostas nalguns partidos).
Talvez cruzando dados de diferentes regiões se consiga percepcionar alguma coisa sobre o peso dos diferentes factores, que podem até contrabalançar-se.
Mas para fazer uma analise posterior seria bom que as sondagens fossem já feitas a pensar nessa analise.
Digo eu que não percebo nada disso.
Cam
Enviar um comentário