Paulo Morais escreve sobre as sondagens no Blasfémias. Quatro comentários:
1. As empresas, pela voz dos seus responsáveis, já frequentemente assinalam que intenções de voto não são previsões. Lamentavelmente, essa argumentação é um bocado descredibilizada quando vêm depois a público reclamar sem mais que as suas sondagens foram as que mais se aproximaram dos resultados eleitorais como se isso tivesse um significado mais especial do que aquilo que tem.
2. Quando Paulo Morais diz que as intenções de voto no PSD foram subavaliadas e as do PS e do CDS inflacionadas, incorre, involuntariamente, no mesmo lapso. Como sabe Paulo Morais que elas terão sido inflacionadas e subavaliadas? Por comparação com os resultados eleitorais? Mas afinal...
3. De resto, mesmo que queiramos incorrer nesse primeiro lapso, há um segundo lapso no texto de Paulo Morais: as intenções de voto captadas no CDS estiveram completamente alinhadas com os que vieram a ser os seus resultados.
4. Não é para mim evidente a relação entre a pequena dimensão de alguns círculos e a estimação de intenções de voto a nível nacional, mas se calhar percebi mal.
Com tudo isto não quero dizer:
- que não faça sentido comparar intenções de voto com resultados. Faz sentido, desde que tenhamos em conta e tentemos estimar tudo aquilo que pode fazer com que umas sejam diferentes das outras e que, como sucede em todos os estudos observacionais (ao contrário dos experimentais), compreendamos que nunca temos a certeza de conseguir "tomar em conta" todos esses factores.
- que tudo esteja bem no tratamento dos indecisos. Podia-se talvez fazer melhor.
- que tudo esteja bem - e este para mim é um dos pontos mais importantes - na estimação do que é um "votante provável". Mas vai haver sempre limites. Nos Estados Unidos, ou em países como a Suécia, quem faz sondagens sabe se uma pessoa que declara uma intenção de voto e a intenção de votar votou realmente nas últimas eleições, pela consulta dos registos eleitorais. Em Portugal isso não é possível. E enquanto não for, vai ser difícil ter bons modelos.
- que grandes semelhanças entre as sondagens entre si, em cada momento e nos seus movimentos, não possam explicações menos benévolas. Já falei disso aqui muitas vezes.
E como isto é um país pequeno, e como muita gente olha para a realidade a preto e branco, e como discordâncias são frequentemente interpretadas em termos pessoais, acrescento que conheço bem Paulo Morais e tenho muita, mas mesmo muita, simpatia por ele.
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4 comentários:
1. Penso que o número de indecisos e a forma como estes eram distribuídos terá sido a principal causa das divergências. Não sei se alguma empresa usou uma questão do tipo "há algum partido em que seguramente não votará?". As respostas poderiam ter permitido evitar a clássica distribuição proporcional dos indecisos em função das intenções e voto declaradas.
2. As empresas de sondagens começam a ter o cuidado de não dizer que se trata de previsões. No entanto, pouco ou nada fazem para evitar que os clientes (jornais, rádios, TVs) afirmem (ouvi-o vezes sem conta durante a campanha) "se as eleições fossem hoje, o resultado seria....", o que sempre seria errado, desde logo porque o trabalho de campo não coincide com o "hoje" da divulgação.
3. Não consigo entender como é que,com margens de erro por vezes na ordem dos 3 ou 4% se apresentam os dados com casas decimais (às vezes mas do que uma). A culpa é dos media ou das empresas?
4. Sendo as sondagens o que são (medida de intenção de voto num dado momento e não previsão de resultados eleitorais, excepto as do dia da eleição), porque se lhes dá tanta importância?
[A última pergunta não e para o autor do blogue: eu li o livro e sei as respostas que lá dá, com que concordo].
Sobre a 1, o CESOP usa uma pergunta de "inclinação de voto". Mas, que eu saiba, ninguém usa o "nunca votará". Podiam também perguntar sobre propensão de voto em cada partido, que é um tipo de coisa que se correlaciona mto fortemente com o voto em estudos pós-eleitorais. Acho, contudo, que a questão dos indecisos não é mais relevante que filtrar votantes improváveis. Sobre as casas decimais, enfim, é uma luta antiga... A minha impressão é que os clientes querem a ilusão da precisão, os fornecedores vendem a ilusão (mas alguns convencidos de que estão a fazer bem). Mas por outro lado, eu não tive grandes resistências quando acabei com isso na Católica...
Mesmo com isso tudo, será que as sondagens falharam tanto assim? Isto é, se contarmos as margens de erro, será que muitos resultados não acabaram por estar dentro do "previsto"?
Justifiquem como quiserem!
Para mim assisti a uma conspiração por parte das empresas de sondagens para tentar condicionar o voto dos eleitores, simulando que o PS aguentava o ataque do PSD, por um lado e dando a entender um grande crescimento do CDS para eviatr a transferência de votos para o PSD.
Por outro lado, se esta coisa das sondagens é tão cientifico, tão cientifico não percebo como estas empresas são incapazes de estimar a abstenção!
Como é que à primeira escolhem logo 500 ou 1000 pessoas que não vão ficar em casa nos dia das eleições?
Não acredito que em 500 ou mil pessoas não haja uma que diga, "fico em Casa". É que dados os números da abstenção pode-se afirmar que a probabilidade de se fazerem 1000 telefonemas sem apanhar um abstencionista é tão baixa que podemos dizer com toda a propriedade que é estatisticamente impossível!
Ou se calahr a culpa é do Mr. Murphy.
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