Muito do que está
aqui me parece bem observado sobre o discurso de ontem. A escolha de
Palin teve uma dupla dimensão: o género e a ideologia. A primeira jogaria num sentido - por assim dizer, de atracção do eleitorado que votou em
Hillary e de "retirar uma bandeira" aos Democratas, os únicos que tinham até agora tido uma mulher no
ticket - e a segunda noutro - de consolidação do eleitorado Republicano mais conservador, permitindo a
McCain uma certa despreocupação com essa base eleitoral. Ao contrário do que
eu próprio julgava nos minutos seguintes depois de conhecer a nomeação de
Palin, a dimensão mais importante parece ser a segunda. A primeira está lá, implícita, mas são os pergaminhos
ultra-conservadores de
Palin que mais contaram ontem.
Parece-me que os boatos iniciais sobre o filho de
Palin, Trig, (que seria, segundo o boato, realmente o seu neto), difundidos inicialmente por um blog de simpatias democratas, só jogam contra os próprios Democratas, da mesma maneira que o artigo do
NYT sobre a suposta amante de
McCain. Não posso provar, mas de cada vez que qualquer coisa dessas aparecer e não se confirmar verdadeira, devem ser mais uns pontos percentuais de eleitores com simpatias republicanas que se consolidam como votantes de
McCain. A percepção entre os Republicanos é a de que os media são todos
visceralmente liberais, e coisas destas só o parecem confirmar. O grande problema de
McCain - como atrair, com o seu perfil, o eleitorado Republicano mais conservador - parece, de resto, quase resolvido: 91% deles dizem que votarão nele na última
tracking poll da
Gallup.
Uma nota pessoal e, eventualmente, pouco imparcial: a exibição do filho de
Palin, de quatro meses de idade, a passar de colo em colo de cada membro da família e até pelo colo da mulher de
McCain, à noite, no meio de um barulho ensurdecedor, parecendo mais inconsciente - quase inerte - do que adormecido, constantemente focado pelas câmaras de televisão, especialmente quando
Palin promete ser na Casa Branca uma
"defensora" de quem filhos deficientes, foi para mim, que tenho um filho com oito meses de idade, uma das coisas mais obscenas que vi num
ecrã de televisão em toda a minha vida. Mas não sou imparcial quando se trata de eleições americanas, repito. Depois do que se passou nos últimos oito anos, se em vez
Obama o candidato Democrata fosse o Pato
Donald, eu, se pudesse, votava no pato. É para verem o grave da coisa.