É muito comum - e ouvi a versão simplificada e cómica do argumento num stand-up show do Bill Maher há uns dias - pensar-se que há muitos "pobres" americanos que votam contra os seus interesses económicos. Por outras palavras, votam no Partido Republicano porque têm a cabeça cheia de disparates (versão "liberal") ou de valores (versão "conservadora") que lhe são metidos lá dentro pela religião.
Na verdade, é ao contrário. A probabilidade de os ricos votarem Bush em 2004 foi muito mais afectada pela religião do que a probabilidade dos pobres fazerem o mesmo. Este artigo explica porquê, e faz algumas comparações interessantes (incluindo Portugal, no less). Na verdade, a moral da história é a oposta à que é vulgarmente circulada:
This again fits the story of post-materialism, that economic concerns are more important in poorer areas, with social and religious issues mattering more among the rich. Religious and secular voters differ no more in America than in France, Germany, Sweden, and many other European countries, consistent with the post-materialist notion that people in richer countries have the luxury of voting on social issues.
P.S.- Mas se olharem para as linhas na figura 3, percebem desde logo como esta história é apenas uma parte da história. Portugal - pobre e desigual - parece um país rico - em que os rendimentos não afectam a propensão para votar à direita. Aqui e aqui, por exemplo, explica-se porquê. Tem a ver com o facto da clivagem económica no sistema partidário português ter estado subsumida a uma clivagem sobre o regime e com o facto de PS e PSD terem nascido catch-all parties e sem ancoragem social, como partidos "de poder" e não de representação de bases sociais. E há outros casos - Israel, por exemplo - em que a teoria geral cede a particularismos locais.
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