Houve muito mais sondagens em mais concelhos, e espero poder analisá-las com mais tempo. Isto significa que tudo o que aqui disser carece de ser testado sistematicamente num maior número de casos, única forma de perceber se existem relações estatisticamente significativas entre opções técnicas e metodológicas ou atributos do contexto político e a precisão das sondagens. Tenciono, com tempo, pegar nestes 75 casos e ver o que aparece.
Contudo, diria neste momento o seguinte:
1. Em face destes dados, ficaria muito surpreendido se encontrasse uma relação estatísticamente significativa entre a metodologia de inquirição e a precisão das sondagens. Nas legislativas, essa relação não existe, como se testou aqui. Confesso, contudo, que estava persuadido de que existiria nas autárquicas, mas isso é coisa que, em face destes resultados, se torna duvidosa. Na melhor das hipóteses, poderá haver um efeito de interacção entre a metodologia de inquirição e a dimensão do concelho, com as simulações de voto a produzirem, ceteris paribus, maior precisão em concelhos de mais reduzida dimensão. A ver.
2. Apesar de, neste conjunto de casos, não parecer existir uma relação entre a distância temporal entre o trabalho de campo e as eleições e a precisão das sondagens, ficaria surpreeendido se ela não existisse assim que incluamos as sondagens realizadas em Agosto e Julho. O que se passa nos posts anteriores é que me concentrei apenas nas últimas sondagens, pelo que são todas muito parecidas desse ponto de vista. Curioso, contudo, é que as diferenças de curto prazo (uma ou duas semanas) pareçam irrelevantes. Aparência ou realidade? Logo se verá.
3. Apesar de isso só ser parcialmente evidente dos quadros anteriores, é quase garantido que, ceteris paribus, amostras de maior dimensão hão-de gerar resultados mais precisos. E claro, quanto maior o número de pequenos partidos incluídos no cálculo do desvio absoluto médio, maior há-de ser a precisão, dado que as margens de erro associadas a essas estimativas são sempre menores, o que reduz o valor do desvio absoluto médio. Estas coisas nunca falham.
4. E será importante testar o efeito da abstenção na precisão das sondagens, na pressuposição de que maior abstenção resultará em menor precisão. Isso já é manifestamente verdade nas eleições legislativas e europeias, e quase certamente será verdade neste caso. Olhe-se para Sintra, por exemplo, onde a uma abstenção de quase 50% corresponde o mais impreciso conjunto de sondagens entre os sete analisadas anteriormente.
Dito isto, ficaram os eleitores bem servidos com este conjunto de sondagens para as eleições autárquicas? Ao contrário do que se passou nas legislativas de Fevereiro - onde a resposta é inequivocamente "sim" - a resposta aqui é "depende". Ficaram, certamente, com as sondagens à boca das urnas, especialmente tendo a falta de informação que resultou do colapso do STAPE (um caso a merecer, pelo menos, tanta atenção como o do famoso "concurso dos professores"). Ficaram, também, em Oeiras e Faro, e na maior parte das sondagens feitas em Lisboa e no Porto.
Mas não há dúvida que, apesar da melhoria em relação ao descalabro de 2001, as sondagens feitas nas eleições autárquicas estão muito longe de exibirem a fiabilidade das sondagens para as legislativas. Pode-se dizer que levantam dificuldades adicionais: são em maior número, a fidelidade partidária conta menos no comportamento de voto (o que torna as intenções de voto mais instáveis e afecta os processos com que se afere a representatividade da amostragem), têm taxas de abstenção mais elevadas, etc. Mas isso não é problema dos eleitores: é um problema daqueles que fazem sondagens e daqueles que as encomendam. Os primeiros têm de encontrar soluções técnicas que para esses problemas, e os segundos têm de dar os recursos necessários para essas soluções. E não deve ser impossível, se tivermos em conta as melhorias verificadas em eleições como as europeias, antes vistas como "intratáveis".
segunda-feira, outubro 10, 2005
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