Sobre as sondagens recentes e as suas interpretações políticas, importa ter em conta três pontos que não têm sido suficientes realçados nas análises recentes:
1. Como já tinha sugerido aqui e como o Quarta República recorda aqui, os dados da última sondagem sobre as presidenciais, em particular no que respeita ao cenário de candidatura de Manuel Alegre, não autorizam que se interprete que essa candidatura "retira a vitória de Cavaco Silva à primeira volta". Primeiro, porque a própria sondagem indica a vitória de Cavaco Silva à primeira volta mesmo no cenário Manuel Alegre, ao contrário do que sugerem as interpretações mais apressadas (esqueceram-se de redistribuir os indecisos). Segundo, porque o cenário inclui Paulo Portas como candidato, o que não é de todo garantido que não pertença apenas ao reino da fantasia.
2. O que a sondagem sugere, isso sim, é outra coisa (e muito importante): que a colocação de Manuel Alegre no "menu" de candidatos a par de outros candidatos de esquerda parece levar a que eleitores que, neste momento e noutro cenário, se declaram indecisos ou abstencionistas ( ou tencionando votar em Cavaco Silva), declarem uma intenção de voto em Manuel Alegre, o que tem como resultado um crescimento do voto nos candidatos de esquerda e, logo, uma diminuição da probabilidade de que Cavaco Silva consiga uma maioria absoluta à primeira volta. Eu sei que parece uma diferença meramente semântica em relação ao ponto 1, mas não é.
3. Contudo, queria só recordar que isto é apenas verdade na medida em que a mútua concorrência de candidaturas à esquerda não sirva para, futuramente, desmobilizar significativamente os actuais apoiantes dessas candidaturas. Por outras palavras: é possível que alguns desses eleitores, confrontados com mensagens negativas de e sobre candidatos da sua área política, perplexos com a multiplicação de candidaturas e baralhados com as pistas enviadas pelos partidos ("vota neste na 1ª volta para votares naquele na 2ª"; "quem é e quem devia ser o candidato do PS?", etc.), acabam por de refugiar na abstenção ou mesmo no voto em Cavaco Silva.
Logo, queria só dizer que a "matemática" das sondagens que sustenta a candidatura de Manuel Alegre é, porventura, demasiado simplista, e que não creio que haja certezas sobre a contribuição dessa candidatura para diminuir a probabilidade de vitória de Cavaco Silva à primeira volta.
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