quinta-feira, junho 30, 2011
terça-feira, junho 28, 2011
Ensino Superior e Ciência, agora no Programa do Governo
O programa do XIX Governo foi conhecido hoje. Na continuação de um post anterior, assinalo as passagens que me pareceram mais relevantes no que ao ensino superior e à ciência diz respeito:
- "Introduzir incentivos salariais para investigadores em função da capacidade de mobilizar recursos, desenvolver investigação de alta qualidade, licenciamento de patentes e impacto numa lógica de cooperação empresarial".
- "Assegurar que os contratos de confiança com as universidades incluem metas para a criação de spin-offs, registo e licenciamento de patentes".
- "Estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização da rede pública de instituições de Ensino Superior, com eventual especialização das instituições em termos de oferta de cursos e de investigação".
- "Discussão do modelo de financiamento do ensino superior, com vista, por um lado, a uma maior estabilidade e previsibilidade e, por outro, à consideração de factores de qualidade da actividade e de incentivos ao seu melhoramento".
- "aumento do ratio em I&D sobre o PIB e na diversificação das fontes de financiamento".
- "Privilegiar os apoios públicos às actividades de I&D de excelência".
- "Lançar um programa competitivo de apoio a Programas de Doutoramento que demonstrem a melhor qualidade, estrutura e garantia de rentabilidade".
- "Reforçar o investimento em áreas críticas para o desenvolvimento social e económico de Portugal, nomeadamente nas ciências da vida e da saúde, com enormes repercussões financeiras na saúde pública, na agricultura, no ambiente e na biodiversidade".
- "Agilizar disposições legislativas que facilitem a integração de investigadores do sector público no sector privado e que valorizem curricularmente as actividades de transferência de tecnologia".
- "Incentivar a integração do sistema científico nacional no espaço europeu de investigação, a saber, aumentando a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro e incentivando grandes linhas de investigação industrial mediante a colaboração público-privada".
- "Abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas".
Há mais, mas isto pareceu-me o mais concreto. Posso estar a ver mal, porque só li isto uma vez e rapidamente. Mas em comparação com o programa do PSD, este programa de governo parece-me mais cauteloso no que diz respeito à reorganização da rede de ensino superior (antes falava-se abertamente da identificação de cursos "sem viabilidade", agora fala-se de "estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização"), à anteriormente prevista "segmentação das instituições em termos de ensino e investigação, à limitação de financiamento para a investigação apenas a algumas instituições (fala-se agora de "discussão do modelo de financiamento"), à regra de não renovação de pós-doutoramentos e ao fim das bolsas individuais para doutoramento. Não quer dizer que essas medidas não estejam previstas ou não sejam realizadas, mas não aparecem aqui da mesma forma, ou, se quiserem, no mesmo tom. A ideia geral de uma ligação às empresas e de diversificação de fontes de financiamento permanece, mas também menos enfática. E há na página 118 um surpreendente - mas, para quem está nesta área, compreensível e justo - elogio a aspectos da actuação de anteriores governos neste domínio da ciência.
- "Introduzir incentivos salariais para investigadores em função da capacidade de mobilizar recursos, desenvolver investigação de alta qualidade, licenciamento de patentes e impacto numa lógica de cooperação empresarial".
- "Assegurar que os contratos de confiança com as universidades incluem metas para a criação de spin-offs, registo e licenciamento de patentes".
- "Estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização da rede pública de instituições de Ensino Superior, com eventual especialização das instituições em termos de oferta de cursos e de investigação".
- "Discussão do modelo de financiamento do ensino superior, com vista, por um lado, a uma maior estabilidade e previsibilidade e, por outro, à consideração de factores de qualidade da actividade e de incentivos ao seu melhoramento".
- "aumento do ratio em I&D sobre o PIB e na diversificação das fontes de financiamento".
- "Privilegiar os apoios públicos às actividades de I&D de excelência".
- "Lançar um programa competitivo de apoio a Programas de Doutoramento que demonstrem a melhor qualidade, estrutura e garantia de rentabilidade".
- "Reforçar o investimento em áreas críticas para o desenvolvimento social e económico de Portugal, nomeadamente nas ciências da vida e da saúde, com enormes repercussões financeiras na saúde pública, na agricultura, no ambiente e na biodiversidade".
- "Agilizar disposições legislativas que facilitem a integração de investigadores do sector público no sector privado e que valorizem curricularmente as actividades de transferência de tecnologia".
- "Incentivar a integração do sistema científico nacional no espaço europeu de investigação, a saber, aumentando a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro e incentivando grandes linhas de investigação industrial mediante a colaboração público-privada".
- "Abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas".
Há mais, mas isto pareceu-me o mais concreto. Posso estar a ver mal, porque só li isto uma vez e rapidamente. Mas em comparação com o programa do PSD, este programa de governo parece-me mais cauteloso no que diz respeito à reorganização da rede de ensino superior (antes falava-se abertamente da identificação de cursos "sem viabilidade", agora fala-se de "estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização"), à anteriormente prevista "segmentação das instituições em termos de ensino e investigação, à limitação de financiamento para a investigação apenas a algumas instituições (fala-se agora de "discussão do modelo de financiamento"), à regra de não renovação de pós-doutoramentos e ao fim das bolsas individuais para doutoramento. Não quer dizer que essas medidas não estejam previstas ou não sejam realizadas, mas não aparecem aqui da mesma forma, ou, se quiserem, no mesmo tom. A ideia geral de uma ligação às empresas e de diversificação de fontes de financiamento permanece, mas também menos enfática. E há na página 118 um surpreendente - mas, para quem está nesta área, compreensível e justo - elogio a aspectos da actuação de anteriores governos neste domínio da ciência.
segunda-feira, junho 27, 2011
Continua a não haver sondagens sobre:
1. O que os portugueses acham de cada um das principais medidas do memorando.
2. O que acham da composição do novo governo.
3. O que acham das possíveis lideranças do maior partido da oposição.
Etc.
Etc.
Etc.
Gastaram o dinheiro todo nas tracking.
2. O que acham da composição do novo governo.
3. O que acham das possíveis lideranças do maior partido da oposição.
Etc.
Etc.
Etc.
Gastaram o dinheiro todo nas tracking.
A composição dos governos
Um texto a reler por estes dias é "Portugal: the Primacy of Independents", de António Costa Pinto e Pedro Tavares de Almeida, num livro chamado The Selection of Ministers in Europe: Hiring and Firing, organizado por Keith Dowding.
Costa Pinto e Tavares de Almeida mostram, entre outras coisas, que o governo mais pequeno até 2005 (contando com secretários de estado) teve 46 postos (Cavaco Silva 1985 e Nobre da Costa). E o principal tema do capítulo é a grande proporção (comparativamente muito elevada) de "independentes" sem experiência político-partidária ou parlamentar nos governos portugueses, independentemente de composição partidária e tipo (maioritário, minoritário, coligação).
Costa Pinto e Tavares de Almeida mostram, entre outras coisas, que o governo mais pequeno até 2005 (contando com secretários de estado) teve 46 postos (Cavaco Silva 1985 e Nobre da Costa). E o principal tema do capítulo é a grande proporção (comparativamente muito elevada) de "independentes" sem experiência político-partidária ou parlamentar nos governos portugueses, independentemente de composição partidária e tipo (maioritário, minoritário, coligação).
quarta-feira, junho 22, 2011
Programa do PSD: Ensino Superior e Ciência
Sabe-se que são muito poucas as pessoas que lêem os programas eleitorais dos partidos. É normal. Eu, que faço disto profissão, li-os na diagonal e mal. Mas houve uma parte que li com atenção, particularmente no Programa do PSD. Numa escolha puramente pessoal, possivelmente mais enviesada para o que está ligado à Ciência, deixo aqui uma lista de medidas e intenções na área do Ensino Superior e Ciência. Vou tentar deixar de fora objectivos muito genéricos e concentrar-me em coisas que me parece serem susceptíveis de serem traduzidas em medidas concretas a curto ou médio prazo. Podíamos tentar iniciar aqui um debate. O que pensam os leitores destas medidas, ou do seu sentido geral? Se houver outros aspectos do programa que achem merecer discussão, força.
- "Revisão do mapa nacional de universidades e institutos politécnicos"; "Identificação exaustiva e rigorosa dos cursos sem viabilidade na conjuntura actual" e "evitar a duplicação de ofertas [de cursos superiores], dando primazia às instituições com cursos de referência e especializando instituições com menor massa crítica a nível nacional";
-"Segmentar as Instituições de Ensino Superior em Termos de Educação e Investigação. O Governo deve desenvolver uma orientação política clara e incentivos relevantes para a especialização das
instituições em termos de pedagogia e investigação";
-"Flexibilização dos percursos de carreira possíveis, com valorização de outras dimensões que não só o ensino, a investigação e a publicação; Em particular, devem ser valorizadas as iniciativas relacionadas com a inovação empresarial, a criação de empresas e a geração de empregos de elevado valor acrescentado";
-"Criação de um novo modelo de financiamento para o ensino superior mais diversificado em termos de actividade e baseado no desempenho concreto das instituições"; "dotações para investigação básica limitadas a certas instituições, dotações para investigação aplicada limitadas, com «match funding» de empresas e associações sectoriais; prémios para o nível de internacionalização dos alunos e docentes e para presença em listas de referência internacionais; prémios para a empregabilidade dos cursos, a nível nacional e internacional; prémios para a ligação ao tecido empresarial";
-"Apoios [à investigação] passarem a estar entrados em políticas de estímulo à procura (tecido produtivo), em contraponto ao actual sistema, muito centrado na oferta (tecido científico)";
-"A FCT deverá privilegiar a atribuição de bolsas aos programas doutorais e não de forma individual aos candidatos";
-"O Governo deverá definir, com carácter de prioridade, e sem prejuízo de uma investigação fundamental, uma política no sentido de envolver os seus Laboratórios e Centros de Investigação Tecnológica, incluindo os universitários, a estabelecer e dinamizar parcerias com as empresas, com vista a desenvolver programas de investigação aplicada";
-"Os estabelecimentos de Ensino Superior devem ser incentivados a orientar os doutorandos nas áreas tecnológicas para temas de desenvolvimento de novos produtos, promovendo programas doutorais em estreita colaboração com as empresas";
-"Como regra, só em situações muito excepcionais, deve haver repetição de bolsas de pós-doutoramento";
-"Há que avançar de forma clara no espaço europeu de investigação, aumentando a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro, atingindo a curto prazo o objectivo mínimo de captar em financiamento um valor idêntico ao peso económico do País. Entre outros factores, devemos apoiar as grandes linhas de investigação industrial, mediante a colaboração público-privado".
P.S.- Perguntam-me por e-mail se não deveria incluir o programa do CDS-PP. Mas o programa eleitoral do CDS-PP , em 75 páginas, não menciona a palavra "ciência" uma única vez, e das seis vezes que aparece a palavra "investigação", quatro delas é a propósito de investigação criminal...
- "Revisão do mapa nacional de universidades e institutos politécnicos"; "Identificação exaustiva e rigorosa dos cursos sem viabilidade na conjuntura actual" e "evitar a duplicação de ofertas [de cursos superiores], dando primazia às instituições com cursos de referência e especializando instituições com menor massa crítica a nível nacional";
-"Segmentar as Instituições de Ensino Superior em Termos de Educação e Investigação. O Governo deve desenvolver uma orientação política clara e incentivos relevantes para a especialização das
instituições em termos de pedagogia e investigação";
-"Flexibilização dos percursos de carreira possíveis, com valorização de outras dimensões que não só o ensino, a investigação e a publicação; Em particular, devem ser valorizadas as iniciativas relacionadas com a inovação empresarial, a criação de empresas e a geração de empregos de elevado valor acrescentado";
-"Criação de um novo modelo de financiamento para o ensino superior mais diversificado em termos de actividade e baseado no desempenho concreto das instituições"; "dotações para investigação básica limitadas a certas instituições, dotações para investigação aplicada limitadas, com «match funding» de empresas e associações sectoriais; prémios para o nível de internacionalização dos alunos e docentes e para presença em listas de referência internacionais; prémios para a empregabilidade dos cursos, a nível nacional e internacional; prémios para a ligação ao tecido empresarial";
-"Apoios [à investigação] passarem a estar entrados em políticas de estímulo à procura (tecido produtivo), em contraponto ao actual sistema, muito centrado na oferta (tecido científico)";
-"A FCT deverá privilegiar a atribuição de bolsas aos programas doutorais e não de forma individual aos candidatos";
-"O Governo deverá definir, com carácter de prioridade, e sem prejuízo de uma investigação fundamental, uma política no sentido de envolver os seus Laboratórios e Centros de Investigação Tecnológica, incluindo os universitários, a estabelecer e dinamizar parcerias com as empresas, com vista a desenvolver programas de investigação aplicada";
-"Os estabelecimentos de Ensino Superior devem ser incentivados a orientar os doutorandos nas áreas tecnológicas para temas de desenvolvimento de novos produtos, promovendo programas doutorais em estreita colaboração com as empresas";
-"Como regra, só em situações muito excepcionais, deve haver repetição de bolsas de pós-doutoramento";
-"Há que avançar de forma clara no espaço europeu de investigação, aumentando a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro, atingindo a curto prazo o objectivo mínimo de captar em financiamento um valor idêntico ao peso económico do País. Entre outros factores, devemos apoiar as grandes linhas de investigação industrial, mediante a colaboração público-privado".
P.S.- Perguntam-me por e-mail se não deveria incluir o programa do CDS-PP. Mas o programa eleitoral do CDS-PP , em 75 páginas, não menciona a palavra "ciência" uma única vez, e das seis vezes que aparece a palavra "investigação", quatro delas é a propósito de investigação criminal...
quinta-feira, junho 09, 2011
Outlier
Não sei porquê (sei, sei), achei que o último livro do Martin Amis já não conseguiu melhorar depois disto, na página 4:
Sobre as sondagens
Paulo Morais escreve sobre as sondagens no Blasfémias. Quatro comentários:
1. As empresas, pela voz dos seus responsáveis, já frequentemente assinalam que intenções de voto não são previsões. Lamentavelmente, essa argumentação é um bocado descredibilizada quando vêm depois a público reclamar sem mais que as suas sondagens foram as que mais se aproximaram dos resultados eleitorais como se isso tivesse um significado mais especial do que aquilo que tem.
2. Quando Paulo Morais diz que as intenções de voto no PSD foram subavaliadas e as do PS e do CDS inflacionadas, incorre, involuntariamente, no mesmo lapso. Como sabe Paulo Morais que elas terão sido inflacionadas e subavaliadas? Por comparação com os resultados eleitorais? Mas afinal...
3. De resto, mesmo que queiramos incorrer nesse primeiro lapso, há um segundo lapso no texto de Paulo Morais: as intenções de voto captadas no CDS estiveram completamente alinhadas com os que vieram a ser os seus resultados.
4. Não é para mim evidente a relação entre a pequena dimensão de alguns círculos e a estimação de intenções de voto a nível nacional, mas se calhar percebi mal.
Com tudo isto não quero dizer:
- que não faça sentido comparar intenções de voto com resultados. Faz sentido, desde que tenhamos em conta e tentemos estimar tudo aquilo que pode fazer com que umas sejam diferentes das outras e que, como sucede em todos os estudos observacionais (ao contrário dos experimentais), compreendamos que nunca temos a certeza de conseguir "tomar em conta" todos esses factores.
- que tudo esteja bem no tratamento dos indecisos. Podia-se talvez fazer melhor.
- que tudo esteja bem - e este para mim é um dos pontos mais importantes - na estimação do que é um "votante provável". Mas vai haver sempre limites. Nos Estados Unidos, ou em países como a Suécia, quem faz sondagens sabe se uma pessoa que declara uma intenção de voto e a intenção de votar votou realmente nas últimas eleições, pela consulta dos registos eleitorais. Em Portugal isso não é possível. E enquanto não for, vai ser difícil ter bons modelos.
- que grandes semelhanças entre as sondagens entre si, em cada momento e nos seus movimentos, não possam explicações menos benévolas. Já falei disso aqui muitas vezes.
E como isto é um país pequeno, e como muita gente olha para a realidade a preto e branco, e como discordâncias são frequentemente interpretadas em termos pessoais, acrescento que conheço bem Paulo Morais e tenho muita, mas mesmo muita, simpatia por ele.
1. As empresas, pela voz dos seus responsáveis, já frequentemente assinalam que intenções de voto não são previsões. Lamentavelmente, essa argumentação é um bocado descredibilizada quando vêm depois a público reclamar sem mais que as suas sondagens foram as que mais se aproximaram dos resultados eleitorais como se isso tivesse um significado mais especial do que aquilo que tem.
2. Quando Paulo Morais diz que as intenções de voto no PSD foram subavaliadas e as do PS e do CDS inflacionadas, incorre, involuntariamente, no mesmo lapso. Como sabe Paulo Morais que elas terão sido inflacionadas e subavaliadas? Por comparação com os resultados eleitorais? Mas afinal...
3. De resto, mesmo que queiramos incorrer nesse primeiro lapso, há um segundo lapso no texto de Paulo Morais: as intenções de voto captadas no CDS estiveram completamente alinhadas com os que vieram a ser os seus resultados.
4. Não é para mim evidente a relação entre a pequena dimensão de alguns círculos e a estimação de intenções de voto a nível nacional, mas se calhar percebi mal.
Com tudo isto não quero dizer:
- que não faça sentido comparar intenções de voto com resultados. Faz sentido, desde que tenhamos em conta e tentemos estimar tudo aquilo que pode fazer com que umas sejam diferentes das outras e que, como sucede em todos os estudos observacionais (ao contrário dos experimentais), compreendamos que nunca temos a certeza de conseguir "tomar em conta" todos esses factores.
- que tudo esteja bem no tratamento dos indecisos. Podia-se talvez fazer melhor.
- que tudo esteja bem - e este para mim é um dos pontos mais importantes - na estimação do que é um "votante provável". Mas vai haver sempre limites. Nos Estados Unidos, ou em países como a Suécia, quem faz sondagens sabe se uma pessoa que declara uma intenção de voto e a intenção de votar votou realmente nas últimas eleições, pela consulta dos registos eleitorais. Em Portugal isso não é possível. E enquanto não for, vai ser difícil ter bons modelos.
- que grandes semelhanças entre as sondagens entre si, em cada momento e nos seus movimentos, não possam explicações menos benévolas. Já falei disso aqui muitas vezes.
E como isto é um país pequeno, e como muita gente olha para a realidade a preto e branco, e como discordâncias são frequentemente interpretadas em termos pessoais, acrescento que conheço bem Paulo Morais e tenho muita, mas mesmo muita, simpatia por ele.
quarta-feira, junho 08, 2011
Alegre/Bloco
Em complemento a este post do Aventar, um zoom sobre as intenções de voto dos três "pequenos partidos" a partir de Janeiro de 2010. A linha vertical é Novembro de 2010, início aproximado do declínio de Manuel Alegre nas sondagens para as presidenciais. Não estou a tentar vender teoria alguma. Fiquei intrigado com o post do Aventar e fui ver melhor, achei curioso, e é só isso.
P.S.- Claro que a descida de Alegre foi concomitante com a subida de Nobre. Aqui sim já estou a tentar passar uma teoriazita ou outra, assim ainda um bocadinho vaga.
P.S.- Claro que a descida de Alegre foi concomitante com a subida de Nobre. Aqui sim já estou a tentar passar uma teoriazita ou outra, assim ainda um bocadinho vaga.
segunda-feira, junho 06, 2011
Rescaldo
Vou fugir um pouco à prática de colocar aqui os dados em detalhe porque Fernando Pereira Bastos me enviou um ficheiro fantástico com tudo isso. Logo, disponibilizo-o aqui e limito-me a fazer alguns comentários. Desculpem esta descentralização, mas é simplesmente porque acho que não conseguiria fazer melhor.
1. Desvios entre intenções de voto registadas nas últimas sondagens e resultados eleitorais semelhantes aos verificados em 2009, mas com alguma diminuição global.
2. Boca das urnas, a mesma coisa, e aqui mais importante, porque estamos de facto a comparar comportamentos (não intenções) com resultados: desvios entre pontos centrais dos intervalos e resultados semelhantes aos de 2009, mas globalmente mais baixos.
3. Fenómeno de discrepância entre intenções de voto registadas para CDS-PP e resultados eleitorais desapareceu nesta eleição. Houve em 2002 e 2009, não houve em 2005 e 2011, e confesso que não tenho uma explicação que consiga apoiar com dados. Só especulações.
Para além daquilo que o Fernando fez, vou apenas actualizar um quadro que já tinha aqui apresentado. Vou considerar como sondagens da última semana apenas as que tinham amostras independentes:
- Aximage, 2 de Junho
- Marktest, 31 de Maio
- Católica, 29 de Maio
- Intercampus, 29 de Maio e 2 de Junho
- Eurosondagem, 29 de Maio de 2 de Junho
1. Desvios entre intenções de voto registadas nas últimas sondagens e resultados eleitorais semelhantes aos verificados em 2009, mas com alguma diminuição global.
2. Boca das urnas, a mesma coisa, e aqui mais importante, porque estamos de facto a comparar comportamentos (não intenções) com resultados: desvios entre pontos centrais dos intervalos e resultados semelhantes aos de 2009, mas globalmente mais baixos.
3. Fenómeno de discrepância entre intenções de voto registadas para CDS-PP e resultados eleitorais desapareceu nesta eleição. Houve em 2002 e 2009, não houve em 2005 e 2011, e confesso que não tenho uma explicação que consiga apoiar com dados. Só especulações.
Para além daquilo que o Fernando fez, vou apenas actualizar um quadro que já tinha aqui apresentado. Vou considerar como sondagens da última semana apenas as que tinham amostras independentes:
- Aximage, 2 de Junho
- Marktest, 31 de Maio
- Católica, 29 de Maio
- Intercampus, 29 de Maio e 2 de Junho
- Eurosondagem, 29 de Maio de 2 de Junho
First things first
A nossa pool! Este post dava ligação para um ficheiro com todas as apostas registadas. Adicionei posteriormente umas apostas que estavam num comentário em que não tinha reparado.
Resultados às 10h de hoje:
PSD: 38,6%
PS: 28,1%
CDS-PP: 11,7%
CDU: 7,9%
BE: 5,2%
No dia 3 de Maio, às 17:16, recebi este comentário:
"PSD = 38
PS = 30
CDS-PP = 12
CDU = 8
BE = 5
OBN = 7"
Foi do Koimbra, grande vencedor, com um desvio absoluto médio de 0,62. Parabéns! As cinco primeiras classificações:
1º Koimbra (0,62)
2º Carlos Loureiro (0,78)
3º Hugo (0,94)
4º mcorreia, Nuno e, bem, eu próprio (1,34)
5º João Saro (1,38).
Koimbra: mande a sua morada para o e-mail do Margens de Erro, sff.
P.S. - O ficheiro está aqui para consulta.
Resultados às 10h de hoje:
PSD: 38,6%
PS: 28,1%
CDS-PP: 11,7%
CDU: 7,9%
BE: 5,2%
No dia 3 de Maio, às 17:16, recebi este comentário:
"PSD = 38
PS = 30
CDS-PP = 12
CDU = 8
BE = 5
OBN = 7"
Foi do Koimbra, grande vencedor, com um desvio absoluto médio de 0,62. Parabéns! As cinco primeiras classificações:
1º Koimbra (0,62)
2º Carlos Loureiro (0,78)
3º Hugo (0,94)
4º mcorreia, Nuno e, bem, eu próprio (1,34)
5º João Saro (1,38).
Koimbra: mande a sua morada para o e-mail do Margens de Erro, sff.
P.S. - O ficheiro está aqui para consulta.
sexta-feira, junho 03, 2011
Recta final
Na verdade estou sem tempo. Mas também acho que não há muito mais para dizer. Não me recordo de eleições com sondagens tão convergentes na última semana. O que não quer dizer:
1. Que estejam certas. Podem ser afectadas por enviesamentos comuns.
2. Que sirvam de previsão para os resultados de Domingo. Mesmo que estejam a medir com precisão as intenções de votar e de voto, intenções são intenções, e podem ser afectadas por movimentos entre a sua manifestação e o dia das eleições, especialmente de abstenção e mobilização diferenciais. O passado não sugere grandes surpresas, mas o passado nunca sugere surpresas até as surpresas acontecerem.
O melhor é votar. 2ª feira falamos.
1. Que estejam certas. Podem ser afectadas por enviesamentos comuns.
2. Que sirvam de previsão para os resultados de Domingo. Mesmo que estejam a medir com precisão as intenções de votar e de voto, intenções são intenções, e podem ser afectadas por movimentos entre a sua manifestação e o dia das eleições, especialmente de abstenção e mobilização diferenciais. O passado não sugere grandes surpresas, mas o passado nunca sugere surpresas até as surpresas acontecerem.
O melhor é votar. 2ª feira falamos.
quinta-feira, junho 02, 2011
O chato
Eu sei que sou insuportável. Mas isto não dá:
"PSD cai 1 décima mas dilata vantagem sobre PS"
Eh pá, tenham paciência. Nem quero entrar na questão de "décima" vs. "décimo". E até percebo que uma descida de um décimo de ponto percentual possa aparecer numa tabela ou num gráfico. Mas num título? Que espécie de coisa é uma descida de 0,1 numa sondagem? Eu tinha dito que havia riscos nesta coisa da tracking poll, e este é o pior. Leiam lá isto. Nem é preciso fazer contas. É só ficar com a ideia geral.
"PSD cai 1 décima mas dilata vantagem sobre PS"
Eh pá, tenham paciência. Nem quero entrar na questão de "décima" vs. "décimo". E até percebo que uma descida de um décimo de ponto percentual possa aparecer numa tabela ou num gráfico. Mas num título? Que espécie de coisa é uma descida de 0,1 numa sondagem? Eu tinha dito que havia riscos nesta coisa da tracking poll, e este é o pior. Leiam lá isto. Nem é preciso fazer contas. É só ficar com a ideia geral.
Sondagem do CESOP
Intenções de voto não são comportamentos de voto, pelo que comporta um certo risco tratar a relação das primeiras com variáveis explicativas, risco esse que é contornado pelas sondagens pós-eleitorais (e por exit polls feitas a pensar nisso, volto a insistir). Mas os resultados da sondagem da Católica são tão interessantes desse ponto de vista que é impossível resistir. Estou a olhar para os gráficos do DN e não os encontrei online. Mas quando estiver depositada na ERC vão poder perceber melhor o que estou a dizer.
1. A relação curvilinear entre idade e a opção "De certeza que vai votar": mais jovens votam menos, a propensão cresce depois e volta a descer no fim do ciclo de vida. É muito débil ainda este padrão, mas vai fortalecer certamente quando olharmos para comportamentos em vez de intenções.
2. O bom desempenho do CDS e (especialmente) BE entre os mais jovens. O padrão é familiar.
3. A correlação negativa - forte mesmo nas intenções de voto - entre instrução e voto no PS, cujo desempenho entre os mais instruídos é bastante fraco. Entre os que não completaram o secundário, pelo contrário, o PS supera mesmo o PSD em intenções de voto. Também aqui se confirmam padrões de 2009. Mas o PSD parece ter recuperado entre os mais instruídos em comparação com 2009.
Tudo isto é para confirmar depois, mas é este tipo de coisas a que as sondagens e aqueles que as divulgam deviam dar sempre importância. E é também o tipo de coisas que dá confiança na validade daquilo que se mediu numa sondagem, tal como já me tinha sucedido ontem na análise dos resultados da Intercampus.
1. A relação curvilinear entre idade e a opção "De certeza que vai votar": mais jovens votam menos, a propensão cresce depois e volta a descer no fim do ciclo de vida. É muito débil ainda este padrão, mas vai fortalecer certamente quando olharmos para comportamentos em vez de intenções.
2. O bom desempenho do CDS e (especialmente) BE entre os mais jovens. O padrão é familiar.
3. A correlação negativa - forte mesmo nas intenções de voto - entre instrução e voto no PS, cujo desempenho entre os mais instruídos é bastante fraco. Entre os que não completaram o secundário, pelo contrário, o PS supera mesmo o PSD em intenções de voto. Também aqui se confirmam padrões de 2009. Mas o PSD parece ter recuperado entre os mais instruídos em comparação com 2009.
Tudo isto é para confirmar depois, mas é este tipo de coisas a que as sondagens e aqueles que as divulgam deviam dar sempre importância. E é também o tipo de coisas que dá confiança na validade daquilo que se mediu numa sondagem, tal como já me tinha sucedido ontem na análise dos resultados da Intercampus.
Assistente fora do escritório
Não vou conseguir responder a tantos e-mails com a brevidade que vocês acham - e bem - que eles merecem. Vou tentar responder, mas vai demorar. Desculpem.
Candidatos a deputados por Lisboa
É onde eu voto. A lista de candidatos pode ser consultada aqui. Bem sei que no nosso sistema esta consideração é talvez pouco relevante, e talvez menos do que deveria ser. Mas pensar deste ponto de vista pode fazer algum sentido, especialmente para quem estiver muito indeciso.
Um e-mail sobre OBN's nas intenções de voto e nos comportamentos de voto
Recebi um e-mail de um leitor com este gráfico. Não fui verificar dados mas suponho serem baseados no quadro no post abaixo com as sondagens das últimas semanas. A "projecção" que o leitor faz para 2011 é simplesmente a média das diferenças passadas entre as médias das intenções de voto e daqueles que acabaram por ser os resultados finais. O leitor informou-me também, com uma clareza que nem sempre ocorre nestas coisas, que é militante do MEP, tendo compreensivelmente grande interesse nesta questão. À vossa consideração.
Pool
Há uma pessoa que, imagino, gostaria que o resultado de Domingo fosse a média que está neste post.
Actualizações várias
O quadro das sondagens desde meados de Abril. Recordem que estou a considerar apenas amostras independentes no caso das tracking polls:
As tendências mês a mês (e, no final, para a penúltima e última semanas antes das eleições) controlando house effects. PS desce da semana anterior para esta, PSD e CDU (ligeiramente) sobem, CDS pára depois de meses sempre a subir. Mas faltam sondagens.
E um quadro - provisório - com as sondagens das últimas semanas desde 2002. "Última semana" significa que o trabalho de campo terminou a partir do Domingo anterior à eleição:
A incerteza sobre quem lidera as intenções de voto nesta eleição diminuiu muito com as sondagens que foram realizadas a partir do final da semana passada e cujos resultados estamos a conhecer agora.
As tendências mês a mês (e, no final, para a penúltima e última semanas antes das eleições) controlando house effects. PS desce da semana anterior para esta, PSD e CDU (ligeiramente) sobem, CDS pára depois de meses sempre a subir. Mas faltam sondagens.
E um quadro - provisório - com as sondagens das últimas semanas desde 2002. "Última semana" significa que o trabalho de campo terminou a partir do Domingo anterior à eleição:
A incerteza sobre quem lidera as intenções de voto nesta eleição diminuiu muito com as sondagens que foram realizadas a partir do final da semana passada e cujos resultados estamos a conhecer agora.
quarta-feira, junho 01, 2011
Marktest, 28-31 Maio, N=1208, Tel.
PSD: 38,5% (-0,8)
PS: 30,1% (-3,3)
CDS/PP: 9,7% (+0,7)
CDU: 8,5% (+2,0)
BE: 4,5% (-0,3)
Aqui. Comparação com a sondagem da Marktest de 10 de Maio.
PS: 30,1% (-3,3)
CDS/PP: 9,7% (+0,7)
CDU: 8,5% (+2,0)
BE: 4,5% (-0,3)
Aqui. Comparação com a sondagem da Marktest de 10 de Maio.
Eurosondagem, 27-31 Maio, N=2051, Tel.
PSD: 35,4% (-0,1)
PS: 31,3% (-0,9)
CDS/PP: 13,4% (+0,8)
CDU: 7,9% (+0,3)
BE: 6,0% (-0,3)
Aqui. Se olharmos para os últimos dois dias, temos:
30-31 Maio, N=1025, Tel.
PSD: 35,6% (+0,8)
PS: 31,2% (-0,9)
CDS/PP: 13,6% (+1,0)
CDU: 7,9% (+0,3)
BE: 5,8% (-0,7)
PS: 31,3% (-0,9)
CDS/PP: 13,4% (+0,8)
CDU: 7,9% (+0,3)
BE: 6,0% (-0,3)
Aqui. Se olharmos para os últimos dois dias, temos:
30-31 Maio, N=1025, Tel.
PSD: 35,6% (+0,8)
PS: 31,2% (-0,9)
CDS/PP: 13,6% (+1,0)
CDU: 7,9% (+0,3)
BE: 5,8% (-0,7)
CESOP/Católica, 28-29 Maio, N=3963, Presencial
PSD: 36% (=)
PS: 31% (-5)
CDS/PP: 11% (+1)
CDU: 8% (-1)
BE: 7% (+1)
Aqui. A comparação é com a sondagem do CESOP cujo trabalho de campo terminou dia 22 de Maio.
PS: 31% (-5)
CDS/PP: 11% (+1)
CDU: 8% (-1)
BE: 7% (+1)
Aqui. A comparação é com a sondagem do CESOP cujo trabalho de campo terminou dia 22 de Maio.
Alguns padrões nas sondagens recentes
Passeando pelos depósitos de sondagens recentes na ERC, alguns padrões interessantes nas sondagens da Intercampus (todos eles meramente correlacionais):
1. Mulheres muito mais propensas a manifestar que "não sabem" em que partido votariam.
2. 55 ou + muito menos propensos a manifestar que não vão votar.
3. Dentro daqueles que manifestam intenção de voto, os que tencionam votar na CDU são os que mais dizem que "vão votar de certeza" (95% ou mais nas últimas sondagens). A diferença não é muito grande em relação aos outros partidos, mas tem-se tornado mais forte à medida que avançamos nas diferentes vagas das sondagens da Intercampus. E outra coisa: entre os eleitores do PSD, a percentagem dos que dizem ter a certeza que vão às urnas é sempre superior à percentagem equivalente no PS.
1. Mulheres muito mais propensas a manifestar que "não sabem" em que partido votariam.
2. 55 ou + muito menos propensos a manifestar que não vão votar.
3. Dentro daqueles que manifestam intenção de voto, os que tencionam votar na CDU são os que mais dizem que "vão votar de certeza" (95% ou mais nas últimas sondagens). A diferença não é muito grande em relação aos outros partidos, mas tem-se tornado mais forte à medida que avançamos nas diferentes vagas das sondagens da Intercampus. E outra coisa: entre os eleitores do PSD, a percentagem dos que dizem ter a certeza que vão às urnas é sempre superior à percentagem equivalente no PS.
Ainda boca das urnas
Um excelente resumo sobre como são feitas. Em Portugal é muitíssimo parecido, com a diferença do post anterior e, claro, da operação logística absolutamente descomunal que acontece nos Estados Unidos. De resto, ficava tão caro que as estações se juntaram e passaram a encomendar a sondagem a uma única empresa, utilizando depois os dados como quiserem.
Boca das urnas
No próximo dia 5, é provável que tenhamos o costume: às 20.00h, são anunciadas três projecções, muito próximas entre si, e bastante próximas em relação ao total de votos escrutinados. Desse ponto de vista, não me recordo de uma eleição em que tenha havido problemas (com excepção de uma ou outra eleição regional; quem procurar aqui no blogue encontra um ou outro desses casos). Depois vão andar pelas sedes partidárias, ouvir 457 membros de secretariados e comissões políticas, 967 comentadores (sendo eu um deles), discursos de vitória e de derrota, filmagens de carros e motas a caminho dos ditos, etc.
Mas há um aspecto em que as nossas sondagens à boca das urnas são claramente deficientes: basicamente, não ficamos a aprender nada sobre como as pessoas votaram. Vou dar-vos um exemplo do tipo de coisas que se poderia ficar a saber:
No caso americano, uma infografia fabulosa do NYT mostra o voto segundo uma série de variáveis socio-demográficas. Na Alemanha, algo semelhante, a votação por diferentes grupos sociais, havendo igualmente cruzamentos com avaliações de líderes e percepção de importância de diferentes problemas sociais.
Isto seria impossível de fazer em Portugal? Não. O principal problema novo seria o de transmitir dos pontos de amostragem para a central os dados sobre as restantes variáveis para além das votações agregadas. Mas há soluções tecnológicas capazes de o fazer que não exigiriam investimentos demasiado grandes. Mesmo que os valores das variáveis tivessem de ser ditados pelo telefone, seria sempre possível fazê-lo junto de uma sub-amostra bem menor do que os habituais 15 a 30 mil inquiridos e mesmo assim obter resultados fiáveis e relevantes.
Haveria um custo adicional, certamente. O que se passa, contudo, é que as televisões não acham isto suficientemente interessante para pagarem esse custo adicional. É só mais um exemplo de como as sondagens poderiam aprofundar (em vez de "superficializar") o debate político, mas de como os clientes resistem a correr o risco de mudar a cobertura das noites eleitorais, receando que os espectadores não se interessem. Sempre achei e sempre lhes disse que estão enganados e que valeria a pena arriscar. Pode ser que um dia.
Mas há um aspecto em que as nossas sondagens à boca das urnas são claramente deficientes: basicamente, não ficamos a aprender nada sobre como as pessoas votaram. Vou dar-vos um exemplo do tipo de coisas que se poderia ficar a saber:
No caso americano, uma infografia fabulosa do NYT mostra o voto segundo uma série de variáveis socio-demográficas. Na Alemanha, algo semelhante, a votação por diferentes grupos sociais, havendo igualmente cruzamentos com avaliações de líderes e percepção de importância de diferentes problemas sociais.
Isto seria impossível de fazer em Portugal? Não. O principal problema novo seria o de transmitir dos pontos de amostragem para a central os dados sobre as restantes variáveis para além das votações agregadas. Mas há soluções tecnológicas capazes de o fazer que não exigiriam investimentos demasiado grandes. Mesmo que os valores das variáveis tivessem de ser ditados pelo telefone, seria sempre possível fazê-lo junto de uma sub-amostra bem menor do que os habituais 15 a 30 mil inquiridos e mesmo assim obter resultados fiáveis e relevantes.
Haveria um custo adicional, certamente. O que se passa, contudo, é que as televisões não acham isto suficientemente interessante para pagarem esse custo adicional. É só mais um exemplo de como as sondagens poderiam aprofundar (em vez de "superficializar") o debate político, mas de como os clientes resistem a correr o risco de mudar a cobertura das noites eleitorais, receando que os espectadores não se interessem. Sempre achei e sempre lhes disse que estão enganados e que valeria a pena arriscar. Pode ser que um dia.
Twitosfera até dia 31 de Maio
Até agora tenho sido parco em comentários sobre estes dados do projecto REACTION, especialmente porque não sei bem o que dizer que não seja puramente descritivo:
- As menções a Sócrates diminuíram de peso nas menções totais até meados de Maio, tendo voltado a crescer desde desde aí. O mesmo não sucede nas menções positivas (em relação ao total de menções positivas), que estão estáveis desde meados de Maio
- Paulo Portas é mencionado na Twitosfera com uma frequência desproporcionalmente elevada em relação ao peso eleitoral do CDS, e isso é especialmente verdade no que respeita às menções positivas, onde cresce desde meados de Maio aparentemente à custa (digamos assim) de Sócrates e Passos Coelho.
Um leitor sugeria que tomasse de alguma forma em conta a relação entre menções positivas e negativas. É o que faço no gráfico seguinte, que calcula um índice: (2*%positivas + %neutras)/2. O índice varia entre 0 (100% negativas) e 100 (100% positivas):
Entre os tweets que mencionam cada um dos líderes, os dos pequenos partidos têm menos negatividade.
Para já só queria mostrar estas coisas. Acho que tem de haver muita análise a posteriori para compreendermos a utilidade disto, para além de medir o que se passa na twitosfera portuguesa, que já me parece suficientemente interessante.
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