Esta sondagem, apesar de divulgada depois da sondagem Marktest, foi realizada uns dias antes. Contudo, quase nada diz de diferente da sondagem divulgada ontem.
Sobre a ideia de que há um eleitorado de esquerda "escondido", defendida ontem por Medeiros Ferreira em entrevista radiofónica (e aqui), ideia essa criticada aqui, quatro notas:
1. Ao contrário do que me pareceu que sugeria ontem Medeiros Ferreira, nunca foi detectada qualquer tendência para que as sondagens subrepresentem sistematicamente o "eleitorado de esquerda". Aliás, se houve subrepresentações sistemáticas no passado, foram sim quer do eleitorado do CDS-PP quer do eleitorado do PCP. E hoje não é claro se persiste algum enviesamento sistemático contra qualquer partido ou eleitorado ideologicamente definido. Uma ou outra eleição isoladas não servem para tirar conclusões.
2. Contudo, dando-lhe alguma razão, eu diria que é altamente presumível que, neste momento e para estas eleições concretas, muitos eleitores de "esquerda" não tenham ainda, pura e simplesmente, decidido o que vão fazer, em face da multiplicação de candidatos, dos sinais confusos e contraditórios emanados inicialmente pelo Partido Socialista, da insatisfação de algum eleitorado PS com a actuação do governo, etc. É possível, e provável, que muitos desses indecisos se venham a abster, mas certamente muitos deles irão também acabar por votar num dos candidatos de esquerda (não excluindo, claro, que alguns venham a votar em Cavaco Silva).
3. Mas quantos serão esses "indecisos de esquerda"? Não se sabe, mas a "indecisão real" será certamente superior aos 10% dos eleitores que se declaram "indecisos" em ambas as sondagens. Porque como é óbvio, estes 10% são calculados em relação aos inquiridos que aceitaram responder à sondagem. Como se vê na ficha técnica da Aximage, por exemplo, nada menos que um terço dos indivíduos que foram abordados para responder recusaram, pura e simplesmente, fazê-lo. Olhando para estes resultados e para o seu desfasamento em relação àquilo que sabemos ser a distribuição do eleitorado português em termos da sua identificação partidária e posicionamento ideológico, e mesmo tendo em conta a natureza mais "personalizada" das presidenciais, é difícil não concluir que a esquerda estará provavelmente sobrepresentada entre aqueles que se tentou inquirir mas recusaram fazer parte da amostra (e, logo, subrepresentada na amostra). Se é isto que Medeiros Ferreira quer dizer com "eleitorado escondido", acho que só posso concordar.
4. Isto não chega para mitigar, claro, o facto de as sondagens serem, para já, desastrosas para a esquerda em geral e para Mário Soares em particular.
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