1. Importa começar por notar que as duas sondagens publicadas hoje são sobre coisas diferentes. A primeira apresenta um cenário de 1ª volta com 4 candidatos presidenciais, três certos e um provável. A segunda apresenta um cenário de 2ª volta, com Cavaco e Soares. As comparações possíveis são, portanto, altamente limitadas. Contudo, a sondagem da Católica colocou também os eleitores perante um possível cenário de 2ª volta, o que já permite comparação com a sondagem Aximage. Assim, temos:
Cavaco, 2ª volta, após redistribuição de indecisos
Católica: 64%
Aximage: 60%
Soares, 2ª volta, após redistribuição de indecisos
Católica: 36%
Aximage: 40%
As diferenças estão dentro da margem de erro. Há ainda várias coisas parecidas nas duas sondagens, em particular o facto (à primeira vista surpreendente) de a maior parte do eleitorado de Louçã (na Católica) e BE (Aximage) declarar tencionar votar Cavaco na 2ª volta, ao passo que a maior parte do eleitorado Jerónimo (Católica) e CDU (Aximage) afirma que tenciona abster-se.
2. Dito isto, os resultados de uma possível 2ª volta são o que menos interessa. Soares não é o candidato nem do BE nem do PCP, e uma 2ª volta não passa de um cenário hipotético. Só quando Soares se tornar o candidato desses dois partidos - quando e se houver uma segunda volta - é que se pode ter uma ideia mais clara do que esses eleitorados irão fazer. Para já, Soares surge, com toda a probabilidade, muito subestimado nestas sondagens no que respeita a uma 2ª volta.
3. Muito mais interessante é perceber o que se passa na 1ª volta. Tenho vindo a defender em vários posts que a natureza destas eleições - eleições que não servem para eleger um governo - favorece, por parte dos eleitorado do PS, a sua utilização para castigar o partido de governo, ao passo que desincentiva eleitores "sinceros" de outros partidos, que terão votado útil no PS nas legislativas, de repetir a façanha em eleições presidenciais. E assim parece acontecer: em ambas as sondagens, os eleitores do PS encontram-se menos motivados para votar Soares que os eleitores PSD para votar Cavaco, e os eleitores à esquerda do PS hesitantes em passar para Soares numa segunda volta (pelo menos para já).
4. Para mim, perturbante: que a maioria dos eleitores (quer os que tencionam votar Cavaco, quer Soares, quer todos os outros) achem que o Presidente deva ter mais poderes ou que deva intervir na vida política do dia-a-dia para "ajudar a resolver os problemas do país" (72%). Quando se acha que os problemas do país se resolvem de Belém, isso significa que se acha que as instituições que de facto deviam governar e legislar estão bloqueadas. A importância inusitada que a comunicação social e os comentadores têm vindo a dar as presidenciais de há dois anos para cá é sintoma disto. Mas que isto fosse assim durante o consulado de Santana Lopes, ou mesmo antes, não me surpreende muito. Agora que se continue a achar isso quando um governo dispõe de uma maioria absoluta só posso ver como mau sinal.
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