Não leio regularmente o Expresso e não vi a ficha técnica, mas registo o resumo do Ponto Media (já agora, parabéns pelos cinco anos) que mostra uma - previsível - taxa de recusas de mais de 60%!
Seja como for, vale a pena lembrar que os estudos do famoso Kinsey também apontavam para cerca de 10% dos homens com comportamentos exclusivamente homossexuais (notem a ênfase no "comportamento" em vez da "identidade") durante pelo menos três anos consecutivos entre as idades de 16 e 55 anos (enquanto que, nas mulheres, as percentagens são mais baixas).
Contudo, este "número mágico" de 10% tem sido muito criticado, devido ao facto da amostra de Kinsey não ser aleatória, e sim uma "amostra de conveniência". Nas minhas aulas, aliás, uso sempre o exemplo do relatório Kinsey para falar do enviesamento amostral: afinal, quem está interessado em falar do seu comportamento sexual a não ser aqueles que têm uma moral sexual mais liberal?
Uma série de estudos posteriores, com amostras propriamente representativas, têm obtido valores mais baixos. Mas depois aqui joga outro factor óbvio: relutância em assumir comportamentos socialmente censurados, que pode levar a subestimação do valor real. Pelo que esta "percentagem" é notoriamente difícil de obter. Um excerto de um artigo muito recente:
"Much attention has been given to estimating the rate of "homosexuality" among men and women. The commonly cited figure of 10 percent can be traced to Alfred Kinsey and his colleagues, who concluded that in the United States, "10 percent of the [white] males are more or less exclusively homosexual for at least three years between the ages of 16 and 53" (Kinsey et al. 1948:651). Kinsey et al. (1953) estimated that the rate for women was a third to half as large as that for men. A study based on national probability samples of American adults from 1988 to 1993 found that women were about half as likely as men to report having had a same-sex sex partner in the previous year (1.4 percent of women vs. 2.7 percent of men) (Laumann et al. 1994)" in Amy C. Butler, "Gender Differences in the Prevalence of Same-Sex Sexual Partnering, 1988-2002", in Social Forces, vol. 84, Setembro de 2005.
Este artigo em particular revela um aumento muito acentuado desde 1988 nos Estados Unidos da percentagem de homens e (especialmente) mulheres que declaram ter tido um parceiro sexual do mesmo sexo no ano anterior. Mas assume a dificuldade em explicar o fenómeno: aumento de comportamentos homossexuais ou aumento das pessoas que assumem esses comportamentos perante um inquiridor, em face de mudanças sociais, políticas, culturais e legais favoráveis?
Given the sensitive nature of the topic being studied, it will always be difficult to distinguish between changes in reporting bias and changes in actual behavior. The same arguments that normative, economic, and legal factors affect sexual behavior can be used to argue that they affect honesty of reporting that on a questionnaire.
O tema é muito interessante mas muito complexo, e merecia mais do que o espírito habitual no Expresso: o frissonzinho da primeira página, desta vez com tons de rosa...
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