quinta-feira, junho 30, 2005

Alemanha, 20-24 Junho

Forsa, N= 2504, Face-a-face

What party would you support in Germany’s next federal election?

CDU-CSU: 47%
SPD: 26%
PDS/WASG: 11%
Grüne: 7%
FDP: 6%

terça-feira, junho 28, 2005

Alemanha, 21-23 Junho

FG Wahlen, N=1175, Telefónica

What party would you support in Germany’s next federal election?

CDU-CSU: 44%
SPD: 27%
Grüne: 9%
PDS/WASG: 8%
FDP: 7%

Adeus Fraga

Do Vieiros:

"Logo dunha semana de incerteza o voto extranxeiro ratificou a maioría absoluta, 38 escanos, conseguida pola coalición do Partido Socialista de Galicia e o Bloque Nacionalista Galego, que lle permiten acceder ao goberno rexional, logo de catro mandatos sucesivos do veterán e ex ministro do ditador Francisco Franco, Manuel Fraga". Así interpreta os resultados o diario arxentino Página 12."Fraga perde o poder en Galiza, o bastión da dereita española", titula o xornal arxentino Clarín. O corresponsal do diario, Juan Carlos Algañaraz, conta que "os populares perderon o seu máis emblemático fortín político e tamén teñen que afrontar a derrota do seu líder histórico, que gobernou Galiza durante 16 anos". A analista Paula Lugones comenta ao respecto que "o PP temía o efecto dominó que se iniciou coa debacle conservadora nos comicios xerais de 2004" e opina que malia que "a derrota foi moito máis axustada do que agoiraban as sondaxes" o PP debería "pasar con urxencia a unha etapa de profunda autocrítica para analizar que falla na súa sintonía coa sociedade".

"A derrota do PP ponlle fin ás esperanzas de Manuel Fraga Iribarne, 82 anos, antigo ministro de Franco, de efectuar un quinto mandato consecutivo á cabeza do Parlamento rexional", recolle Le Nouvel Observateur. A publicación francesa fai referencia á "debilidade do PP" e comenta o peso da emigración galega, afirmando que "estes emigrantes son resultado do éxodo de máis de dous millóns de persoas entre a fin do XIX e a primeira metade do S.XX, empurrados por unha fame nada, coma en Irlanda, da enfermidade da pataca e logo pola represión do rexime franquista".

En Portugal o Público destaca no titular que "Fraga Iribarne deixa poder após 16 anos consecutivos de maioria" e relata no interior que o líder do PP "fixo ouvidos xordos aos argumentos na súa contra, motivados pola idade e polas reservas de moitos sobre a súa saúde, e ignorou as acusacións da oposición de que converteu Galiza no seu feudo, e as observacións sobre o seu pasado franquista e as críticas aos seus excesos verbais, rematando cunha media derrota".

segunda-feira, junho 27, 2005

Galiza

Vai-se conhecer hoje a contagem de votos dos emigrantes e, logo, se o PP fica com ou sem a maioria absoluta. A coisa, no entanto, começa a ganhar contornos tipo "Florida". Espero que não passe daqui:

A Xunta Electoral de Pontevedra decidiu declarar "votos inexistentes" todos aqueles nos que non consta a data en orixo e traen como única referencia a data do aeroporto de Barajas posterior ao 18 de xuño, último día para que os emigrantes puidesen exercer o dereito a voto. O PP anunciou que recorrerá esta decisión.
Un dos avogados do PP, Tomás Iribarren, mostrouse en contra desta decisión da Xunta Electoral provincial porque "hai fórmulas xurídicas como probas testemuñais e diversa documentación para acreditar a data na que se emitiu o voto".Pola contra, o secretario de Organización do PSdeG, Ricardo Varela, aplaudiu a decisión e considera que se axusta a xurisprudencia electoral. "É lóxico que eses votos se consideren inexistentes porque ao non ter a data do país de orixe non se pode garantir inequívocamente que o voto se exerceu dentro do prazo legal", sinalou.



Entretanto, a propósito do fiasco das sondagens à boca das urnas, recebi esta interessante mensagem, que publico com atraso (estive fora):

Tiveches noticia das sondaxes que se fixeron públicaso 19-X, á hora do peche dos colexios eleitorais? Todas daban resultados moi semellantes, cun PP arredor dos 34 ou 35 deputados, claramente derrotado polo conxunto da oposición que acumularía 40 ou 41. Non foi así,como ben sabes.

Resulta revelador de existencia de amplísimas bolsas de voto opaco ou oculto, que até ode agora aquí apenas se daban (nas anteriores autonómicas as sondaxes cravaron os resultados finais, aínda que tamén é certo que daquela a victoria do PP era moi contundente e deixaba pouco espazo á dúvida).

Quizá isto sirva para que os institutos de opinión empecen a re-pensar o xeito de facer sondaxes eleitorais, e a tratar de ver como minimizar as marxes de erro na interpretación dese voto indeciso e na difícil asignación de escanos a partir do método D'hondt, onde unha mínima variación na porcentaxe devoto prevista pode transformar radicalmente os valoresdos cocientes. Como resolver ese problema? "Dificil cuestión esa é",que diría Yoda, o de "Star wars"...

Errata

O leitor atento do Público poderá ter notado duas coisas:

1. Na peça "Trabalhadores do sector privado a favor da redução de privilégios dos funcionários públicos", quando a jornalista (Anabela Campos) fala dos trabalhadores do sector privado (ou "trabalhadores fora da função pública"), refere-se invariavelmente às percentagens de respostas calculadas em relação ao total de "Outros". Mas quando se olha para os quadros com atenção, verifica-se que os "Outros" incluem não apenas os trabalhadores do sector privado, mas também estudantes, pensionistas, desempregados e domésticos(as). Posso-vos dizer que o fundamental das afirmações feitas no texto continua a ser correcto, mas falta-lhes esta precisão.

2. Na peça da passada 6ª feira, o gráfico que se referia à percentagem de eleitores que dizem que "nenhum partido da oposição faria melhor que o actual governo tinha uma gralha". 63% dizem que Não, em vez de dizerem que Sim. O texto que comentava estas repsostas, aliás, estava correcto.

Questões e opções de resposta em sondagens

Sucede por vezes que sondagens publicadas na mesma altura apresentam resultados diferentes. Há, à partida, várias razões possíveis para que isso suceda: a própria margem de erro amostral, diferentes opções na selecção das amostras, trabalhos de campo realizados em dias diferentes (podendo, logo, captar mudanças de curto-prazo nas preferências dos eleitores), etc.

Uma fonte adicional de discrepâncias é a formulação das perguntas. Há muito tempo, citei aqui um autor que me parece muito importante nestas matérias (John Zaller). Zaller tem sugerido a ideia de que as pessoas não têm, na verdade, opiniões. O que elas têm é uma série de "considerações" dentro da cabeça, a favor ou contra (ou simplesmente a propósito) das matérias sobre as quais são questionados em inquéritos. Quando são inquiridos, seleccionam uma dessas considerações de forma mais ou menos aleatória e despacham a resposta, coisa que, aliás, permite que respondam uma coisa e o seu contrário com 10 minutos de diferença (esta experiência foi feita...). Isto não significa que, em agregado, não haja estabilidade nas opiniões de um indivíduo ou de uma população. As "considerações" que cada um tem na cabeça não estão lá por acaso, e mesmo que estivesse, a lei das médias gera estabilidade geral. Mas sugere que a captação de opiniões através de inquéritos é uma coisa muito frágil, muito e especialmente dependente do estímulo concreto que é fornecido pela formulação da pergunta...

Toda esta conversa a propósito das sondagens de hoje no Público e no DN. Fichas técnicas e alguns resultados:

DN: Marktest, 14-17 Junho, N=813, Quotas, Telefónica.
Público: Católica, 18-20 Junho, N=1354, Estratificada Aleatória, Presencial.

1. DN. "Concorda com as medidas do Governo para combater o défice?"
Sim: 40%
Não: 44%
Ns/Nr: 16%

Público: "Recentemente, o governo aprovou uma série de medidas para reduzir o défice do Orçamento de Estado. Em geral, diria que concorda com estas medidas, que discorda delas ou que ainda não sabe o suficiente para se pronunciar?"
Concorda: 27%
Discorda: 39%
Não sabe o suficiente para se pronunciar: 32%
Não responde: 2%

2. DN: "Concorda com a subida da idade de reforma para 65 anos?"
Sim: 30%
Não: 63%
Ns/Nr: 4%

Público: "Queria pedir a sua opinião sobre algumas dessas medidas concretas. (...) Concorda com ou discorda da aproximação da idade legal de reforma na função pública à idade legal de reforma no sector privado?"
Concorda: 58%
Discorda:32%
Ns/Nr:10%

Quais as "melhores" estimativas das opiniões da população? À falta de erros graves na formulação das perguntas, não me parece que haja resposta óbvia. Por exemplo, a pergunta DN sobre as medidas do défice impede que os eleitores de "refugiem" na opção "não sei", obtendo uma divisão mais clara das opiniões dos eleitores. Mas não será que, por isso mesmo, acaba por captar uma série de "não opiniões", facilmente modificáveis a curto-prazo?

E o que dizer da idade de reforma, em que os dois inquéritos produzem resultados aparentemente contraditórios? Mas serão eles verdadeiramente contraditórios? A pergunta DN usa a linguagem mais coloquialmente aceite para descrever a medida. Mas captará ela a substância dessa medida? A pergunta do Público usa a linguagem que o Primeiro Ministro usou no parlamento para apresentar a medida. Mas não condicionará as opiniões ao estímulo que o governo quis dar e à forma como ele quis apresentar a medida?

Dúvidas para as quais não tenho resposta inequívoca. A não ser para comentar o poder e a importância da linguagem e do discurso, não apenas nos inquéritos, mas também na política em geral. Uma mesma medida pode ser enquadrada pelo discurso político de formas diferentes, e a forma que acaba por prevalecer na consciência dos eleitores pode condicionar o seu apoio ou a sua oposição a essa medida...

Autárquicas, Lisboa

Eurosondagem, 20-22 Junho, N=1525, Aleatória, Telefónica.

PSD- Carmona Rodrigues: 41%
PS- Manuel Maria Carrilho: 33%
CDU-Ruben de Carvalho: 9%
BE-José Sá Fernandes: 8%
CDS/PP- Maria José Nogueira Pinto: 4%

A soma dá 95%. Pela notícia online, a única a que tive acesso, não se percebe se estamos perante indecisos, outros, brancos/nulo, ou uma qualquer combinação dos anteriores, mas é provável que os 5% que faltam correspondam a OBN (outros, brancos e nulos).

segunda-feira, junho 20, 2005

Peritos

Vale a pena ler este post de Pacheco Pereira (PP). A linha é, de facto, muito fina - se é que existe - entre a contribuição do "politólogo" que pode adiantar qualquer coisa ao conhecimento de um determinado fenómeno político e a contribuição que é uma "opinião política como qualquer outra". E partilho da preocupação com o facto de essas contribuições, sejam elas meras "opiniões" ou não, aparecerem por vezes enquadradas com uma aura especial de "isenção e intangibilidade". Se um "politólogo" ou qualquer outro "cientista" (atenção às aspas) é criticado (por vezes com inusitada violência) pelos seus erros e omissões no interior da própria academia, como imaginar que pudesse estar isento de críticas quando se desloca à "praça pública"?

Contudo, será que tudo aquilo que os "politólogos" dizem na comunicação social se resume, como defende PP, a "truísmos" ou "opiniões políticas como quaisquer outras"? Será que toda e cada uma (ou até a maior parte) das intervenções públicas de académicos que estudam fenómenos políticos se encaixam nestas duas categorias? Eu gostaria de pensar que não, mas Pacheco Pereira lá terá a sua "opinião" sobre o assunto, se bem que ela própria esteja sujeita - porventura com tanta ou tão pouca justiça - a ser descrita também como meramente "política" (ver aqui).

Mas mesmo que Pacheco Pereira tenha razão em descrever todas as contribuições "não truísticas" dos académicos que estudam os fenómenos políticos como "opiniões políticas ", qual é exactamente o problema? O que o faz pensar que essas opiniões são "como quaisquer outras"? Não poderá o debate político eventualmente beneficiar da contribuição de pessoas cujas "opiniões políticas" são informadas, claro, pela sua ideologia e convicções políticas, mas também, claro, por uma formação académica específica que os faz prestar atenção a determinadas fenómenos e produzir sobre elas um determinado tipo de discurso? Ficamos a perder assim tanto com isso?

O discurso político sobre a economia e a política nos Estados Unidos fica a perder muito com as opiniões dos economistas e dos politólogos que "descem" da academia para dizer o que pensam informados por aquilo que sabem ou julgam saber ao longo de anos de actividade académica? Não será que o que nos falta é, precisamente, um maior número de public intellectuals, pessoas capazes de, sem abdicar de darem as suas opiniões e de explicarem "de onde vêm", sejam também capazes de as dar fazendo a ponte para aquilo que na academia se julga saber sobre os temas em discussão? (e não será um dos problemas do debate político nos Estados Unidos o declínio desses public intellectuals e sua crescente substituição por um exército de political pundits, pessoas cuja única e exclusiva actividade é a de...dar opiniões?).

Ou será que devemos concluir que o protagonismo no debate político em Portugal deve ser dado exclusivamente a pessoas cuja actividade fundamental é a de fazer política, mas que, apesar de nunca esconderem que estão a dar a sua "opinião", fazem-no manipulando o abundante capital simbólico que recolhem da sua suposta condição de "académicos", nunca se rebelando contra esse enquadramento que deles é dado nos media?

13 dias e a "vontade do povo"

1. Dinamarca, Vilstrup/Politiken, 3 de Junho, 1037 entrevistas, telefónica

Should the scheduled referendum on the European Constitution take place, or be called off?
Denmark should still hold the referendum as scheduled: 53%
The referendum should be called off in light of the recent rejections: 31%
Undecided: 16%

2. Dinamarca, Catinét Research, 16 Junho, 1020 entrevistas.

Should the government stand by its plan to hold a referendum to ratify the European Constitution?
Yes: 33%
No:50%
Unsure: 17%

Contas galegas

PP: 44,9% (37)
PSdeG: 32,5% (25)
BNG: 19,6% (13)

Mas...falta contar os votos da emigração galega. O que pode acontecer?

Ver aqui:
"a emigración galega responde de xeito case sistemático a un mesmo patrón de voto. Nas eleccións autonómicas como nas xerais, a diáspora galega tradicionalmente sempre lle daba o trunfo ao partido que goberna no Estado, quer o PP quer o PSOE, sen importar cal dos dous está a gobernar en Galiza (excepto nunha ocasión, nas autonómicas de 1993, onde o PP gañou ao PSOE por pouco), mentres que o BNG sempre obtivo porcentaxes moi reducidas de voto (non atinxiu nunca unha porcentaxe superior ao 7%)."

E aqui:
"Tal e como están as cousas, o PP necesitaría conseguir arredor de 10.000 votos dos emigrantes máis co PSOE en Pontevedra para poder conseguir o escano 38 que lle devolvería a maioría absoluta. Nas eleccións de 2001, o PP logrou en Pontevedra 13.292 votos procedentes do CERA; o PSOE, 4.559 e o BNG 1.186. Con estes resultados, o PP non renovaría a maioría absoluta, pero polo pelo dun carneiro. Haberá por tanto que agardar 8 días para coñecer o desenlace".

Quanto às sondagens, a mais recentes estiveram todas muito próximas- como podem confirmar aqui - à excepção da Opina de 12 de Junho (curiosamente, a que foi realizada mais perto das eleições. Já no referendo francês tivemos um fenómeno semelhante...).

sábado, junho 18, 2005

Autárquicas, Sintra

Eurosondagem, 13-15 Junho, N=1011, Telefónica.

PSD/CDS (?) - Fernando Seara: 33%
PS - João Soares: 33%
CDU: Batista Alves: 8,5%
BE - João Silva: 7%
Outros: 4,5%
Indecisos: 15%

Autárquicas, Porto

Eurosondagem, 7-9 Junho, N=1025, Telefónica
PSD/CDS (Rui Rio): 39%
PS (Francisco Assis): 33%
CDU (Rui Sá): 9%
BE (Teixeira Lopes):3%
Outros:5%
Indecisos: 11%

sexta-feira, junho 17, 2005

A opinião pública

Há dias, acabei de ler o Saturday do Ian McEwan. Não estou particularmente impressionado. Gosto muito de alguns livros anteriores. Atonement mais que todos, talvez, se bem que The Innocent menos que todos os outros, de certeza. Ponho este algures no meio.

Mas há no livro uma passagem daquelas que se pode pedir para "comentar" num teste de uma qualquer cadeira de "Estudos de Opinião Pública". A personagem principal é Henry Perowne, um neurocirurgião, meia-idade, vagamente progressista, se bem que no alto de uma apoteótica trajectória de ascenção social até à upper middle class, já pouco recordado dos tempos em que era estudante e vivia com a mulher e a filha num apartamento minúsculo e já nada envergonhado do seu Mercedes S500.

O Saturday do título é um dia concreto, o da manifestação em Londres contra a guerra no Iraque. A certa altura, Perowne comenta algo indignado que estranha que na manifestação não haja cartazes contra a tortura e a opressão no Iraque. E diz que nunca poderia juntar-se a esta manifestação. Apesar de não estar certo das razões da guerra, teve um paciente exilado iraquiano que lhe contou como foi torturado (e por isso, só as razões "humanitárias" da guerra o poderiam persuadir, the only case for the war worth making).

Mas num dispositivo típico do livro - que nunca nos deixa interpretá-lo como um panfleto sobre a guerra nem nos alivia incertezas sobre a posição de McEwan ou Perowne - logo após contar isto, Perowne distancia-se imediatamente da sua indignação inicial, e reflecte: se não lhe tivesse calhado aquele paciente iraquiano, se não tivesse conhecido em primeira mão as histórias de tortura, poderia perfeitamente estar ali com eles na manifestação. Da mesma maneira que, alguns deles, estão ali por outras e tão boas razões - "reais", vividas, outros "iraquianos". A vida é feita de acidentes de percurso. A opinião pública é uma coisa completamente aleatória.

quinta-feira, junho 16, 2005

A teoria dos dominós

Irlanda, TNS, 8 Junho, N=1000, Telefónica:

Should the Irish government go ahead with a referendum on the European Constitution?
Should go ahead: 45%
Should not go ahead: 34%
Don’t know: 21%

How would you vote if a referendum takes place?
In favour :30%
Against: 35%
Not sure: 35%

Mais "Minho Norte"

Com muito maior conhecimento de causa sobre as sondagens para as eleições de 19 na Galiza, ver aqui os artigos de Carlos Neira.

quarta-feira, junho 15, 2005

Entretanto, no "Minho Norte"

Fui desafiado há uns tempos pelo dias estranhos, um blogue da Galiza ("Minho Norte", tendo em conta que, para eles, Portugal é "Minho Sul") a escrever qualquer coisa sobre as eleições autonómicas do próximo dia 19. Hesito, porque sei muito pouco - muito menos do que devia e gostaria - sobre a política galega. Mas não custa alinhar alguns resultados de sondagens e pensar um pouco sobre elas, rezando para que as minhas fontes estejam correctas. Por ordem cronológica crescente, as que detectei (redistribuo indecisos e arredondo casas decimais):

1. Universidade de Santiago de Compostela, Novembro-Dezembro 2004, N= 1200, face-a-face.
PP: 31% (34-35 deputados)
PSdeG: 28% (23-24 deputados)
BNG: 21% (17 deputados)
Outros: 20% (tantos?)

2. Instituto Opina, 2-4 Maio, N=1500, ?.
PP: 35% (36-37)
PSdeG: 34% (27)
BNG: 13% (11-12)
Não tem outros.

3. Sondaxe, 27 Abril-4 Maio, N=4000, ?.
PP: 45% (36)
PSdeG: 32% (24)
BNG: 21% (15)
Outros/brancos: 2%

4. CIS, 29 Abril-11 Maio, N=1600, face-a-face.
PP: 46% (36)
PSdeG: 33% (23)
BNG: 21% (16)

5. Instituto Opina, 5 Junho, N=1000, face-a-face.
PP: 45% (35-37)
PSdeG: 33% (25-27)
BNG: 20% (13)

6. Anova Multiconsulting, 31 Maio-7 Junho, N=2000, telefone:
PP: 47% (38)
PSdeG: 31% (22)
BNG: 19% (14)

7. Sigma Dos, 6-8 Junho, N=800, telefone.
PP: 47% (37-38)
PSdeG: 30% (23-24)
BNG: 20% (13-14)

8. Instituto Opina, 12 Junho, N=1000, face-a-face.
PP: 42% (34-36)
PSdeG: 35% (25-26)
BNG: 19% (15)

Há ainda outras duas de um instituto chamado Infotécnica, mas do qual apenas obtive distribuições de deputados. Ambas as sondagens, uma de Abril e outra de Maio, deixam tudo em aberto quanto à maioria absoluta, para a qual o PP precisa de 38 deputados. O sistema eleitoral galego tem, segundo a explicação do dias estranhos, uma cláusula-barreira de 5%, abaixo da qual o partido não obtém deputados, o que basicamente transforma a coisa num jogo PP-PSdeG-BNG.

O que posso dizer sobre estes resultados? Três coisas:

1. Dos vários institutos que fizeram sondagens, os mais conhecidos e reputados (e de dimensão nacional) são o Opina, a Sigma Dos e, claro o CIS. Mesmo que quiséssemos dar maior credibilidade aos resultados destes - e não estou seguro que assim seja - isto não nos levava longe. Enquanto a Sigma Dos dá um resultado mais lisonjeiro para o PP, o CIS e o Opina negam a maioria absoluta ao PP.

2. Agora, para mentes perversas. Em que meio de comunicação são divulgadas as sondagens Opina? El Pais e Cadena Ser (Grupo Prisa). Em que meio de comunicação são divulgadas as sondagens Sigma Dos? El Mundo. A quem pertence o CIS? À Presidência do Conselho de Ministros de Espanha. Tirem daqui as conclusões que entenderem. Eu, por mim, não queria tirar muitas, mas que é tentador, é.

3. Se há alguma conclusão que se possa, com muito cuidado, tirar, é esta: nenhuma das sondagens que sabemos ser conduzidas face-a-face dá maioria absoluta ao PP, e nenhuma passa dos 46% das intenções de voto. Ambas as sondagens que sabemos ter sido conduzidas pelo telefone dão 47% e abrem a possibilidade de maioria absoluta.
O que vou dizer de seguida baseia-se em muito poucas observações e muito palpite, mas eu confiaria mais nas sondagens face-a-face. Quando um partido está no poder desde que há poder, quando estamos num território com forte peso de eleitorado rural e uma economia pouco diversificada, muito dependente de decisões do poder autonómico a vários níveis, será que podemos confiar em sondagens que ligam para casa dos eleitores e lhes perguntam se, afinal, sempre vão votar em Fraga? As sondagens face-a-face, pelo menos, permitem a utilização de métodos que minimizam a ocultação do voto (simulação de voto em urnas) e diminuem as recusas. Não se as primeiras já foram utilizadas, mas seja como for, a experiência das eleições locais em Portugal confirmam a superioridade das sondagens face-a-face (ao contrário do que sucede nas eleições nacionais, onde não faz diferença).

É isto. Gostava de poder dizer mais, mas é tudo o que sei. Votem bem.

terça-feira, junho 07, 2005

Ainda vamos querendo, mas cada vez menos

Luxemburgo, ILRes, fim de Maio
500 inquiridos, telefónico

Sim: 46% (-13% em relação a Abril)
Não:32% (+9%)
Não sabe:22% (+4%)

segunda-feira, junho 06, 2005

Não sabemos ainda bem o que queremos

República Checa, Factum Invenio, fim de Maio
Telefónica, 300 (!) inquiridos

Do you support or oppose the European Constitution?

Support: 31.5%
Oppose :33.7%
Undecided: 34.8%

Também não queremos, mas também queremos ser nós a dizer

Dinamarca, Greens Analyseinstitut/Borsen, fim de Maio 2005
1010 entrevistas, telefónica

How would you vote in the referendum on the European Constitution?

Yes: 30.8%
No: 39.5%
Undecided: 29.7%


Dinamarca, Vilstrup/Politiken, 3 de Junho
1037 entrevistas, telefónica

Should the scheduled referendum on the European Constitution take place, or be called off?

Denmark should still holdthe referendum as scheduled: 53%
The referendum should be called offin light of the recent rejections: 31%
Undecided: 16%

Uma boa e irrelevante notícia para a Constituição Europeia

Itália, Ekma Ricerche Srl, 30 de Maio
1000 inquiridos, telefónica, quotas

Domanda : Se ieri si fosse tenuto il referendum per la ratifica della costituzione europea, come avrebbe votato?.
Risposta: Sì 58,5%; No 41,5%

domingo, junho 05, 2005

Arquivo: Eurosondagem, 31 Maio

1020 entrevistas telefónicas, estratificada aleatória.

PS: 40,2%
PSD: 26,4%
CDU: 5,6%
BE: 5,4%
CDS-PP:4,9%

José Sócrates: 55% opiniões positivas
Marques Mendes: 35% opiniões positivas

Opiniões sobre medidas de combate ao défice: ver aqui.

sexta-feira, junho 03, 2005

Não queremos, mas queremos ser nós a dizer

Reino Unido:

"In the aftermath of the French referendum (...) MORI has found a 34 point lead for the NO camp, Yes 22%, No 56%"

"However, a large majority of people (67% to only 21% against) still want to have a referendum on the EU Constitution regardless of whether or not other countries have already rejected the treaty".

Resumo no Sun, dados do UK Polling Report.

Ou seja: a "morte natural" da CE não é suficiente para os ingleses. Querem matá-la com as próprias mãos. Ou querem também usar o referendo para outras coisas, tais como reafirmar a sua falta de confiança em Tony Blair? Ou, na pátria da soberania parlamentar, gostam genericamente da ideia de referendos mesmo que estes não sirvam para nada? Ou todas estas coisas (e outras) misturadas? O certo é que terá de haver mais qualquer coisa do que uma maioria de eleitores movidos pelo simples objectivo de não haver uma Constituição Europeia.

2/3 dos suecos ainda querem votar (e quase metade quer dizer "Não")

Sifo, 30-31 Maio

Do you think the European Constitution should be ratified through a referendum, or through a parliamentary vote?
Referendum 65%
Parliamentary vote 27%
Undecided 8%

How would you vote if a referendum on the European Constitution took place now?
Yes 23%
No 41%
Undecided 36%

Mas não se lhes deu a terceira opção (nem referendo nem parlamento)...

Concurso de ideias III (actualizado)

Há também quem ache que já deverá haver muitos estudos sobre isto. De Leonel Morgado:

Quanto a este concurso de ideias, não haverá já soluções qb.? Pelo menos nos EUA, que eu saiba, é comum haver referendos em simultâneo com outras eleições (sem a escandaleira que há por cá). Certamente que pelo menos aí deverá haver alguém que se tenha dedicado a esta questão da contaminação?

Pois é verdade: é altamente improvável que isto não esteja estudado nos EUA. O problema, claro, é que não há referendos nacionais nos Estados Unidos, o que limita a comparabilidade. Mas vou tentar apurar.

Actualização: ora cá está, 2 artigos em 5 minutos, apesar de não serem respostas ainda à nossa pergunta.

1. Mark A. Smith, The Contingent Effects of Ballot Initiatives and Candidate Races on Turnout. American Journal of Political Science, Vol. 45, No. 3. (Jul., 2001), pp. 700-706. Mas aqui a questão é colocada um pouco ao contrário: em que medida os referendos ajudam a mobilizar eleitores que de outra forma não iriam às urnas. Não se aplica ao nosso caso...

2.Regina P. Branton, Examining Individual-Level Voting Behavior on State Ballot Propositions.
Political Research Quarterly, Vol. 56, No. 3. (Sep., 2003), pp. 367-377. Sugere que o comportamento de voto dos indivíduos nos referendos locais é sistematicamente influenciado pela sua identificação partidária, especialmente em temas "sociais/morais". Mas o tema do referendo europeu não é "social/moral", o nosso referendo é nacional e a nossa questão não é esta: a questão é saber se, ao seguirem as pistas dos partidos, os eleitores deixam que a aprovação pela actuação de um determinado partido a nível local se transforme na adesão às orientações desse partido no que respeita ao referendo.

Mas vou continuar a procurar.

Concurso de ideias II

Vários responsáveis políticos europeus vão afirmando simultaneamente que haverá e poderá não haver referendo (ver aqui ou aqui), pelo que o exercício de tentar perceber se a realização do referendo em simultâneo com as autárquicas tem efeitos pode, ele próprio, vir a perder interesse. Contudo, há já sugestões sobre como proceder. De J. Afonso Bivar:

Prolongo um pouco o exercício de divisão da amostra cuja ideia já apresentou. Em vez de duas metades, proponho dividir a amostra em três partes. Na primeira, pergunta-se exclusivamente a intenção de voto no referendo; Na segunda, a intenção de voto nas autárquicas; Na terceira, em simultâneo as duas intenções. Nesta terceira parte, para procurar replicar ao máximo as circunstâncias de votação, antes de auscultar os sentidos de voto, introduzir-se-á um pequeno texto informando os inquiridos que lhes vai ser pedido que indiquem como vão votar tanto no referendo como nas autárquicas.

Tenderia ainda a tomar outra precaução suplementar, relativa a esta terceira parte (sobretudo se a aplicação se fizer via telefone). Mesmo com o texto de advertência à cabeça, será aconselhável que a sequência de perguntas (referendo-autárquicas) se invertesse na metade; por outras palavras, a metade deste 1/3 de inquiridos colocar-se-á primeiro a pergunta sobre o referendo; a outra metade, escutará primeiro a questão sobre as autárquicas.

Digo-lhe também que de qualquer forma creio que é ainda muito cedo para fazer quaisquer sondagens, tendo em consideração, além dos meses que nos separam de Outubro, o objectivo de medir/apreciar o "efeito de contaminação partidária" de que fala. Eu esperaria para ver os partidos assumirem e sobretudo publicitarem as respectivas posições no que toca ao referendo. Não há métodos perfeitos. Mas este parece-me aquele que mais fidedignamente responde aos problemas que equaciona. Em relação à sua proposta anterior,tem desde logo a vantagem de permitir aferir variações (acaso as haja e sejam estatisticamente significativas) nas taxas de abstenção e também estimar o impacte sobre estas do que posso chamar de "efeito autárquico" e de"efeito referendo". Só para dar uma ideia da informação relevante que sepode obter: se, na abstenção estimada, o valor referente à "subamostra conjunta" não se "encostar" ao valor relativo à "subamostra autárquica",isso quererá dizer que a votação simultânea funcionará parcialmente comodissuasor da própria ida às urnas. Sei que o efeito colateral desta minha proposta, a ser adoptada claro, será o de fazer crescer a amostra e portanto aumentar os custos. Não creio todavia que o acréscimo seja muito significativo - logo não a invalidará. De qualquer jeito, aqui está em causa apenas o esquema "conceptual" do binómio questionário-amostra.

O design é complexo, mas poderia funcionar. Infelizmente, duvido que venha a haver estudos concebidos especificamente para responder a este tipo de questões. O que se fizer será certamente "atrelado" a coisas que já estão previstas, ou seja, barómetros nacionais ou sondagens autárquicas. Logo, não deverá haver capacidade para criar amostras com a dimensão necessária para que, do confronto de sub-amostras, pudesse resultar algo de estatisticamente significativo.

Quanto ao timing, tenho dúvidas. O potencial problema que se costuma levantar é, para simplificar, que alguém que vote num partido nas autárquicas acabe por, por "arrastamento", votar no referendo "de acordo" com esse partido. Para que isso possa surgir, é verdade que é preciso esperar para que as "pistas" fornecidas pelos partidos possam ser apreendidas pelos eleitores. Contudo, surge um problema: quanto mais tempo passar, mais a condição "quase-experimental" de colocar a pergunta sobre o voto no referendo como se ele não estivesse ligado às autárquicas perde relevância, dado que as pessoas vão, a pouco e pouco, apercebendo-se que, de facto, o referendo irá ter lugar com as autárquicas.

quinta-feira, junho 02, 2005

Concurso de ideias I

Como saber se faz diferença que o referendo tenha lugar isoladamente ou em conjunto com as autárquicas? Uma ideia para arrancar:

Dividir uma amostra em duas metades, aleatoriamente seleccionadas, e aplicar 2 questionários diferentes. Num, colocar a pergunta sobre intenção de voto no referendo à cabeça. Noutro, colocar a mesma pergunta após uma pergunta anterior sobre intenção de voto nas autárquicas. Os resultados na segunda condição podem depois ser comparados com os resultados da primeira. Se difererentes e essa diferença for estatisticamente significativa, um "efeito de questionário" pode servir como resposta ao problema da "contaminação"

Concurso de ideias

Pelos vistos, haverá referendo europeu em Outubro, em simultâneo com as autárquicas. Enfim.

E nos próximos tempos, haverá certamente uma série de sondagens quer sobre eleições autárquicas quer sobre o referendo europeu.

Uma pergunta possível é: como se poderia testar (para confirmar ou infirmar) , usando inquéritos por questionário, a hipótese de que a realização do referendo em simultâneo com as autárquicas afecta o resultado substantivo do referendo, quer do ponto de vista da "contaminação" (um voto num partido nas autárquicas que por extensão de torna num voto "partidarizado" no referendo) quer do ponto de vista da participação (um aumento "artificial" da participação que leva a um resultado substantivo diferente daquele que haveria caso o referendo fosse isolado)?

Vou pensar. Mas se tiverem ideias, mandem-nas para o e-mail do blogue: margensdeerro@yahoo.com. Publico-as aqui, com identificação do proponente (a não ser que se peça anonimato).

E, se exequíveis, executo-as (dando os créditos intelectuais respectivos).

quarta-feira, junho 01, 2005

Holanda, resultados oficiais

Sim: 38.2%
Não: 61.8%

As sondagens - pelo menos as que conheço - pecaram por defeito não estimação do Não. Tendo em conta que essas sondagens foram realizadas antes do Não francês, uma coisa que valia a pena investigar seria em que medida o resultado francês poderá ter influenciado os resultados holandeses, amplificando a força do Não (que já era, diga-se, largamente maioritário).

Mais Holanda

Maurice de Hond, 28 de Maio (N=2200)

How would you vote in the referendum on the European Constitution?(Decided Voters)
Sim: 41% (-2% em relação a 21 de Maio)
Não: 59% (+ 2% em relação a 21 de Maio)

Eu também

O bombyx mori não está convencido que o facto dos eleitores franceses que votaram "Não" o terem feito - à parte de factores conjunturais - na base de uma assumida recusa de uma "Constituição demasiado liberal" (à esquerda) ou da sua oposição à entrada na Turquia na UE (à direita) tenha qualquer espécie de relevância. É possível que não ache que as élites políticas francesas e europeias tenham sequer consciência dessas motivações. E certamente não crê que essas motivações condicionem de alguma forma as decisões que vão ser tomadas no futuro sobre a Constituição Europeia, sobre futuros alargamentos ou sobre as políticas de coesão.

Contudo, pelos vistos, o bombyx mori também não está de acordo com Pacheco Pereira quando este diz que a vitória do Não abre caminho a "repensar-se a União de forma diferente da dos últimos anos, mais democrática, mais solidária, menos ambiciosa e mais prudente". Segundo o bombyx mori, o meu raciocínio "não é menos viciado (ou capcioso)" que o do Pacheco Pereira.

Então o que acha o bombyx mori? Que aquilo que eu escrevi "constitui uma manipulação (porventura inconsciente) travestida de rigor científico (e sobretudo dotada de aparato metodológico) dos dados do Referendo", e que este "abuso analítico" é especialmente grave tendo em conta que eu sou "uma autoridade na matéria, como frequentemente se ouve dizer aos políticos: uma opinião respeitada ou abalizada." Que o meu raciocício - "vamos chamar as coisas pelos nomes, se não se importam" é "viciado" e "capcioso" (malévolo, ardiloso, manhoso). E que "este é um assunto extremamente complexo, que me [lhe] levanta inúmeras questões, tanto de matriz analítica como de posicionamento pessoal. Lastimo não ter no presente tempo para de forma séria as pensar, escrever e verter para o bombyx mori."

Eu também.